Valdemar Sansão
Só os homens livres e de bons costumes, em igualdade de oportunidades, podem conviver fraternalmente numa sociedade organizada.
Fraternidade é tornarmo-nos sensíveis a todos os problemas que afligem a humanidade e esgotarmos até ao nosso último recurso na tentativa de resolvê-los.
Quem de nós considera a si próprio como pouco fraterno? Quem admitiria saber muito pouco acerca desse sentimento que tanto se apregoa?
Estas perguntas que raramente nos ocorrem, pois, o conceito de fraternidade é um desses que todos acreditamos conhecer por experiência própria, deixando de lado a necessidade de uma meditação mais cuidadosa.
Por outro lado, as evidências colocam justamente a falta de fraternidade como origem da maior parte dos problemas que nos afectam. Que raro sentimento é este, afinal, que todos queremos, que todos pensamos que temos, mas que tão dificilmente encontramos?
Pois um dos mais importantes objectivos da Maçonaria, a fraternidade é a condição na qual nos identificamos mutuamente como Irmãos, agindo como se fizéssemos todos parte de uma mesma família. Isto, no entanto, não é o suficiente para que possamos compreender o verdadeiro sentido da fraternidade.
Aslan diz-nos que
“o maior objectivo da Maçonaria é alcançar a Fraternidade entre os homens, transformando a Humanidade numa grande Fraternidade redentora em que todos os homens livres e de bons costumes, sejam quais forem as diferenças de credo político ou religioso, de nacionalidade, raça, cor ou condição social”, e que “a Maçonaria tornou a Fraternidade um dos seus grandes lemas”.
A Maçonaria equipara os maçons quaisquer que sejam as suas convicções políticas, científicas, ou religiosas, as suas condições económicas e sociais; proibindo, no entretanto, perfilhações de ideias antidemocráticas como também, nas suas Oficinas, qualquer discussão sobre os assuntos ligados à política ou religião. Os seus ensinamentos induzem os maçons ao dever de, em qualquer circunstância, ajudar, socorrer e proteger aos seus Irmãos, mesmo com risco da própria vida, defendendo-o contra a injustiça, perseguição ou traição.
Os homens se unem pelo amor, ao passo que as crenças, pelo espírito de sectarismo que as domina, são constituídas de elementos heterogéneos impossíveis de se unirem.
Os principais temas tratados pela filosofia social maçónica são a natureza social do homem, a razão de ser, fundamentado no contexto social a idealização de uma sociedade justa e perfeita, tendo por essência a Justiça Social, prevendo a liberdade do ser humano, a sua igualdade a consequente fraternidade, consubstanciada no amor ao próximo, pela afeição, a sabedoria, o trabalho, a amizade sincera entre Irmãos e a fraternidade, para que seja impossível para um Irmão prejudicar o outro, na consciência da mente humana perante o meio social, através do estudo sério e descomprometido das questões sociais e as raízes dos seus desideratos.
A filosofia social maçónica é um corpo de doutrina composto de princípios ético-sociais, ligados a padrões de conduta moral, inseridos na organização política e económica, vividas por ideais justos, fraternos e perfeitos, cuja aplicação na sua totalidade, cria o homem integral, fruto da reforma íntima.
O êxito a ser alcançado na prática dessa filosofia de conotações maçónicas será observado, a partir do desenvolvimento das instruções absorvidas nos nossos Rituais, cujos princípios doutrinários, cheios de esperança e coerência, desvendando os véus do mistério e da ignorância em que se apoiam religiões e crenças ditas cristãs e o descaso com a própria filosofia, sofrida, mal interpretada, enclausurada em si mesmas, desgastadas por concepções arcaicas ou mercenárias, sem esclarecer fielmente a humanidade.
A Maçonaria reviveu a filosofia, dando-lhe o necessário intercâmbio social, fazendo o homem pensar, agir, realizar e concluir que só na transparência, sem obscurantismo, reside o bom senso, a razão e a felicidade. Banindo a ignorância, criando um ambiente próprio de entendimento e mudanças sociais justas e fraternas, mergulhando o pensamento do homem nas mais evoluídas paragens do conhecimento e da sabedoria, na implantação de um mundo novo, sem fronteiras ideológicas, sociais, culturais, mais acima de tudo filosoficamente correctas, onde o homem começa a pensar, a desvendar o seu próprio futuro.
Os princípios de respeito recíproco, de educação e de civilidade que devemos manter uns com os outros são princípios fundamentais da Ordem, com o objectivo final de construir a fraternidade humana.
Esta permuta de cordialidade aparente existe até entre profissionais que exercem as mais variadas actividades, artistas da mesma arte, cientistas da mesma ciência, negociantes do mesmo comércio, que lutam pelo espírito de conservação e prosperidade da sua esfera ou ramo de actividade.
É muito maior a possibilidade de estabelecer a união entre homens cujas crenças sejam diversas, quanto é impossível manter a liga entre duas religiões diferentes, embora se empregue para este fim todos os recursos imagináveis.
João, evangélico, é amigo de Pedro e adverso ao catolicismo que ele professa. Tem restrita obrigação de socorrer Pedro ao mesmo tempo que tal dever lhe impõe contestar o seu catolicismo.
Se, de facto fossem maçons, a Maçonaria impor-lhes-ia a obrigação de exprimir os seus sentimentos de cordialidade a João, Pedro ou Paulo e demonstrar ao mundo a intolerância e a intransigência do modo de pensar e agir das suas crenças, porque os seus deveres de amor ao Grande Arquitecto do Universo e ao próximo torna indispensável a “constante livre investigação da Verdade”, e a propaganda da mesma.
Podemos ter relações pessoais e sociais com quaisquer pessoas, como as temos com descrentes e ateus, mas não nos podemos unir a elas nos seus fundamentos.
O homem é ou não é. Não pode ser ao mesmo tempo católico, comparecendo à missa das nove; evangélico indo ao culto das quinze ou espírita na sessão das vinte horas no Centro.
Amor ao próximo não é convencionalismo. Ter tolerância para com os outros não é transigirmos no nosso modo de pensar e de agir. Há muita diferença entre “próximos” e “religiões”. O Mestre Maior mandou amar ao “próximo” e não a “religião do próximo”.
No seu carinhoso apelo Jesus não chamou as religiões a que se ligassem, e sim os homens.
E tanto mais nos aproximamos do Grande Arquitecto do Universo – quanto mais nos sentimos responsáveis pela formação de todos os indivíduos com quem travamos qualquer contacto. Quando não apenas temos a intenção de ajudar o próximo, mas sinceramente sentimos a necessidade de nos responsabilizar pelo bem estar de todos aqueles com quem travamos qualquer espécie de relacionamento. Ao assumirmos essa responsabilidade estamos dando a nós mesmos a oportunidade de levar humanidade para quem pode estar carecendo dessa condição. Tornamo-nos então Irmãos de verdade.
Tornamo-nos divinos quando conseguimos sentir esse amor fraternal por qualquer indivíduo com quem nos deparamos. E esse amor é o cimento da fraternidade universal que a Maçonaria propõe no seu mais destacado objectivo.
Fonte: https://www.freemason.pt/
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