VIAGENS, PROVAS E ELEMENTOS NAS INICIAÇÕES DA ANTIGUIDADE
Jerônimo Borges*
Nas sociedades secretas antigas o neófito viajava por subterrâneos.
Nunca pelos templos. A terra, o fogo, o ar e a água, eram os elementos que constituíam as principais provas de Mênfis, por exemplo.
Há quem afirme que as grandes pirâmides do Egito serviam de entrada aos subterrâneos onde se faziam as iniciações dos aspirantes, nas sociedades secretas da antiguidade.
O costume determinava que o último iniciado obrigatoriamente tivesse que conduzir o aspirante até a entrada interior dos subterrâneos, onde se praticavam as iniciações. A este entregava uma tocha acesa, abandonando-o a seguir, aparentemente. O candidato era instruído a penetrar por uma pequena abertura de entrada na rocha em forma de aspiral, terminando ao fundo no chamado “Poço Misterioso”.
Esta primeira prova era assustadora. Por isso o iniciado mais moderno era sempre encarregado de seguir o aspirante de longe, precavendo-se para que este não o visse.
O primeiro elemento é a Terra.
É representada pela vitoriosa passagem no subterrâneo, local de intensa insalubridade onde se proliferam germens, bactérias e as sementes.
O candidato chegando ao “Poço Misterioso” defronta-se com duas grades eqüidistantes. Uma de bronze e outra de ferro. É nesse momento que o iniciado que seguia o neófito se aproxima dele e, sem dizer nada, passa pela porta junto à uma das grades, a de bronze. Um dos batentes desta porta, ao voltar-se, fazia um barulho estridente, significando, a quem escutasse o esperado som, que estava tudo bem com o candidato e que ele se propunha a prosseguir, para ingressar na prova seguinte, a do fogo.
Ao ultrapassar a porta de bronze, após distância mediana, o aspirante percebia uma luz que aumentava de intensidade à medida que caminhava, chegando depois a uma abóbada, à semelhança de uma fornalha ardente. Ao ultrapassá-la, observava ele que era uma ilusão de ótica formada por uma madeira inflamável com ramos de árvores e de bálsamos. E prosseguia, tendo que marchar pelos intervalos de uma grade de ferro ardente estrategicamente colocada, até o final da fornalha.
Esta, a prova do fogo.
Não se deseja aprofundar sobre o tema, mas é conveniente registrar que o fogo é um dos quatro elementos básicos até nossos dias e que tem uma capacidade transformadora imensurável. Força que impulsiona e luz que representa o conhecimento e a sabedoria.
Sobre o fogo diz o “Grande Ritual de Iniciação” da GLSC como também a grande maioria dos rituais do REAA :
“Ven∴ - (!) As chamas que vos envolveram simbolizam o batismo da purificação. Purificados pela Água, o Fogo eliminou as nódoas do vício. Estais simbolicamente limpos.”
Oportuno salientar que o fogo, além de ser entendido como elemento que limpa e purifica, significa também o surgimento da paixão e da sexualidade. Para Jung o fogo representa a transformação, pois é ele o grande agente que simboliza as emoções. Tanto que aquilo que resiste ao fogo tem caráter de imortalidade.
O fogo tem, ainda, forte significado na Bíblia, como indicador da presença de Deus. Em Êxodo, está escrito que para acompanhar e mesmo guiar o povo hebreu que fugia do Egito, de dia uma coluna de água estava no céu, enquanto que de noite uma coluna de “fogo” servia para acompanhar e balizar a presença de Deus naquela travessia do deserto.
Ao chegar ao fim da fornalha, o neófito se deparava com um canal de águas fortemente corrediças vindas do Rio Nilo e que entravam por um lado do subterrâneo com rapidez espantosa. Era necessário atravessar este canal a nado com a tocha na mão, com cuidado, para que a chama não se apagasse.
Esta era a prova da água.
Relativamente simples, mas que exigia do candidato serenidade equilíbrio. É sabido que a purificação pela água tem a finalidade de libertar o espírito humano de suas imperfeições.
Em todas as iniciações da antiguidade a purificação da alma fazia-se pela água. (...purificados pela água...estais simbolicamente limpos...)
Quando o neófito alcançava o outro lado do canal, se defrontava com uma arcada em que era obrigado a vencer centenas de degraus que o levavam a uma ponte pênsil bem acima, fechada por ambos os lados com altas muralhas.
Ao final dessa etapa, o candidato encontrava dois grandes anéis e, ao tocá-los, uma mola fazia mover certas rodas, que abalavam a ponte levadiça, fazendo rápido giro, ficando, afinal, o aspirante quase suspenso no ar, onde era visível um precipício imenso, donde soprava um vento impetuoso, que apagava abruptamente a tocha.
O neófito tinha que permanecer por um determinado tempo nessa incômoda posição, até que, por efeito de um contrapeso, voltava à posição original. A ventania que soprava com violência, correspondia ao arejamento total das idéias aventadas para a senda do bem e da verdade, empurrando para o infinito as idéias malévolas.
Esta era a prova do ar.
O ar é a essência da vida, onde todos os seres viventes dele necessitam para a sua existência. O ar está em toda a parte e, embora invisível, está sempre disponível.
As purificações que acompanham todas as viagens (terra, fogo, água e ar) são para lembrar que mesmo após a sua iniciação, o elemento chamado homem nunca estará suficientemente puro para chegar ao templo da filosofia.
Só depois de passar por todas essas provas é que aparecia um introdutor para vendar-lhe os olhos e, após passar por uma grande porta, entregar-lhe ao pastóforo – esta é a denominação do último iniciado. Essa palavra origina-se do grego, significando o portador sagrado de uma classe escolhida para uma iniciação. Também, no Egito, era a pessoa incumbida de abrir a urna que continha o defunto.
Vencida essa etapa e após o candidato ter ultrapassado à grande porta, ali tinha então ingresso onde era anunciado com magnificência, para em seguida ser profundamente interrogado.
Primeiro era feita a narração de toda a vida profana do candidato e o logo após o Sacerdote Supremo, chamado de Hierofante, o interrogava firmemente.
Não satisfeitas as respostas, o candidato era sumariamente reprovado. Mas, satisfeitas, o candidato era retirado e conduzido para um recinto especial. Nessa viagem a coragem do neófito era, mais uma vez, colocada à prova com o efeito das tempestades e trovoadas, simbolizando que após as tempestades, surge a bonança.
Se vencedor, o candidato então ouvia a leitura pelo Sacerdote Supremo das leis e penalidades dos perjuros, sendo, ao após, levado para prestar seu juramento, sendo em seguida desvendado.
Bibliografia:
- Grande Ritual de Iniciação (GLSC)
- Bíblia Sagrada – Antigo Testamento – traduzida por João Ferreira de Almeida
- DIAS - Vladimir – Trabalho sobre o Rito Passagem de Aniversário
- FIGUEIREDO LIMA – Adelino de Nos Bastidores do Mistério
- BUARQUE LIRA – Jorge – A Maçonaria e o Cristianismo
- JUNG – Obras completas – Ed. Vozes
*Jerônimo Borges - 33º - MI da Loja Templários da Nova Era, nr. 91 GLSC
Fonte: JBNews - Informativo nº 139 - 13/01/2011
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