Professor Humberto Rohden
Se o assunto, em outras instituições, merece a maior atenção, na Maçonaria assume um relevo muito maior. Entretanto, obstante sua elevada importância, pois é a partir da sindicância que efetivamente definimos os rumos e o futuro de nossa Sublime Ordem, não raras vezes tem sido, a sindicância, bastante negligenciada, quer seja pela Direção da Loja, quer seja pelos próprios Sindicantes. Infelizmente, parece que este descaso para com a sindicância torna-se, até mesmo, uma rotina em determinados Orientes.
Pela experiência e observação, chega-se à triste conclusão que determinadas dificuldades, pelas quais, passa hoje a Maçonaria em geral, e as Lojas, em particular, tem seu nascedouro em "não saber escolher adequadamente os candidatos ou na má condução do processo" de sindicância.
É fundamental que todo Irmão tenha conhecimento pleno dos dispositivos regulamentares e legais, sendo compulsório seu perfeito entendimento especialmente pelos Irmãos Sindicantes.
Entretanto, de nada adianta ficarmos lastimando, se nenhuma atitude concreta for tomada, por cada um de nós, e pelas Lojas, no sentido de se estancar tal processo, ora se apresentando "danoso" ou "viciado, e promovermos uma efetiva reversão na condução do mesmo. Também não adianta ficarmos esperando que os outros mudem. É preciso que cada um de nós mude primeiro, pois o "todo" só será perfeito se "cada uma de suas partes" forem perfeitas. O processo de mudança começa, portanto, por cada um de nós.
Assim, alguns pontos são fatores críticos de sucesso ao se conduzir uma Sindicância.
Dois aspectos são altamente relevantes de compreensão: a questão do Compromisso e do Comprometimento.
Compromisso: este viés tem um caráter Objetivo, ou seja, é a obrigação assumida formalmente por cada Irmão diante das normas, das leis e dos regulamentos. É a parte formal, escrita e externa à qual cada obreiro está obrigado a cumprir e observar. São as formalidades e as ações ritualísticas que são vistas e até mesmo fiscalizadas ou acompanhadas.
1) Ter compromisso e não ter comprometimento, zelo, dedicação, ou mesmo esquivar-se da incumbência, passando-a para outro Irmão sem motivo justificado;
2) Não conhecer o conteúdo das normas e regulamentos que regem a matéria. É importante que o Sindicante ao receber a Sindicância a ser realizada leia os regulamentos, se questione: O que tenho que fazer? O que tenho que ver? Que examinar? Como vou fazer?
3) Falta de consciência da Missão: o que a Sindicância pede de mim? Qual meu papel?
4) Deixar para última hora: fazer na correria apenas cumprindo as formalidades e falta de critério. É bom lembrar que não raras vezes damos às coisas da Loja apenas a migalha, o que sobra de nosso tempo. Chega-se mesmo a perder prazos, o que pode constituir-se numa negligência, que só nossa consciência vai julgar;
5) Falta de entendimento das questões. É necessário estudar cada uma delas antes de procurar o candidato;
6) Questionários incompletos ou incoerentes em suas respostas por falha do Sindicante;
7) Deixar de visitar a casa do candidato, sua família, os ambientes onde vive, trabalha e faz o seu lazer;
8) Efetuar visitas "relâmpago" só para cumprir a tabela;
9) Só querer descobrir "defeitos" ou querer achar apenas "Qualidades";
10) Não buscar fontes fidedignas de informações;
11) Desconhecer os verdadeiros propósitos do candidato; se ele está consciente do que quer e devidamente preparado para entrar na Ordem. É missão do padrinho preparar o candidato é incumbência do Sindicante "checar", essa condição, suprindo eventuais deficiências;
12) Pareceres vagos ou inócuos, não espelhando objetivamente seu verdadeiro ponto de vista e a realidade do candidato.
PONTOS IMPORTANTES NUM PROCESSO DE SINDlCÂNCIA:
1) Ter consciência do papel e da missão de Sindicante;
2) Fazer uma boa investigação, coletando informações em todas as fontes possíveis;
3) Discrição na realização das investigações;
4) Fazer visita bem feita à família, averiguando todos os aspectos previstos nos regulamentos, inclusive vida e convívio social, familiar, profissional, relacionamento com as pessoas (amigos, colegas de trabalho, etc.), ideologias, crenças, posturas, firmeza de propósito e outros dados que julgar importante;
5) É de extrema importância averiguar o aspecto de "perseverança";
6) Não se tornar "julgador" por antecipação. A função é de coletar subsídios a serem fornecidos à loja;
7) Não fazer "pré-julgamento" antes de ter todas informações à mão;
8) Usar a balança da Justiça e do Bom Senso;
9) Ter discernimento do que é relevante, importante, favorável e desfavorável;
10) Não negligenciar em aspectos importantes;
11) Ter perspicácia e humildade;
12) Elaborar parecer objetivo e sintético, porém, firme, coerente, sincero, consciente, fidedigno e consistente, embasado em pesquisas e com imparcialidade nas impressões, transmitindo o verdadeiro perfil do caráter e da personalidade do candidato;
13) Manter absoluto sigilo a respeito da sindicância;
14) Em casos de dúvidas é sempre conveniente consultar a abalizada opinião do Venerável Mestre;
15) Observar rigorosamente os prazos estabelecidos;
Lembramos que a Maçonaria não busca homem perfeito, mas que quer sê-lo. Portanto. sempre haverá espaço para o bom senso e justiça.
Por fim, saber cumprir com galhardia a missão que nos é outorgada, como cumpriram nossos Irmãos antepassados, e promover o resgate de nossas raízes e construir uma Maçonaria renovada, reconquistando o lugar que sempre lhe foi reservado, por direito e por mérito.
AUTO-INICIAÇÃO
Hoje em dia, muitas pessoas falam em iniciação.
Todos querem ser iniciados. Mas entendem por iniciação uma alo-iniciação, uma iniciação por outra pessoa, por um mestre, um guru.
Esta alo-iniciação é uma utopia, uma ilusão, uma fraude espiritual.
Só existe auto-iniciação. O homem só pode ser iniciado por si mesmo. O que o Mestre, o guru, pode fazer é mostrar o caminho por onde alguém pode se auto-iniciar; pode colocar setas ao longo do caminho, setas ao longo da encruzilhada, setas que indiquem a direção certa que o discípulo deve seguir para chegar ao conhecimento da verdade sobre si mesmo. Isto pode e deve o mestre fazer - suposto que ele mesmo seja um auto-iniciado.
Jesus, o maior dos Mestres que a humanidade ocidental conhece, ao menos aqui, durante três anos consecutivos mostrou a seus discípulos o caminho da iniciação, o que ele chama o "Reino dos Céus", mas não iniciou nenhum dos seus discípulos. Eles mesmos se auto- iniciaram na gloriosa manhã do domingo de Pentecostes, às 9 horas da manhã como diz Lucas, nos Atos dos Apóstolos.
Mas esta grandiosa auto-iniciação aconteceu só depois de 9 dias de profundo silêncio e meditação; 120 pessoas se auto-iniciaram; sem nenhum mestre externo, só dirigida pelo mestre interno de cada um, pela consciência de seu próprio Eu divino, da sua alma, do seu Cristo interno.
E esta auto-iniciação do primeiro Pentecostes, em Jerusalém, pode e deve ser realizada por toda pessoa. Mas acima de tudo, o que é que quer dizer Iniciação?
Iniciação é o inicio na experiência da verdade sobre si mesmo.
O homem profano vive na ilusão sobre si mesmo. Não sabe o que ele é realmente. O homem profano se identifica com o seu corpo, com a sua mente, com suas emoções e nesta ilusão, vive o homem profano a vida inteira, 30, 50, 80 anos. Não se iniciou na verdade sobre si mesmo, não possui auto-conhecimento e, por isso, não pode entrar na auto-realização.
O que deve um homem profano fazer para se auto-iniciar? Para sair do mundo da ilusão sobre si mesmo e entrar no mundo de verdade?
Deve fazer o que fez o primeiro grupo de auto-iniciado no ano 33, em Jerusalém, isto é, deve aprender a meditar ou cosmo-meditar .
Os discípulos de Jesus fizeram três anos de aprendizado e nove dias de meditação depois se auto-iniciaram. Descobriram a verdade libertadora sobre si mesmos. A verdade que os libertou da velha ilusão de se identificarem com o seu corpo, com a sua mente, com as suas emoções; saíram da trevas da ilusão de se identificarem com o seu corpo, com a sua mente, escravizante, e ingressaram na luz da verdade libertadora; "Eu sou espírito. eu sou alma; eu e o Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai ...O reino dos céus está dentro de mim".
E quem descobre a verdade sobre si mesmo liberta-se de todas as inverdades e ilusões. Liberta-se do egoísmo, da ganância, da luxúria, da vontade de explorar, de defraudar os outros. Liberta-se de toda a injustiça, de toda a desonestidade, de todos os ódios e malevolências - de todo o mundo caótico do velho ego.
O iniciado morre para o seu ego ilusório e nasce para o seu Eu verdadeiro.
O iniciado dá o inicio, o primeiro passo, para dentro do "Reino dos Céus". Começa a vida eterna em plena vida terrestre. Não espera um céu para depois da morte, vive no céu da verdade, aqui e agora - e para sempre.
Isto é auto-iniciação.
Isto é auto-conhecimento.
Isto é auto-realização.
O inicio de tudo isto é a meditação ou cosmo-meditação, de que já falamos em outra ocasião.
Repito que é impossível a verdadeira meditação sem que o homem se esvazie de todos os conteúdos do seu ego ilusório; quem se esvaziar da sua ego-consciência será plenificado pela cosmo-consciência, que é a iniciação.
Mas é impossível realizar este ego-esvaziamento na hora da meditação, mesmo que seja meia hora de introversão, se o homem viver 24 horas extrovertido, escravizado pelas coisas de seu ego ilusório.
A meia hora de meditação nada resolve, não abre as portas para a iniciação se o homem não se libertar, durante o dia, da escravidão de seu ego.
Como fazer isto?
Libertação da escravidão do ego é usar as coisas materiais na medida do necessário, e não do supérfluo; o homem deve e pode ter um conforto necessário, sem desejar "confortísmos" excessivos.
A mística da hora da meditação ou cosmo-meditação é impossível sem a ética da vida diária, sem o desapego do supérfluo. Luxo e luxúria são lixo que atravanca o caminho para a iniciação. Quem não remove esse lixo do luxo e da luxúria pode fazer quantas meditações quiser que não poderá iniciar; porque as leis cósmicas não podem ser burladas. A verdadeira felicidade do homem começa com a sua auto-iniciação. Fora disto, pode ele ter um mundo de gozos e prazeres, mas não terá felicidade verdadeira, paz de espírito, tranqüilidade de consciência. Todos os gozos e prazeres são do ego ilusório; somente a felicidade é do Eu Verdadeiro.
Um auto-iniciado é também um redentor para os outros.
Quando um único homem, escreveu Mahatma Gandhi, chega à plenitude do amor ( auto- realização), neutraliza ele o ódio de muitos milhões.
Nada pode o mundo esperar de um homem que algo espera do mundo - tudo pode o mundo esperar de um homem que nada espera do mundo.
O iniciado dá tudo e não espera nada do mundo. Ele a encerrou as contas com o mundo, está quite com o mundo.
Pode dar tudo sem perder nada.
O auto-iniciado é um místico - não um místico de isolamento solitário, mas um místico dinâmico e solidário, que vive no meio do mundo sem ser do mundo.
Onde há uma plenitude, aí há um transbordamento. O homem plenificado pelo auto- conhecimento e pela auto-realização transborda a sua plenitude, consciente ou inconscientemente, saiba ou não saiba. queira ou não queira. Esta lei cósmica funciona infalivelmente. Faz bem pelo fato de ser bom, de viver em harmonia com a alma do Universo.
Por isso, para fazer bem aos outros e à humanidade, não é necessário nem suficiente fazer muitas coisas, mas é necessário e é suficiente ser bom, ser realizado e plenificado do seu Eu central, conscientizar e vivenciar de acordo com o seu Eu central, com o seu Cristo interno.
A plenitude da consciência mística da paternidade única de Deus transborda irresistivelmente na vivência ética da fraternidade universal dos homens.
Para ter laranjas - laranjas verdadeiras - não é necessário fabricá-las. É necessário e suficiente ter uma laranjeira real e mantê-la forte e vigorosa. Nem é necessário ensinar a laranjeira como fazer laranjas - ela mesma sabe, com infalível certeza, como fazer flores e frutos. Assim, toda a preocupação de querer fazer bem aos outros sem ser bom é uma ilusão tão funesta quanto o esforço de querer fabricar uma laranja verdadeira sem ter uma laranjeira. Mais importante que todo o fazer é o ser. Onde não há plenitude interna não pode haver transbordamento externo. Para fazer o bem aos outros deve o homem ser realmente bom em si mesmo.
Que quer dizer ser bom?
Ser bom não é ser bonachão, nem bonzinho, nem bombonzinho. Para ser realmente bom deve o homem estar em perfeita harmonia com as leis eternas da verdade, da justiça, da honestidade, do amor, da fraternidade, e viver de acordo com esta sua consciência.
Todo o fazer bem sem ser bom é ilusório, assim como qualquer transbordamento é impossível sem haver plenitude. O nosso fazer bem vale tanto quanto o nosso ser bom. O ser bom é auto-conhecimento e auto-realização.
Somente o conhecimento da verdade sobre si mesmo é libertador; toda e qualquer ilusão sobre si mesmo é escravizante.
Os mais ruidosos sucessos sem a realização interna são deslumbrantes vacuidades; são como bolhas de sabão belas por fora, mas cheias de vacuidade por dentro. 1% de ser bom realiza mais do que 100% de fazer bem.
Auto-Iniciação é essencialmente uma questão de ser, e não de fazer. Esta plenitude do ser não se realiza pela simples solidão, mas pelo revezamento de introversão e extroversão. O homem deve, periodicamente, fazer o seu ingresso dentro de si mesmo, na solidão da meditação, ou cosmo-meditação, e depois fazer o egresso para o mundo externo, a fim de testar a força e autenticidade do seu ingresso.
Toda a auto-iniciação consiste nesse ingredir e nesse egredir, nessa implosão mística e nessa explosão ética.
Não há evolução sem resistência. Tudo que é fácil não é garantido; toda evolução ascensional é difícil, exige luta, sofrimento, resistência.
Estagnar é fácil.
Descer é facílimo.
Subir é difícil.
Toda a evolução é uma subida, e sem subida não há iniciação.
Auto-iniciação e auto-realização são o destino supremo do homem.
Um único homem auto-realizado é maravilha maior do que todas as outras grandezas do universo.
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