VINGANÇA OCULTA
Ir∴Eugênio Carlos Evangelista Vieira – M∴M∴
A∴R∴L∴S∴ Lealdade, Ação e Vigilância N° 39 – G∴O∴S∴C∴ - Or∴ São José - SC
No questionamento proposto como tema para este trabalho, acredito que sob a ótica maçônica (pois este deve ser o foco de nosso esforço), nossa atitude frente a estes fatos deve ser de equilíbrio e conhecimento (esclarecimento). Equilíbrio para que não incorramos em argumentos passionais que, sob a interpretação de manifestação ideológica, nada adicione ao debate. A análise ponderada sob a ótica maçônica deve, ao meu juízo, considerar todos os aspectos envolvidos (éticos, morais, políticos, ideológicos, econômicos, sociais, culturais, religiosos, etc.) para a construção de uma alternativa em vez da sectarização. ”Permanece com mesma calma e simples dignidade perante todos os governos, independente de qualquer seita ou credo”. Nas cores que decoram o templo lembramos do zelo, fervor, paixão(vermelho) e a paz, serenidade, candura, inocência, pureza ou a síntese de todas as virtudes(branco). A tentativa de vencer por argumentos deve ser substituída pela tentativa de convencer, “pois a crítica deve ser sempre, construtiva e para demonstra que é verdadeira, a ação da crítica não deve dar lugar a qualquer censura”. Quanto ao conhecimento, que é o resultado da soma de informações (podendo ser elas históricas, científicas ou filosóficas, entre outras) com a dos demais maçons, para que possam irradiar e contagiar os indivíduos que nos cercam, ou convivem, nos diversos papeis em que atuamos. “Que as lógicas deduções morais sirvam para os vossos empreendimentos na vida...”. “Eis o segredo (da Maçonaria) de seu poder, pois ficou imutável: ENCONTRAR A VERDADE”.
Como força uníssona e atuante, nossa Ordem tem obrigações com seus princípios (“Recomenda a divulgação dos seus ideais pelo exemplo e por todos os meios de comunicação do pensamento...”- XI Princípio Geral da Maçonaria) e a responsabilidade social e coerência com sua origem histórica.
Em resumo, nossa avaliação como maçom deve obrigar-nos a ponderar os fatos de nosso cotidiano através da “lente dos valores maçônicos” e construir alternativas.
Com relação às instruções Maçônicas, um aspecto que despertou minha atenção, foi a introdução do elemento “vingança” no processo de ensinamento e que aparece também e muitos outros graus do escosismo. Dissonante dos valores de nossa ordem, este tema é por si só polêmico. Abordado de maneira equivocada, já que é considerado pecado pela igreja e “um sentimento de paixão, de baixeza moral, não devendo encontrar apoio entre os maçons”. A vingança “pecado que consiste em infligir ou desejar infligir um castigo além do que é justo ou infligi-lo mais por antipatia do que por justiça”, mesmo que seja “lícito castigar um malfeitor, contato que se tenha autoridade para isso”. Isto pode explicar a distorção na interpretação da “Lei de Talião” em seu “olho por olho, dente por dente”, que passou a ser sinônimo de vingança em vez de “aplicação ao delinqüente do mesmo dano que causou a outrem”. Não seria diferente as avaliarmos do ponto de vista do direito canônico (Cânon 2205) a legítima defesa que “... sempre que se guarde a devida moderação, escusa por completo de todo o delito, de outra sorte só diminuem a imputabilidade, como diminuem também o haver sido provocado”. ”Êxodo 22:2 “ se um ladrão for achado arrombando a porta duma casa, ou escavando a parede para entrar, e sendo ferido, morreu da ferida; aquele que o feriu, não será culpado da morte”.
Interessante saber que a palavra “cânon”, de origem grega, tem o significado de bastão ou vara, de onde veio o significado da palavra régua ou padrão de medida, instrumento de trabalho dos maçons. Cânon também quer dizer de origem divina.
O Escocismo tem mensagens como “consagrado ao zelo virtuoso, ao talento esclarecido que, por exemplos e generosos esforços, vingam (grifo meu) a verdade e a virtude contra o erro e o vício”.
Outro aspecto interessante é destacar que algumas leis penais são também leis morais, isto é, “sua violação é também um pecado”, por exemplo, as contra o assassínio e o roubo. Outras violações são “meramente penais”, i.e. sua violação não constitui pecado e, o que a violar, “será apenas obrigado a sofrer pena imposta aos desobedientes, mas não tem sua consciência manchada diante de Deus”, por exemplo, as leis que regulamentam o tráfico e a caça. Para a igreja católica a “Lei Natural é aquela que foi colocada por Deus nos corações dos homens em contraposição (grifo meu) à lei positiva que ditada pela legislação humana”. Para a Maçonaria na lei moral que orienta nossa Ordem (Antigos Preceitos, 1722), “o maçom está obrigado por sua própria conveniência a obedecer à lei moral”. Neste caso a lei moral não esta limitada ao decálogo de Moises (10 mandamentos - pecados), mas a lei natural que, para o maçom, é “a vontade de Deus relacionada com as ações humanas, estabelecidas sob as diferenças morais das coisas e por isso mesmo manifestas pela luz natural, obrigatórias a toda humanidade (Grove, vol. 2, pág.122 - Londres 1749). É a declarada a “lei da Maçonaria”, por que não poderia existir uma lei que não fosse universal, como é universal nossa instituição.
“Existe uma virtude que desapareceu completamente da vida moderna. É o zelo pela vingança. Em que consiste? Em punir os erros dos que estão subordinados a nós, dando-lhes um castigo correspondente à gravidade do erro. Com este castigo, a pessoa que errou torna-se capaz de reparar o mal que fez. Por isso, a vingança é uma ótima virtude, pois ajuda aos outros a se corrigirem. Quando um pai não corrige seu filho, ele está alimentando o vício na alma do filho.”
O que é tratado como vingança (pecado) passa ser tratado como justiça. Caso contrário, que sentido faria “maçons alerta, tende firmeza; Vingai direitos da natureza”. “A vingança sem um poder legítimo é criminosa”. Desta forma, está subentendido que existe sim uma vingança justa.
Mesmo explicitado seu uso no sentido figurado, o elemento da vingança para “degolar os vícios internos e não arma de vingança, não podendo ser ou realizar o instrumento da vingança”. Mesmo assim, meu entender é que tanto para consigo como para com outrem, devemos ser “juizes permanentes”, mas também sabendo dosar a medida de justiça evitando a radicalização (também pessoal) que, muito comum nas religiões, beira o extremismo cego e intolerante. Justiçar o assassino “deve ser feito com equilíbrio, pois a justiça é o perfeito equilíbrio divino”. “Se os seus sentimentos de bondade e caridade, honra e justiça não são ainda apenas hipóteses de uma criatura oportunista, vingativa e bajuladora que está apenas buscando ocasião para extravasar seus instintos persistentes!”
Todos os autores pesquisados utilizam este elemento para, logo em seguida, justificar com reservas seu uso.
Se os autores afirmam que o tema é a justiça e expressamente afirmam que “jamais significa vingança”. Podem-se depreender dois aspectos. Primeiro deles é a tênue linha que separa o que é justo do que não o é, impondo ao aplicador da justiça uma medida precisa, quase divina (ou divina). Em Mateus 5:17, Jesus diz ”não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas. Não vim destruí-los, mas dar-lhe cumprimento”. Esta lei, a que se refere a bíblia, trata-se da “interpretação” de Jesus da lei judaica que “traduzia” os preceitos daqueles que não trabalhavam somente na forma, mas principalmente no conteúdo, “de sorte que sirvamos como novo espírito e não na velhice da letra”.(Epístola aos Romanos 7,1-6).
Qual seria a diferença da execução de um criminoso por um Rei ou por um de seus servos? Não seria o destino do criminoso o mesmo? O desfecho sem o início e o meio seria uma obra desfigurada e inacabada. A luz de nossos valores (maçônicos), o julgamento “imparcial” (qual o é?), controlado, corajoso “em defender a verdade”, submetido à inteligência, utilizando a razão e servindo como método educacional, é a vingança revelada em seu contorno de correção, conformidade (ao todo), castigo e punição.
O Maçom como vingador que buscam “encontrar e vencer os assassinos que estão em nós (somente em nós?), aqueles que matam as virtudes”, mas também “são os maçons preparados para se oporem aos programas sociais imbuídos de filosofia materialista”, fazendo com “que a verdade seja proclamada, sempre em qualquer tempo, sem preocupação de conseqüências”.
Sim! Um vingador! Para nossa cultura e história atuais é realmente muito difícil entender todos os elementos que compõem as mensagens maçônicas cujos elementos e princípios elevados mesclam-se com a necessidade de simplicidade no agir.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Dicionário Ilustrado de Maçonaria - Sebastião Dobel dos Santos
2 – Dicionário prático de cultura católica, bíblica e geral - Edição Barsa 1965
3 – Enciclopedia de La Francomasoneria - A. Gallantin Mackey
4 – Os 33 graus do R∴E∴A∴A∴ - Mário Leal Bacelar
5 – Instruções para Loja de Perfeição - Nicola Aslan
6 – Comentários dos graus inefáveis do R∴E∴A∴A∴ - Denizart Silveira de Oliveira Filho
7 – Comentários sobre moral e dogma - Henry C. Clausen
8 - R∴E∴A∴A∴ 1º ao 33º - Rizzardo da Camino
9 – A Maçonaria e o livro sagrado - Zilmar de Paula Barros
10 - A MAÇONARIA E O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO “Aspectos Morais e Filosóficos” - Ir∴ Geraldo Morgado Fagundes (Gr∴ 33)
11- Virtudes morais anexas à Prudência
http://www.capela.org.br/Catecismo/anexas.htm
http://www.freemasons-freemasonry.com/arnaldoG_JeD.html
http://www.estrelacaldense.org.br/esc.htm
Fonte: JBNews - Informativo nº 153 - 27/01/2011
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