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domingo, 8 de agosto de 2021

POSIÇÃO DOS VIGILANTES

POSIÇÃO DOS VIGILANTES
(republicação)

Comentário e questão que faz o Respeitável Irmão Clovis Vieira sem declinar o nome da Loja e do Oriente a respeito de artigo publicado no JB News nº 490.
clovis.vieira@gmail.com

Em primeiro lugar, permita-me o parabenizar pelo artigo publicado no jornal digital JB News, edição n° 490, que mexe em um verdadeiro "vespeiro" que são os templos maçônicos em sua configuração mais atual.

Em segundo, segue uma dúvida: Na tradução do ritual de 1.804 do REAA feita pela Oficina de Restauração do REAA, em sua página 5ª, abaixo transcrita, menciona a prática dos "antigos" preservada até a atualidade nas lojas praticantes dos ritos Emulação, York, Schroeder, com o 1° Vigilante frente a frente com o Venerável, mas diz textualmente que a posição dos Vigilantes, no ritual do REAA de 1.804 é a mesma das lojas chamadas Capitulares, com os Vigilantes, lado a lado, no ocidente. No original em francês deste mesmo ritual esta informação não é explícita ficando o posicionamento dos vigilantes apenas indicado na abertura e encerramento dos trabalhos, como sendo similar ao das lojas inglesas. Terá a referida Oficina de Restauração do REAA se equivocado ou, ao contrário, existem outras fontes que respaldam esta disposição dentro do templo?

"A análise do texto que serviu de referência para o Rito Escocês Antigo e Aceito — o Guia dos Maçons Escoceses — revela uma forte semelhança com “As três batidas bem definidas” (The three distinct knocks), usado para a divulgação do ritual da Grande Loja dita dos “Antigos”. Os “Antigos” praticavam um ritual diferente daquele da Primeira Grande Loja, notadamente nos seguintes pontos: 1) as palavras do primeiro e segundo graus são Booz e Jackim e não, Jackim e Booz; 2) o Primeiro Vigilante se situa no Ocidente na frente do Venerável e o Segundo Vigilante no meio da Coluna do meio-dia, em frente à Coluna dos Aprendizes; 3) tendo também por iniciais as letras M.B., a palavra do terceiro grau é, sensivelmente, diferente. A adaptaçáo da posição dos Vigilantes para o Rito Escocês Antigo constou do deslocamento do Primeiro Vigilante, situado no centro do lado Ocidental cio Templo, para a esquerda do eixo central, facilitando que a porta fosse fixada nessa posição.

A mudança no posicionamento do Primeiro Vigilante foi acompanhada de alteração também na posição do Segundo Vigilante, que participou da rotação e foi se localizar lado a lado com o Primeiro Vigilante, junto à porta do Templo e, ambos, à frente das Colunas B e J".

CONSIDERAÇÕES:

Primeiramente devo salientar que as explanações e orientações exaradas da Oficina de Restauração do REAA não estão equivocadas e, diga-se de passagem, é uma das raras fontes que mencionam credibilidade sobre o Rito Escocês Antigo e Aceito no tocante a sua tradição no nosso País.

Embora o ritual de 1.804 não esclareça com detalhes certas particularidades do Rito, a França da época não conhecia o sistema moderno praticado pela Primeira Grande Loja em Londres de 1.717 (Modernos). A prática antiga inglesa organizada por Thomas Smith Web para a maçonaria azul americana viria dar suporte aos três primeiros graus, ou Franco Maçônico Básico do modelo americano que, acima destes, possui também um sistema próprio de altos graus. Essa definição acabaria por ganhar o título de “Rito de York” com base nos autodenominados antigos de 1.751 divulgados por Lawrence Dermott na Inglaterra.

Devido aparecimento das “revelações” (exposures) no século XVIII, destas as principais seriam “Jakin and Boaz” para os Modernos de 1.717 e “The Three Distinct Knoks” (As Três Batidas Distintas) para os Antigos de 1.751. Como dito, as Lojas Azuis Norte Americanas através das suas respectivas Grandes Lojas acabariam por adotar o sistema simbólico de Dermott a despeito da existência de algumas poucas variações.

Com o advento do escocesismo oficial no território norte americano a partir de 1.801 (Primeiro Supremo Conselho) esse sistema não possuía os três primeiros graus específicos para o Rito, servindo-se então este dos rituais das Lojas Azuis das Grandes Lojas norte-americanas.

De retorno à França o agora denominado Rito Escocês Antigo e Aceito com trinta e três graus por intermédio do Segundo Supremo Conselho em Paris, este viria carecer da base simbólica específica em território europeu, o que talvez pela lei do menor esforço, fora adaptado o costume “antigo” tão conhecido dos maçons franceses egressos do território norte americano. Assim a base simbólica do Rito Escocês assumiria as mesmas feições daquelas praticadas pelas denominadas Lojas Azuis.

Cabe aqui um pequeno comentário: Na Inglaterra era originalmente desconhecido o termo “Lojas Azuis” atreladas ao simbolismo, pois simplesmente os ingleses não reconheciam e, não reconhecem até hoje, qualquer Grau acima do terceiro. Os sistemas de aperfeiçoamento inglês são de responsabilidade apenas das Lojas e conhecidos como graus laterais (side degrees). A Maçonaria inglesa através da Grande Loja Unida não edita ritual e não trata qualquer costume como “Rito”, porém “Trabalhos” - Emulação, Bristol, Taylor’s, Humber, West End, etc., fazem parte do working inglês, todos com apenas três graus.

Retomando. Com o advento do Ato de União em 1.813 da Maçonaria Inglesa (união entre os Antigos e os Modernos) a grande maioria das práticas modernas viria desaparecer no solo inglês, portanto todos os “Trabalhos Ingleses” voltariam a assumir o costume tradicional que, dentre esses e que nos interessa no momento, tem Primeiro Vigilante de frente para o Venerável e o Segundo no meridiano do Meio-Dia (Sul). An passant, os Modernos diferente do sistema antigo, dentre outras mudanças, também inverteram as Colunas Gêmeas – B no Sul e J no Norte. Há que se notar que na França, menos o Rito Escocês Antigo e Aceito, os outros ritos mantém as Colunas Solsticiais na forma moderna. Isto é: invertidas.

Na França o simbolismo do Rito Escocês assumiria a feição dos “Antigos” cuja ritualística era muito parecida como a das Lojas Azuis norte americanas. Entretanto, devido o Grande Oriente da França no primeiro quartel do século XIX ter encampado os graus escoceses até o dezoito (Capítulo), surgiriam então às conhecidas Lojas Capitulares. Com isso inexoravelmente algumas adaptações ritualísticas viriam aparecer para atender a demanda do costume francês, dentre as quais seria a dos Vigilantes que simetricamente tomam, no sistema latino, assento no Ocidente (um ao Norte e outro ao Sul). À bem da verdade esse costume “moderno” prevalece até hoje nos altos graus escoceses, assim como no simbolismo de outros ritos de origem francesa como é o caso do puro Rito Moderno, ou Francês e do próprio Rito Adonhiramita (desde que não estejam deturpados).

Comentários à parte, com a extinção ainda no século XIX das Lojas Capitulares, estando o Rito Escocês Antigo e Aceito bem definido no que tange aos seus graus simbólicos regidos pelo Grande Oriente e os altos graus pelo Supremo Conselho, a posição dos Vigilantes nos três primeiros Graus voltaria a assumir as feições “antigas”, com o Segundo Vigilante ao Meio-Dia, porém o Primeiro Vigilante no Ocidente ficaria deslocado para a banda noroeste da Sala da Loja. Daí a feição anglo-saxônica do Rito em questão.

Nesse ínterim a própria dialética da abertura dos trabalhos está relacionada diretamente à posição dos Vigilantes, assim como o termo “antigo” que faz parte do título do Rito em questão.

Obviamente, que ao se palmilhar e esquadrinhar o mosaico da pesquisa e da história, os fatos não estão assim tão claros. Assim se faz mister a compreensão de que antes de uma definição acabada do Ritual de 1.804, muitas discussões viriam envolver exegetas da época e nem tudo está claramente escrito, devendo o pesquisador atento confrontar os fatos e aspectos que viriam definir um costume e uma tradição.

Deixando os Trabalhos Ingleses anteriores ao ano de 1.717 que são base fundamental para o conhecimento da prática antiga, restam ainda os rituais das Lojas Azuis norte americanas que também são de origem inglesa oriundos da Segunda Grande Loja (Athol Lodges) de 1.751.

Nos rituais da Maçonaria Azul (simbólicos) das Grandes Lojas dos Estados Unidos da América do Norte, ainda que possam existir algumas diferenças dentre eles, a tônica é a mesma em se tratando no caso da posição dos Vigilantes. Isto é: igual a dos trabalhos ingleses. O ritual da Grande Loja de Nova York, por exemplo, para os três primeiros Graus, mostra a toponímia referendada ao lugar dos Vigilantes da Loja. Outro elemento básico para pesquisa é o “Ducan’s Ritual” do século XIX que é contemporâneo desses apontamentos.

Assim o formato ritualístico do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito se firmou ao longo dos tempos. Rito de origem francesa, ele não nasceu com uma prática sedimentada e particular nos três primeiros graus. Aconteceram sim adaptações o que faz com que um rito latino possua feições do sistema antigo (anglo-saxônico).

Concluindo cabe aqui uma advertência. Os três primeiros graus do Rito Escocês não são em hipótese alguma uma cópia do Rito de York (norte americano). Existem apenas alguns tópicos que permaneceram como tradição implantada. Do sistema antigo o Rito herdou a posição dos Vigilantes, embora o Primeiro esteja adaptado para o lado noroeste; as Colunas Gêmeas com B ao norte e J ao sul; a verificação do Canteiro (transmissão da Palavra Sagrada); dentre os mais importantes. Assim, dentre os mais importantes, é característica própria do Rito a transmissão da Palavra Sagrada; os Diáconos não portam bastão; não existe formação de pálio; o Mestre de Cerimônias porta bastão; o Altar dos Juramentos fica diante do Altar ocupado pelo Venerável. Não menos importante a cor predominante do Rito Escocês Antigo e Aceito é vermelha (origem jacobita e as Lojas Capitulares).

T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 546, Florianópolis (SC) 25 de fevereiro de 2012.

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