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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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sábado, 18 de abril de 2020

QUESTÕES SOBRE OS SINAIS PENAIS

QUESTÕES SOBRE OS SINAIS PENAIS
(republicação)

Em 14.07.2015 o Respeitável Irmão Maurício Antonio Pellegrino Adamowski, Loja Cavaleiros da Paz, 164, REAA, GOP (COMAB), Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula o que segue:
mauricio@pellegrino.adv.br 

Estou estudando sobre a Palavra em Loja. Vários aspectos serão abordados em uma apresentação. Mas um em específico tem me chamado a atenção, principalmente pela falta de material. Muito objetivamente: em Loja fala-se à Ordem, em pé, no uso do sinal do grau (salvo exceções próprias). São três os sinais, pois três são os graus. Perguntas: 

1. Antes da instituição do 3º Grau já se utilizava o sinal enquanto no uso da Palavra (trabalho do Irmão Hercule diz que sim)? 

2. Os sinais para os 1º e 2º Graus, antes do 3º Grau, já eram os mesmos utilizados hoje? 

3. Tem-se: garganta, coração e abdômen. Qual a explicação para que cada um destes esteja ligado ao grau que está? Por certo que o sinal penal, ou saudação, faz alusão ao juramento, mas por que cada um destes está onde está? No 3º Grau a lenda reafirma cada uma das punições auto sugeridas, mas e antes de existir o 3º Grau? Por que cada uma das penas está alocada no seu respectivo grau? Consigo entender porque maço e cinzel no 1º Grau, ou mesmo alavanca no 2º Grau. Mas não encontro liame com o específico sinal de ordem com o seu respectivo grau. Qual o específico liame entre a pena do juramento do 1º Grau e a doutrina desse Grau? E consequentemente de cada um dos demais. Comparando os três entre si, sendo o 3º Grau mais espiritualizado não seria mais “adequado” que o seu juramento/sinal referenciasse o coração? 

Creio que me fiz entender quanto à dúvida. Espero que o Irmão me possa trazer alguma luz. Tenho algo em mente, mas não gostaria de expor até receber um retorno. 

CONSIDERAÇÕES:

Evidentemente que para descrever temas sobre todas as vossas interrogações, careceríamos de escrever um livro (que tenho estado rabiscando vez por outra) sobre esses assuntos. De qualquer maneira, vou tentar colocar de modo mais resumido possível alguns aspectos que podem auxiliá-lo nessa investigação. 

Em primeira instância, no que concerne ao item 1 e seguintes da questão, primeiro é preciso se levar em consideração as diferentes fases da Maçonaria e a sua evolução histórica registrada de modo autêntico com os seus aproximados oitocentos anos de história. 

Em linhas gerais Sinais, Toques e Palavras maçônicos arrolados no período Operativo desde os Canteiros Medievais, objetivamente asseguravam e se constituíam na marca do segredo da Arte de Construir e os seus respectivos planos para a Obra. 

Em síntese essa prática sinalizadora objetivamente fazia com que um integrante do Ofício viajasse (liberdade de locomoção assegurada pela Igreja-Estado na época) para lugares distintos e distantes podendo demonstrar a sua habilidade e qualidade de pedreiro (artífice da pedra) entre as Guildas dos construtores. Essa atitude, além de um modo discreto de reconhecimento, identificava o artífice profissionalmente sem que com isso ele precisasse ficar horas desbastando uma pedra para provar a sua qualidade profissional. 

Assim é que nos primórdios os sinais básicos serviam como método de identificação profissional. De certo modo esse costume ocorre até hoje com a Moderna Maçonaria em se considerando, contudo que os Sinais, Toques e Palavras se constituem atualmente nos verdadeiros segredos da Sublime Instituição. 

Historicamente, desde o princípio existencial da Franco maçonaria, acompanhada da sua transição do período Operativo (Maçonaria de Ofício) para o Especulativo já no início do século XVII e o posterior aparecimento da Moderna Maçonaria cujo marco inicial seria balizado pela inauguração do primeiro sistema obediencial em 1.717 com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres, em síntese existiam apenas duas classes de operários, a dos Aprendizes do Ofício e a dos Companheiros do Arte (Fellow Craft) – desses últimos a Confraria comumente escolhia um deles, dos quais o mais experiente, para dirigir a Loja Operativa (era o Mestre da Obra – não confundir com o atual Grau de Mestre). 

Não existiam ritos maçônicos à época, senão as formas diferenciadas às vezes pelos elementos culturais e regionais do Craft. À bem da verdade, os hoje conhecidos ritos e trabalhos (workings) maçônicos somente passariam a existir a partir dos meados do século XVIII e se afirmariam como tal no princípio do século XIX, sobretudo nas duas vertentes principais da Maçonaria – a inglesa e a francesa. 

Somente sob a égide da Moderna Maçonaria é que viria surgir um terceiro Grau especulativo maçônico em 1.724/25 e se firmaria como prática universal a partir da segunda Constituição inglesa datada de 1.738. 

Destarte, a origem dos Sinais e os seus complementos na Maçonaria são oriundos do período operativo com as suas duas autênticas classes de trabalhadores na pedra, além das muitas outras particularidades privativas de identificação próprias de cada Guilda de Construtores, ou o Grêmio do Ofício (Craft). 

Devido à sua origem operativa na construção, os sinais maçônicos seriam fundamentados simbolicamente em alguns instrumentos do ofício, tais como o esquadro, o nível e a perpendicular ou prumo. Esse episódio pode perfeitamente ser perquirido nos “antigos manuscritos e fragmentos” das corporações de ofício operativas, bem como, já na época especulativa, nas obras espúrias e revelações - essas últimas publicadas sob a forma de catecismo através dos noticiários profanos escritos de modo traiçoeiro à Arte Real nos jornais da Inglaterra e da França no século XVIII. 

OBSERVAÇÃO - Abrindo uma pequena lacuna no intuito de tratar do termo “se estar à Ordem” mencionada na questão acima e a composição do Sinal na Moderna Maçonaria, o mesmo irá depender muitas vezes do costume especulativo relacionado ao Rito ou ao Trabalho do Craft, já que esses procedimentos (de se falar à Ordem) não são comuns a todas as práticas maçônicas – o pesquisador precisa levar isso em consideração.Da mesma forma deve observar também que o termo “à Ordem” é peculiar apenas a uma porção das Lojas Especulativas, porém nunca das Operativas. Ainda nesse sentido, há que se compreender que “estar à Ordem” não significa irremediavelmente compor o Sinal Penal, porém a postura de se manter o corpo ereto (perpendicular) e os pés em esquadria na forma de costume. É dessa posição que em se estando em pé, se compõe o Sinal – esse costume não pode ser generalizado para toda a Maçonaria já que desse procedimento depende do caráter do Rito – em resumo, nem todos os Ritos apregoam que um protagonista deva obrigatoriamente estar compondo o Sinal do Grau enquanto ele faz uso da palavra. São dessas expressões dúbias que se originam certos títulos equivocados que infestam os nossos rituais. É o caso do tal “Sinal de Ordem”. Ora pois... O Sinal é exclusivamente Penal e que somente é composto em se “estando à Ordem”. Então que estória seria essa do tal do Sinal de Ordem? Ainda existe o famigerado “de pé e à Ordem”. À vista dessa redundância, alguém ficaria por acaso “à Ordem” sentado? 

Retomando o raciocínio no que concerne aos Sinais, mesmo antes do estabelecimento do Terceiro Grau, os mesmos já se pautavam em quatro regiões do no corpo humano – a região gutural (garganta), a peitoral ou cordial, a manual e a pedestal. Esses artifícios também se correlacionavam com alguns instrumentos de trabalho dos pedreiros e ainda eram complementados por movimentos manuais alegóricos que lembravam, dependendo da região corpórea, a aplicação das penas condenatórias à morte estabelecidas pelos juízes e reinados da época. 

Desse modo, na Maçonaria o gesto simbolizava, e ainda simboliza a punição ao perjuro. Por exemplo: t∴ a g∴ c∴ d l∴. a l∴, ou ter a l∴ arr∴ p∴ g∴ ou ainda t∴ o c∴ arr∴, dentre outras descrições penais relacionadas à região gutural e cordial (garganta e peito). 

OBSERVAÇÃO – A referência feita à aplicação de penas aos condenados à morte tem apenas o caráter simbólico e esclarecedor em se tratando da Maçonaria. O fato mencionado não traduz qualquer afirmativa de que havia procedimentos desse tipo na Sublime Instituição. É oportuno salientar que própria Moderna Maçonaria inglesa já aboliu essas descrições simbólicas das suas cerimônias, relegando-as apenas às explanações durante as lições de instrução. 

Todo esse conjugado emblemático que envolve a composição dos Sinais Penais maçônicos evoluiria desde os tempos de antanho até a Moderna Maçonaria com os ritos e as formas de trabalho que a compõem. Assim esse processo secreto que envolve o Sinal, ainda hoje é composto por duas etapas distintas – a primeira na composição do Sinal com a mão, ou mãos dependendo do caso, enquanto que a outra envolve a forma de desfazer o Sinal com outro movimento manual que lembra alegoricamente a aplicação da pena (na Moderna Maçonaria haurida da exposição lendária da morte de H∴ A∴). 

Nesse contexto há que ser observar então, dependendo do Grau simbólico, a manutenção tradicional haurida do passado distante que se relaciona à região Gutural (garganta) e da Cordial (ou peitoral), assim como o uso manual ou das Mãos(s) que compõe e desfaz o Sinal. 

Por fim ainda o Pedestal que arranja com os pés unidos pelos cc∴ a esquadria, ou mesmo dá o passo regular (esse último dependendo da vertente maçônica). 

No mesmo sentido, a postura e a conciliação do Sinal viria se generalizar na vertente maçônica que abriga os Ritos que mencionam o costume de se estar à Ordem sempre que um protagonista estiver em pé e parado compondo o respectivo Sinal em Loja aberta. Dessa mesma postura também se aplica a Saudação maçônica pelo Sinal que nada mais é do que a imediata aplicação simbólica da pena no movimento convencional para desfazer um Sinal do Grau. 

No que concerne à relação com os objetos de trabalho, os mesmos se apresentam tanto nos movimentos horizontais manuais que correspondem ao Nível e nos verticais ao Prumo, ambos conjugados ao Esquadro pelo movimento horizontal e vertical ao mesmo tempo. Ainda outra vez o Esquadro, é aquela que está de acordo com a posição dos dedos da mão unidos e separados do polegar em esquadria, bem como a posição dos pés uun∴ pelos cc∴ Também relata a Perpendicular a postura corpórea ereta. 

Com o advento da Moderna Maçonaria em 1.717 e o aparecimento em 1.725 do Grau de Mestre consolidado a partir da Segunda Constituição inglesa em 1.738 conforme aqui já mencionado, o Terceiro Grau seria provavelmente adaptado a uma antiga Lenda Noaquita (originário de Noé) conjuminada com a Lenda de Osíris, cuja adaptação resultaria na conhecida Lenda do Terceiro Grau, cujo personagem principal (Hiran Abif) e seus protagonistas diretos (Rei Salomão e Hiran, Rei Tiro) seriam retirados das Sagradas Escrituras in comentários alusivos à construção do Primeiro Templo de Jerusalém pelo Rei Salomão. 

A teatralização simbólica pela Maçonaria desse lendário Templo, em linhas gerais, viria relatar agora um Sinal específico para o Terceiro Grau, cujo movimento manual seria relacionado à região abdominal com um movimento que sugere o próprio protagonista ter div∴ o seu corp∴ ao m∴ Assim, para que a exposição da Lenda do Terceiro Grau fizesse sentido iniciático como a chave universal da Iniciação, os antigos sinais relacionados à região gutural e cordial e outros movimentos manuais e pedestais a exemplo dos CC∴ PP∴ PP∴ do C∴ que passariam a ser os CC∴ PP∴ PP∴ do M∴, se somariam também à região abdominal com o Sinal Penal que sugere a pena de se ter o corp∴ d∴ ao m∴. Obviamente essa é só uma síntese dessa história já que em se tratando de sinais e os seus respectivos movimentos, conforme a cultura e a relação doutrinária da vertente maçônica muitas variações se apresentam além de tantos outros modos de identificação.

Ainda no que concerne à Lenda do Terceiro Grau e a chave iniciática, os Sinais Penais seriam relatados na alegoria do Templo desde o Grau de Aprendiz (Gut∴), passando pelo genuíno Grau de Companheiro (Cor∴) até o do Mestre (Ventr∴). Nesse sentido é que os três mm∴ CC∴ assassinos reivindicariam para si ao se arrependerem as próprias penas capitais – um de t∴ a g∴c∴, outro de t∴ o c∴ a∴ e o último de t∴ o corp∴ d∴ ao m∴.

Desse modo é que a Maçonaria Universal, ou o Francomaçônico Básico, passaria a se referenciar e reconhecer apenas e tão somente os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, pois a Lenda do Terceiro Grau revela apenas para esse teatro lições iniciáticas de ética, de sociologia e de moral. A sua filosofia vivencial está na intuição daquele que busca o esclarecimento começando pela contenção das paixões, o que sugere o Sin∴ Gut∴ (prefere t∴.a g∴ c∴). Pela senda iniciática a segunda etapa da vida requer a coragem (cor - coragem) de t∴.o próprio c∴ arr∴ (Sin∴ Cord∴) como preço pelo aperfeiçoamento adquirido nos embates enfrentados pelos que passam por esse ciclo existencial – é a própria análise da vida e dos elementos que elevam a Obra – o prumo não pende como as oblíquas. Por fim o ápice pelo desprendimento sugere a síntese da vida e a avaliação da Obra. Do seu resultado depende a lição que ficará eterna na mente dos pósteros (imortalidade) – o Mestre renasce (sua Obra) para viver do Setentrião ao Meridião, ou entre o Esquadro e o Compasso – a linha horizontal descrita pelo movimento manual sobre o abd∴ div∴ o c∴ ao m∴ denota recomendar que esse limite de outrora (entre o Norte e o Sul) agora não mais existe. Como Mestre revivido do t∴ na C∴ do M∴ cessam as distinções mundanas.

Finalizando esse sumário lembro que a interpretação dos Sinais Penais do simbolismo maçônico depende muito de uma análise cultural e doutrinária da vertente e do rito ou trabalho maçônico. Embora eu tenha procurado aqui melhor associar os procedimentos hauridos desses sinais enigmáticos, isso não fecha a questão pura e simplesmente, até porque se faz cogente sempre saber se separar Sinais iniciáticos daqueles Sinais que simplesmente tratavam dos artifícios de reconhecimento – tanto profissional como da própria Guilda, ou Associação de Construtores, precursoras das Lojas Simbólicas da Moderna Maçonaria.

E.T. 1 – Não confundir os Sinais Penais com os três Pontos Capitais alusivos ao assassinato do Mestre por ocasião da exposição e encenação lendária no cerimonial específico. É bem verdade que alguns deles até coincidem com as penas simbólicas, porém possuem interpretações simbólicas e doutrinárias diferentes, sobretudo em se levando em conta as duas principais vertentes da atual Maçonaria Moderna e os respectivos instrumentos trabalho a eles relacionados.

E.T. 2 – Devo enaltecer e recomendar a interessante e didática Peça de Arquitetura, bem como a bibliografia nela citada, que trata dos Sinais Maçônicos Antigos de autoria do sempre competente Irmão e amigo Hercule Spoladore que aborda magnificamente esse tema. 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.917 – Rio Branco (AC) – sexta-feira 1º de janeiro de 2016

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