A 9ª SINFONIA DE BEETHOVEN E A MAÇONARIA
Eduardo José Gomes Zandonadi
Loja Maçônica Luz, Amor e Vida 2079
Grande Oriente do Estado de Goiás
Goiânia - GO - 2006
No ano de 2004 nasceu entre mim e o valoroso Irmão Gilmar Fernandes da Silva, da Loja Mensageiros da Liberdade, a idéia da criação de um trabalho para harmonia (três CDs), para ser utilizado em nossas lojas. Acontece que esse projeto nascente, foi abraçado também pelo Grande Oriente do Estado de Goiás, que ansiava solucionar um dos problemas mais freqüentes em nossas sessões: a harmonia (principalmente em iniciações, elevações e exaltações).
Incumbido da organização do material, embrenhei-me ainda mais em um trabalho de pesquisa musical que já vinha realizando há algum tempo.
Na minha concepção, existem dentro do nosso universo musical, obras que transcendem e muito os limites do comum. São fortes, densas, misteriosas. Ouvindo-as em circunstâncias apropriadas parece que podemos tocá-las. Têm corpo, alma e coração! Foi entre essas maravilhas que procuramos buscar as que estivessem mais próximas dos nossos preceitos, que sobrelevam principalmente a união, a fraternidade e a integração entre os povos.
Conhecido por todos os maçons é a prática da utilização de músicas instrumentais na maior parte dos nossos trabalhos, mas devemos saber também que não há nada que impeça o uso de vocais, desde que adequados aos nossos usos e costumes.
¨Ode To Joy¨, ou ¨Ode à Alegria¨, estava entre as músicas selecionadas, porém, por se tratar de uma música com vocal, e não sendo o idioma utilizado o nosso vernáculo, busquei maiores detalhes sobre a obra, o que foi relativamente difícil pela escassez de informações e de pessoas com conhecimento acerca do assunto. Por intermédio de um amigo, dono de um ¨sebo¨ e perito no assunto, descobri que a música que eu já admirava era muito melhor e com uma história mais abrangente do que eu concebia até então. A ¨Ode à Alegria¨ era apenas uma das partes da 9ª Sinfonia de Beethoven, tida como a mais importante de suas obras. Mas a pesquisa tinha que continuar, pois era necessário se chegar até a sua tradução para saber o que havia nela de maçônico.
Na seqüência da minha investigação outra surpresa: os versos do poema, que compõe a ¨Ode à Alegria¨ estão no 4º e último movimento da 9ª Sinfonia, e não eram de Beethoven, e sim do seu conterrâneo Friederich Von Schiller, importante poeta, dramaturgo e filósofo alemão. Após conhecer o poema de Schiller em 1792, Beethoven, que tinha na alma o ideário da liberdade e do amor pela humanidade, absolutamente fascinado, decidiu inserir em sua arte aquela peça, quem sabe de inspiração divina, que acabara de ler.
Em fevereiro de 1824, depois de 32 anos, estavam musicados os difíceis versos de Schiller, e um Beethoven já praticamente surdo, fazia nascer a sua obra-prima, que Brahms retratou com as seguintes palavras: "ouví-la é como escutar atrás de si o ressoar dos passos de um gigante".
Mas e a tradução? O que tem a ¨Ode à Alegria¨ e a ¨Nona¨ a ver com a Maçonaria? Eu vos respondo: ABSOLUTAMENTE TUDO! A música e os versos, que vão infra-citados e traduzidos, são uma verdadeira exaltação à fraternidade humana e nos faz vislumbrar no futuro um mundo onde seremos um só povo!
Minhas indagações prosseguiam. Schiller não era maçom e Beethoven, apesar da controvérsia entre estudiosos, também não o era, ou pelo menos não existe nenhum documento conhecido que comprove o fato. Mas, a principal novidade dessa peregrinação por informações para detectar pontos em comum dessa obra com a Ordem, eu exponho agora: Os versos de ¨An Die Freude¨ ou Ode à Alegria foram feitos por Schiller para um amigo. Detalhe: seu amigo era maçom e o poema era para ser recitado em sua loja. Confesso que esse dado me causou uma impressão profundamente forte, fazendo com que eu passasse a observar que as mais grandiosas ações humanas parecem inspiradas pela Sublime Instituição mesmo quando são implementadas por profanos.
Abaixo, o poema traduzido:
Ode à Alegria (An Die Freude)
Oh amigos, mudemos o som!
Entoemos algo mais prazeroso
E alegre!
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios pelo fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Mesmo aquele que conquistou apenas uma alma,
Uma única alma em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Da alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim para se erguer diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Exultantes como o herói diante da vitória.
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios pelo fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Enviem um beijo ao mundo todo!
Mundo, você sente a presença do seu Criador?
Pois milhões se abatem diante dele!
Abracem-se milhões!
Porque Irmãos, além do céu estrelado
Deve haver um Pai Amado!
Conforme podemos observar nos versos acima não há a menção a supremacia de uma nação sobre a outra, ou de um credo, ou de uma raça. Há sim, a glorificação de um ideal supremo que não enxerga fronteiras para a fraternidade humana. Nesse mundo, onde visionários como Schiller e Beethoven nos colocam, não há espaço para querelas ultra-nacionais, religiosas, patrimonialistas ou segregacionais.
Um só povo, uma só nação! Pode não ser hoje, pode não ser breve, mas eu acredito!
Nós devemos acreditar!
(Uma versão de ¨Ode à Alegria¨, que mescla o clássico e o pop, está no cd ¨Harmonia Completa Para Elevação Maçônica – REAA¨, lançado pelo Grande Oriente do Estado de Goiás em 2005 - Hodiernamente a 9ª Sinfonia é o hino oficial da União Européia, formada majoritariamente por países republicanos e democráticos).
Fonte: http://masonic.com.br
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