ESCADA DE JACÓ
(republicação)
Em 25.06.2014 o Respeitável Irmão Carlos Bichuett, membro da Loja Estrela Uberabense, REAA, sem declinar o nome da Obediência, Oriente de Uberaba, Estado de Minas Gerais, apresenta a seguinte questão:
carlosbichuett@gmail.com
Dúvidas - Escada de Jacob. Tenho lido seus artigos e aprendido muito com suas colocações. Ultimamente tenho me questionado acerca do tema "Escada de Jacó" perante o REEA. O Irmão teria algum trabalho de sua autoria que poderia me indicar. Desde já, agradecido pela atenção.
Escada – do latim scalata, substantivo feminino que designa literalmente uma estrutura fixa ou móvel que é constituída por degraus e por onde se sobe ou desce para atingir pontos planos em alturas diferentes de uma construção, de um edifício, ou de um terreno. Figuradamente ela menciona pelos seus degraus a forma ou meio de alguém vencer ou se elevar nas etapas da vida ou, por exemplo, nas carreiras profissionais, etc.
Em Maçonaria, conforme os Ritos, ou Trabalhos (Craft) devem ser considerados três escadas: a de Jacob (e não Jacó), a Escada em Caracol e aquela de acesso ao Altar.
A Escada de Jacob é um apólogo de origem bíblica (Gênese, 28, 12) e representa a Escada que o personagem Jacob viu em sonho, cujo símbolo mencionava a providência e o cuidado especial de Deus por Jacob – os anjos conduziam em subida as suas orações e necessidades ao trono de Deus e de retorno desciam trazendo as graças divinas.
Já na Maçonaria, para os costumes que adotam essa alegoria (geralmente teísta) ela é representada pela Escada sobre o círculo entre as paralelas tangenciais, em cujo topo da mesma há uma estrela de sete pontas, o que em linhas gerais simboliza a ligação do iniciado com o Criador – as três virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade, símbolos representados sobre a Escada) mais as quatro virtudes da Justiça, da Prudência, da Temperança e da Coragem (as quatro borlas simuladas nos cantos da Tábua de Delinear) – quatro mais três igual a sete que é o número de pontas da estrela ao topo.
A Escada de Jacob como alegoria maçônica é original do Craft Inglês e em particular ao Trabalho de Emulação (aqui no Brasil equivocadamente chamado de Rito de York), cujo conjunto emblemático faz parte do “Tracing Board”, ou a Tábua de Delinear.
Dentre outros símbolos nela gravados, em direção ao firmamento está presente uma Escada que no sistema inglês representa o caminho simbólico percorrido e sustentado pela fé (cruz), pela esperança (âncora) e pela caridade (graal) – virtudes teologais.
No Brasil, onde impera a grande maioria de ritos de origem francesa, a alegoria da Escada não é símbolo integrante dessa estrutura doutrinária, embora para não fugir da costumeira invenção, as mentes criativas deram um jeito de inserir em alguns rituais a Tábua de Delinear inglesa no Rito Escocês que é francês sob a alegação de que a mesma (a tábua) seria denominada como “painel alegórico” – pura invenção.
Desse embrolho todo acabou resultando, conforme a Obediência brasileira, a existência errônea de dois painéis da Loja no Rito Escocês, quando originalmente nele só existe aquele (francês) situado no centro do Ocidente, em cujo conteúdo simbólico nem sequer revela a Escada de Jacob. Nesse embalo, seguiram-se instruções e interpretações de sistemas diferenciados (inglês e francês), porém misturados, o que se revela muitas vezes num verdadeiro caricato interpretativo.
Assim, a Escada de Jacob verdadeiramente não faz parte do ideário simbólico e doutrinário do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, muito embora no Brasil, pelo truanesco interpretativo, algumas Lojas ainda teimam em representá-la associando um pretenso número de degraus (não existe nenhuma acepção para essa quantidade) com os trinta e três graus do Rito Escocês.
Agora, se nem mesmo a Maçonaria Inglesa que é a fiel guardiã dos costumes antigos maçônicos nunca se atreveu a concluir a quantidade de degraus que compõem a Escada, então por que razões no Brasil ainda se ouvem pronunciamentos tais como: “mais um grau alcançado na Escada de Jacob?” Ora, fazer referência e comparar graus maçônicos com os degraus da Escada de Jacob é no mínimo um equívoco de interpretação, principalmente em se tratando do escocesismo simbólico que nem mesmo tem tradicionalmente essa “escada” no seu corolário doutrinário.
A título de ilustração e em tradução livre segue a interpretação inglesa donde é tradicional a alegoria da Escada de Jacob in The Secret Power of Masonic Symbols – Robert Lomas:
A esposa amada de Isaac por nome Rebeca por inspiração divina soube que uma benção investia a alma do seu marido e desejava obtê-la para o seu filho favorito que era Jacob. Entretanto por direito de primogênito a bênção era de direito de Esaú, o seu primogênito. Logo que Jacob por modo ardiloso obteve a bênção de seu pai, ele foi obrigado a escapar da ira do seu irmão que ameaçava em momento de fúria a mata-lo. Jacob partiu para Padã-Arã na terra da Mesopotâmia. Exausto e perambulando pelo deserto, ele se deitou em descanso tendo a terra como leito e uma pedra como travesseiro. O teto era a abóbada celeste. Teve ele então uma visão e viu uma escada que pelo seu topo alcançava o firmamento e os anjos do Senhor por ela subiam e desciam. Deus então firmou um acordo solene com Jacob – ser ele fosse fiel às Leis do Senhor e obedecesse aos seus mandamentos, Deus, além de levar Jacob de retorno para o lar de seu pai em paz e prosperidade, também tornaria Jacob o líder supremo de um grande e poderoso povo. A Escada de Jacob possuía muitos degraus, tantos relativos a muitas virtudes morais, embora as três principais virtudes sejam a Fé, a Esperança e Caridade.
Em relação à Tábua de Delinear inglesa e a Escada de Jacob, em tradução livre, descreve Robert Lomas:
A alegoria da Escada de Jacob descansa sobre o Livro das Sagradas Escrituras e se liga com a brilhante estrela da manhã que nasce no Oriente. É o símbolo da parte interior e física de um maçom que pela feição animal e mundana permanece na terra. Partindo dessa base, o espírito alcança o céu estrelado. As partes espirituais e carnais da natureza de um pedreiro estão em eterno conflito. A arte do Mestre o fez aprender a deixar as partes em equilíbrio perfeito e ainda permanecer na força para que sua alma se posicione firme contra a tentação e contra a franqueza.
Note que em nenhuma das interpretações inglesas acima há referência ao número exato da quantidade de degraus inerentes à Escada, muito menos os relacionando a qualquer grau maçônico, principalmente porque no sistema inglês não se admite qualquer grau acima do franco-maçônico básico (Maçonaria Azul ou Simbólica). No sistema francês, como é o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito e já mencionado, não existe tradicionalmente qualquer alegoria inerente à Escada de Jacob.
Melhores considerações a respeito dessa alegoria e dos Painéis ingleses e franceses se encontram no livro de minha autoria – Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom – Editora Maçônica A Trolha – Dezembro de 2.007. Sugiro ainda autores como Colin Dayer, Francisco de Assis Carvalho, dentre outros, bem como as Lições Prestonianas.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.528 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 20 de novembro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário