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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 25 de agosto de 2020

COR DO AVENTAL

COR DO AVENTAL
(republicação)

Em 21/01/2016 o Respeitável Irmão Raimundo Nonato Rebouças, Loja Emídio Fagundes, REAA, GOIERN (COMAB), Oriente de Natal, Estado do Rio Grande do Norte formula a seguinte questão: raimundo1005@hotmail.com

Por que o GOB e as Grandes Lojas usam aventais azuis, uma vez que, o REAA tem a cor vermelha como oficial? Fico no aguardo da sua ajuda a fim de dirimir as minhas dúvidas sobre a confusão que reina em nossos rituais.

CONSIDERAÇÕES:

Mesmo depois de já ter sido esse um assunto exaustivamente abordado e provado à luz da história e da razão que os aventais de Mestre no REAA são verdadeiramente confeccionados em pele, ou material similar na cor branca e recobertos nas suas bordas e abeta por uma fita vermelha (encarnada) com aproximadamente cinco centímetros de largura, tendo ainda bordadas em vermelho sobre o avental as letras M e B, descrição essa oficializada desde 1.875 por ocasião do Congresso de Lausanne na Suíça, ainda no Brasil, mesmo na contramão da história, o GOB e as Grandes Lojas Estaduais Brasileiras, insistem equivocadamente em manter seus aventais de Mestre do REAA em azul no lugar do vermelho, agravando-se ainda pela substituição das autênticas letras M e B por três rosetas azuis dispostas sobre o avental.

A cor vermelha (púrpura, encarnada, escarlate – cor do Cardeal) faz parte da decoração do REAA graça às influências jacobitas dos Stuarts – reis católicos (ver revolução puritana de Cromwell na Inglaterra a partir de 1.649 in origens do escocesismo) e posteriormente com o aparecimento na França, já no século XIX, das hoje já extintas Lojas Capitulares, cuja decoração das mesmas era sabidamente vermelha, assim como continua sendo a cor Capitular dos Graus filosóficos que vivem sob a égide de um Supremo Conselho do REAA.

Historicamente essa anomalia brasileira de azular os aventais de Mestre no escocesismo, muito ao gosto dos que acham bonito o azul, já apareceria pontualmente em um decreto do Grão Mestre do GOB no ano de 1.889, inclusive muito discutível como um decreto inconstitucional, até porque a Constituição gobiana da época previa aventais de Mestre no escocesismo orlados em escarlate.

Alguns autores ainda destacam que provavelmente esse decreto veio aparecer por influência de Irmãos dos Ritos Moderno e Adonhiramita, Ritos esses praticados desde os primórdios do GOB e que possuem sabidamente aventais orlados de azul.

Entretanto, o fato que viria sacramentar esse equívoco de aventais azuis no simbolismo do REAA aqui no Brasil, foram os acontecimentos hauridos da grande cisão determinada pelo Irmão Mário Marinho Béhring ocorrido no Grande Oriente do Brasil em 1.927 cujos acontecimentos resultaram na fundação do sistema das Sereníssimas Grandes Lojas Estaduais brasileiras.

Sem se aprofundar nos detalhes históricos desse acontecimento, no que concerne a cor do avental um fato seria o vetor principal que sacramentaria esse matiz azulado na insígnia do Mestre.

Béhring, buscando reconhecimentos para a sua Obediência recém-criada, fez por buscar os mesmos nas Grandes Lojas dos Estados Unidos da América do Norte que, sabidamente praticam os três Graus do Craft Americano, sistema esse oriundo dos Antigos de 1.751 na Inglaterra, cujos Graus do Francomaçônico básico são denominados em solo Norte-Americano como as Lojas Azuis e possuem aventais para os seus Mestres coincidentemente também orlados em azul (cor haurida do Craft inglês).

Apenas para esclarecer: o título “Lojas Azuis”, embora pareça sugestivo, nada tem a ver com a cor dada aos aventais do Rito Americano. Como título ele é apenas o nome dado ao simbolismo na Maçonaria norte-americana - a Maçonaria Azul (não confundir cor distintiva de um sistema simbólico com a cor constitutiva de um rito e nem especificamente a de um avental).

Disso tudo, Béhring na busca do reconhecimento mencionado que, diga-se de passagem, fora conseguido, provavelmente para agradar os norte-americanos, acabou adotando a mesma cor dos aventais das Lojas Azuis norte-americanas para os aventais escoceses aqui no Brasil.

Assim, viria então aparecer de modo oficial nas Grandes Lojas Estaduais brasileiras, mesmo que contramão da história, o matiz azulado para os aventais do Terceiro Grau do REAA.

No tocante aos aventais azuis e o escocesismo no GOB, com o completo desaparecimento a partir de 1.951 das irregulares Lojas Capitulares (sistema misto simbólico-filosófico) da Maçonaria brasileira e ainda por influência de muitos Irmãos oriundos das Grandes Lojas Estaduais, paulatinamente o Grande Oriente do Brasil também viria adotar em definitivo esse outro erro crasso (aproximadamente desde 1965), não sem antes ter ainda inventado a aberração de um avental orlado por um debrum vermelho em torno do azul (a emenda ficava assim maior do que o soneto) – felizmente esses aventais a posteriori vieram a desaparecer.

Entretanto o avental de Mestre do REAA acabou continuando a afrontar a verdadeira tradição, permanecendo quase que consuetudinariamente todo orlado em azul tal como ele continua até o presente no GOB, assim como nas Grandes Lojas estaduais brasileiras.

À bem da verdade, atualmente aqui no Brasil apenas as Lojas subordinadas à COMAB é que mantém no REAA o verdadeiro e tradicional avental MB vermelho do Mestre Maçom.

Nesse bonde dos equívocos, além de outros, pegaria carona também a cor das paredes internas do Templo simbólico do escocesismo, cuja cor autêntica é aquela escarlate idêntica à dos aventais e não azuis como comumente é encontrada numa grande parcela de Templos do REAA no Brasil.

Segue uma pequena transcrição que eu publiquei no livro de minha autoria denominado Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom – Tomo I, relativa à cor dos aventais e decoração escocesa onde mantive a grafia da época conforme o “Guia dos Maçons Escossezes ou Reguladores dos Três Gráos Symbólicos do Rito Antigo e Aceito – Grande Oriente Brazileiro” impresso em 1.834 na tipografia Seignot-Plancher, Rua do Ouvidor, 96, Rio de Janeiro, página 46 – Decoração da Loja ou Templo:

“As paredes do templo, mezas, docel, etc., são forradas de encarnado1 no rito escossez e de azul no rito moderno e adonhiramita; nestes dous últimos os galões e franjas dos paramentos devem ser de prata ou de fazenda de côr branca e no primeiro de ouro”.

Ainda no mesmo Guia, página 49 - Das insígnias e joias do Rito Escocês Antigo e Aceito:

“Gráo 3.º - Fita azul orlada de escarlate2 a tiracollo da esquerda para a direita, suspensa em baixo a joia, que é um esquadro e um compasso de ouro entrelaçados; a joia pode ser cravejada de pedras. Avental branco de pelle forrado e orlado de escarlate com uma algibeira abaixo da abêta, sobre a qual estão bordadas as letras MB”.

T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.141 – Florianópolis (SC) – sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Um comentário:

  1. Perfeito, em fim o que define a cor do avental, não é a "potência e ou obediência", mas sim o Rito adotado.

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