Ir∴ Anatoli Oliynik, ex-V.M.
Na Maçonaria, existem basicamente
três tipos característicos de Maçons: 1) os que trabalham; 2) os que fazem trabalhar; 3) os que dão
trabalho.
Aliás, estes tipos de pessoas
existem em todas as organizações. Portanto, não é um privilégio exclusivo da
Maçonaria.
É por causa dos Maçons que não
trabalham, mas que dão um trabalho danado para os Veneráveis Mestres, que
estamos buscando fórmulas no sentido de encontrar um perfil ideal de pessoa que
possa atender aos interesses da maçonaria brasileira e cumprir aos seus
desígnios.
Para estabelecermos o perfil do
novo maçom, precisamos, antes de qualquer coisa, mudar os nossos paradigmas.
Paradigmas são as lentes através
das quais vemos o mundo e determinamos o nosso modo de pensar e de agir. Como
conseqüência, vemos o mundo não como ele é, mas como nós somos, ou seja, como
estamos condicionados a vê-lo. Os resultados da pesquisa demonstram isso com
muita clareza.
Para mudar os paradigmas e com
isso alterar os nossos processos mentais, resultando comportamentos diferentes,
precisamos analisar e entender como esses comportamentos e atitudes são
gerados.
Tanto o relacionamento, quanto o
comportamento humano, são campos muito delicados de serem tratados.
O comportamento é um dos pontos
que requer muita habilidade, pois ele é um somatório de vários itens, entre os
quais podemos citar: educação, personalidade, temperamento, estágio de
desenvolvimento, entre outros.
É comum observar nas respostas
dos candidatos à iniciação, a citação de que pretendem entrar para a maçonaria
para obter maior desenvolvimento pessoal. Entretanto, os candidatos não
respondem, e nós nunca perguntamos a eles, o que eles pretendem realmente fazer
com tal desenvolvimento.
À medida que eles avançam, agora
Aprendizes, depois Companheiros e mais tarde Mestres, vamos distinguindo, com
muita clareza, aqueles que alcançaram o que pretendiam, daqueles que ficaram
somente na intenção.
O processo de maturidade das
pessoas é construído por meio da alteração do estado de dependência para o
estado de independência, e desta para a interdependência.
A trajetória (dependência -
independência) inicia-se na infância. A criança precisa ser alimentada e
cuidada, aprende a andar, falar, ler, escrever, e segue paulatinamente rumo à
provável independência.
Digo provável, porque a
maturidade física nem sempre é acompanhada da maturidade emocional e muitas
pessoas mantêm-se dependentes mesmo na fase adulta, o que as impede de
vivenciar a interdependência.
A imaturidade emocional
concentra-se em alguns focos de dependência: a família, a esposa, o dinheiro, o
trabalho, o prazer, os bens, a igreja, são alguns exemplos.
O objetivo dessa digressão não é
o de dar uma aula sobre maturidade emocional, mas demonstrar como este aspecto
é importante na análise do perfil do futuro maçom, senão vejamos:
1. A família, a esposa do
candidato, ou ambos, não vêem a maçonaria com bons olhos, mas acabam
concordando com o seu ingresso. Este fato, por si só, coloca o candidato numa
situação de dependência.
2. O candidato não ganha o
suficiente para manter a sua família, quanto mais assumir novos compromissos
financeiros que a Maçonaria lhe impõe. Temos aqui uma nova situação de
dependência.
3. O padre da paróquia que o
candidato, a sua família, os seus amigos e vizinhos freqüentam, hostiliza a
Maçonaria com freqüência. Se o mesmo for iniciado, acabará se tornando
dependente do preconceito, pois jamais revelará aos seus amigos, vizinhos e
pároco, a sua condição de maçom.
Este mesmo raciocínio se aplica a
outros fatores correlatos.
Talvez, o primeiro e mais
importante requisito para definir o perfil do novo maçom seja avaliar o grau de
dependência e de independência do candidato para estabelecer o seu grau de
maturidade, não só física, mas também emocional.
Os nossos processos de
sindicâncias não estão preparados para possibilitar esta análise. Também tenho
dúvidas se nós mesmos, como sindicantes, estamos aptos para fazê-lo.
Por isso precisamos mudar os
nossos paradigmas quanto ao processo utilizado para recrutar candidatos, trocar
as lentes através das quais vemos o mundo e alternar os nossos processos
mentais.
Uma coisa é certa: só a pessoa
independente pode agir de forma interdependente!!!
São pessoas com alto grau de
interdependência, que a maçonaria precisa.
Por isso, quando se fala em
dinheiro como aspecto importante na definição do perfil do novo maçom, não
estamos falando no sentido de tomá-lo do candidato, mas no sentido de
avaliarmos um dos componentes do grau de dependência ou independência do
candidato.
O mesmo raciocínio se aplica ao
grau de instrução.
Uma pessoa com baixo nível de
escolaridade é um dependente da sua própria ignorância. Tem dificuldade de
interpretar textos e idéias, tropeça nos significados das palavras, sente-se
inferiorizado nas discussões mais elevadas, tem dificuldade de abstrair,
substanciar, concluir idéias e expressar pensamentos.
Entendo que o candidato deva ser:
- participativo;
- colaborador;
- realizador.
Estes atributos conduzem o
indivíduo ao comprometimento. No entanto, não basta apenas ser; é preciso,
também:
- Ter capacidade de pensar
sistematicamente, de ver o todo, de abstrair, de criar e inovar, de chegar à
essência das coisas, de fazer acontecer, de se comunicar, de se relacionar, de
iniciar mudanças, de energizar pessoas, de observar, de ler, entender e
extrair.
- Ter notório saber cuja
capacidade cultural esteja relacionada a conhecimentos gerais, atualidades,
conexões com o ambiente atual, participação em conferências, grupos de
discussão, grupos sociais, curiosidade com relação a outras culturas e modos de
vida e adaptação às tecnologias disponíveis.
- Ter estabilidade financeira
para que possa ser um indivíduo independente, neste quesito, e exercer a
interdependência nos seus relacionamentos, sem ostentação ou superioridade.
CONCLUINDO:
As Lojas precisam definir o seu
papel na sociedade, pois somente a partir da definição da sua missão (qual a
finalidade da loja? para que a loja existe?), que poderão definir o perfil do
novo maçom, de modo que os candidatos atendam as necessidades fundamentais da
loja.
Para este mister as lojas
precisam operacionalizar o seu planejamento estratégico. Já existe a
metodologia, já existe a orientação formal dada pelo Grão-Mestre do Grande
Oriente do Brasil - Paraná, para que as Lojas implementassem no mais curto
período de tempo o seu planejamento estratégico.
A questão sobre o assunto foi
exaustivamente tratada, já no IV Congresso realizado há 2 anos atrás (2000) no
Oriente de Maringá. O que falta agora, é fazer. É preciso fazê-lo com urgência,
pois já não é mais possível continuar postergando tão importante iniciativa
para as próprias lojas, para o Grande Oriente do Brasil - Paraná e para a
Maçonaria Brasileira.
Palestra realizada em 2002.
Com a fraternal saudação do Ir.
Rui Jung Neto, ex-V.M. da
Cinq. Ben. A.R.L.S.
"Concordia et Humanitas" Nr. 56 - ao Or. de Porto Alegre - RS
Fundada em 24/06/1958 - Rito
Schröder - M.R.G.L.M.E.R.G.S.
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