COMPREENDENDO O USO DO AVENTAL
Autor: Celso Ricardo de Almeida
Mestre Instalado da Loja Maçônica Casa do Caminho, Oriente de Fervedouro-MG
O Avental é a vestimenta emblemática, simbólica e
obrigatória de um Maçom. A rigor a única necessária, e o seu uso denuncia o seu
grau hierárquico dentro da Ordem Maçônica, podendo ser desde cargos
administrativos como o posicionamento nos vários graus existentes, bem como,
evidencia também, os diferentes ritos e potências.
Mas pouco se conhece da história desta humilde vestimenta
que tão grande significado possui. Os nossos rituais se limitaram apenas a
explicar a simbologia do Avental para o grau do referido ritual, não tecendo
informações ou comentários sobre a sua história e significado. Cria-se assim
uma grande lacuna para a interpretação desta vestimenta, que como já foi
mencionado, é indispensável para o Maçom.
O presente estudo pretende demonstrar como surgiu esta
vestimenta, e qual o seu significado, seja ele simbólico ou esotérico.
Entretanto, não entraremos nas questões referentes à sua utilização em Loja,
visto que cada grau possui seu simbolismo e suas características próprias.
Iniciando o estudo propriamente dito, iremos tecer um breve
comentário sobre a utilização do Avental no mundo profano, e assim, conhecermos
melhor suas utilizações e importâncias profanas, para posteriormente
adentrarmos na simbologia Maçônica.
É notório que o Avental é utilizado por grande número de
pessoas que, mesmo não cientes de sua importância, se beneficiam desta pequena
e até mesmo insossa vestimenta. Mas o que afinal é o Avental? E quando iniciou
sua utilização?
O Mini dicionário da Língua Portuguesa Melhoramentos, Edição
2000, classifica o Avental como:
§ Peça de pano, couro ou plástico, que se usa sobre a roupa, para proejá-la. Ou:
§ Espécie de guarda
pó, usado por farmacêuticos, dentistas, médicos e etc.
No mundo profano o Avental é muito utilizado, principalmente
por pessoas que têm a necessidade de se protegerem, seja de qualquer partícula
sólida ou líquida, que venha sujar a roupa, ou de substâncias, porosas ou não,
que possam agredir a pele.
Para alguns escritores, a origem do Avental está ligada a
tempos muito remotos, como o Paraíso Terrestre, onde alguns vêem Adão como o
inventor do Avental, representado na folha de parreira, a qual, segundo a
ilustração bíblica, cobria seus órgãos genitais. Mas essa versão é suspeita por
uns e refutada por outros que a consideram ilusória e especulativa.
Historicamente falando é quase impossível precisar a data ou
o período em que o Avental começou a ser utilizado, entretanto há vários
registros históricos de seu uso. Os Romanos, por exemplo, usavam como parte de
seu uniforme militar, como também há registros do uso de Avental por Egípcios,
Persas e Hindus. Mais contemporaneamente, percebemos que os pintores da
Renascença também o utilizavam para proteger suas roupas dos respingos de
tintas.
Na Maçonaria o surgimento do uso do Avental pode ter
iniciado nas Guildas e corporações Medievais, tais associações que deram origem
à Maçonaria Operária, sendo provável que este deva ser o único sinal externo do
período Operativo da Maçonaria. Tinham por hábito distribuir entre seus membros
Aventais para o exercício do ofício ao qual estavam ligados. Esses Aventais
apresentavam diferenças com base nos diferentes trabalhos e conhecimentos
acerca do ofício em questão, tais como sapateiro, ferreiro, açougueiro,
pedreiro, entre outros.
Quanto aos pedreiros, tidos como os Maçons de fato, na fase
Operativa da Maçonaria a utilização desta indumentária era essencial, pois
protegia o corpo do obreiro, e sua função era evitar acidentes provocados pelas
lascas que se desprendiam das pedras brutas que eram trabalhadas com cinzel e
malho, e que depois de prontas, viriam a ser partes de edificações. Esses
Aventais eram feitos predominantemente de couro de carneiro, um couro espesso,
com vistas a proteger os obreiros de labutas muitas vezes perigosas para o
corpo humano.
Posteriormente, com a transição da Maçonaria Operativa para
a Maçonaria Especulativa, houve grandes modificações para a utilização do
Avental, que deixou de ser uma peça considerada de proteção para o corpo,
transformando-se em verdadeiros brasões ou estandartes, onde o conjunto das
tradições cultivadas pela Arte Real era traduzido em emblemas e símbolos
representativos de cada conjunto de ensinamentos que se queria transmitir sobre
a Maçonaria. Tais símbolos sempre foram ricos em metáforas e conteúdo
esotérico, filosófico e histórico.
Desse modo, os Aventais transformaram-se em verdadeiras
obras de arte, cercadas de emblemas e símbolos que variavam de região para
região. O que deve ter gerado algumas polêmicas, pois em 1813, com a unificação
das duas grandes Potências Inglesas, houve a edição de um normativo
regulamentando e padronizando os Aventais, de forma a coibir os inúmeros abusos
que aconteciam. Ressalto também que em 1875, com o Congresso Mundial dos
Supremos Conselhos em Lausane, também decidiu-se por uma padronização dos
Aventais utilizados pelos seguidores do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Mas independente de seus emblemas ou de sua padronização, o
significado simbólico do Avental continuou o mesmo, pois representa um emblema da
dignidade, da honra, do trabalho material ou intelectual, símbolo da inocência
do iniciado. É a insígnia do Maçom, o único que lhe que dá o direito de entrar
nos templos e participar das reuniões. Representa a prontidão para o trabalho,
que nos acompanha desde o meio dia até ao fim da vida, pois constitui-se como
um instrumento fundamental e não nos deixa esquecer que a labuta é uma
constante, seja em Loja ou fora dela.
Recorda-nos também, as nossas obrigações e deveres como
obreiros da Arte Real, capaz de transformarmo-nos de filhos de mulheres em
filhos do homem, auxiliados pelas instruções que são ministradas a todos os
filhos da viúva.
Esotericamente, o Avental é a vestimenta corpórea da alma,
que será pura ou impura conforme os nossos desejos e pensamentos. E representa
a condição imortal da alma, que sobrevive à morte do nosso corpo físico.
Símbolo do trabalho na construção do templo interior e nas tarefas de
aperfeiçoamento evolutivo. Essa peça constitui a super proteção aos chakras
fundamentais, esplênico e umbilical, para diminuir as influências decorrentes
dos sentidos em relação ao sexo e as paixões emocionais, expondo e ativando os
chakras cardíaco, no aprimoramento dos sentidos; laríngeos, impulsionando a
criatividade; e frontal, estimulando o raciocínio.
Notemos que o Avental vem sempre acompanhado por um cinto ou
corda, que é um elo entre o Avental e o corpo, na altura dos rins, e que também
divide o corpo de quem usa, da cintura para baixo (a parte procriadora,
material); e da cintura para cima (a parte sensitiva, espiritual; que guarda os
centros de forças).
Para os antigos a parte mais importante do Avental era o
cinto ou corda, pois é símbolo do cordão umbilical, que liga o homem à terra;
ou o cordão de prata, que liga o homem ao espírito; ou até mesmo o cordão de
ouro, que liga o espírito ao Eu superior.
Independente de sua origem, do começo de seu uso ou da
interpretação que damos a ele, o Avental utilizado hoje é o resultado da união
dos Maçons Operativos com os Maçons Especulativos, e o seu uso simboliza o
momento espiritual que o Maçom está vivendo dentro da Maçonaria.
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