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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 7 de abril de 2020

AS BORLAS E A CORDA DE 81 NÓS

BORLAS E AS ‘VIRTUDES CARDEAIS’ 

“Tudo na Maçonaria tem história e autenticidade, que muitos maçons não querem conhecer, por ignorância ou por lamentável sectarismo”. (Theobaldo Varoli Filho) 
Helio P. Leite 

A borla consiste na reunião de um conjunto de fios em números variáveis, presos por um nó. As borlas são na verdade uma arte de “passamanaria”, - o trabalho com passamanes. Uma arte que se ocupa de bordados ou transados de fios em roupas, tecidos, cortinados ou borlas. Estas servem para complementar um enfeite e geralmente, como parte final de um cordão que vem atado ou preso a uma peça de vestuário. 
A origem das Borlas é remota. Reis, poderosos, sacerdotes, as usavam em suas vestes; em 1660 foram implantadas nos uniformes militares franceses. 

As borlas traduzem o “Poder”e em certas partes, este uso prossegue, como terminais em cordões atados à cintura ou em chapéus. De tal modo, temos o Barrete (Barrete Frígio) usado na Turquia Antiga, como distinção entre os vulgo e os poderosos. Durante a época do fascismo, na Itália, os militares, usavam um “barrete negro”, de cuja calota pendia um cordão que terminava em borla. Vemos borlas em estandartes, vários escudos ou brasões de cidades, e nas armas dos cléricos, especialmente do cardinalato e dos papas. Na realeza é centralização do poder que se espalha alcançando os súditos. A borla passou a ser usada nas universidades, para ornar tanto o capelo, como as faixas, simbolizando a libertação da ignorância, e o poder passou a ser emanado do diploma. 

Os cortinados nas casas ricas ou nos palácios têm os seus cordões terminados em borlas de todo tipo, simplesmente como adereço e demonstração de poderio econômico. 

Dentro dos Templos Maçônicos a “Corda de 81 nós” (ou houppe dentelée), que contorna a parte interior e susperior do Templo antes da “Abóbada Celeste”, tem a finalidade de simbolizar a união do maçons. Seus oitenta e um laços duplos (que devem ser apertados e não frouxos), recordam o entrelaçamento, com elos de uma mesma corrente, das mãos formadas na “Cadeia de União”. Protegendo, além de “conectar” e de “ligar”, os símbolos e emblemas que aparecem desenhados no quadro, o que é considerado como um espaço sacralizado, e, portanto, inviolável. Nesse sentido, a idéia de “proteção” está incluída no simbolismo dos nós e das ligaduras, que por suas respectivas formas relembram o traçado dos dédalos e labirintos iniciátios. 

Esquadrinhando o atavimo da operatividade, quando nossos irmãos não só cercavam como determinavam a posição correta dos templos ou catedrais, que sempre, e de forma invariável, estavam orientados segundo as direções do espaço assinaladas pelos quatro pontos cardeais, exatamente iguais á Loja. Ao mesmo tempo reforçavam o canteiro de obras com as estacas e, em cada uma destas, a corda era entrelaçada. Detemos aí a origem da “Corda de 81 Nós”. Hoje, na Maçonaria Especulativa, todo obreiro, como coluna, faz referência a uma estaca. Ligados cada qual pela corda de nós. 

O algarismo 81 é o quadrado de 9, que por sua vez é o quadrado de 3, número perfeito e de grande importância mística para as ancestrais civilizações. Três foram os filhos de Noé, três os varões que apareceram a Abraão, três os dias de jejum dos judeus desterrados, três as negações de Pedro, três as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade); além disso, as tríades divinas sempre existiram na maioria das religiões: 
  • Sumérios – Shamash, Sin e Ichtar: 
  • Egípcios – Osíris, Íris e Hórus; 
  • Hindus – Brahma, Vishnu e Shiva; 
  • Taoismo – yang, ying e Tao; 
  • Trindade Católica romana – Pai, Filho e Espírito Santo; 
  • Da Constituição do Ser – Espírito, Alma e Corpo; 
  • Do hermetimo – Archêo, Azoth e Hylo; 
  • Da Cabala Hebraica – Kether(Coroa), Chokmah(Sabedoria) e Binah(Inteligência); 
  • Do Budismo – Buda(Iluminado), Dhama(lei), e Sanga( Assembléia de Fiéis); 
  • Da Trimurti indiana – Brahma, Vishnu, e Shiva; Sat, Chit, e Ânanda; 
O nó central deve estar sobre o Trono de Salomão, representa a Unidade, não como forma de medida, mas sim como fonte Creadora e indivisível. “O Todo”. O restante dos nós distribuídos com quarenta nós ao sul e quarenta nós ao norte. Pois, 40 como o numeral simbólico da Penitência e da Expectativa: a duração do dilúvio(Gênesis, 7:4); quarenta dias passou Moisés no Sinai( Êxodo, 34:28); foram os dias de jejum de Jesus no deserto(Mateus, 4:2); quarenta dias o Grande Mestre ficou na Terra após a Ressurreição(Atos dos Apóstolos, 1:3). 

Essa Corda absorveria as tensões nervosas (elétricas) dos irmãos, descarregando-as através dos fios das duas borlas pendentes. Detém-se que, dentre outros “efeitos esotéricos”, a corda retém a energia que emana de todos os Obreiros presentes, bem como da distribuição da Energia de cima para baixo e de fora para dentro. Os nós funcionando como acumuladores de energia. 

Cada borla é formada de um “botão” recoberto de fios, formando uma franja que desce ao piso. O botão modula e concentra as “forças” e os fios descarregam em direção ao solo a energia. Funcionando como “fios terra”. 

Essa borlas deveriam ser amparadas pelos Diáconos, sustentando-as em suas mãos, quando da formação do triângulo, junto com o Mestre de Cerimônias, protegendo o Oficiante, no momento da abertura do Livro da Lei. 

Os rituais do REAA instruem que as quatro borlas representam as quatro Virtudes Cardeais: 
  • TEMPERANÇA 
  • JUSTIÇA 
  • FORTALEZA 
  • PRUDÊNCIA 




Conforme nos instruiu Varolli, trata-se de uma lembrança da moral platônica, haurido do neoplatônico-alexandrino-romano-Plotino (204-270-a.C.).Adequadas e muito teorizadas pelos Doutores da Igreja Católica: Santo Ambrósio, Santo Agostinho de Hipona e São Tomás de Aquino. 

A palavra cardinal vem de cardo, cardinis, que, em latim, significa gonzo(dobradiça), em torno do qual gira a porta. 

As virtudes cardeais são as virtudes fundamentais em torno das quais gira o ser humano. Entre as virtudes adquiridas pelo homem, estabelecem-se quatro, que são fundamentais, ou capitais, ás quais estão subordinadas outras que são acessórias ou subordinadas.. 

As quatro borlas estão arranjadas estando duas no leste e duas no oeste. 

No Oeste, Temperança e Fortaleza, junto ás colunas e aos lados da porta, para designar as qualidades exigidas de todos aqueles que desejem ingressar na Maçonaria, como as virtudes que o maçom deve conservar dentro e fora da Loja. 

A TEMPERANÇA é o primeiro passo para alcançar as outras três Virtudes Cardeais. Expressa o comedimento, reserva e sobriedade diante das coisas do mundo. Tudo pode ser empregado em pequena ou grande dose, e o risco existe nas duas situações. Traz equilíbrio para se ter serenidade para intuir o Grande Arquiteto do Universo na essência de cada qual. Impede que o homem se exceda, ajudando-o a submeter seus desejos e vencer sua paixões. Ao falar, o maçom deve saber colocar bem as palavras sem descabimento de atitude ofensiva, vulgarizando o discurso na tentativa de impor pretensa vaidade. A temperança é dada ao homem porque tudo pode ser usado em pequena ou grande quantidade, e o risco convive nas duas situações. 

A FORTALEZA deve versar harmonicamente com o bom senso. Objetivando a bens mais elevados para enfrentar os perigos, tolerar os males e não retroceder, nem mesmo ante a morte. Bravura para acudir a um ideal digno, fazendo brotar á autoconfiança para materializar nossas aspirações e anseios. Na fortaleza as virtudes são fortes contra o vício e resistentes contra as ciladas dos inimigos de Deus. Muitos dons e talentos são comprometidos pela falta de virtude. A paciência, lado a lado à Fortaleza, consiste na capacidade constante de suportar adversidades transformando nosso modo de ver e enfrentar conflitos. Pois, se a causa é justa o prêmio é adequado. 

As duas do leste significam Justiça e Prudência, representadas pelas borlas do oriente. 

A JUSTIÇA sempre do mesmo lado do Orador, conforme o rito adotado pela Oficina, significa os ditames que devem seguir os maçons e os dirigentes de qualquer coletividade, para equilibrar e enaltecer as reações humanas. Assim como buscamos tornar feliz a humanidade na formação de uma sociedade mais justa e perfeita, conclamamos nossos membros para praticar a solidariedade humana. Honrando os direitos e deveres das Leis de Deus e dos homens. Alan Kardec, por orientação maior revelou que a lei de Deus está impressa na consciência do homem. 

A Maçonaria entende por dever o respeito aos direitos dos indivíduos e da sociedade. Entretanto, não ficamos satisfeitos em apenas respeitar a propriedade, igualmente carecemos proteger e servir aos nossos semelhantes. A maçonaria resume o dever dos homens assim:” Respeito a Deus, amor ao próximo e dedicação á família”. Em verdade, essa é a maior síntese da fraternidade universal. 

A PRUDÊNCIA leva em conta o futuro, é a virtude do saber escolher, de discernir o certo do errado, para realizar o Bem e vencer o mal. Sapiente, regula nossas ações conforme o momento em que estejamos vivendo. Ajuda a conduzir a si mesmo, e caso necessário, para conduzir os outros. A prudência exige: reflexão, capacidade para examinar os juízos e as idéias, e perspicácia, para descobrir os meios mais hábeis. Exige, ademais, inteligência, capacidade de resolver com clareza e segurança, de modo a alcançar as melhores soluções. Resguarda a moral do fanatismo. Quantos horrores consumados em nome do Bem? Quantos crimes em nome da virtude? A prudência ajuda a optar pelo caminho que melhor soluciona os problemas e mai beneficia a humanidade. “A prudência”, diz santo Agostinho, “...é um amor que escolhe com sagacidade.” 

As borlas são da mesma cor e material da Corda de 81 nós. Já as do Pavimento de Mosaicos são em branco e preto; as do Painel do Aprendiz, também em cândido e preto, reproduz por moldura a Orla Dentada do Pavimento de Mosaicos. Nos quatro cantos da Orla Dentada, as borlas dirigem-se ao quatro cantos da Cãmara do Meio simbolizando os quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo. Cabe aqui lembrar C. W. Leadbeater: 

“ Há também uma ampla interpretação para as quatro orlas que aparecem nos ângulos da franja. Na Maçonaria masculina simbolizam temperança, fortaleza, prudência e justiça, e sempre têm um significado moral. Mas também representam as quatro grandes ordens dos devas relacionados com os elementos terra, água, ar e fogo, e seus quatro Governantes, os quatro Devarajas, agentes da lei cármica, que computam e ajustam os negócios humanos sem que haja injustiça nos seres viventes do universo de Deus, assim como não há desconcerto nas relações das diferentes substãncias e corpos materiais...” 

Abrindo-se na entrada do Templo, a corda de 81 nós termina em Borlas. Por ser dinâmica e progressista a Maçonaria tem representado nessa abertura da corda o fato de estar sempre receptiva às novas idéias que possam contribuir para a evolução do homem, e assim tornar mais feliz a Humanidade pelo progresso ético e moral. Respeitando-se a liturgia e a ritualística, bem como os usos e costumes da Ordem. A transformação é interior, e ao renovar-se, o homem transformará o mundo. Não pode ser maçom aquele que exonerar-se da evolução tentando justificar um conservadorismo rançoso, muitas vezes dogmático, e, por isso mesmo, pernicioso. Não devemos voltar a nossa atenção para modificar as coisas de fora, mas para aprimorar ou despertar as coisas de nossa intimidade. 

As virtudes são a somatória dos predicados essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Porém, para o maçom não deve ser mais que a elementar obrigação. O turbilhão da rotina provoca hábitos que quase sempre se acompanham de pequenas enfermidades morais que s desonram e enfraquecem. Não é virtuoso aquele que ostenta a sua virtude! Falha em modéstia e tem o vício do orgulho. Os hábitos maus enraízam de tal sorte em nosso psiquismo que se tornam extremamente difíceis de ser eliminados. Daí a necessidade de reforma íntima e da vigilância constante. Na realidade, não somos nós que deixamos os vícios, são eles que sem a nossa sintonia é que nos deixam. 

“Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho”(François – Nicolas – Madeleine – Paris, 1863). Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humanidade é que um dia elas se hão de redimir. 

Irmão Luiz Washington Bozzo Nascimento

Fonte: http://joseroberto735.blogspot.com

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