RITO FRANCÊS OU MODERNO
Hipólito da Costa trouxe de
Londres e de Paris, em 1802, a Carta Patente necessária para o funcionamento do
Grande Oriente Lusitano. Dois anos mais tarde, foi assinado um Tratado de
Amizade com o Grande Oriente de França.
O Tratado é assinado, por parte
do Grande Oriente Lusitano, pelo Maçon de nome simbólico Egas Moniz, Cavaleiro
Rosa-Cruz, o que pressupõe que as Ordens de Sabedoria do Rito Francês já
existiam anteriormente em Portugal, no seio do Grande Oriente Lusitano, mas não
existem documentos que abonem nesse sentido.
Por outro lado, a Constituição do
Grande Oriente Lusitano de 1806, refere-se explicitamente às diferentes Ordens
e Capítulos do Rito Francês, nos seus Capítulos IIIº e XIIIº, o que pressupõe a
existência dum “Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz”, assim como
de vários Capítulos.
A evolução histórica das Ordens
de Sabedoria do Rito Francês ou Moderno, conheceu vicissitudes diferentes.
Enquanto em França deixaram de ser praticados durante cerca de 150 anos, a
partir da segunda metade do século XIX, em Portugal, os Trabalhos prosseguiram
durante este longo período, apesar das inúmeras perseguições e proibições de
que a Maçonaria foi alvo. Em plena clandestinidade, depois de Salazar ter proibido
a Maçonaria em 1935, os últimos Irmãos sobreviventes do “Soberano Grande
Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz”, já existente em 1804, foram integrados no
Supremo Conselho dos Grandes Inspectores Gerais do Grau 33º do Rito Escocês
Antigo e Aceito, para Portugal e sua jurisdição, através do Acordo de 1939 e a
partir dessa data, o Rito Francês ou Moderno deixou de ser praticado em
Portugal.
Somente em 1991, depois da
Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974, com a fundação da Loja simbólica
“Delta”, o Rito Francês ou Moderno foi reintroduzido no Grande Oriente
Lusitano, no qual foi praticado exclusivamente por esta Loja durante 10 anos.
A partir de 2001, um grupo de
Maçons do Grande Oriente Lusitano, pertencentes às Lojas “Delta” e “25 de
Abril”, foram Elevados em França, gradual e sucessivamente, nas diferentes
Ordens de Sabedoria do Rito Francês ou Moderno, com o apoio do Grande Capítulo
Geral do Grande Oriente de França e sob os auspícios do Grande Oriente Latino
Americano, vindo a constituir o “Grande Capítulo Geral do Rito Francês de
Portugal”, assim como vários Soberanos Capítulos.
O Supremo Conselho do Rito
Escocês Antigo e Aceito, depositário desde o Acordo de 1939, da Patente e de
todos os Poderes de Jurisdição e Administração do Rito Francês ou Moderno para
Portugal, reactivou em 2003 o Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz,
com os Maçons Elevados em França, assim como com outros, nomeadamente com o Dr.
Fernando Valle, Iniciado no Rito Francês ou Moderno em 1923, (último
sobrevivente desde 1939, com 103 anos em 2003, dos quais 80 como Maçon),
transferindo para este Soberano Grande Capítulo a Patente e todas as suas
Prerrogativas, permitindo assim o restabelecimento da Cadeia de União do Rito
Francês ou Moderno em Portugal, em toda a sua plenitude.
Estes Maçons decidiram por
unanimidade, em Assembléia de 5 de Setembro de 2003, integrar estas duas
instâncias numa única Potência Maçónica, Livre e Soberana, afim de respeitar o
legado e a Tradição histórica do Rito Francês ou Moderno em Portugal,
constituindo assim o “Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz – Grande
Capítulo Geral do Rito Francês de Portugal”.
A doutrina maçónica do Soberano
Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz – Grande Capítulo Geral do Rito Francês
de Portugal, insere-se na Tradição desenvolvida no seio do Grande Oriente de
França, nomeadamente no que se refere à Câmara de Altos Graus de 1782, à acção
de Roettiers de Montaleau, às decisões nesta matéria do Convent de 1786 e à sua
actualização elaborada a partir de 1998.
O Soberano Grande Capítulo de
Cavaleiros Rosa-Cruz – Grande Capítulo Geral do Rito Francês de Portugal, é uma
Potência Maçónica, Soberana e Independente, Regularmente constituída e
Instalada, essencialmente filantrópica, filosófica e progressiva, que tem por
objecto a procura da Verdade, a prática da Solidariedade entre todos os Homens
Livres e de Bons Costumes, sem rejeição de raças, de nacionalidades, de
culturas, de sexo ou de crenças.
Trabalha para o aperfeiçoamento
material e Ético do Homem e da Humanidade, assim como para o seu progresso
intelectual e social. Tem por principio a Tolerância mútua, o respeito por
terceiros e por nós próprios, o Livre Exame, a Democracia, a Laicidade e a
Liberdade Absoluta de Consciência.
Considera as concepções metafísicas
como fazendo parte do foro intimo e exclusivo da avaliação individual dos seus
membros.
Recusa-se a efectivar qualquer
afirmação dogmática e tem por divisa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
As origens do Rito
A Maçonaria especulativa surge
progressivamente desde os finais do século XVII, princípios do século XVIII,
oriunda das Lojas operativas medievais e da Royal Society de Londres.
A Maçonaria especulativa actual,
encontra a sua origem na Inglaterra, especialmente na Escócia, independente até
1705, onde se guardam fragmentos de vários documentos sobre rituais conhecidos
a partir de 1630, embora só em 1696 através dos “Arquivos de Edimburgo”,
apareça o primeiro Ritual maçónico completo.
Quatro Lojas não-operativas, vão
juntar-se para fundar, em 1717, a Grande Loja de Londres e Westminster e
colocar a primeira pedra da Maçonaria especulativa contemporânea, funcionando
apenas com os três primeiros graus simbólicos.
Em 1723 são publicadas as
primeiras Constituições de Anderson.
Conhecem-se os rituais desta
primeira Grande Loja, através duma obra publicada de 1730, “Masonry Dissected”,
que provocou enorme escândalo e alarido, ao revelar publicamente estes rituais.
Se citamos uma primeira; Grande Loja, é porque a Maçonaria Inglesa, que aparece
tão monolítica e conservadora hoje, vai assistir ao aparecimento duma segunda
Grande Loja, em 1751. Esta Grande Loja, dita dos “Antigos Maçons”, apresenta-se
como congregando os Maçons fiéis aos “antigos” costumes da Ordem e censura,
entre outras coisas, a “primeira” Grande Loja, dita dos “Modernos”, por
introduzir inovações e modificações aos Rituais, nomeadamente para despistar os
profanos que eventualmente tenham lido o livro “Masonry Dissected”.
As rivalidades, as querelas, as
controvérsias e os anátemas entre estas duas Grandes Lojas, fazem parte da
história da Maçonaria Inglesa até 1813, data a partir da qual se fundem - sob a
pressão do poder político - para criarem a actual Grande Loja Unida de
Inglaterra.
Quando em 1725 foram criadas as
primeiras Lojas em França, estas utilizavam o Ritual da “primeira” Grande Loja
de Londres, dita dos “Modernos”, visto que só em 1751 é que foi criada a
“segunda” Grande Loja, dita dos “Antigos” Maçons.
O Rito dos “modernos” é traduzido
para francês e passa a denominar-se, por facilidade e abreviação de Rito
Francês, em vez de Rito Francês ou Moderno, principalmente a partir de 1801,
quando o Grande Oriente de França publica o “Régulateur du Maçon” para as Lojas
Simbólicas.
Em Portugal também se constituem
Lojas maçónicas, ora de origem inglesa (irlandesa ou escocesa) constituídas por
mercadores ou militares, ora de origem francesa principalmente de mercadores. A
mais conhecida é a de Koustos, constituída por mercadores que foi dissolvida e
os seus membros presos pela Inquisição. Mais tarde, depois de libertado,
Koustos escreveu um livro sobre a sua passagem pelas masmorras da Inquisição,
livro esse que foi publicado em Inglaterra e França e que veio dar a conhecer
os primórdios da Maçonaria em Portugal.
Os Roettiers de Montaleau
Durante cerca de 50 anos, entre
1735 e 1785, fundaram-se e desenvolveram-se por toda a França, inúmeras Lojas e
Capítulos, que por sua vez constituíam indiscriminadamente Altos Graus.
Aquando do Convent de 1773, no
qual a primeira Grande Loja de França (fundada em 1738), muda o seu nome para o
actual Grande Oriente de França, federação de Lojas e de Ritos, nos trabalhos
históricos deste Convent, cerca de 20 anos antes à Revolução Francesa, põe-se
cobro à inamovibilidade dos Veneráveis Mestres das Lojas, instaurando-se o
principio da eleição para os diferentes cargos, assim como se instaura
igualmente o direito de representatividade das Lojas, cujos Representantes ou
Deputados, vêm a constituir o Convent (o equivalente da Grande Dieta do Grande
Oriente Lusitano), órgão legislativo do Grande Oriente de França.
O Grande Oriente de França,
consciente da necessidade de estabelecer a sua própria doutrina dos Altos Graus
e para pôr cobro à proliferação indiscriminada de Graus e de rituais, vai criar
em 1782, uma Câmara de Altos Graus. Através duma circular publicada em 1784,
esta Câmara anuncia a reunificação de 7 Soberanos Capítulos Rosa-Cruz, criando
uma nova instituição denominada Grande Capítulo Geral de França, que tem como
finalidade “ser a Assembleia Geral de todos os Soberanos Capítulos que existem
ou que venham a existir regularmente em França” e que “não afiliará no seu seio
nenhum Soberano Capitulo que não seja portador de constituições outorgadas pelo
Grande Oriente de França”.
Este Grande Capítulo Geral, sob a
orientação e dinamização de Roettiers de Montaleau, seu Grande Orador, vai
efectuar a análise e o estudo de uma centena de graus e vai redigir um Ritual
próprio consoante a sua respectiva afinidade ritualistica simbólica e
filosófica.
A este agrupamento de diferentes
graus da mesma “família filosófica maçónica”, vai dar-se-lhe o nome de Ordens.
O Convent de 1786, reunindo com o
Grande Capítulo Geral, confia a este, a administração dos Capítulos que
trabalham num grau “superior” ao terceiro. A actividade das Ordens de Sabedoria
ou dos Altos Graus do Rito Francês, desenvolve-se então intensamente nesta
época, tendo em seguida desaparecido progressivamente, no decorrer da segunda
metade do século XIX, principalmente em França.
Alta Maçonaria
As Ordens de Sabedoria do Rito
Francês ou Alta Maçonaria, dita também impropriamente dos Altos Graus, por
influência escocesa, estão codificadas segundo quatro grandes princípios.
1° Princípio: o reagrupamento e a
codificação de quatro grandes famílias de graus, em quatro Ordens + uma. Estas
quatro Ordens, com os três primeiros graus simbólicos de Aprendiz a Mestre,
formam um sistema coerente de 3 graus + quatro Ordens + uma Quinta Ordem de
vocação universal, conservadora da Tradição, do Saber e da Essência do Rito,
coordenadora administrativa, englobando todos os graus físicos e metafísicos de
índole latitudinário e humanista.
2° Princípio: respeito pela
praxis tradicional dos Capítulos então existentes, visto que o Grande Capitulo
Geral se posiciona enquanto federação de Capítulos. Cada Ordem será portadora
do nome e do conteúdo dum leque de determinados graus análogos, somatório dos
conhecimentos e dos ensinamentos relativos á mesma família de graus, a que se
refere o seu simbolismo inserido em cada Ordem, a qual, é apenas o seu
depositário.
3° Princípio: este conjunto de
Ordens deverá permanecer aberto, pois é o somatório de diferentes graus da
mesma família simbólica e filosófica da Maçonaria, expressa nas diferentes
Ordens de Sabedoria do Rito Francês. O Grande Capitulo Geral deve ser um
sistema federativo para os diferentes Capítulos, assim como os Grandes Orientes
o devem ser para as Lojas simbólicas dos três primeiros graus.
4° Princípio: as Ordens de
Sabedoria do Rito Francês não são algo de diferente e de novo em relação ao
simbolismo dos três primeiros graus, mas antes o seu prolongamento natural,
pois passamos duma análise simbólica para uma análise filosófica, da postura do
Homem perante si mesmo e perante a Humanidade em que vive, onde o Maçon deve
Trabalhar para o seu aperfeiçoamento interior (Lojas simbólicas) e activo no
mundo profano (Capítulos filosóficos), que no seu conjunto, sabiamente
compreendido e formando uma unidade de conceitos, deve levar ao progresso da
Humanidade. Unidade na diversidade de interpretações, continuidade no
conhecimento e no aprofundamento filosófico do mito e da utopia da Maçonaria,
tal deverá ser a originalidade de abertura e postura do espírito de
conhecimento das Ordens de Sabedoria do Rito Francês.
Ordens de Sabedoria
O conjunto da Alta Maçonaria
Filosófica do Rito Francês ou Moderno, compreende CINCO Ordens de Sabedoria.
1ª Ordem: Eleito ou Eleito
Secreto;
2ª Ordem: Grande Eleito ou Grande
Eleito Escocês;
3ª Ordem: Cavaleiro Maçon ou
Cavaleiro do Oriente;
4ª Ordem: Soberano Príncipe
Rosa-Cruz, Cavaleiro da Águia e do Pelicano ou Perfeito Maçon Livre;
5ª Ordem: Ilustre e Perfeito
Mestre
O Rito Francês e os outros Ritos
As equivalências com outros
Ritos, são as seguintes.
Com o Rito Escocês Antigo Aceito:
1ª Ordem: 9º ou mais (Mestre
Eleito dos Nove);
2ª Ordem: 14º e mais (Grande
Escocês da Abóbada Sagrada);
3ª Ordem: 18º e mais (Cavaleiro
Rosa-Cruz);
4ª Ordem: 30º e mais (Cavaleiro
Kaddosch);
5ª Ordem: 33º (Grande Inspector
Geral);
Com o Rito Escocês Rectificado:
1ª à 4ª Ordem: Mestre Escocês de
Santo André e mais;
5ª Ordem: Cavaleiro Benfeitor da
Cidade Santa (CBCS).
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