(republicação)
O Respeitável Irmão Claudio Rodrigues, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais solicita comentário sobre texto publicado denominado “Pílula Maçônica” abordando o Tempo de Estudos e Loja em Família.
voclarodrix@yahoo.com.br
Loja “em família” no Tempo de Estudos.
No R∴E∴A∴A∴ está virando tradição, no Tempo de Estudos, quando se faz a apresentação das peças de arquitetura, os Obreiros da Loja se reunirem no Ocidente. Ali, o palestrante apresenta seu Trabalho, ao fim do qual, perguntas e comentários são feitos a respeito do tema apresentado. Desse modo, de maneira mais racional e com melhor aproveitamento de tempo, o Venerável Mestre bate o Malhete e declara estar a Loja “em família” a partir daquele momento. Nessa situação, os Obreiros podem pedir a palavra diretamente ao Venerável Mestre para comentar o Trabalho, sem ter que cumprimentar as Autoridades Maçônicas e os Vigilantes. Permite também, que a palavra volte ao mesmo Obreiro, quantas vezes o Venerável Mestre desejar. O debate torna-se fecundo e todos aproveitam muito mais, pois não há perda de tempo com os cumprimentos. Considerando que, para determinados assuntos, 30 a 45 minutos é muito pouco para um bom aproveitamento, nessa alternativa tem-se um melhor rendimento. Findo o debate, o Venerável bate o Malhete, dizendo estar “em Loja”, novamente. Devemos deixar claro que é diferente de colocar a Loja “em recreação”, típico do Rito de York, onde os Obreiros saem da Loja e há uma “ritualística” controlando todo o acontecimento. Inclusive, as finalidades são diferentes. (a) M∴I∴ Alfério Di Giaimo Neto.
CONSIDERAÇÕES:
Esse termo “em família” é inexistente e enxertado para tentar justificar um desrespeito àquilo que exara um ritual regularmente aprovado. Mesmo na tradição do Rito Escocês Antigo e Aceito o tal termo não é regular. O engraçado mesmo da designação “em família” é a justificativa para um ato como se os Irmãos reunidos em Loja aberta e procedendo com as práticas litúrgicas e ritualísticas não fossem considerados como uma família maçônica. Uma Loja Maçônica somente seria uma família quando fosse declarada em família? Ou estar em família significa não cumprir o ritual?
Regra e costume de um Rito devem ser implacavelmente cumpridos. Mesmo no debate, se ele exige o giro da palavra, esta tem o objetivo de disciplinar as ações em Loja. Ninguém ao solicitar a palavra precisa necessariamente “cumprimentar” as Luzes e autoridades presentes, até porque esse procedimento costumeiro não é cumprimento, senão a menção clássica de alguns cargos ocupados.
Nesse particular o usuário da palavra não precisa mencionar uma infinidade de nomes e cargos antes do seu pronunciamento. Para tal bastaria a seguinte menção: “Luzes, autoridades presentes, meus Irmãos”.
Em assim se procedendo, certamente haveria uma ampla restrição na tal “grande perda de tempo” - não devemos entortar a boca pelo mau hábito do uso do cachimbo.
Penso que assuntos e peças de arquitetura que mereçam debate deveriam ser previamente agendados e se possível com precedentes em reuniões sem abrir a Loja. Poder-se-ia decorrer ao debate em uma Sessão Administrativa, ou de Instrução.
Se as instruções e os debates venham porventura merecer votação, então que o resultado destes seja apresentado na Ordem do Dia de uma sessão em Loja aberta para a competente aprovação. Agora, descumprir ritual para melhor aproveitamento tempo é o mesmo que dar mais valor ao molho do que à carne.
Outro aspecto interessante na “pílula” é o termo “está virando tradição”. Esse é um pensamento equivocado no meu entendimento, até porque não é de boa geometria considerar descumprimento de ritual com virar tradição. Se no rito existe o giro da palavra, certamente nele há um conteúdo doutrinário.
Para não se ferir esse princípio em nome da “perda de tempo”, basta que a instrução, ou dela outros afins, seja minuciosamente programada. Existem as instruções do grau que em merecendo explicações que as completem podem ser perfeitamente divididas e programadas por tópico para o debate em várias sessões, porém obedecendo sempre a forma de costume.
Ainda na questão de “perda de tempo” o que tem contribuído, e muito, para esse acontecimento são os intermináveis assuntos mal conduzidos e mal colocados nas Ordens do Dia das nossas sessões. Palavreados inócuos e repetitivos, isso quando o assunto nem mesmo é peculiar ao período. Geralmente o resultado dessa sim “perda de tempo” é aquele monstrinho – pelo adiantado da hora vamos suspender o período de instrução.
No que diz respeito à abordagem do Rito de York, cujo nome correto seria o Trabalho de Emulação, este de fato possui outro procedimento. Aliás, não só esse Trabalho, porém todo o “working” do Craft inglês (na Inglaterra não se reconhecem “ritos”, senão “trabalhos”), pois o costume é completamente diferente sendo que lá não existe o giro da palavra e as sessões somente são abertas por finalidade.
Os assuntos são apresentados nos respectivos “levantamentos”. Quando há uma instrução sobre a “tracing board” (Tábua de Delinear), por exemplo, a Loja é colocada “em descanso” pelo Mestre da Loja, ilustrando-se que o Esquadro e o Compasso colocados sobre o Livro da Lei Sagrada ficam posicionados sobre a página da direita, não no centro do Livro. Nessa oportunidade, sem desfazer a composição desses instrumentos, o Mestre da Loja fecha o Livro para o período de descanso. Terminada a explanação o Livro é aberto novamente para a continuidade dos trabalhos.
Nesse caso tudo ocorre dentro da Sala da Loja. Já para a “recreação” existe outra forma de procedimento, quando os Irmãos se retiram temporariamente da Sala por um tempo pré-determinado para diversos afins, inclusive debates instrutivos acompanhados por uma refeição.
Ratificando: 1 - Os ritos que demandam nos seus costumes do giro da palavra, devem rigorosamente cumpri-lo, inclusive nos períodos de instrução, de tal modo que se houver necessidade da volta da mesma, o Venerável tem essa prerrogativa, desde que o seu retorno obedeça novamente ao giro completo (sul, norte e oriente).
2 – O termo “em família” é inexistente no Rito Escocês Antigo e Aceito. É prática ilegal e deve ser coibida pelo Orador.
3 – Práticas equivocadas não devem ser observadas sob a alegação de “está se tornando tradição”. O erro sem reparo acaba sim por se tornar consuetudinário, todavia quando dele se exige uma explicação na “tradição, uso e costume do Rito” a resposta é muito pouco satisfatória - “para melhor aproveitamento de tempo”.
4 – O melhor aproveitamento de uma instrução está na forma de como organiza-la e, maçonicamente, seja desprovida de opiniões pessoais.
5 – No mérito, há que se considerar se a instrução é verdadeiramente maçônica, ou mesmo se o assunto é de interesse da Sublime Instituição. Finalizando: a regra principal é cumprir aquilo que está legalmente aprovado. Se porventura existirem rituais em vigência que preveem “Loja em família”, mesmo não mudando as minhas convicções, reitero a sua irrestrita observação. Infelizmente, dentre tantos, equívoco como esse tem contribuído ao longo dos tempos para que o belíssimo Rito Escocês Antigo e Aceito tenha sido figuradamente denominado como uma colcha de retalhos.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: B News – Informativo nr. 1.045- Florianópolis (SC) – domingo, 14 de julho de 2013
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