A FALSA SABEDORIA
Não se trata de novidade a
palavra “achismo”. Já tinha ouvido sua citação por eloquentes oradores, mas
confesso, nunca me tinha atentado em saber o seu real significado até que certo
dia ao ouvir mais uma vez alguém afirmar que “pau é pedra,” só porque, na sua
concepção o fato era tido como verdadeiro, dei-me conta rapidamente de que a
conotação daquela palavra não me era assim tão estranha, mas, ao contrário, eu
já vinha convivendo, havia algum tempo, com o que o “achismo” significa.
O citado vocábulo tem como
sentido a convicção de quem, de modo irresponsável, sustenta um fato tipificado
em norma ou em instruções similares, de outra forma baseando-se em meras
suposições. Ele retrata uma cultura que, a despeito da incerteza, leva o
indivíduo a crer que o modo como os fatos devem ser corretamente interpretados
não seja o da interpretação das regras que o tipificam, o do conhecimento da
verdade, mas o que se baseia no auto-entendimento e na convicção pessoal. É o
vocábulo que se atribui às pessoas que fazem comentários ou sustentam posições
com pontos de vista definidos, com argumentação firme, porém, sem propriedade.
Por isso o achismo é a demonstração do falso conhecimento. É o erro que alguém
comete em afirmar convictamente algo que acha ser verdadeiro, correto, com base
apenas em suposições. Com todo esse arcabouço em torno de si o “achismo” ainda
se completa passando-se por mecanismo ilusório, enganoso acerca da verdade.
Se prestarmos um pouco mais de
atenção no comportamento das pessoas quando estão fazendo parte de uma reunião,
de uma assembleia, de um plenário etc., notaremos, com facilidade, quem é
achista entre os que fazem uso da palavra. Ele normalmente é o que mais pede
aparte e, por consequência, é o que mais vezes faz uso da palavra tentando
assim persuadir os que o ouvem a aceitarem seus argumentos.
Embora incorporando o falso juízo da verdade por não ter conhecimento absoluto
do conteúdo daquilo que afirma, o “achista” é sempre categórico na sustentação
de seus argumentos, da maneira que os supõe ser, por considerar os que o ouvem
como menos esclarecidos. Mas na escala dos valores intelectuais essa situação
acha-se invertida, pois o “achista” é aquele que acha que sabe, porém, o
suporte, o ponto de apoio daquilo que ele pensa nunca é o conhecimento, mas as
conclusões a que ele chega segundo sua própria convicção.
A prova disso são as evidências.
Certo dia, em uma Loja Maçônica interiorana, realizava-se uma sessão em que na
Ordem do Dia tratavam os Irmãos da “filiação” de um candidato oriundo de outra
Loja, portador de “Quite Placet” não vencido (o maçom só se torna irregular
depois de vencido o prazo de validade do seu “Quite Placet”), quando alguém
invocando claramente o princípio do “achismo”, levantou a voz para dizer que o
processo em discussão deveria ser tratado como “regularização” e não
“filiação.”
Diante do que foi dito, o
desenrolar dos trabalhos, que até àquele momento era normal, tumultuou-se de
repente em meio a inúmeros apartes. Muitos falavam fazendo uso do “achismo.”
Outros tantos, os eruditos, falavam citando bases legais como argumentos de
seus pontos de vista e só depois de um bom tempo de acalorado debate
concluiu-se acertadamente que o caso tinha mesmo que ser tratado como
“filiação.”
Naquele dia muito se trabalhou e
pouco se produziu. Houve perda de tempo por conta de uma intervenção inócua,
desprovida de cunho legal e motivada pelo exercício do chamado “achismo”, tendo
sido seu protagonista o responsável pela grande confusão, pela discussão
desnecessária o que, no final, quase levou ao erro os que se encontravam no
caminho de um trabalho sério, justo e perfeito.
Em nome da vaidade muitos querem
reverberar refletindo falsa sabedoria. Este fato parece coisa banal, de pouco
interesse, mas quando se refere a trabalhos litúrgicos da maçonaria o mesmo
assume proporções desastrosas para a Ordem uma vez que a adoção do incerto e
duvidoso é o desprezo à sabedoria e ao conhecimento dos princípios, normas e
regulamentos que regem a mencionada instituição. E aí eu próprio me pergunto:
Por que intervir, por que querer se impor sem ter conhecimento da verdade?
Anestor Porfírio da Silva
M∴I∴ e membro ativo da ARLS Adelino Ferreira Machado Or∴ de Hidrolândia-Goiás
Conselheiro do Grande Oriente do Brasil/Goiás anestorporfirio@gmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.092
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