Em 25/07/2019 o Respeitável Irmão Noelcy Petwira de Carvalho, Loja Hipólito José da Costa, 410, REAA, GOERGS (COMAB), Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, solicita o que segue:
MESTRE INSTALADO
Gostaria de maiores informações sobre os Mestres Instalados.
Esse é um assunto amplo e entendo que o Irmão deveria pesquisar bastante a respeito, mas não sem antes se certificar se as fontes de pesquisa são confiáveis.
De qualquer maneira vou fazer um breve resumo que poderá talvez lhe servir de base para montar uma grade de estudo sobre o assunto.
Em primeira análise é preciso se considerar que instalação é procedimento da Maçonaria anglo-saxônica e não da francesa. Sob essa óptica, o REAA, rito de origem latina, originalmente não possui instalação. Na França, berço do seu nascimento, salvo as deturpações ocorridas nos meados do século XX que envolveram a Grande Loja da França e a Grande Loja Nacional Francesa, o Venerável que deixa o cargo é simplesmente o ex-Venerável e Instalação significa "posse".
No que diz respeito à Maçonaria Brasileira, esse costume de Instalação é enxerto e apareceu quando da grande cisão que ocorrera no GOB em 1927, ocasião em que apareceriam as Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (atualmente CMSB), cuja nova Obediência de então buscaria reconhecimento na Maçonaria dos Estados Unidos da América do Norte, a despeito de que essa Maçonaria também é de origem anglo-saxônica e baseada nos autodenominados "Antigos" ingleses de 1751(vide a história das duas Grandes Lojas Rivais na Inglaterra).
Em busca desse reconhecimento, Mário Marinho Bhéring, criador das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras, acabou trazendo inúmeros costumes estranhos ao REAA, dentre eles o de se instalar o Venerável Mestre e chama-lo de Mestre Instalado depois de ter tido ele deixado o Veneralato. Assim a Instalação aportou na Maçonaria brasileira naqueles ritos que desconheciam instalação.
O Grande Oriente do Brasil consegui resistir a essa prática até o ano de 1968 quando Moacyr Arbex Dinamarco, então Grão-Mestre do GOB, encomendou um ritual de Instalação ao Irmão Nicola Aslan, Irmão esse egresso das Grandes Lojas e regularizado no GOB.
Aslan então confeccionou o ritual que lhe fora solicitado e que acabaria sendo adotado no seio do GOB. Inaugurava-se a partir daí também o aparecimento da figura do Mestre Instalado no Grande Oriente do Brasil. Assim a Instalação se tornaria comum nas duas Obediências de então.
Sob o aspecto histórico da Instalação, cabe mencionar que além da figura do Mestre Instalado ser inexistente no escocesismo, veio à tiracolo com ele também a expressão inglesa Past Master utilizada para o ex-Venerável.
A bem da verdade, o ritual criado por Aslan para o GOB estava muito distante da verdadeira instalação inglesa. Tudo que é generalizado acaba trazendo contradições, sobretudo porque esse ritual veio para abranger todos os ritos praticados e sem se levar em conta as minúcias litúrgicas dos ritos praticados.
Outro aspecto é o de que esse ritual chegava repleto de esoterismo, lenda, sinais, etc. (tudo inexistente na original instalação inglesa), o que fez com que logo o imaginário latino passasse a ver a Instalação e o Mestre Instalado como uma espécie de grau ou extensão de grau maçônico, o que não é verdade.
Dado a essas contradições é que Mestres Instalados (ex-Veneráveis) logo ocupariam consuetudinariamente lugar distinto no Oriente da Loja. Tudo ao gosto latino dos que adoram se colocar em destaque.
Vale a pena mencionar que o GOB reeditou um novo Ritual de Instalação, todavia os erros e contradições de um produto enxertado ainda permanecem.
Em 1973 ocorreria a segunda grande cisão no GOB resultando na criação dos Grandes Orientes Estaduais Independentes (COMAB). No que diz respeito à Instalação ela, como produto de enxertia e consuetudinário na Maçonaria brasileira, seguiu normalmente seu curso sendo adotado de imediato o cerimonial de Instalação e o personagem do Mestre Instalado.
Com isso, a Maçonaria Brasileira através das suas três Obediências Regulares atualmente adota indiscriminadamente para todos os seus ritos o cerimonial de Instalação e o título honorífico de Mestre Instalado.
Sobre a questão do Mestre Instalado cabe ainda uma reflexão maior, pois apesar das "acomodações" dos rituais, alguns Irmãos ainda extrapolam a abrangência desse título honorífico e ficam a criar inadequadamente "conselhos" de Mestres Instalados que, ao tempo se somar, indevidamente só interferem onde não é lícito interferir. Nesse particular, o GOB pelo menos não permite conselhos de Mestres Instalados, senão aqueles criados exclusivamente para instalar um novo Venerável Mestre. Concluída essa finalidade, o Conselho é imediatamente dissolvido.
Concluindo, ratifico que Mestre Maçom Instalado não é grau, senão um título honorífico relativo àquele que foi um dia instalado no Trono da Loja. Ao deixar o cargo ele é simplesmente o ex-Venerável mais recente. Há que se compreender que em Maçonaria, instalação é sinônimo de posse. É indiscutível o conhecimento que um ex-Venerável adquire por ter sido o dirigente maior da Loja. Também é indiscutível o quanto ele pode auxiliar o Venerável Mestre da Loja, desde que não atue indevidamente interferindo nos trabalhos. Cabe ao ex-Venerável demonstrar com atitudes que um dos maiores aprendizados adquiridos por um Mestre Maçom Instalado é o de exercitar a humildade. De resto, tudo é transitório, pois iniciáticamente nada supera na pura Maçonaria o grau de Mestre Maçom.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br - 07/11/2019
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