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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 4 de outubro de 2020

LANDMARKS NA MAÇONARIA

LANDMARKS NA MAÇONARIA

Maçonaria: vários são os conceitos que tentam definir o que é a maçonaria. Um que sintetiza muito bem o que Ela é: “uma instituição laica, formada a partir da associação de homens livres, probos e inteligentes, que trabalham em prol do bem comum” 

Sagrado: o termo sagrado é muito usado na maçonaria, a meu ver erroneamente, pois sagrado refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso. Em sendo a maçonaria uma instituição laica, não cabe existir nela algo sagrado a ser venerado. 

Maçonaria Especulativa Documental: o documento mais antigo que se tem conhecimento existir, é a Carta de Bolonha, que era um estatuto que regrava a construção em pedra e madeira, escrita por um escrivão público, por ordem do prefeito e Bolonha, em 1248. Na lista de matrícula, anexa a esta carta, constam os nomes de 371 Maestri Muratori, dos quais 2 são escrivães, 2 são freis e 6 nobres. 

Maçonaria Obediencial: no dia de São João de 1717, quatro Lojas individuais (selvagens?) londrinas, resolveram juntar as forças, para melhor influenciar na mudança do status quo da vida em sociedade que vinha se modificando, e juntas fundaram a Grande Loja de Londres, que pretendia ser a norteadora das ações maçônicas na Inglaterra, um dos grandes impérios de então, e que desde Cromwell, e antes dele Henrique VIII, já vivia uma situação diferenciada em relação ao poder do binômio Igreja/Estado como sendo o regulador da vida em sociedade. Além do solo propício, houve em Londres um grande incêndio ao final do século XVII, e pela necessidade de reconstrução, vários alojamentos de pedreiros-livres, advindos de toda a Europa, se instalaram na cidade. FreeMasons Lodges. 

A Grande Loja de Londres, já em 1717, intitulou-se Grande Loja da Inglaterra, e daí começou uma pendenga com a Grande Loja de York, que alegava ser mais antiga. Esta discussão só terminou em 1813, com a criação da Grande Loja Unida da Inglaterra. 

O primeiro Grão Mestre da Grande Loja de Londres, foi Antony Sayer. Em 1718 esta tarefa foi passada para George Payne, e a instituição era mantida de forma incipiente. Depois deste Desaguliers e de volta Payne. No seu segundo mandato Payne estatuiu regramentos para constituição de uma Grande Loja. Foi na Constituição de Payne em 1720, que pela primeira vez, apareceu o termo Landmark”, onde ele dizia que uma Grande Loja poderia escolher suas normas, desde que respeitados os antigos “Landmarks”. Devido às características monarquistas da Inglaterra, só em 1721, a Grande Loja de Londres, obteve um status maior, quando o nobre Conde de Montagu passou a ser o Grão Mestre. Aí então é encomendada, em 1723, ao pastor James Anderson a “Constituição da Antiga Fraternidade dos Maçons Livre e Aceitos”, que passaria a regular a atuação interna e externa da maçonaria especulativa, e a formação de Grandes Lojas. Na Constituição de Anderson original, muito bem escrita, foram utilizadas muitas das questões propostas por Montagu, mas o termo “Landmark” desapareceu, sendo utilizado simplesmente rules, regras em seu lugar. Somente 100 anos depois o termo “Landmark” foi usado novamente, numa das edições da Constituição de Anderson, que vinham sido modificadas, ao bel prazer do Grão Mestre, daquela que se auto proclamava Grande Loja Mãe de Todo Universo. 

Landmarks: marcos territoriais, que provavelmente teve origem bíblica: (Deuteronio, XIX, 14): “não tomarás nem mudarás os limites do teu próximo que os antigos estabeleceram na tua propriedade”. Ou seja: cada um em seu quadrado. Os Landmarks eram usados desde então para demarcar propriedades. Na época das grandes viagens e da instituição de colônias, era comum haver um marco de pedra, que demarcava a propriedade. No Brasil, Portugal deixou um marco de pedra na Bahia, onde foi rezada a primeira missa. Séculos depois, os EUA cravaram sua bandeira na Lua. 

Landmarks Maçônicos: são antigas obrigações (Old Charges?), usos, costumes e tradições, considerados pela maioria dos autores maçônicos como leis de tempos imemoriais que a regem. Hoje, no mundo, existem muitas compilações de “Landmarks”, feitas por vários autores maçônicos, cada uma delas, com as características desejadas pela imaginação de cada autor, todas dizendo que elas vem acompanhando a maçonaria desde tempos imemoriais. Onde mais houve interesse por estudos e criações de “Landmarks”, foi na maçonaria norte-americana. Para os franceses, bastava ser livre pensador. Para os ingleses, apesar da expressão constar na Constituição de Anderson, nunca houve um entendimento do que seria, e muito menos foram listados. Nos deteremos na compilação de Mackei, e na de Pike, as duas mais conhecidas no nosso meio. A compilação de Albert Gallatin Mackei, médico estadunidense, foi feita em 1858, quando ele definiu os 25 “marcos da maçonaria”. Para Albert Pike, os verdadeiros “marcos da maçonaria” são apenas 5, e eles foram apresentados logo após Mackei apresentar sua compilação. Mackei era, na época em que escreveu seus “landmarks”, o secretário geral do SCREAA da Jurisdição Sul dos EUA, na Carolina do Sul. O Soberano Grande Comendador deste Supremo Conselho era Albert Pike, general sulista e advogado, que de 1855 até 1857, organizou ritualisticamente o REAA com seus 33 graus. Pike é o autor do famoso compêndio Moral e Dogma, que teve sua última revisão em 1884, e desde então é editado. 

Compilação dos Landmarks de Mackei e Pike: os 25 pontos dos Landmarks de Mackei, sendo o último uma cláusula pétrea, não permitem que a maçonaria evolua, e se contextualize ao local e época. São pontos muito específicos, e que trazem ao chefe maçônico um poder quase divino. A motivação de Mackei para fazer a sua interpretação dos Landmarks, teria sido uma forma de agradar o chefe? Chefe que logo após Mackei publicar sua compilação foi frontalmente contrária a ela, e deu a conhecer a sua compilação, muito mais genérica e holística, só com 5 pontos, sem determinar um fim em si próprio, deixando que a maçonaria fosse, efetivamente uma associação de livres pensadores. Talvez a notoriedade dos Landmarks de Mackei, principalmente na América Latina, tenha se dado pelo interesse de os Grãos Mestres de então precisarem ter uma força equivalente ao dos imperadores que dominavam seus países? Lembrem-se que, na América Latina, foi a maçonaria a grande mola incentivadora para a independência de vários países durante o século XIX. Simon Bolívar, San Martim, Artigas e Dom Pedro I, são exemplos disto. E eles precisavam ter o mesmo status de poder que os imperadores de Espanha e Portugal, ao menos entre seus pares. E os Landmarks de Mackei davam-lhes estes status, senão vejamos os 25 marcos compilados por ele: 

1. Modos fraternos de reconhecimento;
2. Divisão da maçonaria em 3 graus;
3. A lenda de Hiram Abiff;
4. A autoridade e governança de um Grão Mestre;
5. A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e quando se realize; 
6. A prerrogativa do Grão Mestre de emitir dispensas para manter a Loja em horários irregulares; 
7. A prerrogativa do Grão Mestre de emitir dispensas para manter a Loja em lugares irregulares; 
8. A prerrogativa do Grão Mestre de fazer maçons à vista; 
9. A necessidade de os maçons se congregarem em Loja; 
10. O governo da Loja ser por um mestre e dois vigilantes; 
11. A necessidade de cobertura, quando uma Loja estiver reunida; 
12. O direito de todo maçom se fazer representar nas reuniões gerais da Fraternidade e de instruir seus representantes; 
13. O direito de todo maçom de apelar das decisões de sua Loja para a Grande Loja; 
14. O direito de todos maçons de tomarem assento em todas as Lojas regulares; 
15. Que nenhum visitante desconhecido possa assentar-se em Loja sem ser examinado e reconhecido como maçons; 
16. Que nenhuma Loja possa interferir nos negócios de outra Loja; 
17. Que todo maçom seja receptivo às leis e regulamentos das suas jurisdições; 
18. Que todo o candidato à maçonaria seja obrigado à cumprir certas qualificações: ser do sexo masculino, adulto, sem incapacidades físicas e livre; 
19. Que a crença na existência de Deus seja um requisito para a adesão; 
20. Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura e na imortalidade da alma; 
21. Que um “Livro da Lei” constituirá uma parte indispensável do mobiliário de cada Loja; 
22. A igualdade entre os maçons; 
23. O sigilo da Instituição; 
24. A fundação de uma ciência especulativa sobre uma arte operativa; 
25. Que nenhum destes marcos seja alterado. 

E os de Albert Pike: 

1. A necessidade de os maçons reunirem-se em Lojas; 
2. O governo de cada Loja por um VM e dois VVig.; 
3. A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura; 
4. A cobertura dos trabalhos da Loja; 
5. O sigilo maçônico 

Justificou Albert Pike, após analisar os 25 “Landmarks” criados por Mackei, que se estas regras acompanham a instituição desde tempos imemoriais, não existiriam 3 graus, Livro da Lei, Lenda de Hiram e nem Grão Mestre, que foram criados muito depois. E se uma Loja não pode interferir nos negócios de outra, não haveria consulta sobre a Iniciação de profanos, que poderiam ser quaisquer cidadãos que as Lojas reconhecem caraterísticas apropriadas. Sabemos hoje no GORGS, porque, o quanto a escolha de candidatos à Iniciação preocupava Pike. Dos 25 pontos de Mackei, ele considerou apenas 5 como verdadeiros marcos imemoriais. 

Os Oito Pontos de Regularidade: devido a possibilidade da maçonaria ser interpretada e estarem surgindo muitas variações sobre este tema (maçonaria mística, maçonaria mista, etc.), a Grande Loja Unida da Inglaterra, publicou, em 1929, os oito pontos que uma Potência deve respeitar para atestar sua regularidade: 

1. A regularidade de origem da Potência, que deverá ser constituída, por uma Grande Loja devidamente reconhecida, ou por três ou mais Lojas regularmente constituídas; 
2. A crença no Grande Arquiteto do Universo e Sua vontade revelada; 
3. A presença do Livro da Lei em Loja aberta; 
4. A exclusividade de Iniciação de homens, e a proibição de manter relações maçônicas com lojas mistas ou com obediências que aceitem mulheres como seus membros; 
5. A Grande Loja deverá manter jurisdição soberana sobre as Lojas sob seu controle, nos três graus simbólicos, não podendo compartilhar sua autoridade com Supremos Conselhos, ou outros Poderes, que reivindique controle ou supervisão sobre estes graus; 
6. A presença do Livro da Lei, esquadro e compasso em seus trabalhos e das Lojas que lhe são subordinadas; 
7. São proibidas discussões de assuntos políticos e religiosos dentro das Lojas; 
8. Que os princípios das Antigas Obrigações e os usos e costumes tradicionais da Fraternidade sejam observados; 

Em 1989, os oito pontos passaram a ser sete: 

1. Toda a Potência deverá ser constituída por uma Grande Loja Regular, ou por três ou mais Lojas Regulares; 
2. Ser verdadeiramente independente e autônoma e manter autoridade incontestável sobre a Maçonaria dos 3 graus simbólicos; 
3. Os maçons sob sua jurisdição devem acreditar em um Ser Supremo; 
4. Todas os maçons sob sua jurisdição, devem tomar as suas obrigações sobre ou em presença do Livro da Lei; 
5. As três grandes luzes da Maçonaria, Livro da Lei, Esquadro e Compasso, devem estar presentes na abertura de uma Grande Loja ou das Lojas suas subordinadas; 
6. Proibidas discussões políticas e religiosas em Loja; 
7. Devem aderir aos princípios estabelecidos (Old Charges, usos e costumes) e insistir para que eles sejam respeitados. 

Conclusão: portanto ao meu ver, os famosos e não sagrados Landmarks, são os pontos que caracterizam uma organização específica como sendo maçonaria, e não qualquer outra organização iniciática. São os pontos que demarcam estas diferenças, ou obrigações. E não são imemoriais, como se requereria tê-los como verdadeiros marcos institucionais. Recentemente o GORGS foi considerada Potência Regular, e para tanto precisou provar que respeitava estes pré-requisitos, exigidos pela Grande Loja da Inglaterra, tendo inclusive de romper um Tratado de Amizade que tinha com o Grande Oriente de Portugal, que mesmo sendo ortodoxo, mantém relações com o Grande Oriente de França, que admite a maçonaria feminina e mista. 

No Estatuto Social e no Regulamento Geral do GORGS, nos seus artigos segundo, estão estabelecidos 10 pontos, que são os Oito Pontos de Regularidade e mais dois, que não os desmentem ou desobedecem. 

Estas são as normas que estabelecem o GORGS, e o diferencia da AMORC, por exemplo. 

Seria então o artigo segundo, os nossos “Landmarks”? 

Porto Alegre, 19 de outubro de 2019. 

*Irmão Dante Cezar Melo Rostirola - Membro Efetivo da Loja “Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas” 

Fonte: http://www.abemdaordem.com.br

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