CONDUTAS RITUALÍSTICAS REAA⸫
(republicação)
Em 11/08/2017 o Respeitável Irmão Ivan Luiz Emerim, Loja Maçônica de Pesquisas Gênesis, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, solicita esclarecimentos para o que segue:
Volto novamente a lhe solicitar alguns esclarecimentos ritualísticos, abusando de sua disposição e profundo conhecimento das causas maçônicas. Ocorre o seguinte:
Em recente revisão dos nossos Manuais de Procedimentos Ritualísticos (Gorgs 2017) ficamos com algumas dúvidas a respeito do que ali constou. Gostaria que o Irmão esclarecesse para nos instruir na verdadeira prática dos Rituais. Falo do Manual de Aprendiz do REAA:
1) Onde fica o lugar do Porta-Espada, no Oriente? Este Oficial obrigatoriamente deve ser Mestre Instalado?
2) Qual o lugar do Deputado da Loja no Oriente? Ele é considerado uma Autoridade Maçônica?
3) Qual é o local correto da mesa do 2º Vigilante no Ocidente?
4) Referente à Saudação:
- No Ocidente, ao ultrapassar a linha imaginária do equador pela primeira vez, arma-se e desfaz-se rapidamente o Sinal do Grau para quem? (Venerável Mestre, Delta Luminoso, ou ...). Este Sinal é apenas uma formalidade decorrente e exigida pelo Rito ou é uma Saudação? Entendo que Saudação é o ato de se saudar, cumprimentar, felicitar alguém (pessoas). Em Maçonaria se faz pela armação e desfazimento rápido do Sinal do Grau. Em não sendo uma Saudação existe outro designativo para definir este simples ato protocolar/ritualístico?
- Nestes casos é correto dizer que se faz a Saudação ao Delta Luminoso? O Delta não representa a onipresença do GADU? Nosso Deus. Se para as pessoas se faz Saudações, para Deus se faz Reverências que é o respeito às coisas sagradas.
- No Oriente ao subir os degraus pelo Nordeste e descer pelo Sudeste Saúda-se o Venerável Mestre ou o Delta Luminoso?
- Neste caso também só se faz na primeira vez durante o Giro dos Oficiais (Mestre de Cerimônias e Hospitaleiro)?
Agradeço a atenção que certamente o Irmão dará a estes questionamentos. Aproveito para lhe enviar um fraternal abraço.
COMENTÁRIOS:
Bem Irmão, eu não sei exatamente o que está descrito no Manual de Procedimentos Ritualístico mencionado porque não o possuo. Nesse sentido meus comentos se darão, dentro do possível, naquilo que é praticado genuinamente no REAA.
Porta-Espada. Esse oficial que tem por oficio conduzir a Espada Flamejante em algumas passagens ritualísticas toma assento no sudeste do Oriente (ombro esquerdo do Venerável e abaixo do sólio) próximo à mesa do Secretário, mas em lugar que não atrapalhe os eventuais deslocamentos pelo espaço. O Irmão Porta-Espada, sentado fica voltado para o Ocidente.
Na realidade ele fica abaixo do sólio próximo ao lado esquerdo do Altar que é ocupado pelo Venerável Mestre, já que a Espada Flamejante tradicionalmente é colocada sobre esse Altar pelo seu lado esquerdo e mais à frente.
Quanto à condição de ser um Mestre Maçom Instalado para ocupar esse cargo, não há essa necessidade. Ele apenas precisa ser um Mestre Maçom. Como existe a regra de que a Espada Flamejante só pode ser tocada por um Mestre Instalado, ela deve ficar então sobre o Altar dentro de um escrínio (estojo) ou em cima de uma almofada para que o seu condutor, não sendo um ex-Venerável, nela não toque ao conduzi-la para ser oferecida ao Venerável Mestre na liturgia da consagração.
Deputado. Se o Regulamento da Obediência considerar o Deputado como autoridade – comumente todas as Obediências assim o consideram – ele geralmente ocupa lugar no Oriente, abaixo do sólio no lugar destinado às autoridades maçônicas que fica à direita (ombro direito) do Venerável Mestre – no mesmo lado em que toma assento o Primeiro Diácono.
Lugar do Segundo Vigilante. Nos primeiros rituais do Rito na França a partir de 1804, o Segundo Vigilante ficava no extremo do Ocidente no lado Sul e de frente para o Oriente (posição análoga ao Primeiro Vigilante). Ocorre, entretanto, que pelas influências anglo-saxônicas trazidas para o Rito oriundas das Lojas Azuis Norte-americanas, e pela adoção de dialética ritualística compatível, não demoraria em que a mesa do Segundo Vigilante fosse posicionada no meridiano do Meio-Dia na Coluna do Sul e de frente para o eixo do Templo. Essa posição se consolidou no simbolismo do Rito com base no diálogo ritualístico que existe entre o Venerável Mestre e os Vigilantes para a abertura e o encerramento dos trabalhos.
Note que esse diálogo só faz sentido se o Segundo Vigilante realmente estiver posicionado na porção mediana da Coluna do Sul, lugar de onde ele verdadeiramente pode verificar a passagem do Sol pelo meridiano do Meio-Dia, o que não aconteceria se ele porventura estivesse posicionado no extremo do Ocidente que é o lugar onde ocorre o ocaso do Sol e não a passagem pelo meridiano.
Digamos que se hoje houvesse simetria lateral entre o lugar os Vigilantes (ambos, lado a lado no extremo ocidental), todo o diálogo de abertura e encerramento ritualístico da Loja teria também que ser alterado. É por esse motivo que o Segundo Vigilante, sob essa conjuntura litúrgica e doutrinária, permanece no meridiano do Meio-Dia no REAA⸫
Saudações. A saudação ao Delta ainda permanece em alguns rituais do Rito quando se trata de circulação e cruzamento da linha do equador imaginário do Templo (eixo longitudinal).
Em se tratando dos rituais que mantém ainda essa prática, estabeleceu-se uma regra para os oficiais que normalmente circulam em Loja, mormente no Ocidente, com a Bolsa de Propostas e Informações, Tronco, ou Escrutínio. Assim, para se evitar o excesso de preciosismo, estipulou-se que durante o primeiro giro no Ocidente em cumprimento ao seu ofício ele faz apenas uma vez a parada rápida e formal, sem inclinação do corpo e sem maneio com a cabeça ao cruzar a linha do equador no lugar mais próximo ao Oriente.
Nesse caso ele não faz Sinal por estar conduzindo um objeto de trabalho (mão, ou mãos ocupadas). Se o fato for o de um obreiro com as mãos desocupadas, então ele, ao cruzar a linha, deve saudar o Delta pelo Sinal.
É bem verdade que muitos rituais já aboliram o costume de saudação no cruzamento do eixo, já que isso só fazia sentido quando não existia demarcação de limite entre Oriente e Ocidente – antes das hoje já extintas Lojas Capitulares.
Naquela época, à moda inglesa (anglo-saxônica), não existia nenhum desnível e nem balaustrada separando o Oriente do Ocidente, o que pode ser verificado em se consultando o primeiro Ritual do REAA⸫ datado de 1804 na França.
Assim, sem essa demarcação específica do Oriente, quando então se passava diante do Altar ou Pedestal ocupado pelo Venerável Mestre, era costume se saudar o Delta. Lembro também que naquela época não existia Altar dos Juramentos, pois o Livro da Lei originalmente ficava sobre o Altar ocupado pelo Venerável.
Quanto ao ingresso no Oriente, hoje delimitado como o conhecemos, existe uma regra para a entrada e saída desse quadrante na Loja. Assim, quem nele ingressa, o faz pelo seu lado nordeste (vindo obrigatoriamente da Coluna do Norte) e quem dele se retira, o faz pelo seu lado sudeste (vai obrigatoriamente para a Coluna do Sul).
Nesse sentido, ao ingressar no Oriente o protagonista à Ordem saúda o Venerável Mestre pelo Sinal. Caso o circulante esteja com as suas mãos ocupadas, fará apenas uma parada rápida e formal (sem inclinação com o corpo ou maneio com a cabeça). O mesmo se dará como procedimento de retirada, antes dele sair do Oriente.
Em ambos os casos, cruzando o eixo se o ritual previr, ou ingressando e saindo do Oriente, a prática é tratada como saudação maçônica e não como reverência maçônica.
Mesmo em se tratando de respeito ao “Criador”, simbolizado pelo Delta, faz-se a Ele uma “saudação” e não uma “reverência”, pois além de não existir Sinal de Reverência no REAA⸫, esse termo se ajustaria melhor a uma prática religiosa, o que não é o caso nesse particular, sobretudo em se levando em conta a vertente deísta do Rito Escocês.
Ainda, sobre o sinal e a saudação no REAA⸫, eles ocorrem também ao final da execução das marchas nos respectivos graus simbólicos quando as Luzes da Loja são saudadas por quem as executa.
Obviamente que todas as saudações maçônicas são feitas pelo Sinal, todavia nem sempre o Sinal significa uma saudação. É o caso das práticas consuetudinárias, protocolares e de telhamento do rito que exigem a postura de se estar à Ordem.
Ainda no que diz respeito às saudações que ocorrem durante os deslocamentos em Loja, muitos rituais hoje em dia instituem apenas saudação ao Venerável Mestre quando se entra e sai do Oriente ou às Luzes da Loja por ocasião do ingresso formal pela Marcha do Grau. Nesses rituais não se faz mais nenhuma saudação ao se cruzar o eixo longitudinal do Templo.
Dando por concluído, é oportuno mencionar que essas considerações foram dirigidas a um Irmão consulente do Grande Oriente do Rio Grande do Sul (COMAB) onde, em alguns pontos, os rituais se diferem dos do Grande Oriente do Brasil e dos das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (CMSB).
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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