A LENTA EVOLUÇÃO
(Desconheço o autor)
Domar instintos pressupõe que muitos deles são controlados, mas não eliminados.
Recentemente me manifestei num dos Programas de Interiorização da Grande Loja, o que causou surpresa e até certa estranheza a alguns dos participantes. Na oportunidade expus numa idéia compartilhada com o irmão Cezar Galhardo algum tempo atrás de que "o ser humano tem uma evolução relativa e, em certa medida, é imutável".
A argumentação, com certeza, causou espanto porque estaria contestando o "processo evolucionista", tão discutido e aceito em nossa Ordem. Por mais que tentasse explicar, creio que ficou uma ponta de dúvida em minhas afirmações.
Por isso, tentarei observar mais alguns pontos que, na minha opinião, justificam este ponto de vista. É importante enfatizar que não me baseio para isto numa obra específica, mas num conjunto de leituras e discussões que tive oportunidade de ter acesso dentro e fora da Maçonaria. O resto, como sempre relembra o irmão Olavo da Silva, é "pensai muito, meditai sempre e, sobretudo, não tenhais receio de sonhar'.
Antes de mais nada, devo salientar que tenho plena convicção de que o homem vive para evoluir e, conseqüentemente, para contribuir com o aperfeiçoamento da humanidade. Assim, também creio que este processo evolucionista se dá por etapas. Em outras palavras, em várias encarnações. Como um processo, portanto, as transformações acontecem gradualmente.
Por outro lado, usando a frase pouco original: Freud explica. Qualquer pessoa que passa por psicanálise, o terapeuta procura incentivá-la a encontrar as origens de seus próprios problemas e, assim, "trabalhar" estes problemas pela conscientização de causas, efeitos e alternativas para saná-los.
Em sua fase "antropológica', - Freud ensina que o homem passa por um processo de humanização, ao "domar seus instintos", ou seja, ele controla suas ações de acordo com normas e padrões da vida em sociedade. Esse "domar instintos", portanto, pressupõe que muitos deles estão controlados, mas não eliminados.
Quando tentamos valorizar virtudes e combater vícios, exaltando a paciência, a tolerância, a moral e a razão, estamos, igualmente, sugerindo o controle de alguns de nossos instintos. Muitos deles conseguiremos fazê-lo, e outros não - pelo menos nesta existência.
O próprio irmão Cezar exemplifica: há 20 ou 30 anos atrás, como eu reagiria a um insulto "imperdoável" de uma pessoa? Provavelmente com uma reação física. Hoje, tento convence-la do seu equívoco, da sua agressão. Mas reajo! Esta reação ponderada, tolerante, representa um aperfeiçoamento - e um controle do instinto de retribuir a agressão. O aperfeiçoamento, portanto, segundo Cezar Galhardo, "nada mais é que uma 'desbrutalização' do homem, tornando-o sociável".
Essa lentidão do aperfeiçoamento pode ser explicada justamente nos fundamentos do processo evolucionista.
Um texto da Fraternidade Rosa Cruz (ver Consciëncia N° 25 - pág.25) esclarece bem esta questão. "As sete flores" narra o diálogo entre um Mestre e um candidato a servi-lo, que procura mostrar-lhe os caminhos para sua evolução e, assim, ter condições de servi-lo. Quanto ao tempo (relativo no campo espiritual), diz o Mestre, um dia pode, conforme o grau de desenvolvimento da alma que busca o calor dos seus esforços, ter a duração de sete semanas, meses ou anos. Pode, "mesmo, durar também três vezes sete ou sete vezes sete anos. E, aqui, um ano significa uma encarnação, isto é, uma vida terrestre.
No mesmo texto, o Mestre mostra ao peregrino que muitas de nossas impurezas são temporariamente escondidas, mas não eliminadas (como também diz Freud). Conta a lenda do gato tão adestrado na corte de um rei, que durante a ceia, sustinha nas patas uma vela acesa. Um dia, disse o rei a ao seu ministro: "Se em alguns - meses, se pode mudar assim inteiramente a natureza de um animal, porque não se pode, - também, transformar a natureza do homem?" 0 sábio sorriu e calou-se. Mas, na noite seguinte, soltou junto à mesa, - alguns camundongos à vista do gato. Este deixou logo cair a vela a e precipitou-se sobre os ratinhos. Esta lenda nos ensina, mais uma vez, que muitos de nossos instintos podem ser domados, mas não eliminados, pelo menos nesta existência.
Se aceitamos a tese do processo evolucionista da reencarnação, temos também que pensar nos princípios do Carma. Algumas de nossas tarefas vêm conosco e delas não nos livraremos, porque nascemos com ela para cumpri-las. Não se trata do sentido vulgar para "destino', mas características que passam a compor nossa natureza em função de situações passadas. O destino atual de uma pessoa é o resultado de suas ações passadas (R. Steiner - Revista Gnose – vol. 7).
Enfim, é evidente que nossos esforços na Maçonaria em torno do aperfeiçoamento não são em vão, mas deve-se ter claro que conseguiremos "dar um passo" neste caminho, sem ter a presunção de ter a luz única e decisiva. O processo de evolução - individual e coletivo - certamente é lento e gradual. Cabe à Sublime Ordem, e a cada um de nós, a força de vontade para trilhar este caminho.
E como diz o próprio Mestre em "As sete flores': “Penetra com coragem e firmeza nas atribulações da vida e vigia o teu interior, a fim de descobrires e dominares a tempo as tendências, desejos e pensamentos inferiores que estão à espreita. Com uma vontade que dura como um diamante, e uma sólida perseverança conseguir-se-á, com o auxílio da luz do espírito, iluminar e purificar as recônditas profundezas da subconsciência. Então, ambas serão reunidas e fundidas e, na superconsciência do espírito divino, mergulhadas dentro de ti. Os teus sonhos, então, serão o espelho da verdadeira essência de tua alma.
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