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quinta-feira, 8 de maio de 2025

ALEIJADINHO E A MAÇONARIA

por: Renan Williams Soglia Moore (*)

Aleijadinho e a Maçonaria – Uma Perspectiva Histórica da Ligação do Mestre à Irmandade

A Maçonaria é, por sua própria natureza, um sistema de moralidade velado em alegorias e ilustrado por símbolos.

Este conceito, profundamente enraizado na história da fraternidade, torna-se especialmente relevante no contexto da Igreja de São Francisco de Assis, localizada em São João del-Rei, no estado de Minas Gerais, Brasil.

Construída entre 1774 e 1809, esta igreja foi projetada e decorada por Antônio Francisco Lisboa , mais conhecido como Mestre Aleijadinho, sob a supervisão de Francisco de Lima Cerqueira e Francisco de Lima e Silva.

O caráter simbólico e esotérico de sua obra convida à reflexão sobre a possível ligação entre Aleijadinho e a Maçonaria, tema que tem gerado debates e especulações entre historiadores e estudiosos.

A Iniciação de Aleijadinho na Maçonaria: Um Enigma Não Resolvido

Ao longo da história, houve muito debate sobre a potencial iniciação de Aleijadinho na Maçonaria, embora não haja registros históricos ou documentos oficiais que confirmem isso.

A Maçonaria, como a conhecemos hoje no Brasil, começou a se organizar formalmente em 1822 com a fundação do Grande Oriente Brasileiro, que mais tarde se unificou como Grande Oriente do Brasil (GOB).

No entanto, os ideais maçônicos circulavam no Brasil desde o final do século XVIII, em meio ao movimento iluminista, o que influenciou o discurso político e cultural da época.

É possível que, embora a Maçonaria ainda não estivesse totalmente institucionalizada, suas ideias já estivessem influenciando a sociedade brasileira, como evidenciado pela primeira loja maçônica registrada no Brasil em 1797, no estado da Bahia, e seu provável envolvimento na Inconfidência Mineira.

Simbolismo Maçônico na Igreja de
São Francisco de Assis


A Igreja de São Francisco de Assis, com sua arquitetura impressionante e decoração intrincada, apresenta vários elementos que, quando examinados pela lente da Maçonaria, sugerem uma possível familiaridade do Aleijadinho com os rituais e símbolos da fraternidade.

A Maçonaria, com seu foco na liberdade de pensamento e expressão, desafia convenções e hierarquias estabelecidas, e isso se reflete nas obras de Aleijadinho.

Suas criações parecem carregar uma mensagem simbólica que aponta para os princípios da irmandade, como se o próprio Mestre tivesse escolhido deixar um legado visual que ressoasse com os ideais maçônicos de sua época.

Os símbolos maçônicos são evidentes no próprio layout da igreja. No interior, em dois altares laterais, localizados em posições geográficas exatas correspondentes a um templo do Rito Escocês Antigo e Aceito (A∴A∴S∴R∴), o Sol e a Lua são meticulosamente esculpidos, símbolos fundamentais para os maçons.

Além disso, os vitrais da igreja criam uma conexão simbólica com o nascer do sol, ecoando a conhecida expressão maçônica:

“Assim como o Sol nasce no Leste para fazer seu curso e começar o dia…”.

O arranjo preciso desses elementos cria uma atmosfera que faz referência direta ao ritual maçônico, principalmente em momentos como o amanhecer, quando o Sol passa por uma das janelas, criando uma cena visualmente marcante e simbolicamente rica.

Outro elemento de destaque na Igreja de São Francisco de Assis é a escultura de São João Batista, que aponta para cima, como se chamasse a atenção dos fiéis – ou, como os maçons podem interpretar, de seus irmãos.

A presença de São João Batista, símbolo de renovação e iniciação, parece reforçar a ideia de que a obra de Aleijadinho carrega uma mensagem mais profunda, talvez um convite à reflexão sobre os mistérios da vida e da espiritualidade.

Influência maçônica na arquitetura externa da Igreja


A Maçonaria não se limita ao interior da igreja, mas também se reflete em sua arquitetura externa.

As torres do campanário, juntamente com os batentes da porta principal e as colunas do portão, apresentam uma semelhança impressionante com as colunas de um templo maçônico, representando os pilares fundamentais da fraternidade.

Além disso, a cruz no topo da igreja é uma Cruz de Lorena, um símbolo associado às Cruzadas e aos Cavaleiros Templários, cujos princípios e mistérios são frequentemente ligados à Maçonaria.

Este símbolo, juntamente com a arquitetura da igreja, sugere uma possível conexão com o esoterismo medieval e os rituais iniciáticos que moldaram a história da irmandade.

Curiosamente, do outro lado da rua, a poucos metros da igreja, ergue-se a Associação de Artesãos de São João del-Rei, local que poderá, em tempos passados, ter sido uma loja maçónica ou uma guilda de maçons operativos.

Embora não haja evidências conclusivas, a possibilidade de Aleijadinho ter participado de reuniões maçônicas neste local não pode ser descartada, dado o contexto histórico e a presença de elementos maçônicos em sua obra.


Conclusão: O Legado do Aleijadinho e da Maçonaria

Embora as evidências documentais sobre a iniciação de Aleijadinho na Maçonaria sejam escassas, as evidências circunstanciais não podem ser ignoradas.

A simbiose entre a arte de Aleijadinho e os símbolos maçônicos é inegável e revela uma profunda ligação do Mestre com os ideais da irmandade.

Para um historiador maçônico, esses sinais podem não ser suficientes para uma confirmação definitiva, mas para um historiador maçom, eles carregam um peso simbólico significativo.

O legado de Aleijadinho, com suas obras-primas na Igreja de São Francisco de Assis, continua sendo um testemunho da fusão de arte, espiritualidade e princípios maçônicos.

A cidade de São João del-Rei, com sua rica história e sua inestimável igreja, convida todos, especialmente os maçons, a explorar os mistérios ocultos em sua arquitetura e simbolismo.

Assim, a figura de Aleijadinho se reafirma não apenas como um mestre da arte barroca, mas também como um homem possivelmente imerso nas influências da Maçonaria, cujos ensinamentos e símbolos estão imortalizados em sua obra.

A verdadeira iniciação de Aleijadinho, se é que ocorreu, permanece um mistério, mas sua obra continua falando por si, desafiando o olhar atento daqueles que buscam entender as profundezas da Maçonaria e do esoterismo.

Para os maçons, especialmente os maçons brasileiros, a Igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei continua sendo um local de devoção, reflexão e talvez de novas revelações sobre o legado do Mestre Aleijadinho.

(*) Renan Williams Soglia Moore M ∴ M ∴ de A ∴ R ∴ L ∴ S ∴ Fronteira Paulista n.º 448 (Bragança Paulista – SP), sob a égide da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo – GLESP. Bacharel em História e Especialista em História da Arte e Museologia

Fonte: Revista O Malhete

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