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segunda-feira, 27 de junho de 2022

A CABALA E SUAS ORIGENS

Ir∴ Roberto Antunes da Silva – Porto Velho - RO

Não é nosso objetivo nesta peça de arquitetura explicar a cabala, e muito menos preocupar-se com os aspectos mágicos e invocatórios da mesma.

Infelizmente, a história judaica não é conhecida pelo leitor comum, a menos que ele seja, especificamente, um estudioso da bíblia, e do aramaico ou hebraico antigo, não o moderno.

No entanto, é preciso notar que, até a época de Esdra, o escriba (458 a. c), a Torá (livro de moisés) ou Pentateuco, como os gregos a eles se referiam sintetizava as escritas dos hebreus. é preciso lembrar que os hebreus, naquela época, eram um povo em fuga, dirigido por uma rígida teocracia.

Alguns estudiosos afirmam que a Cabala e o Talmude evoluíram mais ou menos paralelamente. Seja como for (origem antiga ou recente), isto não depreciará seu valor para nós.

Tebas, 1860, encontraram um papiro em consonância perfeita com o pensamento cabalístico da criação. Os cabalistas costumavam descrever a criação como resultado de certas emanações ou “fluxos eferentes” (“flowings forth”) da divindade. Havia 10 dessas emanações ou sephiroth. Seus nomes eram, Coroa, Sabedoria, Compreensão, Misericórdia, Fortaleza, Beleza, Vitória, Glória, Estabilidade, e Reino.

Fala o deus Rá:

“Eu estava só, pois, nada havia sido produzido; eu não tinha emitido de mim mesmo nem Shu nem Tefnut. eu me desdobrei... emiti de mim mesmo os deuses Shu e Tefnut e, de um, tornei-me três: eles emanaram de mim e passaram a existir na terra... Shu e Tefnut geraram Seb e Nut, e Nut gerou Osíris, Horus, Set, Isis e Nephthys, em um só nascimento.”

Na época da destruição do segundo templo, consta que um certo Shim-on ben Yohai (Simeão ben Iochai) deu instrução a seus discípulos sobe a tradição. Estas mesmas instruções, segundo declara, podem também ser encontradas no velho testamento hebraico (especialmente na versão grega).

Pode se atribuir a Elias Ashmole (1617 a 1692) a feição atual do rito escocês, tal como o utilizamos hoje. Como egiptólogo, astrólogo e alquimista, e dotado de uma vastíssima cultura geral e hermética, sua preocupação foi deixar um arquétipo que contivesse todos os elementos da tradição maçônica da época, tanto operativa como especulativa, que englobava cabala, alquimia e astrologia.

Arquétipo da loja

No divagar pelo hermetismo da maçonaria, deparamos com Jules Boucher, quando diz: “os dez oficiais da loja, Venerável, 1º Vig∴, 2º Vig∴, Orador, Secretário, Experto, Mestre de Cerimônias, Tesoureiro, Hospitaleiro e o Cobridor, situam-se perfeitamente na Árvore Sephirótica e não sephirotal como se usa correntemente, ou seja, na Cabala.

Equivalência planetária dos cargos e correlações antropológicas

O esquema da Árvore Sephirótica nos mostra como se entende essa equivalência de cargos e planetas, que coloca o sol como centro do nosso sistema, irradiando luz e calor para todos os pontos do universo. O sol (Tiphereth) é o Mestre de Cerimônias, portador do fogo sagrado, a luz central, e que circula por todo o templo levando luz e informações aos obreiros.

Ao cargo do Venerável Mestre corresponde Plutão (Kether, a coroa), o planeta mais distante do nosso sistema, e ao qual se atribui, nos ensinamentos astrológicos, o poder organizador, e a fonte de todas as energias, a começar pela do átomo. Assim o venerável pode ser visto como aquele que recebe as energias sutis do universo, organiza-as e canaliza-as para dentro da oficina.

O zodíaco (ou Urano, se preferirmos completar o moderno conhecimento dos planetas trans-saturninos, e não visíveis sem telescópio) – Chokmah – é a memória da natureza, registrando no éter todos os acontecimentos do mundo através do principio de vibração – correspondente ao secretário, cuja tarefa é anotar as ocorrências de cada sessão da loja.

Saturno (Binah), a quem se atribui o tempo, a cronologia, e também a experiência e a sabedoria advindas com a velhice, está relacionada com o Orador da loja, sempre e obrigatoriamente um irmão com reconhecida experiência e suficiente idade maçônica, a fim de desempenhar o papel de consultor, conselheiro e responsável pela ordem nos trabalhos. Ele coordena o tempo e a duração da sessão e da palavra dos obreiros – incluindo a do venerável.

No pilar central, entre o orador e o secretário, está o Altar dos Perfumes, que corresponde a Netuno, planeta dos mistérios, do conhecimento secreto, da intuição, das substâncias desconhecidas, especialmente em nossa loja como é de costume, coloca-se uma cadeira com a alfaia do mestre arquiteto “in memória” dos obreiros da arte real que já passaram para o oriente eterno. Na cabala, é Daath, uma sephira secreta, e por isso, em geral, não é representada.

O Tesoureiro é Marte, Geburah, o planeta da força, da energia física, da coragem, está relacionado ao trabalho, cujo resultado é o salário do obreiro, de onde a sua ligação com as receitas da loja.

Do lado oposto está Júpiter – Chesed – que responde pela justiça e pelas relações exteriores de um país – é o chanceler, cuja responsabilidade e selar com seu timbre (ou cahncela) os acordos da loja, assim como as presenças.

Terminando a coluna (ou pilar) do rigor, está o 1º Vig∴, que corresponde a Mercúrio, Hod, na mitologia grega, é o mensageiro entre os deuses e os mortais; na simbologia astrológica, é o intermediário de todas as ações humanas, relacionando-se com a escrita, as comunicações, a mente, a inteligência e o aprendizado em geral. Reporta-se à palavra perdida, e o poder do verbo, que é tarefa do aprendiz descobrir e desenvolver em seu tempo de estudos. Simbolicamente o aprendiz não fala, por isso deve exatamente aprender a faculdade da comunicação, um dom do planeta mercúrio. No sentido hermético, é a primeira matéria-prima dos alquimistas, ou melhor, o objeto da sua primeira busca.

O pilar da misericórdia termina com a esfera de Vênus (Netzah) – o 2º Vig∴ é o planeta da beleza, do amor, das artes; corresponde aos sentimentos de fraternidade, solidariedade e união entre os homens.

O pilar central (do equilíbrio), que começa com o venerável, passa pelo mestre de cerimônias (cujo assento fica num dos lados, a fim de não bloquear a passagem nas colunas), continua com a esfera de Yesod, a Lua, satélite da terra, e corresponde ao guarda interno da loja. Governa as emoções, os instintos e desejos humanos, que tantas vezes nos escravizam e contra os quais devemos estar sempre em guarda. Este pilar termina com o Cobridor, Malkuth – a terra, o mundo físico, a existência material.

Os cargos de diáconos, hospitaleiros, expertos, bibliotecário, etc. – correspondem a satélites planetários, cuja atuação é complementar e símile à natureza dos astros ao redor dos quais eles giram.

“Alguns homens”, escreveu Moisés Maimonides, “lutam pela riqueza; outros gostariam de ser fortes e sadios; outros, ainda, almejam fama e gloria. Mas os sábios aplicam seu coração à sabedoria, a fim de que, sabendo, possam compreender o propósito de sua vida e conduzir o seu destino, antes que advenham as trevas”.

Fonte: JBNews - Informativo nº 0177 - 20 de fevereiro de 2011

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