MAÇONARIA & POLÍTICA
(Desconheço o autor)
A política continua sendo um assunto mal compreendido e até certo ponto controverso na maçonaria. Ao se falar ‘em ou de política’, muitos Ir⸫ interpretam, automaticamente, como política-partidária.
Ao analisarmos essa questão com mais profundidade e rigor, à luz da evolução e desdobramentos do conceito de política na maçonaria universal, através da história, descobrimos que há duas correntes claramente estabelecidas: a anglo-saxônica e a latina.
A anglo-saxônica a proíbe terminantemente desde a Constituição de Anderson (1.723): “... e sobretudo deve-se evitar discussões sobre religião, política e nacionalidade”, “... nenhuma discórdia ou querela privada deverá transpor a porta da loja, menos ainda querelas a respeito de religião ou nações, ou política do Estado...”
E o Ir⸫ Anderson tinha motivos de sobra para assim pensar e assim agir. Na época proliferavam pela Europa violências políticas (guerra dos 30 anos...), religiosas (dogmatismo e sectarismo extremo entre anglicanos, católicos e protestantes) e reascendia um bárbaro anti-semitismo...
Não obstante a firme convicção do Ir⸫ Anderson, que afirmava e praticava o neutralismo absoluto nesses assuntos (religião, política e nacionalidade), vários IIr⸫, inclusive diversos contemporâneos seus, não concordavam e não concordam com ele. Só para lembrar: essas proibições não constam dos Landmarks do Ir⸫ Albert G. Makey.
Já a maçonaria latina - regiões normalmente palcos de regimes coloniais, ditatoriais e autoritários desde a época das primeiras colonizações na América do Sul -, só proíbe a política partidária ou de facção. O Ir⸫ Álvaro Palmeira (Grão-Mestre geral honorário e grande instrutor do Rito Brasileiro do GOB), ao examinar esta questão do ponto de vista histórico, ético e moral, chegou à conclusão que “há de se distinguir três faixas de ação política na maçonaria”:
A primeira, de sustentação obrigatória para qualquer maçom: luta e trabalho contra o “extremismo político e o absolutismo religioso; pela liberdade e igualdade dos cidadões perante a lei; pela autodeterminação dos povos; pelo governo representativo, através de eleições periódicas e justas; pelo império da lei que venha de encontro aos anseios do povo que a ele se destina; pela justiça social, diminuindo as distâncias no convívio humano; pelo ensino oficial leigo; pela igualdade jurídica do homem e da mulher; pela igualdade de oportunidades para todos cidadões; pela separação entre igreja e Estado; pelo livre exercício do culto religioso; pela supremacia do casamento civil; pelos direitos de petição, reunião e associação; pela inviolabilidade do domicílio; pela defesa dos acusados; pela democratização do capital; pela obrigatoriedade do trabalho, considerando-o um dever social; pela supressão da miséria, da fome e das guerras, pelo direito a prosperidade...”.
A segunda, permissiva a qualquer maçom: política em defesa dos interesses da comunidade, tendo por base e parâmetro a primeira. Nesta faixa de ação, “para não violarmos a consciência de nenhum Ir⸫, devemos seguir a normas sugeridas pelo Ir⸫ Tempsis: a) Toda doutrina deve ser exposta em sua loja, e, b) nenhuma doutrina pode ser objeto de um voto ou qualquer medida que implique em uma adesão”.
A terceira, terminantemente proibida de exposição e debate em loja: política-partidária ou facciosa. “O nome e a bandeira da instituição não pode ser conduzida à luta eleitoral e à competição rasteira das urnas. Toda reunião maçônica, tendo por objetivo discussão política-partidária ou de facção de qualquer espécie ou a luta de partidos políticos entre si, deve ser sumariamente interditada”.
Normalmente os Grãos-Mestres das Grandes Lojas, do GOB e de Orientes Independentes, em separado (infelizmente), reunem-se para debaterem assuntos maiores da Ordem. Em julho de 1995, pela primeira vez, os Grãos-Mestres das 27 Grandes Lojas Maçônicas do Brasil, reunidos na XXVI Assembléia Geral Ordinária da CMSB, em Belo Horizonte-MG, aprovaram e subscreveram ‘Proclamação do Povo Brasileiro’ reafirmando a intenção “de não se vincular, de forma alguma, a correntes político-partidárias”. Mas, indaga às autoridades constituídas “até que ponto o povo brasileiro suportará e resistirá diante do desemprego, da miséria, da corrupção, da impunidade, da malversação do dinheiro público e da desordem que geram a insegurança e a desestabilização das instituições democráticas?” Alerta-nos para o perigo da quebra da legalidade se persistir os escândalos nos poderes constituídos, afirma que “não há poder político que se mantenha quando a maioria do povo é infeliz”, e conclama do povo brasileiro a votar com consciência e sabedoria...
Dizem que a maçonaria de hoje vive de glórias do passado, e até certo ponto esta afirmação é correta.
Durante várias décadas a maçonaria brasileira se preocupou mais com cisões internas, omitindo-se das grandes questões que afligiram (em) nossa pátria e nosso povo.
Não obstante os altos corpos maçônicos já estarem se movimentando, trabalhando até, pela defesa e aplicação dos nossos princípios de liberdade, igualdade, prosperidade e outros, a grande maioria das lojas ainda permanece omissa nas questões político-comunitárias.
Nós, maçons, apóstolos do G⸫A⸫D⸫U⸫, soldados da “liberdade, igualdade e fraternidade”, e obreiros de elevados princípios de ética, moral e razão, não podemos nos acomodar ou nos acovardar e assistirmos na passividade a continuidade de escândalos envolvendo altos membros dos poderes constituídos(?!), de desmandos de políticos corruptos, ladrões e irresponsáveis. Desses descalabros oficiais - que engendram benefícios para interesses de minorias - é que nascem às “desconfianças nos homens públicos, na classe política e a descrença nas instituições, tornando-se perigoso indicador da formação de uma opinião pública em favor da quebra da legalidade”.
Como disse Bertold Brecht (1.898-1.956), “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos; não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependa das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política; ele não sabe que de sua ignorância nasce à prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais”.
Respeitando-se integralmente os Landmarks e os 33 mandamentos da maçonaria e, considerando as faixas de ação da política maçônica, concluímos que devemos nos empenhar, como irmãos e instituição (lojas), em defesa dos interesses maiores da comunidade. Isto significa fazermos política-comunitária: discutir e avaliar internamente os problemas estruturais da sociedade em que vivemos, ajudar a encontrar soluções e colaborar em suas implantações. E olha que neste Brasil afora muitas lojas vêm fazendo exatamente isto, seja nas áreas educacional, de assistência social, de saúde pública, de ecologia e tantas outras. E nestas ações sociais, nunca devemos esquecer de aplicar duas importantes regras: 1ª - Jamais divulgar essas ações ao mundo profano, pois “o que a mão direita der a esquerda não deve saber”; e, 2ª - sempre que possível, realizar ações sanadoras e não paliativas, pois “o ensinar a pescar é muito mais duradouro do que simplesmente dar o peixe”.
Não importa o tamanho do seu Município em que viva, ele é importante para você e, tenha certeza, importante para o Brasil. Se cada Município encontrar soluções para parte de seus próprios problemas de forma criativa e participativa, certamente os habitantes deste Município, o Estado e o Brasil ganharão com isto. Reflita sobre esta questão.
A moderna sociologia nos diz que num futuro próximo - e eu acredito que este futuro já iniciou - as grandes decisões sobre nosso próprio destino (material) passarão, necessariamente, pela 3ª via: as Ong’s. E gostem ou não nossos queridos IIr\ mais ortodoxos, a maçonaria é uma das maiores Ong’s do planeta. Portanto meus irmãos, mãos a obra.
Bibliografia:
Questões Controvertidas da Arte Real – Vol. II – Frederico Guilherme Costa – Ed. A Trolha - 1990
Maçonaria Ontem e Hoje - 2ª Edição – Armando Righetto – Ed. Paulista – 1981
Instruções para Conselhos de Kadosh – Nicola Aslan – Ed. Rio Verde - 1974
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