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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

SALMO 133 NO RITO ESCOCÊS

SALMO 133 NO RITO ESCOCÊS
(republicação)

Em 22.08.2015 o Respeitável Irmão Edgard José dos Santos, Loja Flórido Abrão, 3.246, REAA, GOB-PR, Oriente de Contenda, Estado do Paraná, solicita esclarecimentos para a questão seguinte:
edgardadvogado@pop.com.br

Gostaria de saber quando o Salmo 133 foi introduzido no REAA – quando iniciou a leitura na abertura do Livro da Lei? Por que foi escolhido esse Salmo?

Considerações: 

A tradicional e verdadeira a abertura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz no Rito Escocês Antigo e Aceito deveria ser sempre em João, Cap. 1, versículos 1 a 5. Essa sugestiva abertura tem o desiderato de indicar para o Primeiro Grau a prevalência da Luz sobre as trevas - (...) “e as trevas não a compreenderam”. 

É oportuno salientar que nem todos os ritos maçônicos ou trabalhos do Craft fazem leitura de algum trecho do Livro da Lei na abertura dos trabalhos maçônicos, o que implica não ser essa uma prática universal. Infelizmente aqui no Brasil existe o equivoco e a teimosia em algumas Obediências de praticar durante a abertura do Livro da Lei a leitura do Salmo 133 que não tem qualquer tradição naquilo que diz respeito ao simbolismo do Rito Escocês. 

À bem da verdade o Salmo 133 nem mesmo faz parte de leitura alguma para a abertura do Livro da Lei, senão aquela praticada numa passagem ritualística na iniciação das Lojas Azuis Norte Americanas (Craft Americano baseado no Ducan’s ritual), comumente aqui conhecido por de Rito de York (não confundi-lo com o Trabalho de Emulação do Craft Inglês, equivocadamente aqui também chamado de York). 

Em se tratando da Maçonaria brasileira a real probabilidade do costume de se fazer a equivocada leitura desse Salmo no REAA∴ fora adquirido na ocasião em que se buscava reconhecimento nas Grandes Lojas norte americanas (Craft norte americano) para as Grandes Lojas estaduais brasileiras a partir do ano de 1.927. 

Como nas Lojas Azuis (simbolismo) da América do Norte existe em alguns costumes a prática da leitura do Salmo 133 numa determinada passagem ritualística como anteriormente comentado, acabou-se enxertando a leitura desse Salmo, porém na abertura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz do Rito Escocês (provavelmente para agradar os norte-americanos). 

Já as Lojas de São João, que nada tem a ver com abertura ritualística especifica de um Rito, ganhariam esse título no decurso da história ao tempo dos Canteiros Medievais durante o período Operativo nos séculos XIV e XV (à época ainda não existiam ritos maçônicos, senão arremedos dos primeiros catecismos). 

Nessa ocasião (Operativa) ao se admitir um Aprendiz no ofício, por influência da igreja católica, o mesmo prestava a sua obrigação diante do evangelho de São João. Não há como se desprezar algumas características operacionais dessa época. Por exemplo, a Bíblia era propriedade particular da igreja católica. A inexistência ainda da imprensa tipográfica implicava que os escritos bíblicos ocupavam literalmente um imenso volume difícil até mesmo para ser carregado. 

Assim, visando facilitar aquela prática iniciática maçônica operativa que envolvia a admissão de novos membros, houve-se por bem de se escrever em uma folha de papel apenas o título “Evangelho de São João”. 

De fácil manuseio esse expediente simbolizava todo o Evangelho sobre o qual o recipiendário prestava a sua obrigação de ofício. 

Outro aspecto importante para ser considerado é que à época não havia leitura alguma do trecho do Evangelho, entretanto as guildas e confrarias de construtores do norte da Europa se reuniam nas datas solsticiais – no verão para rever, avaliar e marcar os planos da obra e introduzir novos artífices no ofício da cantaria; no inverno, para conferir e fazer as medições das construções para pagar e despedir os obreiros até a próxima estação (o inverno rigoroso do hemisfério Norte não permitia a prática da cantaria e da construção). 

Assim os solstícios de verão a 24 de junho e inverno a 21 de dezembro (no hemisfério norte) viria coincidir, por influência da Igreja (cristianismo) com as datas comemorativas dos Santos padroeiros João, o Batista, e João, o Evangelista respectivamente. 

Em se tratando da Moderna Maçonaria (1.717) e, agora já com os seus Ritos e Trabalhos no Craft, o Rito Escocês Antigo e Aceito, estabelecido oficialmente em 1.801, somente teria o seu próprio ritual simbólico em 1804 na França. 

Nesse sentido, ao longo do século XIX esse ritual receberia aperfeiçoamentos e práticas tradicionais “antigas” hauridas dos Canteiros medievais, dentre outras, essa que envolve o nome de João na abertura do Livro da Lei citando o Capítulo I, versículos 1 a 5, o que alude em primeira instância à memoria das antigas Lojas de São João, bem como aquela agora iniciática que se reporta à prevalência da Luz sobre as trevas. 

Note-se que no principal arcabouço doutrinário do simbolismo no Rito Escocês Antigo e Aceito está à investigação da Natureza, então reproduzida teatralmente nos rituais pelo movimento diário e anual do Sol com seus solstícios e equinócios (Colunas Zodiacais, as Colunas do Norte e do Sul, os Pilares Solsticiais ou Colunas B e J, etc.). 

Já no que concerne à leitura equivocada do Salmo 133 no simbolismo do REAA∴, revendo em pesquisa nas obras espúrias, fragmentos, antigos catecismos, revelações e outros elementos da grade primaria documental, este não aparece como marco de abertura, citação litúrgica ou leitura específica no Livro da Lei, senão como mencionado em alguma passagem ritualística da iniciação no Craft norte-americano organizado ritualisticamente por Thomas Smith Web e baseado nos Antigos alcunhados por Lawrence Dermott na Inglaterra em 1.751. 

Como pesquisa no Brasil que envolve essa equivocada leitura do Salmo na abertura do Primeiro Grau no escocesismo, atente-se que a prática que o envolve possui provável raiz desde 1.927 por ocasião do surgimento das Grandes Lojas estaduais brasileiras. 

Ao longo desses anos essa prática viria a ser introduzida inclusive nos rituais do Grande Oriente do Brasil, provavelmente por influência de obreiros egressos das Grandes Lojas.

Quanto à questão da data precisa desse acontecimento nos rituais brasileiros, precisaríamos consultar uma imensa quantidade deles editados desde o aparecimento do Salmo 133 na Maçonaria brasileira.

Como em se tratando de publicação de rituais existe uma quantidade incontável dos ditos nas nossas Obediências e muitos deles já inexistentes ou perdidos, em primeira mão seria impraticável agora afirmar laudatoriamente uma data para o marco inicial desse aparecimento, sem que antes haja a cautela que a academia da história verdadeiramente merece. 

Nesse sentido não tenho como concluir agora uma pesquisa desse porte. Ainda; em se tratando de rituais brasileiros antigos, devo alertar que essa antiguidade, infelizmente não está sempre contemplada pela verdadeira tradição, sobretudo em termos de rituais escoceses simbólicos que não raras vezes se comparam a uma “colcha de retalhos” tal a quantidade de enxertos e opiniões pessoais que tem feito parte dos seus conteúdos.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.792 – Florianópolis (SC) quinta-feira, 27 de agosto de 2015

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