(republicação)
Questão apresentada pelo Irmão Marcelo Tieböhl Guazzelli, Aprendiz Maçom da Loja Fraternidade VII, REAA, Grande Oriente do Rio Grande do Sul (COMAB), Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul.
mguazzelli@agrale.com.br
Troquei alguns e-mails com o Irmão Aquilino Leal que escreve na Folha Maçônica e foi dele a sugestão de que eu lhe fizesse esse questionamento. Assim, de posse do seu endereço tomei a liberdade de escrever-lhe. Como Aprendiz, tenho muitos questionamentos e dúvidas que não são respondidas pelos Mestres e, apesar de ler muito, também não encontro às respostas nos livros. Ultimamente tenho uma dúvida, boba confesso, que está me atormentando. No nosso Manual consta que na abertura do Livro da Lei deve ser lido João 1, 1-5 (No princípio era o verbo...). Assim também afirma José Castellani (infelizmente não anotei em qual obra eu li isso, porém tenho certeza que ele afirma categoricamente, dizendo que qualquer outra invenção é bobagem e que o Rito Escocês assim determina). Porém, ao ler “Os Painéis da Loja de Aprendiz” de Rizzardo Da Camino, o mesmo afirma na página 128 que é prematuro iniciar os trabalhos para Aprendizes com palavras tão místicas e entende ser mais coerente o Salmo 133, um louvor ao amor fraterno, mais condizente com a Maçonaria. Devo confessar que meus esforços para polir a pedra bruta nesse momento independem e não percebo como podem ser afetados pelo texto A ou B ou C. Parece-me, fazendo uma análise dentro das minhas capacidades que Castellani é conservador e Camino um pouco mais liberal (mas não sempre, vide sua crítica na mesma obra a postura desleixada de alguns ao fazer o sinal). Apenas isso. Dentro das suas possibilidades de tempo e não atrapalhando seu dia-a-dia, apreciaria muitíssimo sua opinião a respeito deste assunto
CONSIDERAÇÕES:
É tradicional e verdadeira a abertura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz no Rito Escocês Antigo e Aceito em João, Cap. 1, versículos 1 a 5. Essa sugestiva abertura tem o desiderato de indicar ao Primeiro Grau a prevalência da Luz sobre as trevas - (...) “e as trevas não a compreenderam”.
É oportuno salientar que nem todos os ritos maçônicos ou trabalhos do Craft fazem leitura de trecho do Livro da Lei na abertura dos trabalhos maçônicos. Assim, a leitura não é uma prática universal. Infelizmente, aqui no Brasil existe o equivoco em algumas Obediências de perpetrar na abertura do Livro da Lei a leitura do Salmo 133, prática essa sem qualquer tradição no Rito Escocês.
À bem da verdade o Salmo 133 nem mesmo faz parte de leitura de abertura, senão de uma passagem ritualística na iniciação das Lojas Azuis Norte Americanas (Craft Americano), comumente chamado de Rito de York (não confundir com o Trabalho de Emulação do Craft Inglês, equivocadamente aqui também chamado de York).
Provavelmente o costume do Salmo, fora adquirido por ocasião da busca de reconhecimento nas Grandes Lojas Americanas, quando da fundação em 1.927 das Grandes Lojas Estatuais no Brasil.
As Grandes Lojas Americanas praticam o Craft Americano e aí, dentre outras práticas, essa acabou fazendo parte enganosamente do Rito Escocês Antigo e Aceito espalhando-se por algumas Obediências Maçônicas no nosso País.
No tocante ao que disse o saudoso Irmão Castellani, ele estava correto ao defender a tradição, ao contrário do outro autor que achava mística e prematura o uso do procedimento correto. A questão não é do místico nem do prematuro, porém a expressão da Verdade.
As Lojas de São João ganharam esse título ao longo da história, quando os Canteiros Medievais, no período ainda Operativo e posteriormente o Especulativo – Séculos XIV e XV – quando ainda não existiam ritos maçônicos, senão os arremedos dos primeiros catecismos, ao admitirem um Aprendiz do ofício, este prestava a sua obrigação, por influência da igreja, sobre o evangelho de São João.
À época, a Bíblia era propriedade da Igreja, além da inexistência da imprensa, os escritos ocupavam um imenso volume difícil de ser conduzido. Assim adquiriu-se o costume se escrever em uma folha de papel o título “Evangelho de São João” onde o recipiendário prestava a sua obrigação.
Obviamente não havia leitura de texto, porém as confrarias de construtores geralmente se reuniam nas datas solsticiais – verão para rever e marcar os planos da Obra, iniciar novos membros e, no inverno, para fazer as medições, pagar os obreiros, etc. Assim os solstícios de verão 24 de junho e inverno 21 de dezembro (hemisfério norte) viriam a coincidir com as datas comemorativas dos Santos padroeiros – João, o Batista, e João, o Evangelista respectivamente.
O Rito Escocês Antigo e Aceito, fundado em 1.801, teria o seu primeiro ritual simbólico em 1804 na França. Ao longo do Século XIX esse ritual receberia aperfeiçoamentos e práticas hauridas dos antigos Canteiros, dentre outras, a abertura do Livro da Lei em João, Capítulo I, versículos 1 a 5, alusivos às ditas antigas Lojas de São João.
Há que se notar que o arcabouço doutrinário do Rito Escocês é embasado na investigação da Natureza (o movimento diário e anual do Sol, seus solstícios e equinócios, as Colunas Zodiacais, as Colunas do Norte e do Sul, os pilares solsticiais ou Colunas B e J, etc.).
Já sobre o Salmo 133 revendo obras espúrias, fragmentos, antigos catecismos, revelações e outros elementos primários de pesquisa, não aparece como marco de abertura e citação litúrgica e alegórica importante, senão na passagem ritualística de iniciação do Craft Americano organizado por Thomas Smith Web com base os Antigos de 1.751 de Lawrence Dermott na Inglaterra.
Assim, por primeiro a questão não é de ser prematura ou mística, porém de realidade doutrinária. Por segundo, a questão também não é de se pesquisar em rituais passados e publicados no Brasil confundindo-os por documentação primária como fazem “certos articulistas” que se acham doutos apenas por copiarem e citarem erros de textos ritualísticos ultrapassados.
Nesse sentido, devo salientar que a questão é complexa e merece uma atenção acadêmica minuciosa, ponderada e qualificada.
Por fim, independente do escrito e indicado, os rituais legalmente aprovados e em vigência devem ser rigorosamente respeitados.
Cumprir um ritual não é questão de identificar o certo ou o errado, porém é de boa geometria identificar a contradição, ou o equívoco para propor uma posterior correção que se identifique com a razão dos fatos
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.042- Florianópolis (SC) – quinta-feira, 11 de julho de 2013
Parabéns pelo esclarecedor artigo!
ResponderExcluirFernando Duch .'.
muito bom
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