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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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sábado, 7 de agosto de 2021

RITUAIS DO SIMBOLISMO DO REAA - 1928 BEHRING

Em 21.11.2020 o Respeitável Irmão Carlos Eduardo Rodrigues, Loja Amor e Igualdade, 17, REAA, GLMEAL (CMSB), Oriente de Pilar, Estado de Alagoas, apresenta a seguinte questão:
c.edward.0287@gmail.com

RITUAIS DO SIMBOLISMO DO REAA – 1928 BEHRING.

Considero-me um apaixonado pela Maçonaria e sobretudo pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, tenho algumas obras sobre o mencionado rito, mas quanto mais leio e pesquiso, mais aumenta a minha sede por mais conhecimento, pois nunca me sinto satisfeito.

Porém, tendo em vista o conhecimento do dileto Irmão, gostaria de pedir uma sugestão de literatura que fale sobre a origem dos rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom de 1928, implementados pelo inesquecível Irmão Mário Behring, na ocasião da cisão de 1927, do Supremo Conselho com o GOB.

Sem mais para o momento, me despeço aguardando ansiosamente vossa resposta.

COMENTÁRIOS:

Falar sobre rituais originais do REAA exige uma pesquisa atenta sobre a história da criação do Supremo Conselho do REAA a 31 de maio de 1801 em Charleston, Carolina do Sul, Estados Unidos da América do Norte.

Naquela oportunidade o Rito de Perfeição, ou de Heredom, com 25 graus, originário da França, seria transformado nos EE. UU. em 33 graus baseado numa constituição suspeita que envolvia Frederico, o Grande, rei da Prússia. É sabido que Frederico não tinha nenhuma simpatia por Altos Graus – os denominava de ocos e vazios – assim como na data da pretensa Constituição o Rei estava em leito de morte, isto é, sem capacidade de recomendar e escrever qualquer coisa nesse sentido.

Comentários a parte, na verdade o REAA foi criado contraditoriamente de cima para baixo, isto é, não havia 33 graus, contudo apenas 30 graus, pois para o Rito não havia graus simbólicos, o que fez com que em solo norte-americano o escocesismo se valesse para o franco-maçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre) dos rituais das Blue Lodges norte-americanas.

Após a criação do Segundo Supremo Conselho, este em Paris, para difundir o Rito na Europa, houve a necessidade de se criar um ritual para o seu simbolismo, já que nos Estados Unidos, como foi mencionado, eram usados os rituais das Lojas Azuis do rito de York americano. Assim, em 1804 era criado uma Loja Geral Escocesa para tratar da construção do ritual para o simbolismo.

É preciso nesse contexto também entender o que ocorria com a Maçonaria Francesa no século XIX, a despeito de que o Grande Oriente da França e o Rito Francês tinham sua ritualística embasada nos costumes da Primeira Grande Loja em Londres que ficou conhecida como a Grande Loja dos Modernos ingleses.

Assim, o REAA, que em tese não se sujeitava à influência dos Modernos ingleses, teve sua estrutura ritualística sedimentada nas práticas da Grande Loja dos Antigos de 1751 na Inglaterra, cujos quais é sabido que faziam oposição aos Modernos de 1717 (vide história da Maçonaria inglesa e francesa).

Dado a isso, o primeiro ritual simbólico do REAA nascia com fortes influências anglo-saxônicas - apesar de ser um rito de origem francesa. Essa influência veio através da exposure (revelação) pertinente aos Antigos intitulada As Três Pancadas Distintas na Porta da Antiga Maçonaria. De certo modo essa é uma característica do REAA que é latino de nascimento, mas com boa parte constituída sob a égide da maçonaria anglo-saxônica.

Em linhas gerais, nascia então o primeiro ritual simbólico do REAA em 1804 constituído pelos costumes “antigos” (diferente dos “modernos”) e influenciado pelo Regulateur du Maçon da maçonaria francesa e ainda pela Loja Geral Escocesa que contribuía com as Colunas B e J dispostas à moda inglesa antiga (B a direita de quem entra e J à esquerda), com a decoração estelar da abóbada (principalmente as constelações zodiacais), com a aclamação Huzzé e ainda a cor encarnada haurida dos stuartistas-jacobitas.

Esse primeiro ritual então elaborado era muito parecido com o do Craft inglês, destacando-se principalmente que não havia Oriente elevado e nem separado por balaustrada e o 2º Vigilante já ficava no meridiano do Meio-Dia. A sala da loja era tudo no mesmo nível.

Ocorre, entretanto, que por influência do Grande Oriente da França, o primeiro ritual do simbolismo do REAA já começava a sofrer alterações e adaptações. Por conta disso, o Oriente, à moda do Rito Francês, é elevado e separado para se adequar ao grau capitular natural do Rito dos Sete Graus que ficava todo sob os auspícios do GOdF.

Assim, para que o REAA se visse abrigado pelo GOdF, o ritual original embasado nos “antigos” começou a se transfigurar para que pudesse se adaptar também para ao grau 18º Rosa-Cruz do REAA. Esse ritual é publicado no Guia dos Maçons Escoceses, estima-se entre 1820 e 1821

Com isso apareceriam as Lojas Capitulares do REAA onde irregularmente o GOdF tomava para si a direção do 1º até o 18º, tal qual como ele fazia com o Rito Moderno (Rito dos 7 Graus), enquanto que o Segundo Supremo Conselho do REAA se ocupava do Grau 19 até o 33º. Por certo que essa situação irregular mais tarde iria desaparecer com a extinção das Lojas Capitulares, ficando apenas o simbolismo do REAA sob a égide do GOdF, todavia, o ritual com Oriente elevado e dividido (criado para abrigar o santuário Rosa-Cruz) acabou paradoxalmente permanecendo no simbolismo. Nessa época ainda seria criado uma extensão do Altar ocupado pelo Venerável Mestre, cujo móvel trazia sobre ele as Três Grandes Luzes Emblemáticas e se destinava à tomada de compromissos. Essa extensão ficou conhecida como Altar dos Juramentos sendo colocada imediatamente à frente do Altar principal no Oriente.

Outra característica, herdada da Loja Mãe Escocesa, as constelações zodiacais que originalmente ficavam na base da abóbada, passariam paulatinamente a ser marcadas nas paredes Norte e Sul do Ocidente da Loja. Essas meia-colunas encravadas no topo do Norte e do Sul, correspondendo ao caráter deísta e solar do rito, indicam o caminho iniciático dos Aprendizes e Companheiros.

Toda essa construção litúrgica e ritualística mostra o aperfeiçoamento dos rituais do simbolismo do REAA, assim como expõe as adaptações ocorridas na sua trajetória por conta dos acontecimentos históricos durante o século XVIII e XIX na França.

No Brasil, em que pese o REAA tenha chegado oficialmente em 1832 com Francisco Gê Acayaba de Montezuma, a seguir o Grande Oriente da França no protocolo de intenções com o GOB instituía na época as Lojas Capitulares para o REAA. Essa prática perdurou no GOB até a cisão de 1927 quando houve a criação das Grandes Lojas Estaduais brasileiras. De certo modo a Grande Loja elabora um ritual em 1928 para o REAA, contudo baseado nas Lojas Capitulares trazendo delas muitas características para o simbolismo, o que de certo modo lhe tira o caráter de autenticidade.

O GOB acaba em 1854 se fundindo com o Supremo Conselho quando o Soberano Grande Comendador passa a ser também o Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, o que fez torna-la uma Obediência mista, ou seja, misturando o simbolismo com os ditos Altos Graus. A bem da verdade isso causou um problema para os outros ritos praticados no GOB o que seria em parte resolvido com a criação de um Colégio de Ritos para o Rito Moderno ou Francês e o Rito Adonhiramita. Mesmo assim os descontentamentos rotineiramente se afloravam porque o Grão-Mestre Geral era o Soberano Grande Comendador do REAA. É bom que se diga que dado a esses acontecimentos, mais rituais do REAA eram editados para se adequar às condições daquele momento, destacando-se, contudo, que essas edições não raramente vinham acompanhadas de enxertos hauridos de práticas de outros ritos. Em síntese, a cada passo a colcha de retalhos aumentava.

A partir do ano de 1927 com a cisão no GOB e as recém-criadas Grandes Lojas de Mário Marinho Béhring, o Ritual de 1928 do REAA, para não fugir a regra, também trazia uma série de incongruências para a originalidade do REAA, a começar pelas influências das extintas lojas capitulares. É bom que se diga que com o reconhecimento internacional do Supremo Conselho conduzido por Béhring, a Maçonaria brasileira passava a ter dois Supremos Conselhos, o de Jacarepaguá (CMSB) e o de São Cristóvão com o GOB. Com isso o GOB edita os rituais para o simbolismo do REAA, assim como as Grandes Lojas Estaduais brasileiras sacramentam o seu ritual construído em 1928.

Ocorre que o ritual de 1928 das Grandes Lojas, além das características capitulares, recebe influências da Maçonaria Norte-Americana, já que Mário Béhring também buscou reconhecimento para as suas Grandes Lojas na Maçonaria dos EE. UU. da América do Norte. Assim, muitas características da Blue Lodges acabaram acampando indevidamente os rituais do REAA das Grandes Lojas brasileiras.

Nesse particular, pode-se citar como descaracterização do REAA os Diáconos portando bastão (originalmente eles não portam esse instrumento); a formação de pálio entre os Diáconos e o Mestre de Cerimônias (não é próprio do REAA), Altar dos Juramentos no centro do Ocidente (originalmente é no Oriente), aventais azuis de Mestre (original é vermelho), decoração azulada (original é encarnada), salmo 133 (originalmente é no Evangelho de São João), etc.

Assim, todas essas circunstâncias, em linhas gerais acabariam desfigurando os rituais originais do REAA desde a sua criação em 1804. Com a dissidência de 1927 aqui no Brasil, duas Obediências passaram a atuar, isto é, cada qual com seu ritual e com as suas diferenças para o mesmo rito. A partir de 1951 o GOB se separa do Supremo Conselho e passa ser uma Obediência puramente simbólica. Isso resulta em mais rituais enxertados para o REAA.

Em 1973 mais uma dissidência no seio do GOB e, por conseguinte, com a criação dos Grandes Orientes Independentes (COMAB). mais rituais diferenciados apareciam para o REAA no mesmo País. E assim segue o barco.

Obviamente que esses comentários são resumidos, cujo conteúdo é apenas para dar uma ideia da complexidade dessa pesquisa. Acima de tudo recomendo entender os propósitos iniciáticos que construíram a liturgia e a ritualística do Rito. Por fim saliento que em se tratando de Maçonaria, nada está pronto, é preciso técnica e confrontação acadêmica dos fatos para se separar o joio do trigo.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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