A resposta é simples: “O orgulho é para um Maçom o que uma miragem é para um errante desesperado no deserto”. É uma ilusão necessária e irresistível. Por conseguinte, é necessário tornar-se seu senhor através de um trabalho árduo, correndo o risco de permanecer seu escravo submisso.
Como todos sabemos, tudo na Loja é uma dualidade:
- Sol / Lua
- Branco / Preto do pavimento
- Meio-dia / Meia-noite
- Zénite / Nadir
- Este / Oeste
- Norte / Sul
- Coluna J / B
- Espada / Bastão
- 1º Vig. / 2º Vig.
Podemos, portanto, deduzir que o orgulho também tem o seu binómio, é uma realidade. Chama-se humildade. Este termo grego é mais conhecido por “húmus”, a terra, que quase beijámos quando passámos pela porta inferior durante a nossa iniciação.
Voltemos ao orgulho para o definir melhor. Peço a Henri Bergson que o faça por mim:
“Há uma diferença entre o orgulho e a vaidade. O orgulho é o desejo de estar acima dos outros; é o amor solitário de si próprio. A vaidade, por outro lado, é o desejo de ser aprovado pelos outros. No coração da vaidade está a humildade, uma incerteza sobre si mesmo que é curada pelo elogio”.
Bergson diz-nos que o orgulho é compararmo-nos com os outros. Não certamente para nos alimentarmos deles e crescermos, mas para os anularmos, a fim de nos tranquilizarmos quanto aos nossos medos fundamentais. O orgulho é uma manifestação de esquizofrenia: é dizer ao outro: “Preciso de ti para que me reconheças”, mas ao mesmo tempo dizer-lhe: “Nego-te para não perder o meu lugar de escolhido, de mais amado”.
Assim, tudo o que vou dizer baseia-se no seguinte princípio: “A escuridão não existe como entidade, é apenas o resultado de uma ausência de luz. Da mesma forma que o frio é uma ausência de calor”. Assim, parece-me que o orgulho é uma ausência de humildade. Se a humildade é terrena, sólida, concreta, a sua antítese é a vacuidade ou a ilusão.
O Maçom que cresceu de acordo com as etapas convencionais da Maçonaria (Aprendiz, Companheiro e Mestre), aquele que estudou os símbolos e os integrou, para lhes dar sentido na vida quotidiana e na fraternidade, torna-se como um fio de prumo. É equilibrado, alinhado, justo e ocupa o seu próprio lugar, com os dois pés bem assentes na terra. Não procura ocupar o lugar do vizinho. Não procura ser considerado mais do que aquilo que se considera ser, simplesmente É.
Por outro lado, o Maçom que perdeu a verdadeira intensidade das provas de iniciação sabe muito bem que lhe faltam peças, partes do seu todo pessoal. Não está completamente cheio de si e esta falta leva-o a intelectualizar-se, a fantasiar com o seu espírito. Então, ele pensa! Pensa, encontra respostas lógicas. Discute e, sobretudo, agita-se. Cria perturbações, porque o que é na sua essência mais profunda diz-nos muito mais sobre ele do que aquilo que nos diz com as suas palavras ou gesticulações estéreis.
Surgem então os debates e as rivalidades. Como dizia Augusto Comte: “O orgulho divide-nos ainda mais do que o interesse”. O Maçom torna-se incapaz de reunir o que está disperso, porque está agora num estado de separação, de divisão e, sobretudo, de discriminação de todas as coisas. O masculino e o feminino já não são duas faces da mesma moeda, mas dois géneros humanos distintos que devem ser colocados em dualidade e mesmo em conflito. Para ele, os aprendizes tornam-se pequenos principiantes. Os companheiros são de baixo nível e facilmente humilhados, e todos os outros mestres são rivais que devem ser ultrapassados o mais rapidamente possível. Este tipo de Maçom orgulha-se do seu avental e das suas promoções no seio da loja. Alguns chegam mesmo a pensar que os cargos são uma forma de reconhecimento, uma forma de patente. Deve ser verdade, porque durante a distribuição dos cargos no início do ano, ouvimos outros irmãos ou irmãs virem felicitá-los pela sua nova nomeação. Pensemos bem: as únicas felicitações possíveis são as que devem vir no fim do ano, quando o oficial fez um bom trabalho.
No século XVIII, Antoine de Rivarol dizia:
“É preciso fazer morrer o orgulho sem o ferir. Porque se o ferirmos, ele não morre”.
O orgulho é um animal duro. Quanto mais é ferido, mais incha. Está desligado da realidade das coisas, não tem contacto com os seus vizinhos, refiro-me à inteligência do coração ou à da razão. Todos nós conhecemos pessoas eruditas ou muito cultas, mas totalmente cheias de um orgulho que tenta desesperadamente mantê-las acima dos outros, como se os outros pudessem diluí-las. Conheço até uma categoria de orgulhosos que ultrapassam todos os outros. Chamam-lhes os modestos. Como escreveu La Rochefoucauld nos seus Pensamentos: “A modéstia é o mais alto grau de orgulho”. Não devemos confundir humildade com modéstia. Jules Renard escreveu: “Sê modesto! É o tipo de orgulho que menos desagrada”.
Gostaria agora de vos falar de um outro tipo de orgulho. Chama-se “orgulho espiritual”. O seu representante é um escolhido. Ele é o embaixador do Grande Arquitecto na Terra. Está em ligação directa com ele. Foram-lhe atribuídos superpoderes. Faz questão de ser o líder indiscutível da prática do ritual. Pode mostrar-vos a lista dos seus títulos e distinções… em suma, diz-vos com falsa modéstia que o seu percurso maçónico o tornou melhor. Pode até ser condescendente. Este tipo de pessoa é bastante perigoso, porque avança sorrateiramente com a máscara de um Maçom que só trabalha para si e não se interessa pela sua própria vida. Poderíamos dar-lhe Deus sem confissão. Bem, quando eu digo Deus, quero dizer GADO!
Parafraseando Auguste Detoeuf, eu diria:
“Os maçons dividem-se naturalmente em três classes: os vaidosos, os orgulhosos e os outros. Mas eu ainda não conheci os outros”.
Esta afirmação, deliberadamente provocadora, não tem por objectivo magoar ninguém. Quero simplesmente afirmar que todos nós, e eu sou o primeiro, somos dotados desta função que é específica do ser humano. Como podemos viver com este sentimento e usá-lo como uma bússola para nos mostrar o caminho errado e ajudar-nos a encontrar o caminho certo?
Antes de mais, entendamos que “o que torna o orgulho dos outros insuportável é o facto de ferir o nosso próprio orgulho”. Então, porque não usar esta reacção comum para trabalhar o nosso próprio orgulho? Imaginemos que, sempre que nos sentimos incomodados por uma pessoa orgulhosa, é o nosso próprio orgulho que é afectado. Porque não tentar ser grato e agradecer a esse parceiro involuntário do seu orgulho, para nos ajudar a libertarmo-nos do nosso próprio orgulho. Para além da ajuda que estaríamos a dar a este Maçom que precisa de brilhar em vez de irradiar, poderíamos finalmente tornar-nos um exemplo e, acima de tudo, poderíamos finalmente deixar o mundo infernal da comparação para SER.
As iniciações maçónicas são uma série de dissoluções e coagulações ou, se preferirem, uma série de destruições e reconstruções que permitem a transmutação no sentido alquímico do termo e convidam o Maçom a passar da Obra em preto para a Obra em vermelho. É o dissolve e coagula, o “dissolver e coagular” dos alquimistas. Se ousássemos tomar o nosso orgulho como antimónio, essa matéria-prima, e tentar transformá-lo em pedra filosofal, então poderíamos produzir uma essência de humildade que seria um perfume de humanidade, como gostamos de cheirar nas nossas Lojas.
Para concluir este trabalho, gostaria de citar um pensamento de Thich Nhat Hanh, esse sábio que está actualmente a lutar contra a morte enquanto leio o meu trabalho: “A humanidade sofre de 3 complexos, o complexo de superioridade, o complexo de inferioridade… e o complexo de igualdade”. Como todos compreenderam, isto remete-nos para o “Torna-te quem tu és” de Nietzsche e, sobretudo, para o nosso “Conhece-te a ti mesmo…” que nos é citado quando entramos na Loja. De facto, como vejo com demasiada frequência, os verdadeiros problemas de orgulho surgem no momento em que vestimos o avental de Mestre. Para alguns, o avental torna-se um ecrã que nos separa, em vez de uma ponte que nos liga.
Frank FouquerayTradução: António Jorge, M∴ M∴
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