Em 19/11/2018 um Irmão que identifica apenas como Nil, Loja Aliança Curitibana, 176, REAA, GLP (CSMB), Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, apresenta a questão seguinte:
LUGAR DO APRENDIZ
Li sua Peça de Arquitetura sobre Aprendiz ter assento no Oriente. Gostaria de saber se tem alguma outra sobre a postura e local do Aprendiz em Loja, bem como orientações sobre o Aprendiz NÃO ter acesso ao Oriente.
Em se tratando do REAA, eu já escrevi bastante sobre o porquê de o Aprendiz e o Companheiro terem ingresso vetado no Oriente da Loja. Isso pode ser facilmente encontrado entre os meus escritos e respostas publicadas no meu blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br

Sob o ponto de vista histórico isso se deu no REAA desde a demarcação e elevação do Oriente do Templo por ocasião do aparecimento das hoje já extintas Lojas Capitulares ocorridas no primeiro quartel do século XIX em França, quando o Grande Oriente tinha sob a sua égide, além dos três graus simbólicos, também os graus de Perfeição e Capitulo do rito em questão (do 1º ao 18º). Nessa ocasião o Segundo Supremo Conselho ficava apenas com os Graus de Kadosh e do Consistório (do 19º ao 33º).
As Lojas, por abrangerem graus do simbolismo ao capítulo ficariam então conhecidas como Lojas Capitulares, assim o Athersata era também o Venerável Mestre. Com isso foram feitas adaptações no Templo do simbolismo para suportar a liturgia capitular. É bom que se diga que esse sistema, misto de graus do simbolismo com graus superiores não demoraria muito a ser extinto, sobretudo pelo não reconhecimento e aversão da Grande Loja Unida da Inglaterra a sistema de graus além do franco-maçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre).
Embora essa anomalia tenha vingado apenas por um tempo restrito, voltando tudo logo à normalidade, ficando o simbolismo com o Grande Oriente e os demais graus com o Segundo Supremo Conselho na França, alguns costumes do Capítulo, entretanto, acabariam enraizados para sempre no simbolismo do REAA, dos quais esse do Oriente elevado e demarcado. Graças a isso, e de modo prático, é que o Oriente se tornou por primeiro num ambiente exclusivo para os detentores dos graus capitulares e, por segundo, após a extinção desse sistema, num espaço privativo daqueles que atingiram a plenitude maçônica (grau de Mestre) - o que se dá até os dias atuais.

Isso, no sentido topográfico da senda no Templo, faz com que o Aprendiz ocupe lugar no topo do Norte (parede setentrional) em alusão ao espaço boreal que menos recebe luz solar no hemisfério setentrional (hemisfério onde nasceu a Maçonaria). Por óbvio, há que se entender que o Templo é simbolicamente um canteiro de obras decorado e estilizado; orientado do Ocidente para o Oriente, cujo segmento, representado pela superfície da Terra, ocupa um espaço sobre o equador terrestre entre os trópicos de Câncer e Capricórnio – observe-se que a Coluna Zodiacal inerente à constelação de Câncer se situa na parede Norte, enquanto que a de Capricórnio fica na parede Sul.
Na realidade, esse movimento aparente do Sol é o que institui sobre o Planeta inclinado as estações do ano, opostas em cada hemisfério, fazendo com que os ciclos da Natureza se apresentem num constante renascer e morrer, partindo da primavera, atingindo seu ápice no verão, o amadurecimento no outono e finalmente a morte no inverno.
Sob essa óptica a liturgia do simbolismo do REAA constrói esse teatro iniciático no seu Templo, onde os Aprendizes então ocupam o Norte, os Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente. Esse caminho (senda) é representado pelas Colunas Zodiacais em número de seis situadas no topo (parede) do Norte aludindo às estações da primavera e do verão, e outras seis no topo (parede) do Sul mencionando as estações do outono e do inverno. Por oportuno se faz cogente comentar que devido a isso jamais as Colunas Zodiacais podem ocupar as paredes do Oriente (sob o ponto de vista do Ocidente, além da balaustrada).
Assim, filosófica e doutrinariamente esse caminho iniciático sintetiza a transformação do homem iniciado tal qual como ocorre com a Natureza no espaço de um ano. É daí que os Aprendizes ocupam o Norte, os Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente, muito embora os Mestres, por já terem alcançado a sua plenitude, possam ocupar qualquer espaço no Templo, ou seja, além do Oriente, também o Ocidente – é por isso que se diz que se um Mestre vier a se perder, certamente ele será encontrado entre o Esquadro (lado ocidental) e o Compasso (lado oriental).
Seguindo a concepção da Ordem, da Harmonia e do Equilíbrio do Universo estabelecida pelos filósofos gregos, é que ninguém atingirá o ápice da sua caminhada sem antes ter passado pelas etapas obrigatórias do aperfeiçoamento. Se isso se dá com a Natureza que é Obra do Grande Arquiteto Criador, então o homem iniciado, como elemento partícipe dessa construção, deve seguir irrestritamente a ordem natural que constitui o caminho da sua vida – infância, juventude, maturidade e morte.
Uma das máximas a ser seguida pelo iniciado na Maçonaria é a de que ele percorre o caminho em direção da Luz, portanto para alcançá-la ele não pode se desviar e nem suprimir as etapas da sua existência. Em Maçonaria ninguém chega ao Oriente sem que antes tenha irremediavelmente passado pelo topo do Norte e do Sul respectivamente. Isso explica o porquê de os Aprendizes e Companheiros não ingressarem no Oriente numa Loja regularmente aberta.
Por fim, no que tange a postura de um Aprendiz em Loja, assim como a de um Companheiro e a de um Mestre, é de que todos aprendem conforme as exigências da Arte. Assim, só será um artífice capaz, aquele que tenha verdadeiramente compreendido como manusear com perfeição as “ferramentas” imprescindíveis para a construção de uma obra perfeita e duradoura, ou aquela que se refere ao seu Templo interior – a Grande Obra.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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