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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

ORDEM DE ARQUITETURA - COLUNA TOSCANA

Em 29.08.2022 o Respeitável Irmão Wesley Di Tano de Oliveira, Loja 16 de Julho, 242, REAA, GLESP (CMSB), Oriente de Ituverava, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

COLUNA TOSCANA

Consultei nosso irmão Moura, Editora Trolha, e o mesmo indicou que eu solicitasse sua ajuda.

Estudando o Plano do Templo, símbolos e significados, deparei com duas Colunas Toscanas localizadas no Oriente, ao lado do Dossel.

As mesmas estão no Plano do Templo do Ritual de Aprendiz e Companheiro Maçom - REAA
- GLESP; as Colunas também estão na mesma disposição, na Árvore da Sabedoria Maçônica, no Ritual de Mestre Maçom do REAA - GLESP.

Pesquisei nos Livros que possuo, na Internet e também alguns irmãos, mais antigos e de graus superiores, mesmo assim ainda não consegui a resposta. Alguns artigos falam sobre elas, sua origem, forma, consistência, mas nada sobre o significado ou o que representam no Templo maçônico.

Se possível, gostaria que o prezado irmão, me desse Luz para poder encontrar a resposta.

Qual o significado ou o que representam estas Colunas Toscanas, ao lado do dossel do Venerável Mestre, no Templo Maçônico do REAA - GLESP?

Desculpe incomodar e tomar seu precioso tempo.

CONSIDERAÇÕES:

Inicialmente eu gostaria de mencionar que no REAA, rito de origem francesa, originalmente essas duas colunas da ordem Toscana situadas sob as extremidades do dossel no Oriente da Loja não existem como elementos do simbolismo. Nem no Oriente e nem no Ocidente. Podem ser consideradas apenas elementos decorativos.

Agora, se consta isso no ritual, como descrito na questão, é preciso então averiguar quem as colocou e por conta do que elas foram inseridas no Oriente do templo.

Destaco que originalmente nos Painéis originais de Loja do REAA não consta nenhuma coluna Toscana. Os Painéis do 1º e 2º Grau trazem apenas as colunas do pórtico (B e J). No Painel do 3º Grau não há nenhuma coluna. As colunas do pórtico nesses painéis trazem um sincretismo de culturas, babilônicas e egípcias, portanto elas não fazem parte das
Cinco Nobres Ordens de Arquitetura.

Como aqui foi abordada a relação entre os Painéis e as Colunas, vale então mencionar que na decoração de um templo do REAA existem apenas e tão somente dois Painéis, a saber: o da Loja (conforme o grau), e o Retábulo do Oriente que é o espaço da parede situado imediatamente atrás do trono onde ficam fixados o Delta Radiante, o Sol e a Lua. Como conteúdo do grupamento de símbolos, nenhum desses dois Painéis franceses trazem nos seus interiores a Coluna Toscana.

Reitero então que em se tratando do REAA não existem outros painéis na Loja, senão os logo acima mencionados. Digo isso porque não raras vezes encontramos, em alguns rituais, a menção de um certo “painel alegórico” na decoração da Loja. Na verdade, esse painel é um produto de enxerto que copia a Tábua de Delinear inglesa e não deveria estar presente no REAA.

Na verdade, esse painel alegórico que é às vezes indevidamente encontrado no REAA, é a Tábua de Delinear Inglesa (Tracing Board) que pertence ao Rito de York do Craft, portanto é um elemento que nada tem a ver com o escocesismo.

Desse modo ele não deveria estar presente nos rituais do REAA, sobretudo por ser ele um rito de origem francesa. Nesse caso, ao que parece foi inserido indevidamente um painel inglês em um rito de origem francesa e para justificar essa equivocada presença, deram-lhe o nome de “painel alegórico”, algo inexistente no escocesismo.

Muitas vezes deve-se a essas indevidas inserções o aparecimento de símbolos e alegorias que não fazem parte do corolário doutrinário-iniciático de um rito propriamente dito. Nessa conjuntura é importante saber que cada rito, ou trabalho (working) maçônico tem suas próprias características.

NOTA – Embora a presente abordagem dos painéis pareça nada ter a ver com a questão aqui apresentada, fiz essa alusão porque boa parte dos símbolos utilizados pelos ritos se encontram condensados nesses Painéis (Quadros da Loja). O Painel do Grau é a síntese da Loja no grau de um rito.

É bem verdade que na estrutura de símbolos da Moderna Maçonaria, alguns desses emblemas são universais, isto é, são símbolos presentes em qualquer rito. Entretanto, existem símbolos que são comuns apenas a um determinado rito. Como exemplo disso poderíamos citar a Estrela Hominal (cinco pontas) que é comum em um rito enquanto que em outro ela é hexagonal (seis pontas). Seguindo o mesmo raciocínio, a Escada de Jacó, que aparece no Rito de York, mas não no REAA. Outro exemplo: os símbolos que compõem as três virtudes teologais, estes presentes na Tábua de Delinear inglesa e não nos Painéis franceses. Ainda, as Colunas Zodiacais, que não existem na decoração do Rito de York, porém estão presentes no REAA, etc.

Existe ainda outro grupo de símbolos, os que são abstratos em alguns ritos, mas visíveis e palpáveis em outros. Explica-se: em muitos ritos alguns símbolos, ou mesmo a sua ideia, não são visíveis, contudo, se fazem presentes nas entrelinhas do ideário doutrinário.

Nesse caso, tomemos como exemplo as colunas da ordem Jônica, Dórica e Coríntia. Esses são símbolos consagrados e universalmente representam, na Maçonaria Simbólica Universal, a Sabedoria, a Força e a Beleza. Essa tríade basicamente serve a todos os ritos, pois é a sustentação da moral maçônica, no entanto, visíveis, palpáveis e materializadas elas não aparecem no Painel do REAA, mas são mencionadas nas entrelinhas do seu ritual e nas suas instruções correspondentes. Já no Rito de York, ao contrário do REAA, essas colunas aparecem com destaque na sua Tábua de Delinear do 1º Grau.

Assim, se faz necessário observar que nesse universo de símbolos e emblemas maçônicos, muitos elementos que fazem parte da decoração da planta do templo de um determinado rito, podem não estar presentes em outros - mesmo estando conexos a uma mesma estrutura doutrinária.

Conhecer essa regra significa evitar o achismo e a nociva licenciosidade de se achar que cada um pode interpretar o símbolo à sua maneira. Licenciosidade na interpretação dos símbolos é erro crasso em Maçonaria. O símbolo na Maçonaria tem no contexto uma mensagem única.

A arte está em desvendar o mistério que o cerca. Assim, indaga-se: o que um determinado símbolo significa para a doutrina do Rito? Ele foi ali colocado por quê? No contexto iniciático, qual é a sua contribuição? E no contexto histórico e cultural? E assim vai...

Com as devidas ressalvas, se essas regras básicas fossem observadas, certamente estaríamos livres da enxurrada de bobagens escritas que desafortunadamente ainda assolam o campo literário da nossa Ordem.

Feitos esses esclarecimentos e comentários, vamos ao símbolo mencionado na questão ora aqui apresentada – a coluna da Ordem Toscana.

No que diz respeito a ela e a Maçonaria, de maneira sintética dá para se dizer primeiramente que essa Coluna é parte de um conjunto de símbolos que formam a alegoria da Escada Sinuosa, ou em Caracol.

Porém, antes é bom que se diga que a alegoria da Escada em Caracol é natural no Craft, no caso, no Rito de York. Observe-se que essa Escada é o elemento central da Tábua de Delinear do 2º Grau do Rito de York (inglês). Ela não está presente, por exemplo, no Painel do REAA.

NOTA – Tábua de Delinear é o nome dado ao Quadro da Loja na Maçonaria Inglesa. Na Maçonaria Francesa é conhecido como Painel do Grau, ou da Loja. Apesar de terem a mesma função, o conjunto de símbolos é diferente em conteúdo de um e do outro.

Em um dos modelos da Tábua de Delinear, a Escada Sinuosa, ou em Caracol, aparece como figura detalhada no Craft. Composta por três segmentos de três, cinco e sete degraus, no seu segundo estágio (lance com cinco degraus), literalmente o corrimão se apoia sobre cinco colunas representativas das Cinco Nobres Ordens de Arquitetura, das quais três gregas, a Dórica, a Jônica e a Coríntia, e outras duas romanas, a Toscana e a Compósita.

Como parte das preleções inglesas, a Escada Sinuosa, ou em Caracol, se caracteriza por representar um percurso sinuoso e difícil, cujo objetivo é o de mostrar ao iniciado as dificuldades que naturalmente serão encontradas ao longo da vida. Nesse contexto o agrupamento das Cinco Nobre Ordens de Arquitetura representa o 2º estágio do iniciado – ver, ouvir, meditar, bem agir e calar.

A relação das Cinco Nobres Ordens de Arquitetura com o ideário instrucional maçônico se consolidou especulativamente no século XVI com o tratado escrito por Giacomo Vignola, denominado Regras das Cinco Ordens de Arquitetura. Embora já na fase de declínio do estilo Gótico e, por extensão da Maçonaria de Ofício, muitos arquitetos da época passariam a utilizar as regras e proporções hauridas desse tratado.

Com o advento do Renascimento, as regras de Arquitetura seriam inseridas por Inigo Jones na Inglaterra, o que sacramentava de vez o declínio da Maçonaria de Ofício e a ascensão da aceitação – o ingresso de homens estranhos ao ofício se tornava cada vez mais evidente.

Do ofício ao especulativo, a doutrina dos maçons aceitos fora elaborada debaixo de símbolos e alegorias ligadas à Arte de construir. Graças a isso é que esses elementos se fazem naturalmente presentes no simbolismo e nas instruções atuais da Moderna Maçonaria.

Em relação às colunas Toscanas situadas no Oriente de uma Loja do REAA, particularmente junto à parede nas extremidades do dossel conforme mencionadas na sua questão, ao que parece são meros elementos decorativos sem nenhum conteúdo iniciático, ou de outro significado especial.

Como descrito na questão, essas colunas de fato parecem ser apenas molduras decorativas fixadas à esquerda e à direita do Retábulo do Oriente, e nada mais. Muitas Lojas costumam usar esse tipo de decoração, sem que haja nela qualquer conotação iniciática.

Como elemento simbólico oficial a Coluna Toscana somente aparece, de fato, na alegoria da Escada em Caracol no CRAFT, não sendo, portanto, símbolo comum ao REAA. No que diz respeito ao escocesismo propriamente dito, no máximo talvez seja possível ligá-la como parte de um conjunto composto por “cinco” colunas, destacando neste contexto que número “cinco” é universalmente um dos elementos de estudo do Companheiro Maçom.

Não obstante às considerações até aqui apresentadas, seguem alguns elementos técnicos e históricos concernentes às Cinco Ordens de Arquitetura que tendem auxiliar na compreensão desse tema dentro da conjuntura instrucional maçônica. 

1. Ordem de Arquitetura – Sinteticamente menciona aquilo que dá características próprias à construção associando-a a um determinado estilo histórico (características únicas). Confere harmonia, unidade e proporção a um edifício segundo as normas clássicas de beleza. As Ordens de Arquitetura nasceram na Antiguidade Clássica, embora eventualmente tenham sido reinterpretadas, a exemplo do que ocorreu durante o período renascentista.

2. As primeiras normas - Desenvolvidas na Grécia, essas normas tiveram seu ápice no século V a.C. (Período Clássico) quando deram lugar à criação de três Ordens de Arquitetura a saber: Dórico, Jônico e Coríntio.

No século I a.C. essas Ordens foram readaptadas no Império Romano e deram lugar a outras duas outras – a Toscana (variante simplificada do Dórico) e a Compósita (uma mistura combinada entre o Jônico e o Coríntio).

3. De Architecturae (Tratado de Arquitetura) de Vitrúvio - Datado do século I a.C., esse foi o único escrito herdado da Antiguidade que chegou ao século XV. Foi no século seguinte que aparece o tratado escrito por Giacomo Vignola sob a denominação de Regras das Cinco Ordens de Arquitetura. Esse tratado acabou por definir regras geométricas e de proporção que até o presente ainda são utilizadas por arquitetos. Graças a esse tratado é que foram então reconhecidas as Cinco Nobres Ordens de Arquitetura. Essas Cinco Ordens se dividiram em dois grupos – o das Ordens Gregas e o das Ordens Romanas. As Ordens Gregas formadas pelas ordens Dórica, Jônica e Coríntia, e as Romanas pelas ordens Toscana e Compósita.

4. A Ordem Dórica (grega) – natural das costas sul do Peloponeso teve o seu auge no século V a.C. Empregada principalmente na banda exterior dos templos então dedicados às divindades do gênero masculino. De caráter sólido, com aparência de força é a mais simples das três Ordens Gregas.

5. A Ordem Jônica (Grega) - aparece na Grécia oriental e, aproximadamente em 450 a.C. parece ter sido adotada também por Atenas. De desenvolvimento concomitante à Ordem Dórica, pela sua forma e característica suave acabaria sendo mais utilizada nos templos dedicados a deusas femininas. Se caracteriza pelo capitel com volutas.

6. A Ordem Coríntia (Grega) - natural do último quartel do século V a.C., notoriamente possui capitel mais decorativo e trabalhado. Inicialmente foi muito utilizada na banda interna dos palácios e assemelhados. Seu capitel é abundantemente decorado com rebentos e folhas de acanto. Tornou-se um capitel bastante utilizado no período de dominação romana.

7. A Ordem Toscana (Romana) – Se desenvolveu no período de dominação romana e é um elemento simplificado com proporção igual ao da Ordem Dórica. Sua característica é a simplicidade do seu capitel.

8. A Ordem Compósita (Romana) – Como a Toscana, também se desenvolveu no período de dominação romana. Até o advento do Renascimento ela foi considerada uma versão tardia da Ordem Coríntia. Caracteriza-se por ser um estilo mesclado em cujo capitel vão inseridas as volutas do Jônico e também as folhas de acanto do Coríntio.

Espero que esses comentários sirvam para trazer luzes a respeito desse tema.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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