CONHEÇA-TE A TI MESMO – O SEGREDO DO SUCESSO NA MAÇONARIA
Ao entrar na Ordem, ao ser iniciado, o neófito é ensinado a fazer o trabalho da busca interior. Pitágoras já afirmava que o segredo para a evolução de qualquer ser humano é procurar conhecer a si mesmo. Ainda na Câmara de Reflexão o recipiendário encontra a seguinte frase em latim: “Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”, que no português equivale a Visita o Centro da Terra, retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta.
O iniciado do passado tinha como vantagem o fato de pertencer a um mundo muito pequeno no âmbito do conhecimento e da quantidade de informações com as quais teria que lidar. Para o Maçom moderno, conhecer a si próprio não é tarefa fácil. Responder algumas perguntas como as listadas abaixo está ficando cada vez mais difícil.
- Quem sou?
- O que estou fazendo aqui?
- Qual é a minha missão de vida?
- Qual está sendo a minha contribuição para a sociedade?
Há estudos que afirmam a importância de “conhecer a si próprio” como sendo o grande segredo para qualquer conquista, evolução ou interação com as pessoas. Qualquer ser humano é único e diferente de todos os outros. Ninguém é igual ao outro. Não existe uma cópia fiel de cada um de nós. Somos a imagem e semelhança do Grande Arquiteto do Universo e do próprio macrocosmo, porém, com características especiais, como são as galáxias. A Via Láctea é diferente de todas as outras galáxias, podendo ser identificada com exclusividade numa simples busca pelo céu em noite clara, num local ausente de luminosidade artificial. Dentro de condições normais, cada um de nós vem ao mundo com missão definida, com capacidades de ser “ganhador” no jogo da vida, cheio de particularidades, capacidades e limitações diferenciadas, com maneiras singulares de estar na VIDA. A busca interior, portanto, não pode ser um modelo linear que serve para todos. É por essa razão que o Maçom aprende a se distanciar do modelo professor-aluno, mestre-discípulo, na lapidação de sua própria Pedra Bruta, seu próprio ser, objetivando o encaixe adequado no edifício social. Esse trabalho, essa busca, é tão complexo que poucos iniciados serão bem- sucedidos nessa tarefa. Muitos se escondem atrás da barreira “intransponível” da falácia de que somos eternos Aprendizes e a lapidação nunca é iniciada durante a vida inteira. Com efeito, somos eternos aprendizes, pelo simples fato de que, o que se aprende hoje, não é sinônimo de aperfeiçoamento, mas sim, um degrau a mais na escada evolutiva. Entretanto, essa mensagem subliminar pode criar em nosso ser uma espécie de zona de conforto, onde nos sabotamos e ficamos estagnados, não passando do que vimos na iniciação.
Conhecer a si mesmo requer habilidade e vai influenciar na forma como cada um percebe o seu modo de estar no Mundo, não só quanto aos fatores genéticos, mas, sobretudo, pela forma como o caráter foi moldado de 0 a 4 anos, ou seja, pelas primeiras vivências, pelos primeiros registros de Mundo que foram interiorizados. O Aprendiz tem 3 anos para moldar o seu caráter, por sua conta e risco, com o Malhete e o Cinzel em suas mãos, representando a razão, o adulto, e as emoções, ou o lado criança, os quais interferem diariamente na tarefa de lapidação da Pedra Bruta. E assim, muitos serão iniciados e provarão ser ganhadores, enquanto outros, não passarão de perdedores, simplesmente porque uns despertam para a evolução e aprimoramento contínuo e, outros, viverão o tempo todo sabotando a si próprios.
O Brasil ficou conhecido como o país da “Lei de Gérson”, a lei de levar vantagem em tudo, oriunda de uma propaganda de cigarros, feita pelo ex-jogador Gérson, que dizia: “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica! ”
Enquanto precisarmos de lombadas para imprimir uma velocidade segura; enquanto passarmos nos radares com a mão na placa traseira da moto, para não sermos multados; enquanto pegarmos frutas na prateleira do supermercado e comermos sem pagar por elas, ou balas, iogurtes, refrigerantes, etc.; enquanto sonegarmos impostos; enquanto apelidarmos a malandragem de “jeitinho brasileiro”; enquanto furarmos as filas, no hospital, no banco, nas ruas com nossos carros. Certamente, enquanto fizermos assim, a arte de lapidar a Pedra Bruta está longe de ser exercida como deveria. Estaremos nos sabotando, muito longe de pararmos e refletirmos sobre nós mesmos.
Outro dia um irmão me ligou desesperado, dizendo que precisava de ajuda porque um parente seu encontrava-se internado em um determinado hospital e necessitava de cuidados. Como sou da área nutricional e conheço muitos colegas médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, administradores de hospitais, etc., é comum receber esse tipo de solicitação de ajuda. Liguei para um irmão que atua como clínico geral no hospital onde o parente do nosso irmão se encontrava e reportei a situação, pedindo para que ele visse o quadro clínico do paciente e me informasse. Em seguida, recebi a ligação do médico, nosso irmão, dizendo que fora ver o paciente, acompanhou os procedimentos, verificou os sinais vitais e me passou o diagnóstico completo. Liguei para o nosso irmão que solicitara o socorro e o tranquilizei, dizendo que seu parente estava bem, que estava sendo medicado adequadamente, que os sinais vitais estavam sendo monitorados e que o quadro era estável. Fiquei surpreso com a reação, pois o irmão me disse: “Pensei que vocês iriam tirá-lo da enfermaria e interná-lo, dando uma atenção priorizada. ” Puxa, descobri que, o que o nosso irmão desejava era que, em função de sermos Maçons, passássemos por cima das regras e do sistema, desconsiderando os outros pacientes que estavam à frente do seu parente na prioridade de quarto para internação. Coisa que, pelo SUS seria inadequado, antiético e impossível de se fazer. Fizemos o que o paciente precisava, mas não poderíamos fazer o que o seu familiar, nosso irmão, realmente queria. Lembrei-me de novo da Lei de Gérson impregnada na mente do brasileiro. Parece que o “jeitinho brasileiro” impera no DNA do caráter das pessoas, do berço aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, permeando inclusive, as Câmaras de Reflexões e os Templos. Recebemos pedidos como esse quase todos os dias!
Provavelmente ninguém é 100% lapidado, ninguém é 100% ganhador ou 100% perdedor. Mas, na vida Maçônica, um irmão lapidado é aquele que reage positivamente, de forma autêntica, nas mais variadas situações, sendo digno de confiança, sensível e verdadeiro enquanto indivíduo e enquanto membro da sociedade. O perdedor é aquele, mergulhado no vício, no jeitinho brasileiro, na Lei de Gérson e na forma de querer levar vantagem em tudo. Os iniciados ganhadores são aqueles que realmente conhecem a si mesmos, procuram lapidar suas Pedras Brutas de forma autêntica, sendo fácil detectar neles as seguintes qualidades:
- Privilegiam a autenticidade;
- São sensíveis e dignos de confiança;
- Primam por aquilo que são e não pelo que gostariam de ser;
- Não vivem de aparências, tampouco tiram proveito dos outros;
- São transparentes, não vivendo atrás de máscaras;
- Combatem os maus costumes, tendo como parâmetro os valores éticos e morais da sociedade em que vivem;
- Não usam drogas, não destroem o Templo físico com vícios;
- Recusam atitudes de superioridade ou de inferioridade;
- A autonomia não os assusta e, mesmo com alguns fracassos, mantêm a confiança em si;
- Não têm medo de pensar, estudar, pesquisar e utilizar os conhecimentos em benefício pessoal, da família, da sociedade e da Loja;
- Reagem às situações de forma prudente, pensada, cadenciada, não agindo por instinto;
- Não são indiferentes aos problemas sociais, chamando para si as responsabilidades pelos problemas da comunidade ou país em que vive;
- Não têm vergonha do próprio sucesso, nem inveja do sucesso dos outros;
- Amam a vida, o trabalho, a família, a diversão e a adoração ao Ente Supremo; - Não se deixam vencer pelas próprias contradições ou ambivalências;
- Vivem no presente, “aqui e agora”;
- Não criticam, não se queixam, não condenam.
Não precisaria falar daqueles que nunca lapidam suas Pedras Brutas, ou fingem estar lapidando. Esses são os perdedores. Seus comportamentos mais identificados são:
- Evitam serem responsáveis por seus vícios e fracassos;
- Vivem posicionados no passado ou no futuro, usando frequentemente expressões como: “se eu soubesse...”, “quando isso acontecer...”;
- São negativos e vivem alimentando suas angústias: “se eu perder o emprego...”, “se eu perder a cabeça...”, “se eu me enganar...”;
- Deixam escapar as reais possibilidades do momento, diminuindo sua eficácia;
- Vivem grande parte da sua vida aguardando serem ajudados, servindo-se dos outros, com atitudes de infância, atrás de máscaras;
- Reprimem a capacidade de se exprimir espontaneamente;
- Têm dificuldades de se envolverem em relações autênticas, íntimas, honestas e leais;
- São traidores, capazes de se fazer passar por amigos;
- Tem preguiça de ler, estudar, pesquisar, meditar, orar, contando com a própria sorte;
- Gostam de pegar tudo pronto, mastigado, dotados da habilidade CONTROL C + CONTROL V;
- Sempre têm uma desculpa para seus devaneios e exigem que sejam compreendidos;
- Sucumbem suas potencialidades em função da preguiça e falta de iniciativa;
- São destemperados, pavio curto, estúpidos, querem levar no grito suas conquistas.
São apenas algumas pontuações sobre os perdedores.
Se os neófitos são despertados na Iniciação, é possível que em suas evoluções constatemos correção de rota em vários sentidos, entre eles:
- Melhora da confiança em si próprios;
- Passam a tomar decisões e a assumir riscos calculados;
- Descobrem seus sentimentos e passam não só a moldá-los, mas também a exprimi-los;
- Passam a ser pessoas verdadeiras, vivas e conscientes de si próprias;
- Passam a utilizar suas capacidades pessoais, de modo consciente e criativo;
- Exercem o AMOR ao próximo, ao GADU e à filantropia;
- Tornam-se ganhadores.
Quando virdes algum irmão dizendo: O que eu ganho por ser Maçom? O que isso me acrescenta? De que me adianta ser Maçom? Qual a diferença em ser ou não Maçom?
Lembre-se da medição pessoal, da evolução de cada um e procure identificar algum progresso em si próprio. Hoje em dia temos ferramentas eficazes na Psicologia, um dos braços da Filosofia, que nos auxiliam a conhecermos a nós mesmos e, não só isso, a conhecermos uns aos outros do quadro da Loja. Estou falando das avaliações do caráter, das emoções e do lado adulto das pessoas, através do Egograma e dos Inventários Fatoriais da Personalidade (IFP’s). Se eu pudesse, sugeriria à toda Loja, a contratar um profissional da área, um psicólogo, para avaliar o perfil de personalidade de cada irmão. É uma forma eficiente de nos conhecermos a nós mesmos e uns aos outros. Para quem nunca ouviu falar no assunto, sugiro que assista ao filme Divertidamente, com calma e atenção. A grande vantagem disso é que, nossa personalidade é igual a um grande iceberg, podendo ser dividida em três partes: a primeira é vista por todos; uma outra está logo abaixo da água e é pouco visível; já a última está submersa em águas profundas, totalmente invisível. Nossa personalidade tem a parte visível, que cada um de nós e as outras pessoas veem, que são nossos comportamentos exteriores: nossa voz, nossos gestos e linguagem corporal, nossas mímicas, nosso sorriso, as palavras que exteriorizamos com mais frequência; Depois vem a parte pouco visível, como a parte do iceberg imediatamente encoberta pela água: as palavras mais difíceis de serem pronunciadas, o conhecimento que raramente manifestamos, nosso sorriso amarelo, nossa mania de aprovar ou reprovar alguma coisa, nossa forma de ignorar as pessoas, ignorância, desprezo, etc.; E, por último, vem a parte totalmente invisível e desconhecida do iceberg: Ela é o nosso inconsciente e está diretamente ligada aos nossos comportamentos indesejáveis, mas que surgem regularmente, como no caso do pavio curto, lapsos, conflitos, repulsa, discussões, agressividade, critica, etc.
Conhecer a si próprio prescreve auto avaliação de todos os três estágios da personalidade e de quantificar a evolução em cada estágio. A área que mais precisamos trabalhar no desbaste da Pedra Bruta é aquela pouco visível, ou seja, a parte ligeiramente oculta, a segunda parte do iceberg. É ela que vai monitorar e impedir que a parte oculta apareça de repente. É mais eficaz na vida, avaliar as pessoas ao nível de seus comportamentos e das suas atitudes do que tirar ilações definitivas e globalizantes sobre elas. Um comportamento é algo que pode ser facilmente mudado. É possível trabalhar comportamentos negativos e transformá-los em atitudes positivas, principalmente quando fazemos uma avaliação da personalidade com um profissional competente, nos ajudando a conhecer nossos pontos fortes e fracos. Pavio curto e Maçonaria não combinam. É algo mais aplicável nos zoológicos e safaris. A Loja onde todos se conhecem tem vida longa, prosperidade, paz e harmonia.
Autor: Manoel Miguel M∴M∴ – CIM 293759 – ARLS Colunas de São Paulo 4145 – GOB/GOSP. Or∴ de São Paulo.
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.117
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