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quarta-feira, 23 de março de 2022

AS ANTIGAS OBRIGAÇÕES

AS ANTIGAS OBRIGAÇÕES
Por. H.L. Haywood
Tradução J. Filardo

Acabo de ler um artigo em um dos mais obscuros periódicos maçônicos onde um irmão desconhecido se sai com esta observação muito familiar: “Quanto a mim, não estou interessado nos documentos antigos mofados do passado. Quero saber o que está acontecendo hoje. “O contexto deixa claro que ele tinha em mente as Antigas Obrigações. Uma resposta suficiente a este ignorante é que as Antigas Obrigações estão entre as coisas que estão “acontecendo hoje. ” Eliminando-as da Maçonaria, como ela funciona hoje e nenhuma loja subordinada, ou Grande Loja, ou qualquer outro corpo maçônico regular poderia absolutamente operar; elas são o que a Constituição deste país é para o Governo dos Estados Unidos, e que seus estatutos são para cada estado da União. Todas as nossas constituições, estatutos, leis, normas, leis e regulamentos, de uma forma ou de outra se referem às Antigas Obrigações, e sem elas a jurisprudência maçônica, ou os métodos de governo e regulação dos assuntos jurídicos da Maçonaria, estariam pendurado, suspensos no ar. Na medida em que líderes maçônicos, Grão-Mestres, Veneráveis e Comissões de Jurisprudência ignoram ou esquecem, ou não compreendem estes estatutos maçônicos, eles cometem loucuras, e levam a Maçonaria a todos os tipos de empreendimentos selvagens e não maçônicos. Se algum mago pudesse conceber um método pelo qual uma concepção clara das Antigas Obrigações e o que elas representam pudesse ser instalada na cabeça de cada maçom ativo na terra, ele salvaria todos nós de momentos de constrangimento e livraria as Grandes Lojas e outros organismos dos Altos corpos das despesas desnecessárias de centenas de milhares de dólares a cada ano. Se existe uma necessidade prática, uma necessidade básica na Maçonaria hoje, é uma compreensão geral lúcida das Antigas Constituições e landmarks de nossa Ordem.

Entende-se por Antigas Obrigações (Old Charges) os documentos antigos que chegaram até nós a partir do século XIV e, posteriormente, nos quais são incorporadas à história tradicional, as lendas e as regras e regulamentos da Maçonaria. Eles são chamados de diversas formas

“Antigos Manuscritos”, “Antigas Constituições”, “Lendas da Ordem”, “Manuscritos Góticos”, “Antigos Registros”, etc., etc. Na composição física destes documentos são encontrados, às vezes, em forma de papel manuscrito ou rolos de pergaminho, cujas unidades são costuradas ou coladas, folhas escritas costuradas em forma de livro, e na forma impressa familiar de um livro moderno. Às vezes, elas se encontram incorporadas ao livro de atas de uma loja. Eles variam em data estimada, de 1390 até o primeiro quarto do século XVIII, e alguns deles são exemplares em bonita escrita gótica. O maior número deles está sob a guarda do Museu Britânico; a biblioteca maçônica de West Yorkshire, Inglaterra, tem em custódia o segundo maior número.

Como já foi dito, essas Antigas obrigações (Old Charges – como é o nome mais familiar) formam a base das constituições maçônicas modernas e, portanto, da jurisprudência. Elas estabelecem a continuidade da instituição maçônica por um período de mais de cinco séculos e, por implicação muito mais tempo e, ao mesmo tempo, e em sinal da mesma importância, prova a grande antiguidade da Maçonaria por documentos escritos, que é uma coisa que nenhuma outra ordem existente atualmente pode fazer. Esses manuscritos são tradicionais e lendários em forma e, portanto, não devem ser lidos como são as histórias, no entanto, um estudo cuidadoso e crítico deles baseado em provas internas lança mais luz sobre os primeiros tempos da Maçonaria do que qualquer outra fonte. Acredita-se que as Antigas Obrigações eram utilizadas na iniciação de um maçom nos tempos operativos; que eles serviram como constituições de lojas, em muitos casos, e às vezes funcionavam como o que hoje chamamos de carta constitutiva.

O estudo sistemático desses manuscritos começou em meados do século passado, altura em que a existência de apenas alguns entre eles era conhecida. Em 1872, William James Hughan listava 32. Em grande parte, devido aos seus esforços, muitos outros foram descobertos, de modo que, em 1889, Gould pode listar 62, e o próprio Hughan em 1895, tabulou 66 cópias manuscritas, 9 versões impressas e 11 versões perdidas. Esse número foi tão muito mais aumentado nos últimos anos que em “Ars Quatuor Coronatorum”, Volume XXXI, página 40 (1918), o irmão Roderick H. Baxter, hoje Venerável Mestre da Loja Quatuor Coronati, listava 98, número que incluía as versões conhecidas como perdidas. A lista do Irmão Baxter é peculiarmente valiosa na medida em que ela oferece dados a respeito de quando e onde esses manuscritos foram reproduzidos.

Por uma questão de ser mais capaz de comparar uma cópia à outra, o Dr. W. Begemann classificava todas as versões em quatro “famílias” gerais: A Família Grande Loja, a família Sloane, a família Roberts, e a família Spencer. Estes grupos de famílias, ele subdividia em ramos, e acreditava que a família Spencer era um desdobramento da Família Grande Loja e a Família Roberts um ramo da família Sloane. Desta forma geral de agrupamento, o doutor erudito foi seguido por Hughan, Gould e seus colegas, e sua classificação ainda se mantém em geral; tentativas têm sido feitas nos últimos anos para alterá-la, mas sem muito sucesso. Um dos melhores gráficos, com base em Begemann, é aquele feito pelo irmão Lionel Vibert, uma cópia do qual será publicada numa edição futura do THE BUILDER.

A primeira referência impressa conhecida dessas Antigas Obrigações foi feita pelo Dr. Robert Plot, em sua História Natural de Staffordshire publicada em 1868. O Dr. A.F.A. Woodford e William James Hughan foram os primeiros a realizar um estudo científico. As Antigas

Obrigações de Hughan é até hoje o trabalho-padrão em Inglês. O capítulo de Gould em sua História da Maçonaria provavelmente seria classificado em segundo lugar em valor, enquanto que os volumosos escritos do Dr. Begemann, com que ele contribuiu para o Zirkelcorrespondez, órgão oficial da Grande Loja Nacional da Alemanha, se eles tivessem sido traduzidos para inglês, nos dariam o tratamento mais exaustivo do assunto jamais escrito.

As Antigas Obrigações são peculiarmente Inglesas. Nenhum desses documentos jamais foi encontrado na Irlanda. Sabe-se que os manuscritos escoceses têm origem Inglesa. Findel e outros escritores alemães sustentaram certa vez que a versão em Inglês, em última análise, derivava-se de fontes alemãs, mas isso foi desmentido. O único ponto conhecido de semelhança entre as Antigas Obrigações e tais documentos alemães, como as Portarias Torgau e as Constituições de Colônia é a Lenda dos Quatro Mártires Coroados, e essa lenda é encontrada entre as versões em Inglês apenas no Manuscrito Regius. Como bem diz Gould, o MSS britânico “não tem antecessores, nem rivais”; eles são as coisas mais ricas e raras em todo o campo de escritos maçônicos.

Quando as Antigas Obrigações são colocadas lado a lado, vê-se imediatamente que na sua narração da história tradicional da Ordem, elas variam de um grande número de detalhes; no entanto, elas parecem ter derivado de alguma origem comum, e em geral elas contam a mesma história, que é tão interessante como a história de fadas de Grimm. Será que o original da narração tradicional veio de algum indivíduo ou nasceu de uma tradição flutuante, como os contos folclóricos dos povos antigos? As autoridades divergem muito neste ponto. Begemann não só declarou que a primeira versão da história se originou de um indivíduo, mas até mesmo definiu o que ele considera serem as fontes literárias utilizadas por esse Grande Desconhecido. Os argumentos do doutor são poderosos. Por outro lado, outros afirmam que a história começou como uma vaga tradição oral geral, e que com o passar do tempo foi reduzida a texto escrito. Em todo caso, por que a história foi escrita? Com toda probabilidade, uma resposta a essa pergunta nunca será direta, mas W. Harry Rylands e outros eram de opinião que as primeiras versões escritas foram feitas em resposta a um Writ for Return emitido em 1388. As palavras de Rylands podem ser citadas: “Parece-me não de todo improvável que muito, se não tudo da lendária história foi composto em resposta à Petição para Devolução emitida para as corporações em todo o país, no ano duodécimo de Ricardo II, 1388 d.C.”. (A.Q.C. XVL página 1 )

HAYWOOD, H.L., In, Capítulos de História Maçônica

Fonte: https://bibliot3ca.com

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