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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 13 de agosto de 2019

O ADOGMATISMO ILUMINISTA NO RITO MODERNO

INTRODUÇÃO

Havia uma crise de identidade na maçonaria francesa na década de 1760. A Grande Loja de Londres era, ainda, a potência maçônica oficial em solo francês. E essa falta de voz incomodava os franceses que já tinham em seus corações os ideais que desencadeariam a Revolução Francesa e a democracia. Além disso, o surgimento cada vez mais desordenado de altos graus havia transformado a maçonaria em um comércio: muitos se utilizavam dela para fabricar e vender aventais e jóias. Em virtude disso, o dogma e o misticismo estavam cada vez mais presentes na ordem, pois já não havia razão em muitos dos graus criados e era preciso “inventar” sentido. 

O iluminismo, por sua vez, tinha como missão resgatar aqueles que estavam nas trevas através da luz da razão, combatendo-se o dogma, a superstição e o fanatismo. A maçonaria francesa encontrou nesses ideais a motivação necessária para resgatar os princípios de primitiva Constituição de Anderson de 1723.

DESENVOLVIMENTO

Embora tenha atingido seu apogeu em meados do século XVIII, a filosofia iluminista tem como precursor o matemático francês René Descartes (1596-1650) que é considerado o pai do racionalismo pela sua obra “O Discurso do Método”, onde sugere que para se chegar à verdade é preciso duvidar de tudo, inclusive das coisas aparentemente verdadeiras. Segundo Rouanet (1999) a razão do movimento era libertar o povo do pensamento teocêntrico que reinava sobre a Europa desde a Idade Média. Para chegar a esse fim era preciso iluminar as mentes, imbuindo-as de ciência e razão. Dessa forma, a explicação para a existência do ser passa a ser metafísica em detrimento à dogmática.

O principal argumento do iluminismo, de acordo com Cassier (1992) é a imutabilidade da razão. Enquanto governos, nações e dogmas são concebidos com prazo de validade, a ciência permanece nos homens que são capazes de aperfeiçoá-la constantemente, sempre em busca da quebra de um paradigma visando à verdade, mesmo que transitória. Franklin Delano Roosevelt já explicitou que “a verdade é achada quando os homens são livres para procura-la” (ROOSEVELT apud CAMARGO, 2005, p. 62).

Camargo (2005) afirma que “o dogmatismo, a priori, designa uma forma de pensar cujos conceitos e fórmulas são invariáveis, não levando em consideração as condições de lugar e tempo, e admitindo, portanto, o caráter concreto da verdade” (CAMARGO, 2005, p. 65). O dogma, portanto, não permite ao homem a busca espontânea da verdade, pois já contém em si todas as explicações que julgue necessárias para tal. Camargo (2005) ainda completa que “o dogma têm sido o maior entrave para as novas descobertas, pois sua natureza limitante tolhe a liberdade da investigação” (CAMARGO, 2005, p. 67).

É em sua acepção adogmática dos fenômenos que a filosofia iluminista confunde-se com a prática do Rito Moderno. Costa e Castellani (1991) citam o artigo primeiro concernente aos Princípios Gerais da Ordem Maçônica do Grande Oriente da França:

“A Franco-Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por objeto a pesquisa da verdade, o estudo da moral e a prática da solidariedade; ela trabalha para melhorar a condição material e moral, na direção do aperfeiçoamento intelectual e social da humanidade. Ela tem por princípio a tolerância mútua, o respeito aos outros e a si mesmo, a liberdade absoluta de consciência e considerando as concepções metafísicas como sendo do domínio exclusivo da apreciação individual de seus membros, ela se recusa a toda afirmação dogmática. Ela tem por divisa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade” (COSTA; CASTELLANI, 1991, p. 50, grifo dos autores).

É importante ressaltar que essa acepção adogmática refere-se ao rito maçônico, e não aos membros que compõem uma determinada oficina. O artigo 1º da primitiva Constituição de Anderson (1723) elucida:

“O maçom está obrigado, por vocação, a praticar a moral e, se compreender seus deveres, nunca se converterá em um estúpido ateu nem em irreligioso libertino. Apesar de, nos tempos antigos, os maçons estarem obrigados a praticar a religião que se observava nos países que habitavam, hoje crê-se mais conveniente não lhes impor outra religião senão aquela que todos os homens aceitam e dar-lhes completa liberdade com referência às suas opiniões particulares. Essa religião consiste em ser homens bons e leais, ou seja, homens honrados e justos, seja qual for a diferença de nomes, ou de convicções. Deste modo, a Maçonaria se converterá em um centro de união e no meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separados” (ANDERSON apud COSTA; CASTELLANI, 1991, p. 29).

Fica evidente que, enquanto rito maçônico, o Rito Moderno não obriga a utilização da expressão Grande Arquiteto do Universo ou, em seus documentos, À Glória do Grande Arquiteto do Universo, em respeito à crença individual de cada irmão, podendo se manifestar sobre Deus da maneira em que se sentir mais confortável.

Essa cultura adogmática do Rito Moderno gera conflito com os praticantes de outros ritos principalmente no que concerne ao Livro da Lei. Camargo (2005) explica que as antigas constituições afirmam que o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso devem estar presentes em todas as sessões maçônicas. Ele completa:

“Só recentemente na história maçônica a Grande Loja Unida da Inglaterra, tomando uma posição nitidamente dogmática, adotou a expressão Livro da Lei Sagrada, inexistente nos antigos documentos. Nas Lojas do Rito Moderno no Brasil, sobre o Triângulo da Sabedoria (ou do venerável) repousam os livros sagrados das religiões dos integrantes da Loja. (...) O que nos diferencia de outros ritos nesse ponto, é que prestamos nosso Compromisso (e não juramento) sobre a Constituição de 1723, comumente referida como a Constituição de Anderson, autêntico e universal Livro da Lei igualmente para todos os maçons do planeta! E o fazemos não apenas por considerarmos a Maçonaria uma instituição adogmática e, por isso universal, mas por respeito à opinião individual e numa atitude de tolerância para com as convicções de cada um (...) (CAMARGO, 2005, p. 63).

O Ritual do 1º Grau – Aprendiz do Rito Moderno expõe que a Maçonaria Francesa não considera a Ordem como mística, embora os três graus simbólicos “estejam impregnados da mística de civilizações antigas. A busca da verdade, transitória e inefável, realiza-se pelo Aprendiz na intuição, pelo Companheiro na análise e pelo Mestre na síntese, num processo evolutivo e racional” (G∴O∴B∴, 1999, p. 7).

CONCLUSÕES

Conclui-se, portanto, que o Rito Moderno e seus adeptos não podem ser classificados como ateus, como comenta-se informalmente. O Rito tem prática adogmática e, se analisarmos em profundidade, o dogma tem uma ponta de paixão. Assim como a paixão, o dogma é capaz de escravizar as mentes menos esclarecidas, que tomam por verdade aquilo que se lhes é imposto. Antônio Onías Neto, termina o prefácio do Ritual do Grau de Aprendiz da seguinte forma: “O Rito Moderno, afinal, é um desafio, que vale a pena arrostar” (G∴O∴B∴, 1999, p. 8).

REFERÊNCIAS:
CAMARGO, Alexandre Magno. O Aprendiz no Rito Moderno. Ed. A Gazeta Maçônica: 2005.
CASSIER, Ernst. A Filosofia do Iluminismo. Editora da Unicamp: 1992.
COSTA, Frederico Guilherme; CASTELLANI, José. Rito Moderno. Ed. Maçônica A Trolha: 1991.
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Ritual do 1º Grau – Aprendiz do Rito Moderno. Edição 1999.
ROUANET, Sergio Paulo. As Razões do Iluminismo. Companhia das Letras: 1999.

Jaraguá do Sul, 16 de novembro de 2007.
Ir∴ Diogo Prim – Mestre Maçom – CIM 234752
A∴R∴L∴S∴ Fraternidade Acadêmica, Ciência e Artes Nº. 3685.
G∴O∴B∴ – SC – Rito Moderno

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