O MESTRE
(Publicado na revista O Pensamento - mai/jun/99)
Sem saber o que fazer vagava o Mestre despreocupado por
entre a obra quando se deparou com um Aprendiz que, concentrado, examinava uma
pedra ainda não totalmente desbastada. Querendo mostrar sua força e sua
autoridade, dirigiu-se ao obreiro:
- Aprendiz, a tua pedra não está devidamente desbastada.
Acaso pensas em dá-la como acabada?
- Mas, Mestre esta pedra...
- Não será negligenciando nas tuas tarefas que um dia
pretendes chegar onde hoje estou. Não penses que o mestrado é conseguido sem
sacrifícios e pouco trabalho.
- Mas, Mestre, eu...
- Não me parece que os ensinamentos tenham sido por ti bem
assimilados. Vede o estado em que se encontra esta pedra. Toda disforme e cheia
de imperfeições. Já imaginastes as conseqüências que acarretaria o seu
assentamento na obra? Por certo não iria se encaixar convenientemente e, além
disso, colocaria em risco o próprio andamento da construção
- Mas, Mestre, eu gostaria de...
- Não me interrompas enquanto falo. Um aprendiz deve saber
comportar-se diante de seu Mestre. Não estou gostando do teu comportamento nem
de teu jeito desleixado de trabalhar. Olha só esse avental, todo sujo, e essas
ferramentas em péssimo estado de conservação. Agora olha para mim. Vê meus
paramentos, imaculados, e meus utensílios de trabalho perfeitamente
conservados, como novos. Não te serve de lição ver tão gritante comparação?
Acaso não te sirvo de exemplo? E vamos deixar de conversa; trata de trabalhar
que o tempo é curto. Como castigo, para que não sejas tão negligente, deverás
terminar o desbaste desta pedra, mesmo no teu horário de descanso.
- Mas, Mestre, eu gostaria de explicar que...
- Não irei perder mais meu tempo contigo! Faze o que
determinei e estamos conversados!
Afastando-se, o Mestre sai satisfeito e orgulhoso por ter
sido severo e demonstrado sua autoridade, deixando o aprendiz matutando:
- Puxa vida! Eu queria explicar ao Mestre que esta pedra
está aqui desde quando ELE ERA APRENDIZ E, NA PRESSA DE AUMENTAR O SEU SALÁRIO,
NÃO A DESBASTOU CONVENIENTEMENTE.
Todas as minhas pedras foram aproveitadas na obra, razão
pela qual meu avental está sujo e minhas ferramentas desgastadas pelo uso. Além
disso, estou no meu horário de descanso e aproveitava o tempo para concluir o
desbaste desta pedra que está aqui desde a promoção do Mestre.
O Mestre deve ter razão e deve estar muito preocupado com
seus afazeres para se importar com uma simples pedra bruta. O melhor mesmo é
terminar esta pedra e deixá-la pronta para o polimento.
Pensando melhor, não seria mais conveniente eu deixar esta
pedra, que não é minha, de lado e preocupar-me em aumentar meu salário e ser
igual ao Meu Mestre?
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