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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

OS DIÁCONOS E A TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA - ORIGEM - II

Em 21/07/2018 o Respeitável Irmão Ricardo Guedes, Loja Filhos de Abraão, 322, REAA, GLMMG, Oriente de Carmo da Mata, Estado de Minas Gerais, apresenta a seguinte questão:

OS DIÁCONOS E A TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA

Gostaria de receber material sobre a transmissão da palavra sagrada, tendo em vista que vou compor a comissão de Liturgia e como responsável pela parte ritualística de minha Oficina.

Quando falo em material seria a explicação histórica do papel dos diáconos, e não só a parte ritualística, pois essa todos somos sabedores.

CONSIDERAÇÕES:

Caro Irmão, eu não forneço material. Nas pesquisas sobre Maçonaria a grande maioria dos temas é elemento disperso e carece de muito tempo para catalogação. Eu não tenho tempo disponível para digitalizar documentação, fragmentos e escritos de rodapés de antigas obrigações dos construtores medievais e remeter para os meus leitores. Para tanto, existem obras e autores autênticos para serem consultados. Dentre outros, por aqui eu poderia citar José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, Frederico Guilherme da Costa, Ambrósio Peters, etc. No exterior eu citaria Jasper Ridley, Joseph Fort Newton, Harry Carr, Alec Mellor, Bernard E. Jones, Alex Horne, etc., além de uma viagem pelas Atas da Quatuor Coronati Lodge 2076 de Londres.

Vou então comentar alguns aspectos para norteá-lo nessa pesquisa. A propósito, no campo da história, opiniões laudatórias dependem de muito estudo e comparação por método acadêmico. Nada existe de pronto quando se coloca na pauta da pesquisa, assuntos que envolvem tradições, usos e costumes da Maçonaria. Isso se deve principalmente à amplitude e a abrangência que envolve a história da nossa Sublime Ordem.

No tocante ao assunto em epígrafe, na Moderna Maçonaria (a dos Aceitos por excelência), os Diáconos são simbolicamente oficiais mensageiros. 

Especialmente no REAA∴ eles são personagens que compõem a ritualística na alegoria da transmissão da Palavra Sagrada, o que ocorre entre as Luzes da Loja para a abertura e encerramento dos trabalhos.

Assim meu Irmão, a questão, não é bem a de que “todos somos sabedores”, porém a de compreender o porquê desse exercício que envolve os Diáconos e as Luzes da Loja. É sempre de boa geometria por primeiro se compreender as características que permeiam a originalidade de um ato ritualístico.

No tocante à originalidade, embora existam rituais no Brasil que mencionem o contrário, genuinamente no REAA∴ os Diáconos não usam bastão e, por consequência, não existe o cruzar de bastões e muito menos com eles a formação de pálio. A propósito, isso é prática de outro(s) rito(s), mas que desafortunadamente tem sido enxertada indevidamente no escocesismo. Aqui não se está discutindo se esse ou aquele ritual está certo, ou mesmo se um é melhor do que o outro, mas sim a autenticidade de um ato litúrgico. Ademais, ritual em vigência, mesmo que equivocado, deve ser respeitado. 

Sob a óptica da autenticidade, o cargo de Diácono é originário da ainda Maçonaria de Ofício (operativa). Nela eles eram denominados como os antigos “oficiais de chão” e serviam o Mestre da Obra e os Zeladores (wardens) - esses últimos os ancestrais dos atuais Vigilantes da Loja. O título “Diácono” apareceria mais tarde e por influência da igreja.

A propósito, eu já escrevi bastante sobre isso, e existem respostas sobre esse assunto publicadas no meu Blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br

Segue então um pequeno comentário sobre os antigos “oficiais de chão”, antepassados dos atuais Diáconos e oficiais mensageiros na Maçonaria Especulativa.

Na época das associações dos construtores medievais (antepassados da Maçonaria), quando das construções das catedrais góticas no século XI, os imensos canteiros de obras acolhiam nos seus quadros de operários várias centenas de trabalhadores. Dentre esses, haviam os operários especializados que eram privilegiados por conhecerem amiúde o segredo técnico da construção. Assim, quando uma obra, ou uma etapa da mesma iria ser iniciada, o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) enviava, por intermédio dos seus “oficiais de chão”, ordens aos seus Vigilantes para que eles nivelassem e aprumassem os cantos da construção para que os trabalhos fossem iniciados com força e vigor. Em linhas gerais, os oficiais de chão (atuais Diáconos), como mensageiros, levavam a ordem aos Vigilantes que então executavam a missão. Isto é: aprumavam e nivelavam os cantos, comunicando em seguida ao Mestre pelos mesmos oficiais mensageiros que tudo estava “justo e perfeito”. Certificado disso, o Mestre da Obra então ordenava à sua plêiade de operários que iniciassem os trabalhos – os cantos nivelados e aprumados eram as balizas para a colocação do cordel seguido na elevação da obra. Destaque-se a vastidão de um canteiro de obras medieval onde a comunicação entre os operários comumente era feita se servindo de mensageiros que se locomoviam pelos meandros e vielas do espaço.

Concluída a etapa contratada da construção, o Mestre da Obra ordenava novamente aos seus oficiais de chão (mensageiros) que comunicassem os Vigilantes, pois era chegada a hora de conferir o resultado dos trabalhos até então executados. Recebida a ordem, os Vigilantes, cada qual cumprindo o seu ofício, conferiam o nivelamento e a aprumada daquilo que havia sido até então construído. Estando tudo de acordo com os planos da obra, os Vigilantes informavam através dos mesmos mensageiros que tudo estava “justo e perfeito”. Em assim sendo, o Mestre mandava o seu Primeiro Vigilante encerrar os trabalhos e em seguida pagar os obreiros despedindo-os contentes e satisfeitos, mas não sem antes recomendá-los a retornar após o inverno para o início de uma nova etapa da construção.

Esse é então um resumo do que ocorria nos Ofícios-Francos, o que dá um panorama da razão pela qual a Moderna Maçonaria adota no REAA∴ uma alegoria que revive essa antiga prática, substituindo os nivelamentos e aprumadas pela transmissão de uma palavra que, se transmitida corretamente (justa e perfeita) denota a qualidade para abrir e fechar os trabalhos de uma Loja maçônica. Essa qualidade representa o aperfeiçoamento moral e ético que o maçom procura no canteiro especulativo da Maçonaria.

Estabelecendo uma relação entre o operativo e o especulativo, os Diáconos são os antigos oficiais de chão enquanto que o Mestre da Obra é atualmente o Venerável Mestre. Já os “zeladores” de outrora são os atuais Vigilantes. 

Como a Moderna Maçonaria é atualmente especulativa, o maçom, no lugar da pedra, passou a ser o elemento primário (matéria prima). Assim, o nivelamento e a aprumada são apenas práticas simbólicas o que se traduz pela transmissão de uma palavra, tanto no início como no encerramento dos trabalhos. Estando ela transmitida nos conformes, justa e perfeita, figuradamente o ato significa a boa geometria de uma construção perfeita e durável. É essa a razão pela qual acontece a transmissão da Palavra Sagrada entre as Luzes da Loja com a utilização dos Diáconos que são os mensageiros que a transportam pelo recinto.

Ainda, no intuito de esclarecer, foi pela razão das aprumadas e nivelamentos de antigamente que os Vigilantes trazem consigo joias distintivas - o Nível e o Prumo. É também por essa razão que é o Primeiro Vigilante quem declara a Loja fechada (vide o ritual).

Por fim, no REAA os Diáconos servem o canteiro especulativo (a Loja) como mensageiros durante a transmissão da Palavra Sagrada para a abertura e o encerramento dos trabalhos. Eles relembram os antigos oficiais de chão que no passado serviam diretamente o Mestre da Loja e os Vigilantes como seus mensageiros e auxiliares. Nos ritos onde não existe a alegoria da transmissão da Palavra Sagrada, geralmente os Diáconos relembram o ofício de auxiliares de ordens das Luzes da Loja.

P.S. – Como elemento para sua pesquisa eu sugiro consultar no Blog do Pedro Juk em Peças de Arquitetura o título: “Bastões, Varas, Hastes – Instrumentos de Trabalho na Liturgia Maçônica” que foi publicada em 29/01/2018. Esse escrito por certo lhe dará uma ideia a respeito da amplitude que envolve o trato da pesquisa maçônica.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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