Por Manoel Tavares Santos
Iniciamos este trabalho relatando que no antigo Egito e no nascimento do catolicismo, a Luz já era associada à verdade. Obter a iluminação significava elevação espiritual e novos degraus de compreensão dos mistérios. O Evangelho segundo São João, enfatiza o triunfo da Luz sobre as trevas, simbolizando a verdade trazida por Cristo para os homens. O livro da gênese também ensina que antes da criação do mundo tudo era confusão, caos e desordem, até que Deus mandou que se fizesse a Luz.
A Luz sempre foi um forte símbolo ligado à divindade, em praticamente todas as religiões. A Iluminação sempre simbolizou o estágio mais próximo do divino, revestindo-se de um ideal de evolução e elevação. Com isso, o objetivo final da iluminação é surpreendentemente uniforme nas várias correntes filosóficas ou religiosas.
Esta associação entre a luz e a verdade, entre a iluminação e a sabedoria, torna claro que o caminho para alcançar a Luz triunfadora é através da procura, do estudo e da pesquisa às fontes de conhecimentos verdadeiros.
Este é o caminho Maçônico, que foi influenciado pelo racionalismo e pelo iluminismo do Séc. XVIII. Dentro da Maçonaria, “receber a Luz” significa a regeneração e o início do caminho da auto-perfeição. A recepção da Luz simboliza o fim da ignorância e da cegueira espiritual que impedem de ver a essência da verdade.
Em resumo, toda a essência do ensinamento maçônico encontra-se na busca da Luz, que representa a verdade divina.
Desenvolvimento
No inicio era o verbo. O verbo se fez carne. A Luz afastou as trevas. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertara - Trechos de 1 a 5, do Evangelho segundo são João
Desde as eras remotas, no Egito de 5 mil anos antes de Cristo, a Luz simbolizava a verdade e o conhecimento. De acordo com os ensinamentos herméticos, compilados no início da nossa era, Hermes era considerado o pai de toda a inteligência humana, tendo deixado como herança a alquimia, a filosofia hermética e as ciências ocultas e, dentro deste contexto, obter a Luz significava alcançar patamares mais elevados de conhecimento.
Há 2 mil anos, Cristo também utilizou a Luz como representação de estágios avançados de consciência e iluminação, simbolizando o ultimo estágio de evolução do ser espiritual.
No Evangelho de São João, a Luz encontra-se associada à verdade, que contrapõe e vence as trevas (a ignorância e o erro). Já no começo da sua epístola, São João leva aos cristãos uma grande mensagem: Deus é Luz. Ou seja, a criação só tem início após Deus criar a Luz. sendo a Luz uma revelação. Assim, Cristo nos revela a vida eterna, isto é, a vida do Pai e a vida filial do Verbo "voltado para o Pai". A partir de então, esta Luz verdadeira da revelação brilha para os homens. Neste contexto, o triunfo da Luz sobre as trevas, corresponde ao triunfo do bem sobre o mal, ao triunfo da sabedoria sobre a ignorância.
A Luz ilumina aqueles que abrem os olhos, mas as trevas se revelam para aqueles que os querem fechar. A iluminação é, na verdade, a grande meta de todo ser humano. Ela é o encontro com a nossa essência espiritual. É o contato sem intermediários com a alma imortal, uma das necessidades mais profundas do ser humano.
Ainda no Evangelho de São João, Cristo afirma: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará em trevas, mas terá a Luz que conduz à vida”.
Para quase todas as correntes filosóficas e religiões a Luz tem significado semelhante.
No Alcorão encontramos o mesmo antagonismo entre Luz e trevas. Alá é a Luz dos céus e da terra. Os incrédulos caminham em trevas sobre trevas. O homem a quem Alá tirar a Luz, não achará Luz alguma.
Para o Budismo “A iluminação é a experiência direta de captar e desenvolver a essência da mente em sua totalidade”. Buda é o Iluminado e seus fiéis seguidores alcançarão o Nirvana, quando “o Sol Luzirá no Céu”
Para a Alquimia, o objetivo final era realizar a “grande obra”, ou seja, alcançar a Iluminação, representada pelos conhecimentos verdadeiros.
No Taoísmo, o homem deve-se unir à Energia da Origem, que é a Luz. O “tão” contém a ascese iluminativa por Ming, a Luz.
Para o Zoroastrismo, Ormuzd reunirá todos na eterna Luz, espaço de onisciência e bondade. Seu oponente, Arimã, representa as trevas, a escuridão e o desejo de destruir.
Uma antiga expressão brahmânica diz: "da ilusão à Realidade, das trevas à Luz, da morte à Imortalidade".
Um dos principais significados dos princípios opostos Yang e Yin é Luz e trevas.
Na Cabala, Deus se revela envolto em Luz. No Zohar, Deus é “uma Luz absoluta, mas oculta em si mesmo e incompreensível”.
Para o místico, a ascensão se dá através da iluminação.
Na tradicional sabedoria chinesa, a busca da iluminação necessita ser acompanhada da percepção dos ritmos naturais da vida, para não sobrecarregar a mente com preocupações, impedindo a tranqüilidade e a paz. As decisões de mudança devem ser testadas ao longo do tempo. O aumento da Luz se deve dar aos poucos, para que não fiquemos ofuscados.
A Maçonaria, como herdeira das tradições herméticas, da mesma forma que as principais religiões também associa a Luz à verdade. Após lapidar a sua pedra bruta, o maçom passa a refletir as Luzes da maçonaria, significando que ao adquirir sabedoria, passa a ter condições de transmitir os conhecimentos verdadeiros contidos na Ordem. Não por acaso, tradicionalmente no Rito Escocês, o livro era aberto no Evangelho segundo São João, capítulo 1, versículos 1 a 5, que mostra o triunfo da Luz sobre as trevas.
Normalmente a Maçonaria é definida como sendo uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista. Proclama a prevalência do Espírito sobre a matéria. Luta pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da Verdade. Seus fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Ela não impõe limites à livre investigação da Verdade e, para garantir essa liberdade, exige de todos a maior tolerância. Veja o artigo "O que é Maçonaria, qual a sua Filosofia e Realidade atual".
Vários símbolos da Maçonaria utilizam-se da Luz: o livro da lei, esquadro e compasso, simbolizam as três grandes Luzes. O Venerável Mestre representa a Luz. O Primeiro e segundo vigilantes são também chamados Luzes. O Oriente é o local de origem do sol, que simboliza a Luz que deve iluminar e guiar o Maçom.
Também a marcha usada pela Maçonaria tem a simbologia de se caminhar do ocidente para o oriente, isto é, da escuridão para a claridade, das trevas para a Luz. Dessa forma, quando o maçom executa a sua marcha vai deixando para trás o mundo objetivo da materialidade e vai entrando no mundo subjetivo da espiritualidade
Desde o antigo Egito as teorias filosóficas vêm sofrendo modificações, passando pelo medievalismo, onde predominavam as credulidades e superstições, pelo racionalismo do séc. XVII, onde predominava a razão, e pelo iluminismo do séc. XVIII. O iluminismo filosófico é um fenômeno diferente da iluminação espiritual, pois não representa um fim em si mesmo, caracterizando-se, alternativamente, como um processo de não aceitação de verdades impostas ou sugeridas e de utilização da razão para buscar a sua própria verdade.
A Maçonaria especulativa apoiou e sofreu muitas influências do Iluminismo, aprendendo que a liberdade de pensamento é sagrada para o homem.
Algumas igrejas cristãs vêem essa ligação como algo condenável por concluírem que a Maçonaria teria absorvido do Iluminismo a idéia central de submeter ao crivo da razão todos os aspectos do conhecimento, o que iria contra a religiões cristãs ortodoxas, que consideram o livre pensamento como o grande inimigo da fé dogmática.
Com isso, um grande e profundo sentimento de desconfiança e de oposição à Maçonaria se fixou especialmente entre as pessoas menos cultas, ou seja, naquelas que aceitavam com facilidade crenças e histórias fabulosas. Por isso a Maçonaria cresceu com mais liberdade na Inglaterra e EUA, que, no protestantismo, viviam momentos de contestação à ideologia cristã ortodoxa tradicional.
No caminho Maçônico para a Perfeição, o primeiro atributo é o espírito de busca, que pressupõe a consciência intuitiva da existência da Luz; a consciência de ainda não a possuir e o sincero desejo de recebê-la. O progresso iniciático e o progresso moral se realiza individualmente na medida em que cada um se afasta das influências profanas negativas e busca o seu entendimento e aceitação dos ensinamentos maçônicos.
Sabemos que a Maçonaria não se prende a nenhuma escola, porque isso tiraria a liberdade de pensamento e interpretação, obrigando-se a seguir um determinado caminho. Fica a pergunta: se o maçom não estuda e não se dedica a buscar os conhecimentos que a Maçonaria lhe proporciona, não estaria ele negando a si mesmo com maçom? Como iria ele evoluir?
Segundo o sexto princípio hermético, "Toda a Causa tem seu Efeito, todo o Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei". Em sintonia com este conceito, Cristo advertiu: “A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”. Quem só plantou urtiga nunca poderá colher rosas.
Sócrates ensina que aprender a pensar é aprender a conhecer, é aprender a discernir, é aprender a concatenar os pensamentos, é aprender a falar. Aprendemos assim que o iluminismo filosófico, ao defender a liberdade de pensamento, fornece o pré-requisito para a evolução individual, que é o caminho para a busca da iluminação espiritual.
A doutrina da Vida Universal é representada pelo simbólico grão de trigo, que deve morrer e ser sepultado na terra, para abrir caminho através da escuridão e renascer à Luz do dia. Da mesma forma, o candidato neófito, ao passar por uma morte simbólica no quarto de Reflexões, deve renascer em uma nova vida como Maçom e progredir por meio do esforço pessoal de construção de seu templo individual.
Sabe-se, entretanto, que é impossível ao homem alcançar o estado puro de perfeição. É necessário que a Luz se espalhe pouco a pouco, para não ser ofuscante, cegando as pessoas ao invés de iluminar o verdadeiro caminho. O conhecimento só deve ser levado àqueles que estão preparados para recebê-los. Por este motivo, o Hermetismo sugere distribuir os ensinamentos em pequenas doses e por graus, correspondendo à lapidação da Pedra Bruta do Aprendiz, Companheiro e Mestre, ou aos sucessivos graus de aproximação da Perfeição..
Voltamos à mesma doutrina da Luz interior dos Mistérios Egípcios e dos ensinamentos Socráticos, que acreditava que somente com a posse da virtude, conseguida através da verdadeira sabedoria (ou seja, com o aperfeiçoamento moral do espírito), chega-se à Pureza, conseguindo a grande Luz da verdade, a Luz Triunfadora.
Conclusão
Desde o Egito, o sol representava a divindade máxima, simbolizando que a Luz solar era a maior benção que a humanidade recebia. Osíris e Horus eram deuses associados ao sol, considerado como a "Luz do mundo que cada olho pode ver." O sol sempre foi visto durante toda a história como o salvador da humanidade por razões óbvias. sem ele, qualquer vida seria impossível.
Praticamente toda a história religiosa ocidental é meramente uma repetição da fórmula mitológica egípcia que descreve os movimentos do sol em torno do céu. O grande significado da iluminação é o triunfo da Luz sobre a obscuridade, ou do retorno do sol para aliviar o terror da noite.
Não existem contradições ou desentendimentos acerca do significado da Luz para as várias correntes filosóficas e religiosas. A Iluminação significa elevação e evolução Apenas o caminho da busca da verdade é que pode estar recheado de dogmas ou baseado apenas na razão. Muitas religiões preferiram o primeiro caminho, enquanto que Ordens como a Maçonaria claramente optaram pelo segundo.
As influências Herméticas e do Iluminismo do Séc. XVIII moldaram o caminho seguido pela Maçonaria, qual seja: o caráter iniciático, a busca do conhecimento e a liberdade intelectual existente dentro da Ordem.
Sempre foi ensinado dentro da Ordem Maçônica que não é possível alcançar a perfeição, mas que se deve sempre buscá-la, lapidando a pedra bruta de cada individuo de forma que ele possa, ao refletir as Luzes da Ordem, ser utilizado na construção de uma Sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna
Quanto mais forte é a Luz, tanto mais profunda é a sombra que projeta. Quanto mais altos osideais, mais claramente podemos ver nossos defeitos. Por isso, o sábio Pitágoras, habilmente sugeriu que não deveríamos falar das coisas divinas sem estarmos devidamente esclarecidos pela Luz.
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