Em 18.05.2022 o Respeitável Irmão Perílio Barbosa Leite da Silva, Loja Arte e Virtude, 1376, REAA, GOB-MG, Oriente de Lajinha, Estado de Minas Gerais, solicita esclarecimentos para o que segue:
PROPORÇÃO ÁUREA
Ouvindo a entrevista de um Grão-mestre estadual, ele mencionou algo sobre proporção áurea, poderia explanar sobre isso sob o ponto de vista da filosofia maçônica?
CONSIDERAÇÕES:
Proporção áurea. Em termos matemáticos, menciona ser uma constante real algébrica utilizada nas artes e na arquitetura.
Representada pela letra grega Phi, segundo alguns tratadistas a escolha desse nome se deu em razão de que o arquiteto e matemático grego Phidias muito provavelmente tenha, no século V a. C., empregado essa proporção no projeto arquitetônico do Parthenon.
Ainda, segundo alguns historiadores consta que Platão foi um grande admirador da proporção áurea, enquanto que Euclides a descreveu na sua obra “Os Elementos”.
Mais tarde, por volta do primeiro quartel do século XIII, Leonardo Fibonacci descobriu propriedades sequenciais únicas relativas aos seus números: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13 ... (1 + 0 = 1; 1 + 1 = 2; 2 + 1 = 3; 3 + 2 = 5; 5 + 3 = 8; 8 + 5 = 13; ...).
Quando esses números são utilizados proporcionalmente na construção de um retângulo, em geometria esse retângulo fica então conhecido como “retângulo de ouro”, tornando-se, segundo os experts, uma das formas geométricas mais agradáveis à contemplação dos olhos humanos.
Graças a isso é que essa forma, junto ao “espiral áureo”, comumente aparece aplicada nas artes e na arquitetura. Nessa conjuntura, vale lembrar que o espiral áureo é obtido em se seguindo o fluxo de quadrados formados e dispostos no interior do “retângulo de ouro”.
Muitos estudiosos relatam que a proporção áurea deve ter sido aplicada na construção das Pirâmides de Gizé, assim como também os gregos a utilizaram para projetar muitos dos seus mais importantes monumentos.
Especula-se também que a relação entre a proporção áurea e as artes se deve ao monge italiano Luca Pacilli que no século XVI a mencionava em um livro de sua autoria intitulado “De Divina Poroportione”. No seu histórico de amizade com Leonardo Da Vinci, comenta-se que o próprio Da Vinci teria se utilizado desse conceito áureo para definir as proporções das suas obras a exemplo da Última Ceia, assim como na criação da Mona Lisa e do Homem Vitruviano.
No intuito de alcançar equilíbrio, sobriedade e beleza, relata-se que além de Leonardo Da Vinci, muitos quadros e esculturas da Renascença, desenvolvidas por artistas como Michelangelo, Rafael, Rembrandt, dentre outros, foram desenvolvidas com base na proporção áurea.
Dado a essas impressões, nada mais natural que a Maçonaria de Ofício (canteiros medievais), então construtora de igrejas, catedrais, abadias e mosteiros da Idade Média, também tenha se valido da proporção áurea como um dos elementos necessários para projetar essas enormes construções a partir do século X.
A despeito desses comentários, é sempre bom lembrar que os ancestrais das Guildas dos Franco-maçons foram as Associações Monásticas e as Confrarias Leigas, destacando que o segredo da arte de construir era inquestionavelmente guardado pela Igreja Católica, já que a partir do ano 1000 d. C. ela (igreja) obteve uma enorme progresso e alcance territorial – afinal, na virada do milênio o mundo não havia acabado e a humanidade agradecida elevava louvores erigindo com pedras grandes catedrais.
Essa expansão também atingiu à Franco-Maçonaria que com isso obteve elevado progresso, sobretudo pela premente necessidade de mão de obra para atender às necessidades das construções da época. Além da ascensão e progresso, essas associações organizadas de pedreiros passaram a ter, por um bom tempo, proteção do clero.
Sabe-se, contudo, que com o declínio das construções causado pela evolução político-social da Europa da época e o abandono do estilo gótico pelo advento do Renascimento, a Franco-Maçonaria sofreu uma paulatina transformação, passando do trabalho operativo (do ofício) para o especulativo, perdendo, inclusive, a proteção de outrora.
Com isso, no intuito de sobreviver e com a admissão de elementos estranhos à arte de cortar a pedra e elevar paredes, muitos conceitos tradicionais do ofício, especulativamente passaram a ser utilizados simbolicamente pelos Maçons Aceitos, ou seja, era construído um sistema iniciático de aperfeiçoamento humano utilizando símbolos e ferramentas dos maçons de ofício (o advento da Maçonaria Simbólica).
Desse modo, a construção - agora não mais operativa - passou a ser simbólica, tendo o homem como elemento primário e central em substituição à pedra bruta. Assim, com o advento dos ritos maçônicos a partir do século XVIII, a Maçonaria dos Aceitos saía dos adros das construções, das tabernas e cervejarias e começava a se acomodar em recintos próprios decorados emblematicamente conforme os trabalhos iniciáticos.
Assim, o Templo Maçônico, construído sob fundamento haurido da disposição das Igrejas e do Parlamento Britânico, figuradamente passava a representar um canteiro de obras estilizado. Em primeira análise o templo é também o próprio homem, moldado e aperfeiçoado no canteiro conforme as exigências da Arte.
Nesse particular a proporção áurea é um dos elementos simbólicos dá estrutura à alegoria iniciática, ou seja, é um elemento construtivo de proporções ideais utilizada emblematicamente para reconstruir o homem.
Esse conceito iniciático dá ao iniciado o entendimento de que o templo é o próprio homem e é ele o habitat do Divino – a morada do sagrado. O seu caráter de beleza e perfeição plástica é comparado às dimensões áureas. Dir-se-ia ser essa uma conotação filosófica de aplicação da proporção.
Vale mencionar que na proporção áurea, o retângulo de ouro, e outros conceitos do gênero, segundo muitos estudiosos, também se apresenta na construção da Natureza, cujo seu arquiteto criador é o Grande Geômetra, ou “Aquele” que instituiu a Ordem, o Equilíbrio e a Harmonia do Universo.
Penso que esses são conceitos históricos, filosóficos e iniciáticos, portanto são simbólicos no contexto da Maçonaria, não cabendo sua aplicação como regra para construir os ambientes de trabalho maçônico (Lojas). Não tem o porquê de literalmente se construir obrigatoriamente um templo maçônico em se adotando a regra da proporção áurea. Lembro que essa é somente uma questão simbólica e assim deve ser tratada, não cabendo esse tipo de exigências construtivas numa época em que a arquitetura disciplina a utilização dos espaços de acordo com a necessidade de ocupação, assim como pelo caráter econômico.
Ao concluir, penso que muito mais importante do que o ambiente material está o do ambiente espiritual aonde de fato se concentram e concretizam os verdadeiros valores morais e éticos do ser humano. Longe de qualquer interpretação licenciosa, mais importante do que a suntuosidade de um ambiente está a matéria prima humana propícia ao aperfeiçoamento.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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