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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 27 de março de 2023

RITO MODERNO

Renato Rodrigues da Silva
ARLS Estrela Vicentina no 2156 do Rito Moderno

O Rito Moderno ou Francês, segundo rito a ser praticado no Brasil (a partir de 1821),foi criado em 1761, segundo consta, com a finalidade de se libertar das influências da Maçonaria Inglesa que predominava na França, naquela época. Foi reconhecido e adotado pelo Grande Oriente da França em 24 de dezembro de 1761, mas sua implantação definitiva só se deu em 09 de março de 1773, pelo então Grão-Mestre Duque de Cartres, Felipe de Orleans.

Com a aprovação da proposição do Rev. Desmons que estabelecia a retirada da Biblia do Altar dos Juramentos e substituída pelo livro da Lei Maçônica, suprimindo a expressão "Grande Arquiteto do Universo" dos cabeçalhos de todos os documentos e Atas do Grande Oriente, a Grande Loja Unida da Inglaterra excomungou o Rito Moderno contando relações com o Grande Oriente da França.O principal argumento era de que o Rito Moderno era um rito ateu. Embora a intenção fosse deixar que os problemas de ordem metafísica continuasse sendo de foro íntimo de cada um.

Trabalha, atualmente em sete graus:
  • Aprendiz;
  • Companheiro;
  • Mestre;
  • 1ª Ordem - os Eleitos;
  • 2ª Ordem - Escocês;
  • 3ª Ordem - Cavaleiros do Oriente;
  • 4ª Ordem - Rosa-Cruz.
Origens do Rito Moderno

Para se falar das origens do Rito Moderno, deve-se começar pelas origens da Maçonaria na França.

Em 1517, foi fundado em Paris o “Colégio Francês”. Os membros originais deste colégio vinham da Península Itálica onde faziam parte de instituições conhecidas como “academias”, que tinham pessoas do porte de Leonardo da Vinci, entre outros, como seus membros. As características destes membros era serem contra os dogmas do papado e contra a interferência da Igreja no Estado. Este colégio floresceu na França com o reinado de Francisco I, e pode ser considerado o primeiro agrupamento maçônico especulativo no mundo. Porém, com a morte de Francisco I, houve um acirramento religioso na França, principalmente em reação à Reforma de Martinho Lutero. A nascente maçonaria especulativa passou a ser perseguida justamente por ser movida pela razão, e não por dogmas, e teve de se refugiar na Inglaterra, onde havia mais tolerância religiosa. A história da Maçonaria, na França, entra então num hiato, pois o centro dos acontecimentos maçônicos se transfere para a Inglaterra.

Em 1649 houve uma guerra civil na Inglaterra, que culminou com a decapitação do Rei Carlos I, da dinastia Stuart, e a adoção temporária de um modelo republicano por parte da Inglaterra. Exilados políticos que eram partidários dos Stuarts se refugiaram na França e abriram lojas maçônicas. Estas lojas passaram a ser chamadas de lojas “escocesas”, porque os partidários dos Stuarts eram escoceses.

A república inglesa, se podemos chamar assim, dura até 1660, quando a monarquia é restaurada e os partidários desta efêmera república são obrigados a se exilar na Holanda. Levavam consigo a experiência inédita de poderem ter julgado e sentenciado um rei que julgaram desleal ao país e aos seus súditos, e de terem abolido o poder da Igreja, confiscando seus bens – ou seja, conseguiram contestar o absoluto poder vigente, dando um exemplo de liberdade. Na Holanda, gravitando em torno das lojas maçônicas de lá, lançam as sementes do que depois foi conhecido como Iluminismo. Este movimento passa, por volta de 1715, também para a França, através das idéias de John Toland.

Em 1717 houve a criação da Grande Loja de Londres – ou seja a criação da Maçonaria conhecida hoje como “Maçonaria Moderna”. E em 1726 começam a chegar à França lojas maçônicas também vindas da Inglaterra, já filiadas a esta Grande Loja. Passou a haver então, na França, dois tipos de lojas: as “escocesas”, fundadas pelos partidários dos Stuarts, e as “inglesas” (ou “modernas”), filiadas à Grande Loja de Londres, além da influência ideológica daquilo que viria a se chamar futuramente de Iluminismo. Temos aqui as 3 grandes influências na Maçonaria Francesa do século XVIII: A maçonaria dita “stuartista”, mais tradicional e teísta; a maçonaria dita “moderna”, deísta e com tendências racionalistas, bem como as influências iluministas.

Em 1738, é fundada a Grande Loja da França, fazendo com que a Maçonaria francesa passasse para a mão dos próprios franceses, já que até então eram os escoceses e ingleses que a dominavam. Os grãos-mestres passam a ser franceses e esta Grande Loja da França sofre grande resistência da Grande Loja de Londres, que queria manter a maçonaria francesa sob sua tutela.

Em 1772, a Grande Loja da França foi extinta, e no seu lugar foi criado o Grande Oriente da França, o primeiro Grande Oriente do mundo. Foi este Grande Oriente que criou o que é chamado de “democracia maçônica”, onde há um poder central assessorado e vigiado por um corpo legislativo formado por deputados de todas as lojas (deputados estaduais, para os Grandes Orientes estaduais, e federais para os Grandes Orientes nacionais).

Antes disso, em 1761, o Rito Moderno, ou Francês, já havia sido criado. O motivo da sua criação foi colocar ordem na anarquia então reinante, onde havia diversos ritos com inúmeros graus, criados muitas vezes com o objetivo de vender paramentos, jóias e títulos. O Rito foi criado originalmente com apenas os 3 graus simbólicos – aprendiz, companheiro e mestre – o que causou reclamação, pois havia maçons que queriam enveredar pelo filosofismo. Então, em 1782, o Grande Oriente da França criou uma Comissão, chamada de Câmara dos Ritos, para dotar o Rito com a essência dos graus filosóficos o que culminou, após acalorados debates, em 1786, com a adoção de mais 4 graus filosóficos – Eleito, Eleito Escocês, Cavaleiro do Oriente ou da Espada e Cavaleiro Rosa Cruz. Uma das características deste novo rito foi se manter fiel às Constituições de Anderson, de 1723, e de ter retirado de seus ensinamentos coisas que não eram originais da Maçonaria. Os escocesistas, descendentes da maçonaria trazida pelos Stuarts, reagiram à esta redução dos altos graus, pois queriam ir justamente em sentido contrário, aumentando o número de graus, e criaram o que hoje conhecemos como R.E.A.A. que, portanto, não é escocês quanto à origem, mas também francês e com posteriores influências norte-americanas.

Há uma certa controvérsia quanto à origem do termo “Moderno”. Alguns autores afirmam que este termo vem da criação, em 1751, de uma loja na Inglaterra chamada de Grande Loja dos “Antigos”. Se auto-intitulavam assim porque se julgavam em oposição aos maçons de 1717, que foram os fundadores do que é chamado de Maçonaria Moderna. Ou seja, o Rito Francês-Moderno teria sido criado com o objetivo de se manter fiel à maçonaria moderna criada pelo movimento de 1717, que estava sendo desfigurada pela criação desordenada de graus, e não por ter sido um rito que tenha criado alguma “modernidade” por si só. De fato, no que diz respeito aos graus simbólicos, o Rito Moderno é o mesmo rito que a Grande Loja da Inglaterra praticava em 1717. Já outros autores afirmam que não o termo não tem relação com os “modernos” de 1717.

De resto, as características principais do Rito Moderno são a defesa intransigente da liberdade de consciência, a condenação de qualquer tipo de tirania e absolutismo , o laicismo, o agnosticismo, a tendência filosófica humanista e padrões de pensamento racionais e científicos.

O Rito Moderno continuou conforme foi criado até 1877, quando o Grande Oriente da França lhe fez uma reforma, que aboliu a exigência da crença em Deus e na imortalidade da alma. Isto gerou forte reação por parte da Grande Loja da Inglaterra, que decretou o Grande Oriente da França como irregular, acusando-o de ateísmo e materialismo. Essa acusação acabou caindo, por extensão, ao Rito Moderno, que é muitas vezes julgado como um rito ateu e materialista por quem não o conhece com a mínima profundidade. Basta, para isso, verificarmos que o 18o grau do R.E.A.A, que é considerado o grau mais espiritualista do escocesismo, nada mais é do que o 7o grau do Rito Moderno. Desta forma, como chamar o Rito Moderno de materialista ?

No caso do Grande Oriente do Brasil, que é reconhecido como regular e legítimo pela Grande Loja da Inglaterra de acordo com os termos de um tratado de 1935, a exigência da crença em Deus continua, apesar de, fiel ao laicismo, não existir invocação ao Grande Arquiteto do Universo nas sessões do Rito Moderno feitas nas lojas do GOB. Apesar de ser, atualmente, minoritário no Brasil, o Rito Moderno é o 2a Rito mais praticado no mundo; e é também, ou deveria ser, o Rito oficial de todos os Grandes Orientes do mundo, inclusive o do Brasil – ou seja, as cerimônias e sessões oficiais dos Grandes Orientes devem ser todas realizadas no Rito Moderno.

Quanto ao Brasil, não se sabe exatamente quando este Rito chegou aqui, e ainda há controvérsias se realmente teria sido o primeiro rito a chegar, pois há quem afirme ter sido o Rito Adonhiramita. De qualquer maneira, os dois ritos existiam em Portugal e na França, e como era para um destes dois países que os jovens das classes mais abastadas iam estudar, lá acabavam sendo iniciados na Maçonaria e, ao retornarem ao Brasil, abriam ou se filiavam a lojas de um dos dois ritos.

Quando da Independência do Brasil, todas as lojas do então Grande Oriente Brasílico eram do Rito Moderno. D. Pedro I, apesar de ser maçom, tinha medo que a Maçonaria lhe afrontasse o poder, de forma que fechou o Grande Oriente Brasílico em 22 de Outubro de 1822, ou seja, logo após a Independência. Quando o Grande Oriente foi refundado, já com o nome de Grande Oriente do Brasil, após ter ficado fechado por quase 10 anos, todas as lojas que constituíram sua re-fundação também eram do Rito Moderno. E este Rito ficou sendo o Rito majoritário do Brasil por muito tempo, sendo um Rito importante na formação de diversas lideranças brasileiras do Século XIX, tendo tido destacada atuação na Independência do Brasil, nas leis que culminaram na libertação dos escravos (Lei Euzébio de Queiroz; Lei do Ventre Livre e a própria Abolição da Escravatura) e na campanha republicana.

Segundo o Ir∴ Alexandre Magno Carvalho, autor do livro “O Aprendiz no Rito Moderno”, ultimamente tem havido um ressurgimento do Rito Moderno no Brasil, com a abertura de novas lojas ou com a vinda de Irs∴ de outros ritos, já que por ser um rito laico, não gera constrangimentos de ordem religiosa.

Bibliografia:
  • Manual do Rito Moderno – José Castellani e Frederico Guilherme Costa Editora A Gazeta Maçônica
  • A Maçonaria Moderna – José Castellani - Editora A Gazeta Maçônica
  • O Aprendiz no Rito Moderno – Melkisedek (Alexandre Magno Camargo) Editora A Gazeta Maçônica
  • Fundamentos do Rito Moderno – José Francisco Simas
Fonte: JBNews - Informativo nº 202 - 17/03/2011

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