OBEDIÊNCIA MAÇÔNICA: CONSELHO PROFISSIONAL OU SINDICATO?
Kennyi Ismail
Sendo a Maçonaria um sistema baseado em alegorias e símbolos, e referenciado no papel do trabalho, é comum a utilização no meio maçônico da imagem do maçom como um profissional. Tal método didático, embrionário da pedagogia desenvolvida e popularizada por Paulo Freire, ensina o homem com elementos próprios de seu meio. Talvez o exemplo mais conhecido do uso de tal didática seja o de Jesus, que usava o joio e o trigo, o pastor e seu rebanho, e tantos outros elementos comuns do cotidiano do povo judeu daquela época para transmitir seus ensinamentos.
Na Maçonaria Operativa isso era muito evidente: os maçons operativos utilizavam de suas ferramentas de trabalho e das atividades de ofício para transmitir ensinamentos morais e espirituais aos seus membros. E hoje, sendo a Maçonaria Especulativa formada por profissionais das mais diversas áreas de atuação, podemos aplicar o mesmo método didático para melhor entender a nossa Maçonaria.
Enxergando a Maçonaria como uma profissão específica, e os maçons como seus profissionais, o que seriam as Obediências? Seriam Conselhos Profissionais (ex.: CREA, CRM, CRA, CRC) ou Sindicatos? Para realizarmos tal avaliação, precisamos compreender a essência desses dois tipos de entidades.
Os Conselhos Profissionais são órgãos cujo objetivo é orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão. Trata-se de organização imposta ao profissional e que exerce autoridade sobre o mesmo. Já os Sindicatos são associações de profissionais de um mesmo ramo de atividade que se unem em defesa da categoria e de seus interesses comuns. Os Sindicatos nascem dos próprios membros, em prol deles e de seus trabalhos.
A Maçonaria, suas Lojas e Obediências, surgiu com a “essência sindical” de união, auxílio e voluntariedade. Porém, como Max Weber bem apregoou, a burocratização das instituições verticaliza e concentra o poder em detrimento de seus membros. E foi exatamente isso que aconteceu com a Maçonaria: com o tempo, as Lojas perderam autonomia para suas Obediências, as quais migraram de simples sindicatos “de maçons, pelos maçons e para os maçons” para verdadeiros conselhos de disciplina e fiscalização com forte autoridade sobre as Lojas e seus membros. Como último resquício da essência sindical nas Obediências, provavelmente um reflexo do aspecto fraternal de nossa Ordem, tem-se o “auxílio mútuo”, hoje restrito a fundos de beneficência e auxílios-funeral. Infelizmente, em muitas Obediências nem mesmo isso mais existe.
Para testar tal teoria, pode-se analisar o comportamento organizacional das três vertentes maçônicas regulares de âmbito nacional: GOB, CMSB e COMAB. Conselhos Profissionais têm por princípio a unidade (no sentido de ser único, de existir apenas um), enquanto que Sindicatos têm por princípio a união. Isso torna os Conselhos Profissionais corporativistas em contraposição à postura convergente dos Sindicatos. E como essas três vertentes se comportam? Apesar do desejo de boa parte dos irmãos e de alguns esforços regionais pela união, temos ciência de que as cúpulas nacionais dessas três vertentes nunca sentam na mesma mesa para dialogar ações conjuntas em busca de um benefício comum. Logo, conclui-se que o corporativismo maçônico fiscalizador se sobrepõe à coletividade maçônica original das Obediências.
Caberá aos futuros líderes e dirigentes da Maçonaria brasileira devolvê-la um pouco de sua essência sindical. Quando isso acontecer, a consequência natural será o surgimento de uma espécie do que poderemos chamar de “CUT Maçônica”, que defenderá os interesses de todos os maçons e suas Lojas, sem distinção. Daí quem sabe não voltaremos a eleger um líder sindical, mas dessa vez do “sindicalismo maçônico”, como Presidente da República? Afinal de contas, a história do país tem sido favorável a maçons e sindicalistas: 09 maçons e 01 líder sindical foram Presidentes do Brasil.
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