MITOS DE PASSAGEM: ANIVERSÁRIO
Ir∴ Vladimir Dias (Porto Alegre)
Introdução
Na simbologia e na ritualística, nada é tão simples quanto aparenta ser. Pelo contrário, os símbolos e os rituais contêm mensagens que passam a ser entendidas de acordo com o aumento de conhecimento de cada pessoa. Pode-se acrescentar que os diversos significados dos símbolos, e rituais, provêm de diversas fontes culturais, de diversos povos, civilizações e, principalmente, da Tradição Primordial.
Importante destacar que estudiosos registram que os símbolos falam ao inconsciente. Mas também seria adequado lembrar que, na busca de conhecer a “si mesmo”, é desejável resgatar parte da sombra – “inconsciente” - e trazer esse novo “conhecimento” para ser administrado ao nível da razão.
E a conjugação desses fatores, que caracterizam os símbolos, nos leva a entender melhor a amplitude de suas mensagens, bem como as inúmeras possibilidades de interpretação.
As datas mais antigas de aniversários, designados de ritos de passagem, utilizadas em rituais, são as ligadas aos fenômenos astronômicos porque repetitivos, e porque boa parte dos fenômenos astronômicos – pelo menos do Sol e da Lua - determinam alterações climáticas na Terra e sempre foram motivo de observações das antigas civilizações. Para dar uma idéia das épocas remotas que a humanidade observa os astros salientam-se os registros dos chamados filósofos pré-socráticos que estudaram a “physis”, que traduzida do grego, é a natureza.
Mas um fato muito significativo ligado à simbologia está vinculado ao fenômeno astronômico denominado de precessão dos equinócios que corresponde, aproximadamente, a um período de 25.920 anos do calendário atual – gregoriano – e tem forte ligação com a formatação dos zodíacos, com suas doze casas, que correspondem as doze constelações que estão dentro de uma faixa de observação de 16° graus.
Para destacar a antiguidade desses conhecimentos que serviram e servem de base para o zodíaco e para muitas outras atividades, é necessário dizer que a precessão do equinócio foi comprovada 150 a.C por Hiparco de Rodes e que os mais antigos zodíacos provém da área da Mesopotâmia, como o zodíaco de Dendera e os subseqüentes, ou concomitantes de outras civilizações, egípcias, persas e chinesas, foram criados cerca de 5.000 ou mais anos a. C.
As datas que configuram “aniversários” eram motivo de celebrações originadas das civilizações antigas que utilizavam rituais, geralmente com a presença de fogo, para festejar a vida, ou, em outros termos, a ressurreição da vida. Esses eventos, em muitos casos, são mantidos até hoje. As datas mais significativas dessas festividades até certa época foram os equinócios. Mais tarde passaram a ser os solstícios. Em ambos os casos a comemoração está ligada ao término do inverno e o início da primavera.
Sob outro ponto de vista, mais esotérico, os solstícios marcam os dias e as noites mais longas de cada ano. Pode significar entender cada período de maior treva (ignorância) e maior luz (conhecimento, sabedoria).
Mais ainda, o solstício de verão no hemisfério norte, data próxima ao dia 24 de junho, que é o dia mais longo do ano, registra em muitos segmentos sociais festividades para comemorar, nessa data, o nascimento de São João, o Batista, primo de Jesus e filho de Isabel, casada com Zacarias.
Seria bom lembrar a frase atribuída a São João, Batista, que teria dito: “é preciso que eu diminua para que a “Luz” prévaleça”. Não é apenas coincidência que São João, o Batista, ser o escolhido como “Patrono da Maçonaria”. Por analogia e noutra escala de tempo significa o meio-dia. A hora do nascimento do homem natural.
No outro evento, o solstício de inverno (próximo a 25 de dezembro) quando a noite é a mais longa do ano nasce Jesus Cristo, filho de Maria, cuja gravidez foi anunciada por São Gabriel, emissário de Deus, pelo uso da “palavra” (Palavra pode ser entendida aqui como SOM, uma forma de energia que vai gerar a matéria). No solstício que marca a noite mais longa, automaticamente, está implícito o fato de que a partir daquele momento a “luz” começa a prevalecer e a cada momento os dias ficam mais longos. Sugere esse fato entender que, simbolicamente, marca a data do nascimento do “homem espiritual” que corresponde, em escala menor, a meia-noite, quando fechamos as nossas Lojas.
Alem desses eventos mais curtos – equinócios e solstícios – pode-se destacar os grandes períodos de tempo como o do “grande ano de Platão”. Pois os gregos, desde aquela época, já conheciam a precessão dos equinócios que é um período de 25.920 anos gregorianos, aproximadamente.
Existem outros períodos de tempo sobre os quais os mais diversos povos e as múltiplas culturas e religiões encontram motivos para comemorar os chamados ritos de passagem.
O judaísmo e muitas tribos indígenas e povos primitivos comemoram a passagem da juventude para a maturidade que também significa que o menino, ou menina, passam a ter determinado nível ou grau de consciência e responsabilidade.
Por influência dos ritos de passagem as pessoas também comemoram as datas que registram a passagem de determinado período de tempo dos fatos, dos acontecimentos, que tem por base os diversos calendários.
Os calendários, na grande maioria, registram o período de tempo de translação da Terra em torno do Sol e que corresponde, como base dessa convenção, o ciclo de um ano.
O calendário atualmente em uso conta com um misto de datas com base no ano solar alem das chamadas “datas móveis”, que tem por base os ciclos lunares.
O fogo
A história e as ciências nos informam que o fogo foi descoberto pelo homem (homo sapiens) para uso por volta de 500.000 anos a.C. conforme relata Isaac Asimov no seu livro “Cronologia das Ciências e das Descobertas, Edit. Civilização Brasileira, 1993”.
Já na área da mitologia grega, com base nos contos de Hesíodo está o mito de Prometeu que teria roubado o fogo dos deuses para dar a humanidade. Pagou caro sacrifício pelo ato que contrariou os deuses maiores. Como castigo foi preso a um penhasco. De dia uma ave comia seu fígado – segundo a época mais antiga, era o órgão com capacidade de regeneração - e, de fato, nesse mito, a parte do fígado que era devorada de dia se recuperava de noite. O mito de Prometeu tem uma simbologia ampla e serve para múltiplos entendimentos.
Destaca-se nesse mito de Prometeu a parte da simbologia do “FOGO”, um dos quatro elementos de Parmênides, um dos filósofos pré-socráticos.
Apesar de não ser a meta desse trabalho aprofundar o tema do fogo deve-se dizer, pelo menos, que o FOGO é um dos quatro elementos básicos desde a antiguidade que tem a capacidade transformadora, força que impulsiona, calor que representa o amor, luz que simboliza a sabedoria, o conhecimento.
Oportuno lembrar que o fogo não está enquadrado em nenhum dos três estado da matéria porque é entendido como ENERGIA.
E sob esse aspecto mais especial é que o fogo tem grande variação de entendimento no campo do esoterismo.
O fogo tem forte significação, ainda, como indicador da presença de Deus conforme consta na Bíblia, no Êxodo, onde está narrado que para acompanhar e mesmo guiar o povo hebreu que fugia do Egito, de dia uma coluna de água estava no céu, enquanto que de noite uma coluna de “fogo” servia para acompanhar e balizar a presença de Deus naquela travessia do deserto. Pode-se, ainda, fazer alusões ao fogo dentro da ótica da metafísica. Nesse caso o fogo é o causador da “calcinatio” como fogo purgador, embranquecedor que atua na matéria negra, símbolo da “nigredo”, tornando-a branca: a “albedo”.
Oportuno dizer que o fogo pode ser entendido como elemento que limpa, purifica. Mas significa o surgimento da paixão e da sexualidade. Para Jung ele representa a transformação, pois é ele o grande agente que simboliza as emoções. Tanto que aquilo que resiste ao fogo tem caráter de imortalidade.
Sem o fogo da emoção nenhum desenvolvimento ocorre, e nenhuma conscientização maior pode ser alcançada.
O instrumento antigo para gerar fogo, denominado de “PRAMANTHA, era utilizado no “Manthana” (o sacrifício de fogo) entre os hindus com conotação sexual. O Pramantha representa o falo, ou masculino, e o pau furado é a vulva, ou a própria fêmea. Sendo que o fogo gerado é a criança, o filho divino, o AGNI.
Essas abordagens preliminares servem de pano de fundo para comentar um rito de passagem que cada um de nós experimenta durante toda sua existência.
Festa de Aniversário das Pessoas
Feita a introdução que entendo suficiente para o tema, passo a tratar do ritual dessa festa que comemora o aniversário das pessoas.
Essas comemorações têm como ponto culminante o bolo com as velas acesas (fogo) que registram os anos vividos. Em determinado momento da festa o aniversariante é convidado a apagar o fogo das velas. Os convivas cantam canções especiais para registrar que aquela pessoa completou mais um ano de vida. Esse ritual conta com componentes que têm muitos significados.
A música tem efeito especial pela freqüência da onda que resulta em efeitos especiais na alma. Outro elemento subjacente é o “AR”, símbolo do “Espírito”. (Ruha, em hebreu)
Oportuno destacar que o “fogo” das velas é um dos mais importantes símbolos como descrito anteriormente. Pelo menos podemos destacar dois grandes significados: primeiro é “LUZ” que ilumina, e que simboliza SABEDORIA. Uma pessoa que já percorreu os anos registrados e cujo tempo de vida está sendo motivo da comemoração, supõe-se tenha adquirido mais conhecimento e sabedoria.
Outro significado do “fogo” é que pelo calor ele significa a “energia vital” que é o AMOR, em qualquer das suas manifestações. Do grego podemos encontrar três definições de amor:: “eros” amor sexual, de aproximação dos opostos para a reprodução; “filiae” o amor consangüíneo entre pais, filhos e vice-versa; e “ágape”, um amor mais amplo, quando alguém ama outro Ser Humano sem a necessidade de reciprocidade. Apenas porque é um ser humano, AMA com um amor incondicional.
O fogo como símbolo pode ser melhor entendido se buscado através de outras interpretações nos dicionários esotéricos e místicos. Alem de que, é claro, do entendimento próprio de cada um e a cada momento do crescimento do seu conhecimento.
Feita a introdução e considerações para ser melhor entendido, passo a tratar da parte que julgo ser a mais interessante e de simbologia esotérica que pode ser admitida numa festa de aniversário.
Porque o aniversariante é convidado a apagar as velas com um “sopro”?
É possível, sem muito esforço, depreender dois fatos:
1. – que para soprar é preciso primeiro “aspirar” o ar. Um ato de “inspiração”, de interiorização e portanto esotérico. O AR na Bíblia, Gênesis, é mencionado como o sopro divino insuflado nas narinas de “adão” e que passou a ter “VIDA”, e representa o “Espírito”.
2. – o fato seguinte, o de soprar – ato ou ação de apagar o fogo das velas – gesto exotérico – completa o significado maior desse ritual.
Uma pessoa que comemora aniversário, que viveu mais um período de vida, de um ciclo da caminhada da Terra em torno do Sol, espera-se, e seja bem provável, que acumulou mais conhecimento, sabedoria, amor que é essa energia sublime, divina.
Portanto por dedução não precisa mais, simbolicamente, do fogo e da luz, as propriedades físicas e exotéricas do fogo, porque já passou a possuir essas qualidades “INTERNAMENTE”.
Nesse caso reitero que é preciso considerar o duplo sentido já enunciado. O amor que deve estar aumentado no coração, centro simbólico do “Ser” a que se soma o da Sabedoria contida no conhecimento que está ligada no cérebro, à “Razão”.
Oportuno registrar que muitos teólogos definem o fogo como um dos melhores símbolos para representar Deus pelo duplo aspecto que encerra: de AMOR (calor) e SABEDORIA (luz).
Portanto um ritual de festa de aniversário, por simples que possa parecer, sugere que o aniversariante está, naquele momento, se elevando e se aproximando mais do seu aspecto divino, da Casa do Pai para onde, um dia, deseja retornar.
Entenda-se que nesse contexto, segundo doutrina espiritualista, não somos seres humanos encarnados vivendo um experiência espiritual. Ao contrário, somos “Espíritos” tendo uma experiência material como Seres encarnados.
Sendo assim, o ritual praticado nas datas natalícias pode ser designado de uma das etapas do processo de religação.
Bibliografia
1. A Bíblia. Diversas Edições. Especialmente a Bíblia de Jerusalém, Editora Paulinas.
2. René Guénon – Os Símbolos da Ciência Sagrada. Editora Pensamento.
3. Mircea Eliade : O Mito do Eterno Retorno. Editora Cosmo e História.
4. Manrique Miguel Mom – Ciclos Cósmicos da Humanidade (fragmentos). Universidad de San Juan de Jerusalém, Cuaderno no 5.
5. Mircea Eliade – Tratado de História das Religiões – Edições ERASA, México, 1979.
6. Luis Büchner : (1.824-1.899) Força e Matéria, publicado em 1.855. Editado por F. Sempere Y Compañia, Valência, Olmo 4, Proyeto Filosofia, Madrid, Espanha. Tradución de A. Gómez Pinilla.
7. Isaac Asimov – Cronologia das Ciências e das Descobertas. Edit. Civilização Brasileira.
Ir∴ Geraldo Batista de Camargos
ARGBLS Fênix de Brasília no 1959 - GOB
Or∴ de Brasília - DF
Fonte: JBNews - Informativo nº 142 - 16/01/2011
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