INTRODUÇÃO
A Escada de Jacó é um símbolo de profundas lições. Que as próximas linhas sirvam de seta para apontar o seu valor e instigar os maçons a subir os seus degraus A Escada de Jacó é sem dúvida um dos temas mais estudados pelos maçons no grau de Aprendiz. Inexistente em alguns ritos, este símbolo é citado nas instruções maçônicas do Craft americano, nos rituais do Craft inglês e escocês e na versão do Rito Escocês Antigo e Aceito adotado pelas Grandes Lojas do Brasil.
Dada a importância do assunto, diante da gama de textos com variadas formas de abordar a Escada de Jacó e pela observação das concepções correntes entre os maçons, constata-se a necessidade de um estudo que vise aproximar seu significado original.
Este trabalho tem por escopo apresentar o significado da Escada de Jacó, sem a pretensão de esgotar o assunto. Entendemos que a exata compreensão de um símbolo deve partir da sua concepção original, para só então o intérprete, no exercício da liberdade intelectual, se aventurar em exercícios especulativos.
Organizamos este trabalho em tópicos que abordam a origem do símbolo na maçonaria, as instruções maçônicas, a fundamentação bíblica, a filosofia por detrás das Virtudes Teologais, a simbologia da escada, entre outros que visam clarificar o significado.
A Escada de Jacó é um símbolo de profundas lições. Que as próximas linhas sirvam de seta para apontar o seu valor e instigar os maçons a subir os seus degraus conscientemente.
SURGIMENTO DO SÍMBOLO NA MAÇONARIA
No Manuscrito Dumfries nº 04 (1710), que leva o nome de uma antiga Loja do Condado de Dumfries na Escócia, encontramos na parte “Dever do Aprendiz” duas perguntas e respostas que citam a Escada de Jacó:
P: - Quantos degraus tem a Escada de Jacó?
R: - Tres.
P: - Quem são esses três?
R: - O Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Esta embrionária citação da Escada de Jacó como símbolo maçônico se releva influenciada pelo cristianismo trinitário, tão comum entre os maçons daquela época e lugar, ao citar a Santíssima Trindade como os três degraus da escada.
Fazendo uma viagem no tempo, parece não haver mais indícios da existência do símbolo nos antigos catecismos. Nada encontramos a seu respeito na exposição Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard (1730). O símbolo também é ausente na maçonaria continental europeia, e não é mencionado na obra inglesa O Espírito da Maçonaria (1775) de William Hutchinson, que foi um texto importante da época e que descreveu inclusive a cobertura da Loja.
Somente voltamos a encontrar o símbolo da Escada de Jacó no terceiro quarto do século XVIII, em desenhos do simbolismo maçônico. Albert Mackey sugere que ele teria sido introduzido por Thomas Dunckerley, que revisou o ritual e construiu um novo código de palestras para a Grande Loja da Inglaterra, tese
que faz sentido na medida em que o símbolo passa a aparecer nos registros escritos logo em seguida. Fato é que a Escada de Jacó pode ser encontrada como parte da simbologia maçônica a partir do ano de 1776. Esta informação é corroborada pelas instruções da Grande Loja de Nova York² e por Assis Carvalho³.William Preston, na década de 1780 descreve uma escada “consistindo em muitos, mas fortalecido por três etapas principais”. Nas palestras de Thomas Smith Webb do final do século XVIII, constava a apresentação da “escada teológica que Jacó em sua sabedoria viu ascender da terra ao céu”. Anote-se, todavia, que diferentemente do Manuscrito Dumfries nº 04, a simbologia maçônica do final daquele século passa a relacionar os degraus da escada não mais com a Santíssima Trindade, e sim com a Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, que também são de natureza cristã, conforme será melhor explicado adiante.
A ESCADA DE JACÓ NO CRAFT AMERICANO
A instrução da Escada de Jacó é abordada no Grau de Aprendiz. Na versão da Grande Loja de Nova York, o texto da instrução tem o seguinte conteúdo:
CITAÇÃO A cobertura de uma Loja é nada menos do que a abóbada com nuvens ou um céu adornado de estrelas, onde todos os bons Maçons esperam finalmente chegar, com a ajuda daquela escada que Jacó viu, em sua visão, estendida da terra até o céu, cujos degraus principais são a Fé, a Esperança e a Caridade. Fé em Deus, Esperança na imortalidade e Caridade para com toda a humanidade. A maior destas Virtudes, chamadas teologais, é a Caridade, pois a Fé pode ser perdida de vista e a Esperança termina na realização. Porém, a Caridade estende-se além do túmulo, através dos reinos ilimitados da eternidade.
NOTAS ²Textos de instrução denominados Meanings (significados), que explicam os rituais. ³Na obra “Símbolos Maçônicos e suas origens”.
Este é o caso dos rituais das Grandes Lojas de Nevada, Michigan, Prince Hall da Califórnia e do Monitor de Jeremy Cross (1826). Por outro lado, encontramos outros textos que também usam a palavra “realização” da mesma forma que na Grande Loja de Nova York, conforme constatamos nos rituais das Grandes Lojas de Illinois, Flórida, no Monitor de Charles Moore (1868) e no Manual da Loja de Albert Mackey (1862).
Embora o resultado seja o mesmo - a Esperança pode se esvaecer tanto pela realização como pela frustração - mencionamos essa peculiaridade apenas por curiosidade.
A ESCADA DE JACÓ NO TEXTO BÍBLICO
O símbolo da Escada de Jacó foi extraído do Livro de Gênesis da Bíblia:
CITAÇÃO Jacó partiu de Berseba e rumou para Harã. Chegando a determinado lugar, parou para pernoitar, porquanto o sol já se havia posto no horizonte. Tomando uma das pedras dali, usou-a como travesseiro e deitou-se. E teve um sonho no qual viu uma escada apoiada na terra; seu topo alcançava os céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (...) Então sentiu medo e exclamou: “Quão temível é este lugar! Certamente não é outro, senão bêt El, a casa de Deus; eis que encontrei a porta dos céus!” (Gênesis, 28, 10-12 e 17, Bíblia King James Atualizada)
CITAÇÃO Rebeca, a amada esposa de Isaac, sabendo por inspiração Divina que uma bênção especial foi colocada na alma de seu marido, estava desejosa de obtê-la para o seu filho favorito, Jacó, embora sabendo que por direito ela pertencia ao seu primogênito, Esaú. Jacó, que mais tarde obteria a bênção de seu pai de modo fraudulento, foi obrigado a fugir da ira de seu irmão que, num momento de raiva e desapontamento, o ameaçara de morte. E, enquanto se dirigia a Padãaram, na terra da Mesopotâmia, (conforme determinado por seus pais, viu-se obrigado a ir) fatigado, pernoitou no meio do deserto e, deitando-se, tomou a terra com seu leito, uma pedra por travesseiro e a Abóbada Celeste como uma coberta. Então, em uma visão, viu uma Escada cujo topo atingia os Céus e pela qual os Anjos do Senhor subiam e desciam. Foi então que o Todo-Poderoso fez um solene trato com Jacó, de que se ele observasse as Suas leis e guardasse os Seus mandamentos, Ele não só o levaria de volta à casa de seu pai, em paz e prosperidade, como faria de sua descendência um povo grande e poderoso. Isso foi amplamente cumprido, pois, após um lapso de vinte anos, e Jacó retornou à sua terra de origem, foi gentilmente recebido pelo seu irmão Esaú. O seu filho José tornou-se posteriormente, por ordem do Faraó, o segundo homem do Egito. Os filhos de Israel, altamente favorecidos pelo Senhor, constituíram-se ao longo do tempo em uma das maiores e mais poderosas Nações da face da terra. (MENDES, 2011, p. 199)
NOTAS 4 Trecho da Primeira Preleção do Grau de Aprendiz da Emulation Lodge of Improvement, da Inglaterra.
De nota que, embora o símbolo da Escada de Jacó na Maçonaria faça uma relação entre os degraus e as Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, esta associação simplesmente não existe na Bíblia. Na verdade, as Virtudes Teologais provêm de outra passagem: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, e a caridade, estas três; mas a maior destas é a caridade” (1 Coríntios 13:13, Bíblia Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida).A conexão entre um texto do Antigo Testamento - Livro de Gênesis - com um texto do Novo Testamento - Coríntios - nos leva à conclusão de que a simbologia adotada na maçonaria é de natureza cristã.
O SIGNIFICADO DA PALAVRA CARIDADE
A Fé, a Esperança e a Caridade têm sido frequentemente referidas como as Virtudes Teologais para distingui-las das antigas Virtudes Cardeais do Cristianismo, que são a Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança .
REVISTA TRIPONTO Nº 2
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