Irmão Albert G. Mackey
Tradução: Luciano R. Rodrigues
Eu acredito que existam muitos Maçons que são desconhecedores dos princípios da Maçonaria, assim como há homens de todas as classes que estão sujeitos à ignorância da sua própria profissão. Não existe um relojoeiro que não saiba sobre os elementos de relojoaria, nem um ferreiro que não esteja totalmente familiarizado com as propriedades do ferro em brasa. Subindo para os mais altos caminhos da ciência, eu ficaria muito surpreendido se encontrasse um advogado que fosse ignorante dos elementos de jurisprudência, ou um médico que nunca tenha lido um tratamento sobre uma patologia, ou um clérigo que não saiba absolutamente nada de teologia. Entretanto, nada é tão comum quanto encontrarmos Maçons que estão na completa escuridão a respeito de tudo que se refere à Maçonaria. Eles são ignorantes da sua história, não sabem se uma produção é atual ou se ela vem de eras remotas na sua origem. Eles não têm compreensão do significado esotérico de seus símbolos ou suas cerimônias e, dificilmente, entendem seus modos de reconhecimento. No entanto, é muito comum encontrar esses socialistas na posse de Graus elevados e, por vezes, sendo homenageados por altos membros da Ordem, presente nas reuniões de Lojas e Capítulos, se intrometendo nos procedimentos, tomando parte ativa em todas as discussões e persistindo na manutenção de opiniões heterodoxas, em oposição ao julgamento dos Irmãos de muito maior conhecimento.
Por que razão acontecem tais coisas? Por que, só na Maçonaria, deve haver tanta ignorância e tanta presunção?
Se eu pedir a um sapateiro para me fazer um par de botas, ele me diz que só corrige e remenda, e que ele não aprendeu os ramos mais altos de seu ofício, e, então, honestamente, nega o trabalho oferecido. Se eu pedir a um relojoeiro para construir um motor para o meu cronômetro, ele responde que não pode fazê-lo, que ele nunca aprendeu a fazer motores, que pertence a um ramo mais elevado do negócio, mas que, se eu trouxer uma mola pronta, ele pode inseri-la no meu relógio, porque ele sabe como fazer. Se eu for a um artista com uma ordem para me pintar um quadro histórico, ele irá me dizer que está além de sua capacidade, que ele nunca estudou ou praticou este tipo de detalhes, mas limitou-se à pintura de retratos. Se ele fosse desonesto e presunçoso, iria pegar o meu pedido e, em vez de uma imagem, me daria uma pintura tosca. É exclusiva do Maçom a falta dessa modéstia. Ele está muito apto a pensar que o compromisso não só faz dele um Maçom, mas um Maçom sábio, ao mesmo tempo. Ele também, muitas vezes, imagina que as cerimônias místicas que ocorrem na Ordem são todo o necessário para torná-lo conhecedor de seus princípios. Há algumas seitas cristãs que acreditam que a água do batismo, de uma só vez, lava todos os pecados, do passado e do futuro. Portanto, há alguns Maçons que pensam que o simples ato de Iniciação é, de uma só vez, seguido por um fluxo de todo o conhecimento maçônico. Eles não precisam de mais estudo ou pesquisa. Tudo o que eles exigem conhecer já foi recebido por um tipo de processo intuitivo.
A grande sociedade dos Maçons pode ser dividida em três classes. A primeira é composta por aqueles que não Iniciaram com um desejo de conhecimento, mas de algum motivo acidental, nem sempre honrado. Tais homens foram levados a buscar a admissão ou porque era provável, em sua opinião, para facilitar suas operações de negócios, ou para avançar suas perspectivas políticas, ou de alguma outra maneira de beneficiá-los pessoalmente. No início de uma guerra, centenas migram para as Lojas, na esperança de obter o “sinal místico”, que vai ajudá-lo na hora do perigo. Tendo seu objetivo alcançado, ou não, estes homens se tornam indiferentes e, com o tempo, se enquadram na categoria de irregulares. Desses Maçons não há esperança. Eles são árvores mortas, com nenhuma promessa de frutos. São totalmente inúteis e incapazes de melhoria.
Há uma segunda classe que consiste de homens que são a moral maçônica e totalmente oposta da primeira classe. Estes fazem o seu pedido de admissão, acompanhado, como o Ritual requer, “de um parecer favorável da Instituição e um desejo de conhecimento”. Assim que eles são Iniciados, eles conseguem ver, através da cerimônia pela qual passaram, um significado filosófico digno do trabalho de pesquisa. Eles se dedicam a esta pesquisa. Eles obtêm livros maçônicos, lêem jornais maçônicos e conversam com Irmãos bem informados. Familiarizam-se com a história da Maçonaria. Eles investigam sua origem e seu formato atual. Eles exploram o sentido oculto dos seus símbolos e absorvem a interpretação. Tais Maçons são sempre membros úteis e honrados da Ordem e, frequentemente, tornam suas luzes brilhantes. Sua vela queima para a iluminação dos outros e para eles, estão em dívida com a Instituição por qualquer que seja a posição elevada que tenham alcançado. Não é para eles que este artigo é escrito.
Mas entre estas duas classes que acabamos de descrever existe um intermediário, não tão ruim quanto o primeiro, mas muito abaixo do segundo, que, infelizmente, está incluído no conjunto da Fraternidade.
Essa terceira classe consiste de Maçons que se juntaram à Maçonaria sem ter objetivos e com, talvez, a melhor das intenções. Mas eles não conseguiram realizar estas intenções.
Eles cometeram um erro grave. Eles supõem que a Iniciação é o todo necessário para torná-los Maçons e que um novo estudo é totalmente dispensável. Sendo assim, eles nunca leram um livro maçônico. Traga ao seu conhecimento as publicações dos autores maçônicos mais famosos e seu comentário será que eles não têm tempo para ler. Mostre-lhes uma revista maçônica de reputação reconhecida e peça para ele fazer a assinatura. A resposta é que eles não podem pagar, os tempos são difíceis e o dinheiro é escasso.
E, no entanto, o que não falta é ambição maçônica em muitos desses homens. Mas sua ambição não é na direção certa. Eles não têm sede de conhecimento, mas têm uma grande sede para cargos e Graus. Eles não podem gastar dinheiro ou tempo para a compra ou leitura de livros maçônicos, mas eles têm o suficiente de ambos para gastar na aquisição de Graus maçônicos.
É surpreendente como alguns Maçons que não entendem as mais simples noções da Arte, e que falharam completamente para compreender o alcance e o significado da Maçonaria simbólica, empunham as honras vazias dos altos Graus. O Mestre Maçom que sabe muito pouco do Grau de Aprendiz Maçom, deseja ser um Cavaleiro Templário. Ele não sabe nada e não espera saber qualquer coisa da história dos templários ou como e por que estes cruzados foram incorporados na irmandade maçônica. A altura da sua ambição é usar a cruz Templária sobre o peito. Se ele entrou no Rito Escocês, a Loja de Perfeição não vai dar conteúdo a ele, embora este Grau forneça material para meses de estudo. Ele sobe com prazer, mais alto na escala de classificação e, por esforços perseverantes, ele pode alcançar o cume do Rito e ser investido com o Grau 33, mas pouco absorveu de qualquer conhecimento da organização do Rito ou das lições sublimes que ele ensina. Ele atingiu o auge de sua ambição e está autorizado a usar a "águia de duas cabeças".
Tais Maçons não são distinguidos pela quantidade de conhecimento que eles possuem, mas pelo número das joias que eles usam. Eles são capazes de gastar uma alta soma para se enfeitarem, mas não dão cinquenta centavos para adquirir um livro.
Esses homens são um grande prejuízo para a Maçonaria. Eles são chamados de zumbidos. Mas eles são mais do que isso. Eles são as vespas, o inimigo mortal de abelhas laboriosas. Eles dão um mau exemplo para os Maçons mais jovens, eles desencorajam o crescimento da literatura maçônica, eles distanciam homens intelectuais, que estariam dispostos a cultivar a ciência maçônica, para outros campos, que deprimem as energias de nossos escritores, e eles rebaixam o caráter da Maçonaria especulativa como um ramo da filosofia mental e moral. Quando profanos veem homens que possuem altos Graus e cargos na Ordem, que são quase tão ignorantes quanto eles mesmos sobre os princípios da Maçonaria e que, se solicitado, diriam que eles encaram apenas como uma instituição social. Esses profanos naturalmente concluiriam que não há nada de grande valor em um sistema cujas posições mais altas são realizadas por homens que professam não ter conhecimento do seu desenvolvimento.
Não se deve supor que todos os Maçons sejam Maçons instruídos ou que a todo homem que é Iniciado, seja obrigatório se dedicar ao estudo da ciência e literatura maçônica. Tal expectativa seria insensata e irracional. Nem todos são igualmente competentes para captar e reter a mesma quantidade de conhecimento. Ordem é a primeira lei do paraíso e este reconhecimento é de que alguns são, e devem ser maiores do que o restante, mais ricos e mais sábios.
Tudo o que eu afirmo é que, quando um candidato entra na Maçonaria, ele deve sentir que há algo melhor do que seus meros toques e sinais, e que ele deve esforçar-se, com toda a sua capacidade, para atingir algum conhecimento e este é o melhor objetivo. Ele não deve procurar avançar para Graus mais elevados até que ele saiba alguma coisa do Grau inferior, nem se agarrar a cargos, a menos que ele já tenha adquirido algum conhecimento maçônico, uma obrigação particular. Certa vez conheci um Irmão cuja ganância para cargos o levou a ocupar os cargos da administração de sua Loja, depois foi Grão-Mestre da jurisdição e que, durante todo esse período, nunca leu um livro maçônico, nem tentou compreender o significado de um único símbolo. No ano que foi Venerável Mestre, ele sempre achou oportuno ter uma desculpa para a sua ausência, nas noites em que havia cerimônia para conferir Graus. No entanto, por suas influências pessoais e sociais, ele tinha conseguido elevar-se na hierarquia, acima daqueles que tinham melhor conhecimento maçônico. Eles estavam realmente muito acima dele, porque todos sabiam alguma coisa, e ele não sabia nada. Se tivesse permanecido no fundo, ninguém poderia se queixar. Mas, onde ele estava, e valendo-se de sua posição, ele não tinha o direito de ser ignorante. A sua presunção constituía uma ofensa.
Outro exemplo ainda mais marcante de ignorância: alguns anos atrás, durante a edição de um periódico maçônico, recebi uma carta de um assinante que era o Grande Conferencista de uma certa Grande Loja, mas desejava interromper sua assinatura. Ao atribuir a sua razão, ele disse “embora o trabalho contenha muita informação valiosa, não terei tempo para ler, pois dedicarei todo o presente ano para o ensino”. Não posso deixar de imaginar o que um professor como este homem, deve ensinar, e que alunos ele deve instruir.
Este artigo é maior do que eu pretendia que fosse. Mas sinto a importância do assunto. Existem em nosso país milhares de Maçons ativos. Quantos deles são leitores? Metade, ou um décimo? Apenas um quarto dos homens que estão na Ordem lê um pouco e não dependem de que todos saibam disso em visitas a suas Lojas, eles têm as noções mais elevadas de seu caráter. Através deles, simpáticos estudiosos são encorajados a discutir os seus princípios e dar ao público os resultados dos seus pensamentos e boas revistas maçônicas desfrutam de uma existência próspera.
Agora, pela razão de existirem tão poucos Maçons que leem livros maçônicos, dificilmente fazem mais do que pagar as editoras e a despesa de impressão, enquanto que os autores não recebem nada e as revistas maçônicas estão sendo, ano após ano, levadas para a Academia literária, onde os cadáveres de periódicos defuntos são depositados, e, o pior de tudo, a Maçonaria resiste a golpes deprimentes.
Um Maçom que lê, porém pouco, não apenas as páginas da revista mensal de que é assinante, irá alcançar uma visão mais ampla da Instituição e desfrutar de novos prazeres na posse desses pontos de vista. Os Maçons que não leem, nunca vão saber nada da beleza interior da Maçonaria, mas terão a capacidade de ingressar em algo como Odd Fellowship, ou a Ordem dos Cavaleiros de Pítias. Tal Maçom deve ser um indiferente. Ele não tem paixão estabelecida.
Se essa indiferença, em vez de ser decretada, vir a ser mais amplamente difundida, o resultado é muito aparente. A Maçonaria deve passar a uma posição mais elevada, como tem duramente tentado, através dos esforços de seus estudiosos, e as nossas Lojas não devem deixar de lado o pensamento especulativo e filosófico e se transformarem em clubes sociais ou simples entidades de caridade, como observamos em muitos casos. Com tantos rivais nesse campo, a luta da Sublime Ordem por uma vida próspera será muito dura.
O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência de seus discípulos.
(Publicado em 1875 e reimpresso no “The Master Mason” em Outubro de 1924.)
Fonte: O Ponto Dentro do Círculo - O Prumo de Hiram
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