FERRAMENTAS DO APRENDIZ
(republicação)
O Respeitável Irmão Francisco José Sinke Pimpão, Segundo Vigilante da Loja Ambrósio Peters, 4.101, Trabalho de Emulação, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná apresenta a seguinte questão: http://pimpaofjs.blog.uol.com.br
Estou 2º Vigilante da Loja Ambrósio Peters, 4101 (Emulation) e envolvido com os Aprendizes (só Aprendizes) num trabalho para o próximo ERAC. Estou também na Loja União 33, há dois anos. Fui iniciado na Loja os Templários (Emulation Ritual).
Dúvida: Quais as ferramentas de trabalho de um aprendiz no REAA? Pela lógica (apesar de não estar escrito no Ritual do 1º Grau, nem nos Procedimentos Ritualísticos), o Maço e o Cinzel seriam as ferramentas do Aprendiz. Contudo, no Ritual do 2º Grau, durante a Sessão Magna de Elevação, o Venerável Mestre, nas viagens, pede ao Experto para colocar na mão do Aprendiz (que está indo para Companheiro) o Maço, o Cinzel, o Compasso, a Régua de 24 polegadas, o Esquadro e a Alavanca, afirmando que tais ferramentas foram usadas pelo Aprendiz nos cinco anos (...) etc., donde se concluí que todas as cinco ferramentas são ferramentas do Aprendiz. Isso é verdade? Se for verdade, como apresentar isso no ERAC, partindo do pressuposto que na Loja Ambrósio Peters só há Aprendizes, os quais não tem acesso aos Rituais do Grau 2?
Antes das considerações propriamente ditas, há que se considerar que existem diferenças entre os sistemas doutrinários maçônicos nas suas duas vertentes principais – a inglesa e a francesa. O Trabalho de Emulação se coaduna com a raiz inglesa, enquanto que o Rito Escocês Antigo e Aceito com a genealogia francesa. É bem verdade que o objetivo é único, porém costumes, cultura, condições políticas e sociais da época acabariam por influenciar o especulativo maçônico entre os Séculos XVIII e XIX.
Sob essa óptica, no caso da questão suscitada, as ferramentas simbólicas dos Aprendizes na Moderna Maçonaria entre as duas vertentes não são completamente iguais pelo próprio sistema doutrinário, posto que no Trabalho de Emulação, além do Maço e o Cinzel (comum nos dois sistemas), também se apresenta a Régua de 24 Polegadas, enquanto que no Rito Escocês não aparece a Régua.
Na alegoria do Aprendiz, comumente inserida nos rituais usados na França, por extensão no Brasil, o Aprendiz aparece classicamente ajoelhado fazendo uso do Maço e do Cinzel. Da mesma forma, no Painel do Primeiro Grau também não aparece a Régua. Só por esse exemplo pode-se notar a diferença entre os dois sistemas, cujos trabalhos ingleses acrescentam nas instruções o manuseio da Régua desde o primeiro grau simbólico e ainda levando-se em conta que a Tábua de Delinear inglesa é bem diferente dos Painéis da Loja franceses(1).
Dadas essas ponderações, vamos à questão propriamente dita:
Durante a Elevação no Rito Escocês Antigo e Aceito a referência é feita aos antigos costumes operativos quando não existiam “graus”, porém “classes” de trabalhadores que eram sabidamente apenas duas; a dos “Rough Masons” e a dos “Stone Masons”. Distinguindo, uma era da classe daqueles que apenas cortavam a pedra, enquanto que a outra cortava e assentava a pedra – a segunda era uma classe mais aprimorada e dela resultariam os Companheiros de Ofício (Fellow Craft) sendo que normalmente desses eram escolhidos aqueles que seriam os Mestres das Lojas(2) (canteiros).
Essas duas antigas classes são rememoradas com as suas ferramentas de trabalho durante a cerimônia, não especificamente como os utensílios de um grau da Hodierna Maçonaria, porém àquelas usadas no aperfeiçoamento do trabalho. Obviamente que nos canteiros operativos o aperfeiçoamento de ofício das classes de Aprendizes, também conhecidos como “juniores” e “sêniores” lançava mão no refinamento da profissão de outras ferramentas, além daquelas usadas na primeira fase – o Maço e o Cinzel, ou Escopro. Então a referência feita aos cinco anos de aprimoramento no ritual durante a cerimônia de Elevação, possui elo direto com essa progressão profissional entre os Aprendizes na época em que a construção era real e não abstrata como hoje a conhecemos. Faz-se cogente compreender a diferença entre o antigo e o moderno, ou operativo e especulativo.
Nesse relicário cultural maçônico, o Maço e o Cinzel eram então as duas primeiras ferramentas de ofício que posteriormente, de acordo com a evolução, juntavam-se a elas outras mais. Daí, conforme o sistema, ou vertente maçônica, uma optou apenas pelo maço e o cinzel, enquanto que a outra acrescentou ainda a régua no atual Grau de Aprendiz. Em resumo, conforme o aperfeiçoamento do Obreiro que durava aproximadamente cinco anos a ele era oferecido e ensinado o uso de outras ferramentas também não menos importantes.
Durante a Elevação no Rito Escocês Antigo e Aceito, esses ciclos são revividos através das cinco viagens pelo ainda Aprendiz moderno, todavia não se há de olvidar que as duas primeiras classes eram únicas e tão somente de Aprendizes, havendo entre eles a diferença de experiência. Aliás, isso pode ser visto no puro Trabalho de Emulação quando o Aprendiz recém-iniciado mantém a sua abeta levantada, enquanto que os mais antigos usam o avental com a abeta abaixada.
Outro aspecto importante no Rito Escocês e que tem passado bastante despercebido nas instruções é que o Aprendiz aspirante ao Segundo Grau entra no Templo ainda de ombro esquerdo desnudo, todavia calçado tendo apoiado no ombro uma Régua sem graduação. Essa alegoria não representa propriamente uma ferramenta operativa, todavia a inexistência da graduação traz dela a interpretação de ainda haver necessidade de instrução, dado que sem a graduação ela, a Régua, indica essa deficiência. A preparação das ferramentas (note a resposta do Experto antes do ingresso do aspirante) é o vestígio provável para a aquisição desse esclarecimento. Na medida em que o Canteiro estiver mais bem iluminado(3), é notório o aparecimento do referido discernimento. Não há como se esquecer de que o aspirante ao Segundo Grau conduz a régua sem graduação da Loja de Aprendiz, pois assim que ele ingressar na Loja preparada para o Segundo Grau (iluminada por mais Luzes) como personagem das viagens de destino ao Sul (para a perpendicular ao nível(4)), a régua sem graduação é sumariamente descartada e substituída no momento oportuno pela Régua de 24 Polegadas.
Como epílogo fica a seguinte ratificação: No Rito Escocês, os instrumentos utilizados durante a cerimônia de Elevação, além do Maço e do Cinzel, são hauridos da antiga tradição das “classes de trabalhadores” no Ofício quando não existiam graus na Maçonaria.
Com o advento dos ritos e os seus respectivos graus simbólicos, houve-se por bem fazer uma divisão nessa caixa de ferramentas (conforme a doutrina) – para os latinos apenas o Maço e o Cinzel, enquanto que para os anglosaxônicos, em linhas gerais, acrescentou-se também a Régua de 24 Polegadas. Já as demais ferramentas são referências à tradição na confirmação do aumento de salário, e posterior uso no Grau de Companheiro da Moderna Maçonaria.
Notas
(1) Infelizmente no Brasil algumas Obediências misturaram os Painéis talvez por mero desconhecimento. Como não bastasse a miscelânea pelo uso dos dois Painéis acabaram por dar até um título ao excedente, o que é chamado de Painel Alegórico. Na verdade não existe painel alegórico, senão o equívoco de acrescentar o Rito Escocês um segundo painel que é de origem inglesa – a Tábua de Delinear. A alegoria simbólica dos seus conteúdos é completamente diferentes, o que dá uma falsa interpretação no arcabouço doutrinário do Rito – o que tem a Escada é o inglês, portanto não faz parte do mobiliário de uma Loja do Rito Escocês.
(2) Mestre da Loja não pode ser confundido com o atual Grau de Mestre que só apareceria já na Moderna Maçonaria no ano de 1724.
(3) Essa iluminação é referida às Luzes acesas sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e mesas dos Vigilantes, portanto são Luzes litúrgicas que nada tem a ver com as iluminações de teto para clarear o ambiente. As Luzes litúrgicas são acesas conforme a evolução do Obreiro. Daí começarem com três na Loja de Aprendiz e se alterando até o Grau de Mestre. No Rito Escocês originalmente só existem Luzes litúrgicas que acompanham as Luzes da Loja (Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes). Luzes acesas junto ao Livro da Lei, a tal Chama Votiva, etc., são simplesmente o mais puro “enxerto” no Rito em questão.
(4) Para a perpendicular ao Nível – uma linha perpendicular a uma superfície nivelada é o prumo. Daí o Obreiro passa para a perpendicular ao nível e nunca da perpendicular ao nível (termo equivocado comumente usado em diversos rituais e instruções).
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 674 Florianópolis(SC) – 1º de julho de 2012
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