TOLERÂNCIA
Ir∴ Alci Bruno
"A tolerância é uma das virtude mais discutidas na
Maçonaria. A palavra é bonita e usada com muita freqüência. Entretanto, a sua
prática é demasiadamente difícil. Não porque evitamos praticá-la, mas porque é
terrivelmente complicada, a demarcação dos seus limites, para sabermos onde ela
termina, e onde começa a complacência ou mesmo a conivência. Estabelecer esses
limites não é fácil.
Em cada caso, em que empregamos a tolerância, devemos
analisar uma infinidade de ângulos, nos quais sempre estão em julgamento os
procedimentos de Irmãos. Muitas vezes até a mudança de comportamento de um
Irmão, nos obriga a usar de maior ou menor tolerância. Daí se nota a existência
de uma gradação da tolerância. Como estabelece-se ou situá-la, em determinados
problemas.
É pôr este motivo, que não se pode colocar em cargos de decisão, Irmãos sem um elevado grau de bom senso e vivência maçônica, pois somente com
essas condições, pode o Maçom, estabelecer o grau de tolerância, na gradação
citada e adequada a cada caso.
O Venerável Mestre ou mesmo o Grão-Mestre,
normalmente responsáveis pôr decisões deste tipo, têm o cuidado de estabelecer
parâmetros determinantes ou uma espécie de círculo imaginário, em que se
circunscreverá a tolerância.
Digamos que esses Respeitáveis Irmãos estabeleçam
um grande círculo e nele circunscrevam dois círculos menores. No menor estará a
tolerância, no médio a complacência e no maior a conivência.
O cuidado para não
sair do círculo menor, o da tolerância, é uma constante. Isto porque, um
descuido na lapidação das informações recebidas, pode dar a idéia de
transigência com o erro, a permissão da violação do direito ou a conspurcação
da moral.
Se, por outro lado, mesmo sabendo que o erro foi realmente cometido,
que a transgressão dos ensinamentos maçônicos foi verificada, temos que
adicionar, como importante ingrediente para a tomada de decisão, os atenuantes
inerentes ao faltoso. Como assim? Atenuantes inerentes ao faltoso?
Sabemos que
o erro é próprio do homem. Determinadas circunstâncias obrigam a pessoa humana,
ao deslize do caminho correto. Se um Irmão sempre agiu corretamente e, de um
momento para outro, percebe-se um desvio em sua conduta, porque não colocarmos
na balança, os dados positivos existentes em seu favor, e que até outro dia era
motivo de aplausos. Esse passado bom, representa um fator atenuante de suas
faltas. Pelo sentimento de tolerância e porque não dizer de justiça, devemos
considerar nesse julgamento, as coisas boas realizadas.
Pela tolerância, também devemos procurar ouvir o Irmão.
Saber o que está acontecendo com ele, Quais são os fatos novos em sua vida, que
o obrigam a desencarrilhar dos trilhos da virtude.
Uns dizem que quando uma
pessoa atinge idade avançada, transforma-se em sábio, pelos conhecimentos e
vivência obtidos, mas alguns dizem que essas pessoas são simplesmente velhas.
No meu conceito, algumas realmente, ficam simplesmente velhas. Isso acontece
com pessoas que atingiram a velhice, sem viver a vida, sem adentrar na arena,
lutando por um ideal, procurando ser útil à coletividade a que pertence.
Esses
são realmente velhos. Mas aquele idoso que lutou, que não se importou com a
possível derrota, que soube levantar-se, que analisou o motivo das quedas, que
respeitou os seus adversários, que tirou proveito dos obstáculos encontrados,
que compreendeu o procedimento alheio, que defendeu o seu ideal e o seu
direito, que não se acovardou diante do perigo, esse não se transformou num
simples velho com a idade avançada. Este transformou-se, realmente, num sábio.
Na Maçonaria, os velhos são respeitados como sábios. Porque o Maçom é um líder.
Na mocidade, eles trabalharam para nos legar esta Ordem, tão tranqüila e
promissora. Esses velhos sábios, têm o conceito de tolerância muito nítido
dentro de si. Eles sabem aumentar o raio de círculo da tolerância, nas horas em
que um Irmão é julgado. Eles viveram o bastante, para se enriquecerem com
inúmeros exemplos de comportamento o erro, no extrapolar o círculo da
tolerância e algumas vezes, até aceitam uma pequena incursão no círculo da
complacência, mas nunca admitem a entrada no círculo da conivência, que seria a
degradação moral.
Falando nos velhos, lembro-me que certa feita fui visitar uma
Loja muito antiga. Lá estavam nas cadeiras do Oriente, quatro velhinhos.
Verifiquei, com a minha peculiar observação crítica, que aqueles Irmãos, não
faziam corretamente os sinais, cochilavam, conversavam, ficavam muito alheios
aos procedimentos ritualísticos. Ao sairmos do Templo, o Irmão que me
acompanhava naquela visita comentou: "Você viu aqueles Irmãos do Oriente?
Conversavam o tempo todo, alguns dormiam, além do que, faziam tudo
errado". Aquilo era um mau exemplo para os Aprendizes e Companheiros que
estavam presentes. Achava ele, que o Venerável Mestre exagerava na tolerância,
pois devia corrigir aquelas falhas. Outro Irmão pertencente ao Quadro daquela
Loja, e que nos acompanhava, respondeu, que um daqueles velhinhos que
cochilava, foi o fundador da Loja e Venerável em mais de uma administração. Os
outros foram também, verdadeiros baluartes no crescimento da Loja.
Representavam praticamente, a história da Loja. Um deles,
tinha cinqüenta anos de Maçonaria. Agora vejam só, a situação do Venerável
Mestre.
Poderia ele chamar a atenção daqueles Irmãos? Pedir-lhes que
não viessem a Loja, que estavam dispensados? Privar esses Irmãos, que tanto
fizeram pela Loja, daquele convívio, que para eles a sua própria razão de
viver? É evidente que o Venerável, com todas a sua sabedoria, jamais faria
qualquer coisa, que viesse a aborrecer aqueles veneráveis Irmãos.
Os Irmãos Aprendizes e Companheiros, é que deveriam ser
instruídos ou informados, da razão porque a Loja aceitava tais
comportamentos.
Hoje nós vemos Irmãos, que querem mudar tudo em
Loja, porque tomaram conhecimento através de livros maçônicos sobre os
fundamentos de determinadas práticas Maçônicas ou mesmo sobre a simbologia e
ritualística.
Os Irmãos mais velhos, normalmente reagem a essas mudanças, mesmo
ouvindo os fundamentados argumentos. Isso é louvável, porque esse desejo de
mudanças nos jovens e o desejo de permanência dos velhos, provoca um
equilíbrio, fazendo com que as mudanças, que porventura venham a ser feitas, o
sejam de forma racional e aceitas pôr todos, já que a evolução deve existir
entre os Maçons, como vemos na simbologia existente na abertura da corda dos
oitenta e um nós. Portanto, meus Irmãos, a tolerância é o sentimento que tem o
poder de propiciar a recuperação do culpado, conduzindo-o ao caminho do bem, da
justiça e do dever."
Extraído do livro "ACONTECEU NA MAÇONARIA" de Alci
Bruno Editora
A GAZETA MAÇÔNICA - 1ª edição - outubro/1996
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