A VARA FLORESCENTE
Entre os grandes de Israel, quis Moisés escolher certa vez, aquele que fosse capaz de guiar o seu povo, no caminho do bem e da perfeição, a fim de fazer cessar as murmurações que se levantavam, a todo o instante, contra o nome do Senhor. Tomando doze varas deu a elas os nomes dos doze príncipes das tribos de Israel, colocando-as a seguir, na Tenda da Congregação, em frente à Arca do Testemunho.
Sucedeu que no dia seguinte, ao Moisés entrar na Tenda do Testemunho, uma das varas florescera, produzira flores, brotando em renovos, carregados de amêndoas.
E por essa forma simbólica, foi escolhido Arão, para dirigir e encaminhar o povo na solução de seus problemas, fazendo com que terminassem as murmurações que se levantavam contra Moisés, e o Senhor que os guiava através do deserto.
Melhor alegoria não poderíamos encontrar esta noite, quando, honrados pelo convite dos PPod.'. Irmãos desta Loja, ocupamos o dignificante altar de sua oratória, para tratar convosco, de maneira simples e despretensiosa, da grande responsabilidade que assumimos perante o próprio passado de nossa Ordem, e a memória eloquente dos que nos antecederam, no artesanato da Arte Real, no mundo inteiro, e particularmente em nossa Pátria.
A maneira do que sucedeu a Arão, para podermos realizar em nome de nossa Ordem, a missão que a nós cabe por herança valiosa, necessário é que nossas varas, colocadas dentro das Tendas do Testemunho, que são os nossos Templos Maçônicos, aqui floresçam, brotem em renovos, produzindo frutos perante o testemunho de todos os Irmãos, até que a autoridade que dimana da fé sagrada em nossos princípios, nos faça fiéis soldados da missão magnífica que nos cumpre realizar.
Enquanto não chegarmos a ver, através do estudo demorado e da compreensão perfeita dos nossos princípios, florescer nossas personalidades em rebentos vicejantes, cobertos de flores e de frutos que se manifestem através de nossas próprias ações, nada poderemos realizar em nome de nossa Instituição, para o cumprimento de sua alta missão, no mundo social em que atuamos.
Eis porque, um tema tão complexo, como é o desta noite, tão vasto e interessante, para o momento maçônico e profano que temos a oportunidade de viver, deveria ser tratado, não por nós, mas por tantos outros que, já como varas floridas e frutificadas, são exemplos de caráter e ação para os seus Irmãos.
Certos, porém, de que a nós cabe, também, parte da responsabilidade que toca a todos os Maçons, em nossa Pátria, pois nos encontramos ligados pelos mesmos juramentos, obrigações e deveres, atrevemo-nos, entre sábios, a tratar das cousas da antiga e nobre sabedoria maçônica, para que, pelo estudo e trato desses ideais, possamos nos ver também, como varas florescidas, oferecendo humilde colaboração, ao esforço comum de nossa Ordem, no fazer cessar as murmurações e infelicidades que se fazem sentir no mundo de onde viemos, e para onde constantemente devemos voltar, como soldados esclarecidos do Bem e da Verdade.
O Ir.'. JOAQUIM RODRIGUES GONÇALVES
Grão-Mestre Adjunto do GOSP em uma das gestões (1955/58) do Grão-Mestre Estadual Dr. Benedito Pinheiro Machado Tolosa.
O BEM E O MAL
A luta, entre o Bem e o Mal, perde-se no emaranhado da história dos antigos povos da Humanidade.
Buscam os homens, dos mais diferentes climas e das mais diversas épocas, o esclarecimento, e a diferenciação entre a Verdade e o erro.
A Luz e as trevas são referências contínuas, que encontramos em todos os antigos livros sagrados. O Zend-Avesta, bíblia dos persas, faz de todo o Universo um campo de batalha, onde pelejam Yazatas e Devs, guerreiros de Ormuzd e de Ahriman. A Bíblia dos hebreus está repleta de exemplos de lutas sacrossantas, e do duelo terrível entre os anjos e os demônios.
No Egito buscavam os iniciados o Princípio Uno e Eterno de todos os seres e de todas as coisas, procurando reunir os homens, como sucede em toda a filosofia oriental, sob a égide da Verdade Única, que por eles era, incessantemente buscada.
Dario Veloso, em sua obra, “O Templo Maçônico”, afirma que em todo percurso histórico, “a Humanidade se nos depara perpetuando o divórcio dos ciclos do Touro e do Cordeiro. As hordas de Nemrod, num indômito alcance, desfraldam o estandarte da revolta; os sacerdotes de Ran, fitando as constelações do infinito, vestem as túnicas de linho e salmodiam os cânticos litúrgicos da paz. Estes pregam, em todo o orbe, os princípios do amor; aqueles ateiam em toda a terra, as fogueiras da intolerância. – É a Maçonaria a grande realizadora da organização sinárquica, possuindo as chaves de ouro da ciência dos magos – em sua obra de aperfeiçoamento intelectual e moral do homem, e na consagração redentora da humanidade – reprime e esmaga o mal, abrindo aos atuais soldados do bem e da verdade, os sólios do mistério”.
A MAÇONARIA NA LUTA PELO BEM
Uma associação assim, honesta e dignificante, que pretende com real eficácia, manter-se e realizar, deverá sempre procurar os seus adeptos entre aqueles que, espontânea e plenamente, estejam aptos a levá-la a alcançar a finalidade a que se propõe.
Do contrário teremos em nossos Templos, à maneira das onze varas que não floresceram no Templo do Testemunho, ao tempo de Moisés, homens que buscam e não encontram, porque não sabem o que buscar, tornando-se varas secas, de que só o fogo lhes conhece a utilidade.
A Ordem Maçônica é a associação de homens sábios e virtuosos, cujo objeto é viver em perfeita igualdade, intimamente unidos pelos laços da estima, da confiança e da amizade, debaixo da denominação de irmãos, estimulando-se reciprocamente, uns aos outros, na prática das Virtudes.
Para Papus, “é a franco-maçonaria a redenção das massas populares, pelo combate à superstição, a maçonaria ensina a prudência, a justiça, a constância e a moderação. Quer a Liberdade, o triunfo e a vitória da razão, quer a era da fraternidade, e para isso, quebra as algemas que o despotismo prende ao pulso dos povos”.
A Maçonaria é a herdeira das formas iniciáticas, que desenvolvem o espírito e combatem o materialismo da vida, é a herdeira das antigas associações esotéricas e da maioria das associações secretas às quais a Humanidade deve grande parte de seu próprio patrimônio espiritual.
Se quisermos definir o fim da Maçonaria, através das suas múltiplas atuações, e pela análise da ação dos seus membros, nos mais diferentes países, e nas mais diversas épocas, chegaremos fatalmente à conclusão de que tende ela ao aperfeiçoamento humano.
Para tal é necessário e indispensável que os maçons pratiquem a verdadeira moral, ajam retamente com a palavra e, sobretudo e acima de tudo, demonstrem, através de suas obras e ações, o exemplo, pelo qual possa a Humanidade chegar àquele aperfeiçoamento, razão de ser de nossa Ordem e o escopo máximo de nosso trabalho.
Os Maçons que cumprem os deveres para consigo mesmo, para com a sociedade de quem fazem parte, entendendo perfeitamente este modo de agir, e com honestidade e sinceridade, permanecem fiéis a seus ideais, são os instrumentos, as ferramentas desse trabalho bom que a nossa Ordem soube exercer no passado e não pode fugir de cumprir no presente.
Mas para ser Maçom, não basta apenas o exercício honesto das mais elevadas virtudes, não basta ter olhos, ouvidos e coração atentos aos gritos, às dores e às injustiças humanas, se ele não atua direta e eficazmente, num verdadeiro trabalho de apostolado pela regeneração de seus semelhantes, pelo triunfo da Justiça.
Existe, assim, para todos os Maçons, o dever de uma atividade, onde sejam empregadas todas as suas forças, onde sejam servidos conscienciosamente os nossos princípios, atividade que envolve, para que sejam alcançados os fins a que nos propomos, uma alta compreensão política da época em que se vive.
AÇÃO POLÍTICA
Se é verdade que a Maçonaria não pode ter uma atividade política própria, de vez que não é ela uma organização política homogênea, pois acolhe em seu seio homens de todos os partidos – desde que estes não tendam à usurpação e ao despotismo – tem ela o direito e o dever de valer-se da atividade política dos que a ela pertencem, e que não podem, de maneira alguma, subtrair-se à obrigação de dedicar toda a sua atividade, em função dos princípios da Ordem, a que de espontânea vontade, ligaram-se pelos sagrados vínculos do seu juramento.
Dessa forma poderá a Ordem formar, em todas as atividades da sociedade profana, um grande corpo de ação política uniforme, onde a influência dos princípios maçônicos se faça sentir, como sentimos a ação do vento; percebemos sua força e os seus efeitos; ouvimos a sua voz e o seu clamor. Não sabemos, porém, de onde ele vem, nem sabemos para onde ele vai.
Tal foi o modo pelo qual agiu nossa Ordem nos grandes movimentos sociais e políticos da Humanidade. A Revolução Francesa, preparada na obra dos enciclopedistas, desenvolvida nas lojas maçônicas, eclodiu nos parlamentos, nos salões literários, e foi para a praça pública, derrubando séculos de regime absolutista, na palavra incandescente dos Mirabeau, dos Marat, no espírito ágil de Voltaire e no pensamento de Rosseau. O Ressurgimento Italiano viveu nas “vendas” da Jovem Itália, no pensamento fecundo de Mazzini, na ação política de Cavour e na bravura de Garibaldi, e coroou-se na conquista liberal de 20 de Setembro de 1870. A Independência Americana firmou-se na tenacidade de Washington, na clarividência de Franklin, na glória de um Lafayette.
Delineados e discutidos no seio das Lojas Maçônicas, foram vitoriosos, os planos de ação política de larga envergadura, que partiram os grilhões que acorrentavam a Humanidade, transformando-se em acontecimentos memoráveis da História Universal, nos quais nem sempre os verdadeiros inspiradores e autores – os Maçons que não abdicaram do direito de servir a sociedade em que viviam, cumprindo o dever de sacrificar-se pelo aperfeiçoamento do homem de sua época – vieram a figurar nos galarins da fama. Satisfizeram-se com o sentimento do dever cumprido.
A História de nossa Pátria é um exemplo vivo da ação política dos Maçons, na conquista, degrau à degrau, do aperfeiçoamento humano de nossa gente, e da feitura da organização do governo do nosso povo, dentro dos princípios da liberdade e da razão.
Desde a idéia da Independência, carinhosamente alentada pelos Maçons, no trabalho de José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa, Clemente Pereira, Martim Francisco, Antônio Carlos, a Consolidação do Regime com Feijó e Caxias, a Abolição com Luiz Gama, Nabuco, Visconde do Rio Branco, Souza Dantas, José do Patrocínio, Quintino Bocaiúva, João Alfredo, Rui Barbosa, Campos Salles, João Cordeiro, a República e a Separação da Igreja e do Estado, com Saldanha Marinho, Glicério, Quintino, Deodoro, Prudente de Morais, Rangel Pestana, Lauro Sodré, os Maçons tem sido os grandes construtores da grandeza do Brasil!
Cabe a nós continuar o trabalho magnífico de passado tão cheio, de vivos exemplos, de dedicação à causa da Humanidade.
Não podemos ficar, como varas mortas encostadas às colunas de nossos Templos, que já viram florescer magnificamente tantos ramos de acácia, e entre cujas paredes ecoaram com tanto brilho, de oriente a ocidente e de norte a sul, as discussões dos problemas de outros tempos, e a cujas abóbadas subiram as palavras de fé e confiança da decisão de realizar, por parte dos Maçons que nos antecederam.
Cumprir ação política não significa, necessariamente, aderir a partidos políticos, ou disputar cargos eleitorais, mas sim, valer-se dos múltiplos recursos de cada Maçom, para fazer efetivo o combate aos erros que infelicitam nossa época, proporcionando por todos os meios ao nosso alcance, uma era melhor e mais justa.
Não compete à Maçonaria a pequena política das combinações eleitorais, mas sim, a verdadeira e grande política, que consiste no estudo sereno e imune de preconceitos, dos maiores problemas nacionais, para o que é imprescindível que nossa gloriosa Instituição, em honra de sua tradição, estude e apresente as soluções mais dignas e mais conformes com o ideal maçônico.
Entretanto, para que tais problemas possam vir a ser considerados dentro das nossas Lojas, necessário é que seus componentes tenham uma compreensão exata dos princípios maçônicos, a fim de que sem paixão e dentro do espírito de fraternidade que nos une, sejam esses problemas estudados à luz de nossos princípios, num exemplo sereno dos fatos, cuja solução será então aplicada no âmbito de nossas famílias, nas conversações entre amigos e conhecidos, na escola, nos clubes, na administração privada ou pública de que os Maçons eventualmente façam parte.
PLANEJAMENTO GERAL
Para que a obra seja completa, deve ela obedecer a um planejamento geral, que do alto da pirâmide maçônica desça à compreensão da grande massa que sustenta essa pirâmide, e que deve estar representada pela união e entrosamento perfeito de todas as Lojas, que abrigam dentro de si a totalidade do povo maçônico, por assim dizer, a totalidade dos soldados que hão de executar e defender tal planejamento.
Encontramo-nos ultimamente muito distanciados uns dos outros, enclausurados muitas vezes dentro de nossas Lojas, que não tem entre si o necessário contacto. Estamos insulados.
A distância aumenta entre nós, muitas vezes, pelas críticas que nos fazemos uns aos outros, sem cuidar de, ao contrário, nos tornarmos um estímulo de trabalho, de estudo e de dedicação para com os nossos Irmãos.
UNIÃO PELO IDEAL
Não nos temos unidos pelo ideal, e cumpre dizer, que ao nosso ideal não nos temos dedicado, razão pela qual o desânimo tem se apossado de muitos, e a desilusão tem feito perder a todo o instante, companheiros de trabalho.
Esquecendo-se de que a solução de tão grave situação interna deve forçosamente, ser encontrada na própria estrutura tradicional de nossa Ordem, muitos tem procurado subverter essa estrutura, fugindo ao sistema de trabalho maçônico, profanando a Instituição, num esforço inútil de torná-la prestigiosa, através de fórmulas falsas e de críticas inúteis a quem acima de tudo, deveríamos prestigiar, para não ferir a disciplina e hierarquia estruturais da Ordem, únicas garantias do sucesso de nossa vida maçônica.
Enquanto nos debatemos em lutas internas, que tem encontrado férteis campos de ação, desde nossas Lojas até as altas câmaras da Maçonaria, esquecemo-nos do desenvolvimento moral e intelectual de cada um de nós, a fim de o oferecermos como holocausto, numa despersonalização elevada, ao alto fim do aperfeiçoamento humano, que a nossa Instituição leva por estandarte.
DEVERES E NÃO DIREITOS
Em lugar de fugir às lutas que os maus maçons a todo o instante promovem, enfraquecendo a nossa Ordem, com base em direitos – o que para os Verdadeiros Maçons não existe – tomamos erroneamente o partido destes ou daqueles e fazemos dessa luta a razão de ser de nossa passagem pela Instituição.
A nós Maçons cabe unicamente o cumprimento dos deveres, que se resumem na preparação de uma ação conjunta de todos quantos foram verdadeiramente iniciados, a fim de fazer sentir que a Maçonaria Brasileira está presente na época atual, lutando pelo aperfeiçoamento humano de nossa sociedade.
DEFESA DA DEMOCRACIA
Debate-se o mundo profano na busca de soluções políticas e sociais, para problemas graves, que vem infelicitando a Nação. Os mais variados partidos – se partidos podemos chamar os conglomerados eleitorais, que sob esse nome existem em nossa Pátria – tem, pela ação desordenada, estudadamente confusa e egoísta de seus membros, desacreditado o regime constitucional democrático, que foi fruto do esforço denodado e da atuação patriótica daqueles que, em outras épocas, viveram em nossos Templos.
Através dessa confusão, firmam posições no âmbito político de nossa terra, tradicionais inimigos da Ordem, cuja seara maldita colhem na ignorância do povo. Desacreditado o regime democrático, pela falta de moral e de sinceridade dos homens públicos, abre-se o campo livre à ação dos demagogos, que fatalmente levarão a Nação ao despotismo e à tirania.
A Ordem Maçônica antiga e tradicional muralha contra a tirania e a usurpação, será, estamos certos, dentro de breve tempo, como sempre sucedeu no passado, combatida inexoravelmente pelos seus inimigos, que procurarão ter o campo livre, para a escravização do povo, que agora cinicamente cortejam, através de falsos líderes.
As soluções que se oferecem a todo o instante, e as promessas que se fazem às vésperas dos pleitos eleitorais, escondem a realidade da intenção dos que prometem, iludindo a confiança da grande massa que neles acredita.
E tão real é essa verdade que as organizações da direita, apoiadas pelo clericalismo, apodam os Maçons de extremistas da esquerda, enquanto os adeptos deste extremismo, propagam a todos os cantos ser a Maçonaria o baluarte do reacionarismo. Uns e outros, mal intencionados, pretendem o domínio geral pela ignorância ou pelo engano das massas populares.
RENASCIMENTO ESPIRITUAL
Nós, que pelo conhecimento e estudo dos princípios maçônicos realizados através de longos anos, dentro de nossos Templos, temos certo que a solução dos problemas sociais se encontra na maior das revoluções que se possam realizar entre os povos – como seja o renascimento dos espíritos, dentro de uma moral sadia, em que cada um cumpra os seus deveres para com Deus, para com a sociedade e para consigo mesmo – teremos de lutar pela solução justa desses problemas sociais, e pela vitória sobre os inimigos da razão e da justiça, por intermédio de um esclarecimento constante do meio ambiente em que vivemos e do exemplo dignificante que devemos dar a todos que nos cercam.
Onde há o suborno não pode haver um Verdadeiro Maçom. Onde campeia a imoralidade, não pode haver um Verdadeiro Maçom. Onde existem os favores fáceis, em detrimento do que é justo, não pode haver um Verdadeiro Maçom.
Todas essas desgraças sociais, entretanto, medram e se desenvolvem à sombra da pregação dos direitos universais, com o esquecimento completo da educação das massas, na escola dos deveres.
A LIÇÃO DE MAZZINI
Mazzini, o grande Maçom, apóstolo dos humildes, filósofo da unificação italiana, lutando pela reivindicação dos trabalhadores de sua pátria, bem compreendeu esses problemas, quando procurando preparar o seu povo, advertiu-o de que a única maneira de fazer vitoriosos os direitos dos homens, seria a compreensão exata e o cumprimento preciso dos deveres que cada um de nós tem para com Deus, para com a Humanidade e para consigo mesmo.
É esse exatamente o problema, o grande problema político da Nação Brasileira.
Envenenada a população de nossa terra com a campanha demagógica de falsos líderes populares, esqueceu-se ela completamente de seus deveres, permitindo, assim, que os direitos dos homens se reduzissem a nada, campeando, então, a irresponsabilidade entre governantes e governados.
Pregar entre nossa gente a responsabilidade dos deveres de cada um seria a grande e nobre missão de nossa Ordem. Combater a ignorância e a ilusão de nosso povo, que vem acreditando nos falsos profetas, que se escondem em peles de cordeiro, seria a oportuna campanha de todos os Maçons.
Aos Maçons cabe nunca descrer da força da fé na ação maçônica, e da vitória do exemplo virtuoso de cada um, no mundo conturbado em que vivemos.
A EDUCAÇÃO DA MOCIDADE
Quem acompanhar o trabalho desenvolvido, já há longos anos, pela Igreja Católica no Brasil, verá o quanto cuidou esta organização, no campo educacional. Inicialmente, espalhando escolas por todos recantos do país, destinadas à educação da mocidade em seu curso secundário. E alcançou tal prestígio que passou a ser quase uma necessidade para as famílias brasileiras enviar seus filhos aos ginásios e colégios jesuítas, onde uma orientação sectária foi imprimida a essa mesma mocidade, preparando-a, assim, para a ação política, que hoje vem exercendo nas esferas políticas e administrativas da Nação. Não satisfeita com isso, a Igreja amplia o seu campo de ação, criando nos tempos de hoje, uma universidade onde essa educação sectária é completada para o mais amplo sucesso de seus desígnios.
Sabemos perfeitamente o quanto representa para a vida do País a educação de sua mocidade, a preparação de seu futuro. Só os cegos da inteligência não vêem.
Enquanto, de um lado, os mais favorecidos da sorte, têm oportunidade de se educarem nessas escolas, os desprotegidos, quando não são colhidos pelas inúmeras congregações marianas, que proliferam em cada bairro, enclausurando seus espíritos dentro dos dogmas obscurantistas, são envolvidos pela franca campanha de dissolução moral e de envenenamento dos espíritos, que organizações políticas extremistas desenvolvem em busca de adeptos incapazes de refutar e combater as suas falsas doutrinas.
A nossa Ordem não poderia descuidar, e nem deve, de maneira alguma, esquecer a grande responsabilidade que lhe assiste no campo educacional de nossa mocidade.
E ao falar em educação, não queremos nos ater unicamente a simples campanha de alfabetização, a qual jamais poderá completar uma educação perfeita e sã, ensejando a utilização dos alfabetizados, tão simplesmente, pelo aliciamento que uma má literatura vem fazendo entre os espíritos mal preparados.
Deveria ser preocupação de nossa Ordem preparar escolas para receber a mocidade brasileira, exatamente na idade em que os espíritos se formam, ou seja, na idade ginasial. E ideal seria, tivéssemos a capacidade necessária de conduzir essa mocidade na formação completa de seu espírito dentro de nossos princípios, através de uma universidade orientada por Maçons.
Programa tão magnífico, que poderá parecer utopia aos Irmãos que nos ouvem, tornar-se-ia, evidentemente obra fácil, se à maneira de nossos adversários, dedicássemos nosso esforço, não em lutas estéreis entre nós mesmos, mas numa união sincera, e numa solidariedade franca e leal de todos os Maçons e Lojas, em torno de tão belo ideal.
E se desejamos ver a Ordem verdadeiramente atuar, dentro da sociedade em que vivemos, no encaminhamento do aperfeiçoamento humano, é para a educação da mocidade que nos devemos voltar.
Palavras de desânimo sobre a atuação de nossa Ordem, temos visto a todo instante, porque tem faltado aos Maçons a fé nos seus princípios e na sua capacidade de realização.
A FORÇA DA IMPRENSA
Ainda no campo da educação, não podemos desconhecer a força prodigiosa da imprensa, para a qual deveríamos também nos voltar através do preparo de jornalistas capazes de defender, pela pena, nossos ideais e o próprio regime democrático.
Foi o jornalismo a alavanca que impulsionou as lutas que nossos Irmãos, no passado, mantiveram contra a intolerância. E a imprensa brasileira teve o seu albor quando nela militaram aqueles que se encontravam imbuídos dos nossos ideais entre os quais, não poderemos deixar de destacar Gonçalves Ledo, os Andradas, Luiz Gama, Januário da Cunha Barbosa, Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa.
Não se deve dizer que nos faltam os elementos, desde que unidos, procuremos realizar nossa obra, concretizando-a através das únicas soluções viáveis, que deverão ser a razão de nosso militar constante dentro dos Templos.
SOMAR ESFORÇOS
No campo social a ação maçônica poderá ser mais ampla e perfeita se as Lojas obedecessem a um plano comum, uniforme e comandado de cima, de tal forma que, pelo esforço reunido de todos, se realize obra de real repercussão, que atenda a solução dos infelizes de toda sorte, que devem receber de nós a manifestação da tão decantada solidariedade maçônica.
Em lugar de dividir os esforços, de Loja a Loja, realizando pequenas obras – quanto a repercussão social que elas atingem – poderíamos somando os esforços de todas, realizar através da obra assistencial maçônica, grande campanha, não só no sentido de minoração do sofrimento dos infelizes, como também, e principalmente, da propagação de nossos princípios.
Todo este trabalho, realizado, seria instrumento extraordinário do aperfeiçoamento humano de nossa gente e da capacidade de ação de nossa Ordem, no sentido de conquistar pelos seus princípios o mundo social em que vivemos.
COMECEMOS POR NÓS
Para alcançar esses objetivos, entretanto, necessitaremos começar o trabalho dentro do nosso ambiente, educando a nós mesmos e nos aperfeiçoando, de tal forma que, pelo nosso exemplo e fé, possamos entusiasmar a tais realizações, os irmãos que conosco convivem.
A fraternidade deve ser um fato e a expressão “Irmãos”, uma realidade perene, que nos transforme numa família apartada da humanidade, educada nos nossos ideais e preparada para o nosso trabalho.
De nossos Templos deve ser afastada toda e qualquer profanização e os nossos rituais, rigorosamente cumpridos, devem nos transmitir, grau a grau, as magníficas lições que nos irão transformando em homens diferentes, mais esclarecidos, realmente – “poderosos irmãos”.
ENGANO DE MUITOS
Alguns há que, preocupados com a necessidade de ver a nossa Ordem repleta de homens de ação e valor, buscam entre aqueles que se tem destacado na vida profana, os futuros companheiros do nosso trabalho. Queremos crer que nada mais errado e contraproducente poderia ser realizado em torno deste nosso programa. Tais homens, regra geral, conquistaram suas posições por um trabalho que é exatamente a antítese do que deveria ser realizado dentro dos nossos princípios. E a prova está, que a despeito do prestígio e do poder que exercem no mundo profano, nada tem realizado de bom em favor do aperfeiçoamento humano que é o nosso objetivo. E quanto mais não bastasse, citaríamos o exemplo do Sábio Mestre, que para realizar a obra, a maior obra conseguida pelo espírito humano, no mundo, não procurou mais que doze humildes pescadores.
Esses humildes pescadores, entretanto, pela fé, pela dedicação completa à obra a que foram destinados, confundiram doutores em leis e sábios de seu tempo, por terem recebido o dom sublime de se embeberem de princípios eternos, compreenderem esses princípios, dedicando sua vida à propagação dos mesmos.
A grande mola propulsora da realização de tão grande trabalho, por tão humildes apóstolos, foi a despersonalização dos mesmos, a abdicação de suas vaidades, o esquecimento completo das vantagens materiais, que os levou a sacrifícios, até físicos, em defesa da idéia que pregavam. E se, entre os doze houve quem falhou, foi exatamente por ter traído sua fé, em busca de vantagens pessoais. Recebeu ele o desprezo de toda a Humanidade, sendo o seu nome símbolo de traição e covardia.
Nós, que juramos nos sacrificar por nossos ideais, sob graves penalidades, a que espontaneamente nos oferecemos, caso nos tornássemos perjuros, não podemos ser descrentes de nossa Ordem, nem do esforço daqueles que conosco juraram esse mesmo ideal.
Entre nós não tem guarida os fracos e insinceros. Esses são varas que não florescem, e como já dissemos, só o fogo lhes conhece a utilidade.
ENCAREMOS O FUTURO
Já é vezo, que de longa data se vem fazendo sentir em nosso meio, estagnarmos no presente admirando os Maçons do passado e glorificando suas obras, lamentando a incapacidade para as continuar e as completar em nossa época.
A Maçonaria, entretanto, exige continuidade de ação. A Maçonaria não pode parar pela fraqueza de alguns de seus membros. A nós cumpre realizar. Viver a atualidade brasileira, entendê-la e nela imprimir a nossa ação, para que a Maçonaria subsista e seja dada como herança mais gloriosa ainda, aos que nos devem suceder.
Desculpai-me, se pela manifestação da minha fé sincera em nossos princípios, trouxe à tona, problemas internos de nossa Ordem, que devem ser, no entanto, resolvidos para que se justifique a nossa passagem em nossos Templos, quando não, a nossa própria iniciação.
A DISCIPLINA
A organização maçônica tem a forma rígida dos exércitos, onde o respeito hierárquico pelos que se encontram com a responsabilidade do governo e da direção, deve ser mantido a todo custo. A disciplina é um dos instrumentos mais poderosos que deveremos utilizar, não só para o nosso aperfeiçoamento moral, como para a própria consecução do ideal maçônico. A estrutura de nossa Ordem deve ser solidificada com o lento aperfeiçoamento de nosso caráter e de nossa capacidade de realização, pois estamos certos, que os mais experientes e os mais capazes, que formam a cúpula maçônica, hão de nos encaminhar e dirigir, para que a Ordem cumpra no momento exato a sua finalidade na sociedade em que vive.
O CAMINHO A SEGUIR
Dentro dessa disciplina, permaneçamos fiéis a nossos ideais, com honestidade e sinceridade, intimamente unidos pelos laços da estima, confiança e amizade, estimando-nos reciprocamente uns aos outros, na prática das Virtudes, lutando pela redenção das massas populares, pelo combate a superstição, através do exemplo, da nossa prudência, da nossa constância, da nossa fé, confiantes em que, pelo esforço dos homens de bem, a Liberdade, o triunfo e a vitória da Razão, trarão uma era de Fraternidade, onde se quebrem as algemas que o despotismo ou a ignorância prenderam ao pulso dos povos.
E que à semelhança do que sucedeu à Arão, dentre deste Templo, floresçam os nossos espíritos, produzindo flores, brotando renovos repletos de frutos, que nos façam capaz de guiar os nossos semelhantes no caminho do Bem e da Perfeição.
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(Cópia integral digitada pelo Ir.'. José Frederico Zanini e conferida com auxílio do Ir.'. Sílvio Carlos Labate, do texto original do opúsculo “A ATITUDE DA MAÇONARIA BRASILEIRA NA ÉPOCA ATUAL”, publicado em 1953 pela Livraria Editora Evolução e apresentado em 14/05/2001 na Loja “Lealdade e Justiça” n.º 2299 pelo Ir.'. Humberto Cordeiro de Oliveira).
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