MARCHA DO APRENDIZ NA ELEVAÇÃO / FUNÇÃO DOS DIÁCONOS
(republicação)
O Respeitável Irmão Paulo A. Valduga, Mestre Instalado e membro da Loja Luz Invisível, Grande Oriente do Rio Grande do Sul, Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:
paulovalduga@gmail.com
Tenho outra pergunta sobre os passos do A⸫M⸫ por ocasião da sessão de elevação ao Grau 02, quando o Venerável Mestre determina que o candidato vá até ao altar dando os passos de A⸫M⸫ - GORGS).
a) Penso que o irmão que está sendo elevado dê os 3 passos de A⸫ M⸫, ou melhor, rompa a sua marcha com os 3 passos, desfaz o sinal e caminha, após, normalmente até o Altar.
b) Outros Irmãos (a grande maioria) considera que o Aprendiz Maçom deva ir até o altar arrastando os pés, não importando quantos passos sejam mister para alcançar o Altar; caminhada esta, que ao meu asinino ver, nada tem com os passos, ou marcha, do Aprendiz.
Excelente instrução ministrada - Questões Ritualística – JB News 691, contudo, se me permitir dar uma opinião (mesmo sem nenhum valor, coisa de metido mesmo !!!) no presente caso:
“3) No caso de seção estar meio tumultuada (sem energia, tipo os Irmãos deixando cair algum instrumento de trabalho, conversa paralelo mesmo sendo baixinho, pular alguma frase do manual, etc.) pode o Irmão Mestre de Cerimônias (...)” não caberia ao Segundo Diácono, nas Colunas, chamar a atenção, informando ao Primeiro Vigilante, sobre aqueles que não estão se comportando com deferência, como falando (mesmo baixinho) ou postura desleixada, uma vez que é seu dever vigiar nas Colunas se os Irmãos guardam o devido respeito, disciplina e ordem?
CONSIDERAÇÕES:
Não vou entrar aqui no mérito dos Rituais aprovados pelas diversas Obediências brasileiras, até porque ritual em vigência deve ser cumprido na forma da Lei.
A questão é a seguinte. Provavelmente esses absurdos acabaram por fazer parte na mistura de costumes indistintamente. O Irmão está certo. Os passos, independentemente do Sinal, só deveriam ser revelados após a completa Elevação do Aprendiz, ou seja, de posse do Sinal, Toque e Palavras do Companheiro.
Realmente não procede a prática, já que até a tomada de obrigação (juramento) e consagração (constituição de Grau) o Obreiro é ainda um Aprendiz. Inventam procedimentos e a explicação não encontra consistência. Digo explicação e não a justificativa da existência do ato em rituais antigos e ultrapassados.
Também essa “estória” de Aprendiz ficar arrastando os pés indistintamente até o Altar é outra atitude equivocada. A Marcha do Aprendiz se constitui apenas e tão somente de três passos com o Sinal composto e nada mais. Proferir marcha indiscriminada com passos além dos três tradicionais e sem Sinal é qualquer coisa parcimoniosa do absurdo.
Aliás, essa instrução de Aprendiz arrastar o pé para formar a esquadria é outro costume sem qualquer guarida e nada tem que justifique o grau simbolicamente referendado à infância. No meu modesto entender uma criança na evolução do crescimento primeiro “engatinha” para posteriormente dar os primeiros titubeantes passos, nunca arrastando pés, ou pé para formar um esquadro. Esse procedimento de “arrasta pé” está mais para um presidiário de uma colônia penal que tem preso ao tornozelo a medieval esfera pesada.
O mais engraçado é que no puro e tradicional escocesismo simbólico os passos eram simplesmente oito normais. Com o advento do ingresso da Marcha no Século XIX, esses acabariam por se dividir em um grupo de números, distintos para os três graus – note que a soma de todos eles, dá exatamente oito.
No tocante a vossa observação no item três da questão, essa dialética ganhou apoio na tradição da Maçonaria Inglesa que influi o Rito Escocês Antigo e Aceito cuja raiz “antigo” se conjuga no simbolismo pela influência anglo-saxônica – o Rito, embora de origem francesa, adquiriu costumes oriundos dos “antigos de York” trazidos à França a partir de 1.802 por maçons egressos das Lojas Azuis dos Estados Unidos da América do Norte que ajudariam a compor a ritualística dos três primeiros graus simbólicos do Rito Escocês (a Maçonaria Azul americana se baseia nos Antigos de York – Grande Loja Inglesa de 1.751 em oposição aos Modernos de 1.717).
Em Tempo – não confundir Maçonaria Azul com a cor de um de rito. Maçonaria Azul em termos maçônicos é o mesmo que Graus Simbólicos, todavia o primeiro é termo usado pelos ingleses, enquanto que na França o título é tratado como simbolismo.
Retomando. No costume inglês, os Diáconos são tidos como os antigos oficiais de chão que eram os mensageiros do canteiro entre os “wardens” (zeladores e atuais Vigilantes) e o Mestre da Obra.
Nesse sentido o diálogo conhecido atualmente nas passagens ritualísticas faz sentido, porém não no Rito Escocês que apenas adoraria a dialética, já que essa função na vertente francesa é feita pelo Mestre de Cerimônias.
No Rito Escocês Antigo e Aceito, a tradição dos antigos oficiais de chão se relaciona única e exclusivamente à transmissão da Palavra que revive simbolicamente o esquadrejamento, nivelamento e aprumada da obra, tanto para se iniciar os trabalhos, quanto para se encerrar a etapa no intuito de pagar os Obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos da jornada laboriosa – o termo “Justo e Perfeito” é originário desse processo operativo.
Assim, no Rito Escocês, a função do Diácono é apenas e tão somente a de transmitir a Palavra, embora o texto dialético em contradição fique obsoleto.
No formato inglês, os Diáconos tem uma função completamente diferente daquelas conhecidas no simbolismo do Rito Escocês. Na Inglaterra são os Diáconos que por dever de ofício cumprem o papel dos Expertos (inexistentes na Inglaterra).
Também de acordo com o Grau, eles praticam o ofício do Mestre de Cerimônias. No costume inglês existe o Diretor de Cerimonial que apenas trabalha nas fineses das procissões e outros algoritmos de caráter pomposo. Já na França, o Mestre de Cerimônias e os Expertos têm funções corriqueiras, enquanto que aos Diáconos, é dado o ofício de se transmitir a Palavra e nada mais, salvo como em alguns casos compor uma guarda de honra. Daí os Diáconos no Rito Escocês não portarem instrumento de ofício (bastão), enquanto que na vertente inglesa eles portam “varas”.
Por assim ser, no caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Oficial que pode consuetudinariamente se deslocar por todo o canteiro (Loja) sem pedir permissão é o Mestre de Cerimônias que, dentro das suas atribuições está a de observar alguma atitude de desmazelo no espaço.
Apenas ilustrando: se o Segundo Diácono fizesse essa função, ele teria antes que pedir permissão para deslocamento, ou mesmo para arguir sobre a situação.
O Venerável Mestre também pode interromper os Trabalhos para colocar a situação nos conformes, caso haja desrespeito ao seu pronunciamento quando ele diz que “a partir de agora a nenhum Irmão é dado o direito de falar ou passar de uma para outra Coluna sem obter permissão e nem ocupar-se de assuntos proibidos pelas nossas Leis”.
Obviamente que a regra do deslocamento em Loja só não se atribui ao Mestre de Cerimônias – como dito, de maneira consuetudinária.
Ao longo do Século XIX o Rito Escocês no seu simbolismo (só criado em 1.804) passou por adaptações e correções litúrgicas e ritualísticas, cuja carência se fazia necessária pela extinção das Lojas Capitulares.
Essa questão é por demais importante, já que após o desligamento capitular, o lugar do Segundo Vigilante voltaria com base nos “antigos”, pela sua dialética de abertura e encerramento, ao Meio-Dia e não mais no Ocidente como preconizava o primeiro ritual.
A posição do Segundo Vigilante ao Sul, porém no centro do Ocidente, e não no extremo do quadrante, está de acordo com a sua observação da passagem do Sol no meridiano. Assim, muitos conceitos litúrgicos devem ser observados para que não haja contradição, afinal a Loja é aberta ao Meio-Dia com o Sol a pino, enquanto que o Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente, tradicionalmente a declara fechada, paga os Obreiros e os despede contentes e satisfeitos.
Finalizando, alguns aspectos foram corrigidos e adaptados de maneira condizente com a razão doutrinária do Rito Escocês, todavia outras não, como é o caso de partes dialéticas referendadas aos Diáconos – que é a sua questão – bem como Oriente elevado e dividido por balaustrada, cuja prática é de uma Loja Capitular e que não deveria mais estar presente na topografia simbólica do Rito em questão.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 786 Florianópolis(SC) – 21 de outubro de 2012.
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