Em 26/02/2020 o Respeitável Irmão Hideraldo Torres, Loja Harmonia e Concórdia, 4.418, REAA, GOB-RJ, Oriente de Vila da Penha, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a dúvida seguinte:
SUPREMOS CONSELHOS DE RITOS
Estou estudando um pouco da história da maçonaria e me deparei com a questão dos supremos conselhos do grau 33.
O irmão poderia discorrer mais sobre o assunto?
Eles são só para o REAA?
Mais uma vez parabenizo seu trabalho.
A Maçonaria Universal, comumente conhecida como Maçonaria Simbólica, se constitui única e exclusivamente por três Graus. Isso se dá porque as origens operativas da Franco-maçonaria eram formadas apenas por duas classes de trabalhadores (não eram graus), ou seja, a classe dos Aprendizes da Arte e a dos Companheiros do Ofício. Assim, as Lojas operativas eram dirigidas por um Companheiro experiente, então escolhido para ser o Mestre da Obra. Reitero, não era o grau especulativo de Mestre Maçom conhecido na hoje Moderna Maçonaria.
Com a paulatina transformação da Maçonaria Operativa (de Ofício) em Especulativa, ou dos Aceitos (vide essa história), sobretudo a partir do século XVIII, apareceriam os ritos maçônicos que, além das suas características básicas hauridas do período do ofício, também trariam particularidades obtidas de elementos regionais, podendo ser esses culturais, político-sociais e até mesmo religiosos.
Muitos ritos maçônicos então se sacramentariam passando a possuir suas próprias identidades, das quais, poder-se-ia citar, por exemplo, a de ter outros graus além dos três primeiros que constituem o franco-maçônico básico da Moderna Maçonaria - Aprendiz, Companheiro e Mestre.
Cabe assim mencionar que a Moderna Maçonaria (especulativa por excelência) nascera quando da fundação da Primeira Grande Loja em Londres no ano de 1717. Na época esse acontecimento inauguraria o primeiro sistema obediencial constituído por uma Grande Loja e dirigida por um do Grão-Mestre.
Nos seus primeiros anos de existência, ainda composta por apenas dois graus especulativos, Aprendiz e Companheiro, a Moderna Maçonaria passaria, a partir de 1725, a contar também com um terceiro grau, o de Mestre Maçom que, de feitio especulativo fora criado em Londres na Philo-Musicae Et Architecturae Socitas Apollini, sociedade essa formada apenas por maçons e dirigida pelo Duque de Richmond. Foram os primeiros maçons elevados a Mestre os Irmãos Charles Cotton e Papilon Bull.
A Moderna Maçonaria, nascida com o aparecimento da Primeira Grande Loja e depois conhecida por Grande Loja dos Modernos, passaria por quase um século de turbulências, sobretudo pela fundação em 1751 de uma Segunda Grande Loja, então denominada a dos Antigos e que se tornaria rival da Primeira Grande Loja, a dos Modernos de 1717. Em 1813 essas duas Grandes Loja rivais acabariam se fundindo pelo Ato de União assinado em novembro daquele ano. Dessa união surge a Grande Loja Unida da Inglaterra que, em linhas gerais, se tornou uma espécie de referência para reconhecimento de outras Grandes Lojas e Grandes Orientes doravante espalhadas pela face da Terra.
Vale mencionar que uma das características da Grande Loja Unida da Inglaterra é a de só admitir como sua reconhecida Obediência Simbólica, ou seja, aquela que congrega no seu seio apenas os três primeiros graus, chamados também de graus universais da Maçonaria, independente do Rito praticado (vide os pontos de reconhecimento da GLUI).
É sob esse feitio que os Ritos que possuem graus acima do 3º, tais como sistemas filosóficos, de perfeição, capitulares, conselhos e consistórios, nas Obediências Simbólicas só praticam os três primeiros graus universais, ficando, o govêrno e prática dos demais graus aos Altos Corpos, Conselhos, etc.
O que se pode dizer é que o reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra se dá apenas às Obediências que governam o simbolismo, não admitindo, portanto, existir sob sua égide nenhum grau dito superior. Em síntese, a plenitude maçônica se dá com a acedência ao 3º Grau – Mestre Maçom.
Assim, em linhas gerais a Maçonaria anglo-saxônica trata os três primeiros graus como Craft na Inglaterra e Lojas Azuis nos Estados Unidos da América do Norte, enquanto que a Maçonaria latina, filha espiritual da França, de modo geral, os trata por simbolismo.
Quanto aos graus além do terceiro, cada rito que porventura os possua, tem seus Altos Corpos, Oficinas Chefe, Supremos Conselhos, etc., para tratar dessa conjuntura.
Na Inglaterra esses graus de aperfeiçoamento (acima do 3º) são conhecidos por graus laterais, cujos quais ficam subordinados às Lojas que os admite, contudo eles não interferem no Craft.
No tocante aos Supremos Conselhos especificamente, cada um deles merece ser então estudado, pois cada qual possui identidade inerente ao Rito que lhe dá o nome. Seria inapropriado, mesmo que superficialmente, abordar cada um deles num espaço tão exíguo como este.
O que de imediato se pode dizer sobre a Maçonaria latina é que os seus "altos graus", também conhecidos como filosóficos, tiveram a sua gênese na França a partir do final do século XVII e século XVIII, devendo-se sua profusão ao sistema maçônico que caminhava paralelo à prática do simbolismo no território francês. Destaque-se que esse simbolismo praticado na época na França era basicamente copiado dos Modernos da Primeira Grande Loja de Londres (é daí o título Rito Francês ou Moderno). Em linhas gerais isso quer dizer que na França do século XVIII existiam dois sistemas de práticas maçônicas, a do simbolismo copiada dos Modernos londrinos de 1717 e a outra dos Altos Graus com feição "stuartista" católica (jacobita) ligadas à reconquista do trono inglês tomado por Cromwell.
Deve-se a expansão desses Altos Graus as condições políticas e sociais da época, envolvendo o exílio em França dos partidários dos Stuarts (escoceses reis católicos) que em solo francês preparavam, sob a capa de Lojas Maçônicas (Guardas Irlandeses), a retomada do reino inglês, por conta da deposição e decapitação de Carlos I ocorrida durante a revolução puritana de Cromwell em 1649.
Em que pese seja essa uma longa história, impossível de ser abordada de maneira tão superficial, pois trata das raízes do escocesismo, o que se pode dize é que boa parte destes acontecimentos devem ser considerados como a gênese dos "altos graus".
A despeito de que muitos desses altos graus foram criados, às vezes, para agradar a vaidade de alguns, não há como negar também a riqueza de boa parte do seu conteúdo filosófico que inquestionavelmente ajudou a enriquecer os princípios doutrinários da Moderna Maçonaria.
Cabe então citar que é nesse contexto que surge o germe do escocesismo como rito maçônico, cuja sua documentação básica é tida por historiadores como o Discurso de Ramsay, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, o Capítulo de Clermont, o Rito de Perfeição, ou de Heredom, e mais tarde, para organização do Rito, o Conselho de Lausanne ocorrido na Suíça em 1875.
Em síntese, essa profusão, e às vezes até mesmo desordem proporcionada pelos chamados "altos graus", fez com que vários estudiosos contemporâneos dos acontecimentos se dedicassem na organização e depuração desses altos graus, sobretudo no sentido de se certificar daquilo que de fato seria útil para a Maçonaria.
Sob essa óptica, por exemplo, é que o Rito Moderno ou Francês, passaria assim originalmente a possuir, além dos três graus universais (simbolismo), apenas mais quatro graus, totalizando sete graus (aqui no Brasil seria conhecido como Rito dos 7 Graus). Ainda o Rito Adonhiramita, criado com base na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita de Louis Guilleman de Saint-Victor, totalizaria 12 graus, recebendo depois, por um equívoco de Ragon, um 13º. O Rito de Heredom, com 25 graus seria levado aos Estados Unidos da América e lá, por uma Constituição, segundo historiadores autênticos, forjada, adquiriu 30 graus, sendo fundado em Charleston, na Carolina do Sul, a 31 de maio de 1801, como Primeiro Supremo Conselho Mãe do Mundo sob a legenda "Ordo Ab Chao". Então com 33 Graus ele apareceria com a denominação REAA. Em solo norte-americano esse Rito utilizou-se dos três graus das Lojas Azuis para preencher o simbolismo que até então era inexistente no Rito, não havendo, inclusive, nem mesmo ritual para o simbolismo. Assim, agregados ao sistema de mais 30 graus o REAA ficaria então conhecido com 33 graus. O primeiro ritual simbólico do REAA somente apareceria na França no ano de 1804. Os graus, do 4º ao 33º prestam obediência ao Supremo Conselho.
No caminho da história, muitos outros ritos apareceriam caracterizados por graus acima dos três componentes do franco-maçônico básico. Com isso, outros Altos Corpos ou Conselhos também se desenvolveriam para suprir as necessidades provindas dos graus filosóficos. Outros ritos ainda, sofreriam deturpações com acréscimos de mais graus em total desrespeito para com a sua originalidade.
O fato é que cada um desses sistemas de ritos possui seu Alto Corpo, Supremo Conselho, Excelso Conselho, etc. Evidentemente que cada qual tem a sua história e deve ser ela auscultada conforme a necessidade do estudo.
Para encerrar, cabe mencionar que existem ritos que trabalham única e exclusivamente com os três graus da Maçonaria Universal. Assim, entenda-se que "altos graus" são características de ritos maçônicos, destacando que a plenitude do maçom é alcançada no 3º grau. Altos graus, graus laterais, filosóficos, de aperfeiçoamento, etc., são opções e não condições. A nenhum rito é conferida predominância sobre outro pela quantidade de graus que eventualmente possa possuir. Vale sim dizer que a plenitude do maçom está no Grau de Mestre Maçom e essa característica todos os Ritos inquestionavelmente possuem. A Lenda do 3º Grau é a chave final da Grande Iniciação. Outras lendas alusivas a graus além do 3º, quando existirem, têm apenas o desiderato de complementar e ajudar no conhecimento do maçom, porém jamais podem ser tomadas como condição para se chegar à chave que encerra a lenda hirâmica.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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