Ir∴ Ives José Pizzolatti
Loja Estrela de Herval nr. 3334 de Joaçaba (GOB/SC).
No ritual do 1º GRAU – APRENDIZ – Rito Escocês Antigo e Aceito, dá-se realmente início aos trabalhos com a abertura do Livro Sagrado, sendo o ato de suma importância, pois simboliza a presença efetiva do G∴ A∴ D∴ U∴.
O Livro Sagrado destaca-se como um dos símbolos mais importantes do nosso Templo, a oficina onde se realizam nossos trabalhos, por sua localização na Loja, sobre o altar onde realizamos nossos juramentos, quer dizer, no eixo vertical que conecta céu e terra; local de união e de recepção dos eflúvios e mensagens divinas.
Sabemos que toda a estrutura da Maçonaria está baseada no Simbolismo, pois como dizem vários autores, nos símbolos se encontram as chaves que abrem o conhecimento do mundo espiritual existente em cada um de nós. Nascemos, vivemos e morremos num universo onde quase tudo são símbolos. O Livro Sagrado é um dos maiores símbolos dentro da Maçonaria.
Ao abrir o Livro Sagrado (ou o L∴ L∴), o oficiante (em nosso caso o Orador), lê em voz alta o Salmo, invocando o auxílio do G∴ A∴ D∴ U∴. Com a sua vibração, nos são revelados mistérios ocultos da Maçonaria, espiritualizando os símbolos que o cercam, numa ação de criatividade, sempre diferente para cada reunião que se inicia. As palavras do Salmista devem penetrar no íntimo de cada irmão, fazendo desaparecer o homem profano, transformando as dificuldades da vida em momentos de profunda paz. Necessitamos de momentos de recolhimentos onde possamos encontrar misticismo, religiosidade, amor fraterno, que são alimentos de nossa dimensão espiritual.
O LANDMARK XXI diz que é indispensável a existência no Altar de um Livro da Lei – o livro que se supõe, conforme a crença, conter a verdade revelada pelo G∴ A∴ D∴ U∴. Dependendo da situação geográfica da Loja, da cultura e crenças dos que a compõem, o Livro Sagrado pode variar de nome, como por exemplo: "TORÁ", para os maçons judeus, o “AL CORÃO” para os maçons Mulçumanos, ou o “BHAGAVAD-GITA” para os Hindus.
O livro “TORA” dos judeus é o mesmo que a Bíblia dos Cristãos, mas sem os livros do Novo Testamento.
O “ALCORÃO” é o livro dos Mulçumanos, cujos ensinamentos são atribuídos a Maomé. Divide-se o livro em 144 capítulos e foi escrito por Abu-Bekr, após a morte de Maomé. É um conjunto de normas morais e preceitos dogmáticos e fonte única do direito, da administração e da moral, ética e outros da cultura mulçumana. Admite e predestinação, mas atribui ao homem a responsabilidade de suas ações.
O “BHAGAVAD-GITA” faz parte da volumosa epopéia indiana do Mahabharata, que abrange milhares de versos. Possui 770 versos, distribuídos em 18 capítulos e que constituem os grandes livros espirituais da humanidade do Oriente. Narra, de forma simbólica, a história evolutiva do homem.
A BÍBLIA é o Livro Sagrado dos povos de origem Cristã, mais precisamente os do Ocidente. É um conjunto de 72 livros, divididos em Antigo e Novo Testamento. O Antigo Testamento narra a criação do homem e toda história do povo israelita. É onde encontramos os salmos. O Novo Testamento traz a história de Jesus, narrada por seus apóstolos e onde se encontra a vida de São João Batista, patrono dos maçons.
Essencialmente, a Bíblia é um Livro Sagrado, não um texto religioso desta ou daquela igreja ou comunidade. Ela é também o livro de todos os cristãos protestantes e reformados, e foi – em oposição aos escolasticismo da Baixa Idade Média – precisamente o que originou a Reforma. Igualmente é a fonte da Igreja Ortodoxa (grega, russa, turca) e das igrejas cristãs do Oriente Médio. É também o livro mítico, cosmogônico e metafísico em que se baseou a Tradição Judaica, e igualmente a Islâmica. Isto equivale a dizer, três das cinco maiores tradições civilizadoras da humanidade, que ainda permanecem oficialmente vivas. Essas três tradições são as que moldaram a cultura do Ocidente, junto com a civilização greco- romana, e que é a nossa cultura, onde aprendemos tudo através de seus esquemas e estruturas de pensamento. Estes textos exerceram e exercem papel fundamental em nossa formação.
Sobre seu valor histórico, que não se contrapõe de nenhuma forma ao esotérico, destacamos o fato que a Geologia, a Astrologia, a Lingüística e, em geral, as investigações realizadas neste século, confirmam o descrito em suas páginas. Lembrando que nossa oficina é o Templo de Salomão, imagem bíblica do cosmos, do qual a Bíblia nos dá justas e exatas medidas.
Todos estes são motivos justos e perfeitos, em nosso entender, para que respeitemos devidamente os símbolos de nossa Oficina, especialmente o Livro Sagrado, que é verdadeira pegada da divindade sobre a Terra. Temos então as Sagradas Escrituras como fonte credenciada dos conhecimentos históricos e místicos da Maçonaria, e ao ler seus livros nota-se quão estreitas são as relações desta coletânea de documentos com os Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dentro do nosso rito, no Grau de Aprendiz, o salmo escolhido para o início dos trabalhos é o de número 133, que é o Cântico da Peregrinação de Davi ou a Bem Aventurança da Fraternidade.
“Como é bom e agradável irmãos viverem unidos.
É como óleo precioso sobre a cabeça,
a descer pela barba, pela barba de Aarão,
que desce sobre a gola de suas vestes.
É como o orvalho que desce do Hermon
sobre os montes de Sião.
Pois ali o Senhor despensa a benção:
vida para sempre.”
É uma oração, pois nele se reconhece a ação de Deus naqueles que vivem em comunhão – comum união – em comunidade. É também uma meditação de estilo sapiencial, que celebra a fraternidade entre irmãos de sangue (dimensão familiar) ou entre povos (dimensão internacional ou eucumênica). Os Salmos sapienciais têm o mérito de apresentar grandes sínteses a respeito dos valores que movem a vida das pessoas, dos grupos, da humanidade inteira.
O Salmo se apresenta da seguinte forma: uma afirmação – como é bom e agradável os irmãos viverem unidos; duas comparações – é como o óleo fino e como o orvalho de Hermon; e uma conclusão: porque ali Javé manda a benção e a vida para sempre.
A afirmação tem sabor de bem-aventurança ou proposta de felicidade. Em hebraico, para falar de felicidade, usa-se a palavra “tob”, traduzida neste salmo com o adjetivo “bom”. Viver unidos como irmãos é a melhor maneira de encontrar a felicidade.
Quanto às comparações, a primeira fala do óleo fino ou perfumado derramado sobre a cabeça, descendo sobre a barba e a gola das vestes de Aarão, o pai do todos os sacerdotes de Israel. Para se entender melhor o significado, existem detalhes como o do povo daquela épica que por razões culturais ou por escassez de água não tomava banho com freqüência, razão pela qual ungiam o corpo com óleo perfumado. Além de refrescar e perfumar, esse “banho” tonificava a pele em tempos de calor ou em regiões de baixa umidade. Mas no Salmo Aarão está vestido, o que pode significar uma unção sagrada, uma espécie de consagração com o azeite perfumado, normalmente usado pelos sacerdotes. Vê-se então a primeira imagem: a fraternidade é um sacerdócio, uma unção que refresca e refaz a vida. A Fraternidade é fruto do desabrochar do Espírito Maçônico em toda sua plenitude. Nesse clima aconchegante e suave para a percepção espiritual, desenvolvem-se espontaneamente a cooperação recíproca, a solidariedade, a tolerância, a participação, a solicitude, a confiança mútua, a relação FRATERNA entre os irmãos.
A Segunda comparação fala da descida do orvalho do Hermon sobre os montes de Sião. Para entender esta comparação, é necessário conhecer um pouco daquela região. O monte Hermon, na fronteira Norte do território de Israel, carrega neves eternas em seu topo. De manhã, as encostas dessa montanha costumam acumular abundante orvalho. A umidade dos ares de Hermon desce para a Judéia, refrescando o clima em Jerusalém e nas colinas que a cercam, provocando névoas, nuvens e chuvas. Se o azeite perfumado falava de sacerdócio e de unção, o orvalho fala de fecundidade e vida.
A conclusão deixa de lado azeite e orvalho, focando a Fraternidade. Por causa dela, Javé manda a benção e a vida para sempre. Aqui acontece algo novo: a benção não depende dos sacerdotes. Javé abençoa mediante um novo sacerdócio, chamado Fraternidade. E por ela comunica sua vida. Sua benção chega quando o mundo for uma grande “aldeia de irmãos”, e é o que a maçonaria pretende formar. A Maçonaria tem por meta universal o aperfeiçoamento Moral, Intelectual e Espiritual da Humanidade, tendo por fins supremos a Fraternidade entre os Homens, a Liberdade de consciência e a Igualdade de direitos. Ela une homens livres e de bons costumes para conviverem fraternalmente. Nota- se que a Fraternidade é um dos maiores ideais da Maçonaria.
O Salmo nos mostra, em poucas palavras, o que é mais importante na vida, o que gera felicidade: o querer bem, vivendo na Fraternidade. Isso é benção e vida para sempre.
Rezamos o Salmo 133 quando buscamos valores que orientam nossa vida: sonhando com uma sociedade justa e perfeita onde reina a fraternidade dentro de casa, entre grupos, entre povos; rezamos ecumenicamente crendo que temos um único Deus e Pai, o G∴ A∴ D∴ U∴; quando queremos sentir-nos abençoado por Ele; quando amamos e nos sentimos amados.
Este Salmo é uma Oração de Louvor para despertar nosso amor para com Deus, que leva o homem à íntima união com Ele e efetua a Fraternidade na vida comunitária, tornando-a fecunda através das instituições. Dentre as instituições, encontra-se a Maçonaria Universal, que é uma instituição leiga, eclética, adogmática, que reúne homens livres e de bons costumes para conviverem fraternalmente como irmãos, buscarem o auto- aperfeiçoamento e promoverem o Bem. É uma instituição essencialmente Iniciática, Filosófica, Educativa, Filantrópica, Progressista e Evolucionista.
Fonte: JBNews - Informativo nº 281 - 05.06.2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário