TESTEMUNHO DE UM ESTUDANTE DA SENDA INICIÁTICA
(Desconheço o autor)
Demorei muito tempo em minha vida para me libertar da
ideologia das religiões judaico-cristãs. Quando você decide compreender a
verdade e dedica todo seu empenho para esta finalidade, chega um momento que o
bem já passa a fazer parte de você, de seu objetivo. Ele não é mais algo
exterior, mero instrumento egoístico para você conseguir o que quer, pois ele
torna-se o seu querer.
Você então passa a fazer o bem simplesmente porque este é
você, e não por que possa existir um paraíso a sua espera, ou uma próxima
encarnação cheia de recompensas. Da mesma forma, você já não deixa de fazer o
mal por medo de um inferno ou de futuras tormentas cármicas, e sim porque o mal
é algo totalmente diferente de você. Nesse ponto você começa a perceber que as
coisas consideradas mais preciosas para a maioria das pessoas não tem o menor
valor comparado a esse sentimento dentro de você. E sem valor continuariam se
fosse necessário qualquer tipo de submissão a princípios de categoria inferior
para consegui-las.
É nesse ponto que o conhecimento iniciático te ajudará a
compreender que a verdadeira doutrina de Jesus jamais se limitou a te comprar
com um paraíso se você for bom ou te jogar a um inferno onde "haverá
pranto e ranger de dentes" se você for mau. Ela vai muito além disso, na
verdade ela é instrumento para você ter mais eficácia em sua senda de
manifestar e compreender o amor divino. Só que nem todos tem essa disposição
para o bem ou tem a paciência, a perseverança e as condições para utiliza-los.
É por isso mesmo que seus discípulos lhe perguntaram "Mestre, por que a
eles o Senhor fala tudo por parábolas?" ao que Jesus respondeu: "Por
que a eles não é permitido conhecer os segredos, mas a vós é".
Então é claro que nosso Mestre jamais limitou-se a ensinar
que o bem só vale a pena por um paraíso ou por não ter tormentas eternas, como
ensinam até hoje as religiões. Isso ele teve que expor para as massas, pois nem
todos estavam nas condições citadas para compreender a verdade.
Aprecio muito o Talmude (coleção de 18 tomos volumosos que
traduzem a interpretação do Pentateuco bíblico), mas não posso deixar de
perceber novamente a triste realidade de seus motivos pelo bem. Um exemplo é a
frase "Sê humilde, porque o fim do homem é o verme". Acaso seria por
esse motivo que deveríamos ser humilde? Por algo tão banal diante da
grandiosidade da alma? Outra ainda: "O homem foi criado no sexto dia; por
isso não deve sentir-se muito enaltecido e orgulhoso, pois o mosquito foi
criado antes dele". Será que não há melhores argumentos que se possa
pensar contra o orgulho? Será que devemos deixar de sermos orgulhosos apenas
por algo "melhor"?, resumindo, uma pressão externa? E se não fossem todos
esses motivos, então seria bom ser mau e orgulhoso?
Vou tentar ser o mais claro e objetivo possível. Sou um
místico, e não posso negar que o senda iniciática me trouxe o conhecimento das
leis naturais e espirituais, bem como o autoconhecimento. Não acho de bom tom
ficar falando das religiões mas, apenas para elucidar minha questão, penso ser
necessário citar o fato de que crentes e católicos, em sua maioria, apenas
fazem o bem por ter medo do inferno, ou castigo de Deus. Da mesma forma, os
espíritas temem fazer o mal por acreditarem em um retorno de suas ações. Sem
querer forçar a barra, mas a MAIORIA dos religiosos que conheci e conheço vivem
cheios de vontade de realizar suas fantasias ou cometer coisas que seriam
consideradas erradas, ou privam-se de vícios apenas pelo tal medo, seja do
inferno, do castigo, do carma ou de um retorno sofrido. Esforçam-se eles para
fazer coisas boas para receberem suas recompensas. Jamais teria a intenção, mas
sei que vou ofender muita gente assumindo que isso é uma forma de comércio
espiritual, algo como lei da melhor oferta, pois em seus pensamentos é melhor
sofrer um pouco só pra depois ter a "recompensa eterna".
Não me entendam mal, eu não estou questionando a veracidade
das doutrinas, e sim o modo como as pessoas se utilizam delas para
utilizarem-nas como muletas. Tem muito religioso que agüenta humilhação
pensando maliciosamente que seu agressor vai para o inferno depois que morrer
ou vai receber um grande castigo.
Digo que tem muita gente que não fuma por que é contra a
doutrina da igreja (tem umas que até tem uns castigos morais, como ignorar as
pessoas que se "desviam"). Meus irmãos, assim não pode ser! Deve ser
horrível você se privar de uma coisa por medo, depois até se acostumar a agir
certo, mas sem a menor consciência das causas!
Agora, sem a menor intenção de me promover, mas não posso
deixar de dar o que chamam testemunho, mas de forma muito diferente, pois não
vou aqui dizer que estou no caminho do bem ou amo a Jesus apenas por que ele me
curou disso ou daquilo. Posso dizer que tudo que se operou em mim funcionou
como uma verdadeira transformação, e eu não estaria sendo leviano ao dizer
"Alquimia espiritual"! Sim, os iniciados compreenderão esta menção,
pois quando existe a compreensão da verdadeira espiritualidade, vai ocorrendo
uma mudança de seu antigo estado para um novo estado. O que quero dizer é que
jamais houve alguma pressão em cima de mim, como recompensas por ser bom ou
castigos por ser mau. Muito pelo contrário, foi apenas um estudo, meditações e
reflexões que simplesmente lapidaram minha personalidade e, quando percebi, não
havia mais em mim o desejo do mal ou qualquer dificuldade em fazer o bem.
Ninguém precisou chamar minha atenção para os vícios, pois
eles já não encontravam indentificação com meu Eu. Um dia finalmente chegou o
momento de eu compreender plenamente uma passagem bíblica que me ficava
martelando a cabeça "como pode???". Esta passagem é aquela "Amar
ao próximo como a si mesmo". Eu sempre ficava imaginando "como vou
amar uma pessoa ruim?", ou "como vou amar alguém que nem
conheço?". E o pior de tudo: "como farei isso sem demagogias,
pressões ou ilusões? Isso pode acontecer vindo apenas de dentro de mim?".
Sim. Tudo isso faz parte da Alquimia espiritual.
Hoje em dia eu sei que muito há ainda para ser feito. Tenho
muitos defeitos, mas toda disposição do mundo para transforma-los. Percebo que
enquanto o grau de seu conhecimento e desenvolvimento cresce em proporção
aritmética, na mesma relação seus horizontes e o que resta para você atingir
cresce em proporção geométrica.
E ainda mais: posso dizer com toda segurança que, ainda que
eu tivesse certeza que tudo acaba com a morte, não existem paraísos nem
infernos, reencarnação ou continuação em outro plano, isso jamais iria modificar
meu modo de ser, meu amor pelo bem, pela felicidade e pela evolução da
humanidade e de todos os seres. Talvez eu até tivesse mais pressa, pois não
haveriam oportunidades futuras! É esse tipo de desinteresse que eu acredito que
constitua a verdadeira essência do amor.
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