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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

CUMPRIMENTO AO DELTA

CUMPRIMENTO AO DELTA
(republicação)

Em 24/11/2015 o Respeitável Irmão Tarcísio Alcantara, Loja Acácia do Vale, REAA, GOB-MG, Oriente de Salinas, Estado de Minas Gerais, solicita esclarecimento.
tarcisioalcantara@yahoo.com.br

Venho mais uma vez solicitar a sua ajuda para sanar uma dúvida. Existe um manual de ritualística (GOB MG) que orienta os Irmãos a cumprimentarem o Delta, com uma parada ao cruzar a linha do Equador. O Irmão já manifestou a sua opinião no sentido de que tal procedimento não existe no REAA. Pesquisei vários rituais e em nenhum deles consta este cumprimento. Já comentei com o Venerável da Loja que como não consta no ritual, a tal parada não deve ser executada, mas o argumento é que sempre foi feito desta maneira. O Irmão poderia me informar de onde copiaram, certamente por "achar bonito", este procedimento ou me indicar uma literatura onde possa encontrar a resposta?

CONSIDERAÇÕES:

Até onde eu sei o Art. 5º do Decreto 1.102 de maio de 2009 do Grão-Mestre Geral ainda não foi revogado. Diz o dito no artigo citado: “Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação revogada todos os Manuais de Dinâmica Ritualística e as disposições em contrário”.

Sob esse aspecto, a existência de qualquer Manual a meu ver é ilegítimo, além do quê essa prática (de saudar o Delta) não está prevista no Ritual em vigência do GOB, portanto inexistente.

Essa “estória” de justificar que foi sempre feito assim é desculpa capenga e desrespeito ao que está previsto no Ritual – o que valeria mais, o Ritual ou o um Manual?

No tocante a história dessa saudação, ela é inexistente no REAA desde as alterações sofridas na topografia do Templo na França por ocasião da extinção das Lojas Capitulares.

Explico superficialmente: antes do aparecimento dessas Lojas (ver a sua história), não existia no simbolismo escocês desnível entre o Oriente e o Ocidente e nem mesmo a balaustrada. Na verdade o costume acompanhava a tradição “antiga” que foi trazida para a França por maçons egressos das Lojas Azuis norte-americanas, cuja prática maçônica do Craft se baseava - e se baseia até o presente - nos “Antigos” de 1.751 da Maçonaria inglesa (ver a organização da Maçonaria norte-americana por Thomas Smith Web e o Ducan’s Ritual).

Nesse sistema, o do Craft (inglês e norte-americano), o nível do piso da sala da Loja é um só, destacando-se apenas a elevação por três degraus para o sólio. Em síntese, sem a demarcação de um espaço específico para o Oriente, já que na vertente inglesa da Maçonaria o Leste se resume àquilo que estiver posicionado junto e imediatamente à frente da parede oriental, e é só.

Dados esses pormenores, o primeiro ritual do REAA foi elaborado na França em 1.804, justamente por maçons franceses oriundos dos Estados Unidos da América do Norte acostumados à prática maçônica dos “Antigos”, sistema esse desconhecido na França de então, pois em solo francês apenas se praticava a maçonaria dos “Modernos” oriundos da Primeira Grande Loja em Londres de 1.717.

Assim os primeiros rituais simbólicos do escocesismo se fundamentavam na disposição antiga (daí o termo antigo no seu título), isso antes do aparecimento das já mencionadas Lojas Capitulares por volta da primeira década do Século XIX. Nesse sentido é que na prática ritualística inicial do simbolismo escocês, sem desnível e demarcação do Oriente, havia o costume de, durante a circulação, ao se atravessar o eixo (equador) do Templo estando o protagonista bem próximo ao Delta (em frente do Venerável), o protagonista saudava pelo Sinal o símbolo ternário. Alguns rituais da época, inclusive orientavam essa saudação sempre que se atravessasse o eixo, em se estando próximo ou distante do Oriente.

Com o aparecimento das Lojas Capitulares que envolviam os Graus do simbolismo até o Capítulo (18º), a circulação em Loja - devida à característica do desnível e da demarcação do Oriente - ficaria agora restrita apenas ao Ocidente do recinto, reservando-se a saudação ao Delta apenas àquele que entrasse ou saísse do espaço oriental e não mais ao se cruzar o eixo.

Com a posterior separação do simbolismo do sistema capitular (as coisas voltavam ao seu lugar), acabou permanecendo o caráter de se elevar e demarcar o Oriente tal como ele é conhecido até hoje. Assim a circulação em Loja continuou restrita apenas ao Ocidente e, a saudação ao Delta, nesse caso, passaria a ser destinada somente ao Venerável Mestre quando da entrada ou saída do quadrante oriental.

Desse modo o antigo costume de saudação ao Delta quando da transposição do eixo (equador), hábito adquirido anterior ao aparecimento das Lojas Capitulares, acabaria mais tarde por se tornar anacrônico na maioria dos rituais simbólicos do REAA ao ponto dela não mais existir.

Concluindo, eu recomento ao pesquisador que é primordial o conhecimento dos fatos que envolveram historicamente a Maçonaria inglesa e francesa a partir do Século XVIII – deles os Antigos e os Modernos, o simbolismo do REAA a partir do Segundo Supremo Conselho na França e o primeiro ritual de 1.804, bem como a distinção entre os dois sistemas principais da Moderna Maçonaria. Só assim o estudante chegará à conclusão dos fatos e dos porquês, mesmo que sejam eles restritos simplesmente à saudação ao Delta.

T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.118 – Florianópolis (SC) – quarta-feira, 20 de julho de 2016

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