(republicação)
Em 14.05.2014 o Respeitável Irmão Francisco Fernandes, membro da Loja Renascença Pedreirense, 1.589, REAA, GOB-MA, Oriente de Pedreiras, Estado do Maranhão, formula a questão seguinte: somar-somar@hotmail.com
Gostaria de sanar uma dúvida referente ao Tronco de Beneficência. É correto uma Loja determinar em seu Regimento Interno um valor mínimo, seja este monetário ou percentual sobre o salário mínimo, para que cada Obreiro deposite no Tronco de Beneficência?
Considerações:
Cabem antes algumas ponderações a respeito:
1 – A circulação do Tronco não é prática universal na Maçonaria, porém é costume particular de um Rito específico.
2 – É universal sim a prática da beneficência na Maçonaria e esta nem sempre depende, por exemplo, de ser praticada através da circulação do Tronco.
3 – O procedimento então obedece à regra da tradição, uso e costume inerente à prática, levando-se em conta a origem do Rito que dela faz o desempenho.
4 – Pelo seu caráter de discrição, geralmente ninguém sabe o quanto quem pode dar, se deu, ou se nada pode dar. A questão não é de obrigatoriedade, senão a da prática da virtude na consciência do Maçom.
5 – A regra é de que ninguém é obrigado a dar, muito menos se estabelecer um valor para o óbolo. Então essa tradicional prática (circular o Tronco) oriunda da Maçonaria francesa não depende de regulamentos de obediências. Ela é pratica espontânea e universalmente aceita pelos Ritos que a praticam.
TRONCO – Do latim: truncus – menciona o corpo humano, com exceção da cabeça e dos membros; o caule de árvore; o cepo com olhais usado antigamente para os suplícios; origem de uma família, de uma raça; parte de uma coluna, entre a base e o capitel.
Em Maçonaria o termo “tronco” é usado para designar as contribuições financeiras dos Obreiros durante os trabalhos de uma Loja e destinadas às obras assistenciais da Oficina.
O termo “Tronco” é, portanto de origem francesa, já que no idioma francês, a palavra tanto pode ser tomada como tronco (do corpo humano, de uma árvore, etc.), bem como a “caixa de esmolas”, já que é tradicional nas igrejas francesas a existência, na sua entrada, de uma caixa para óbolos (donativos), identificada simplesmente pela palavra “tronc”.
Nesse sentido é então feito o uso do termo em Maçonaria como uma espécie de sinônimo de caixa de esmolas.
O termo original era mesmo de o “tronco da viúva”, já que por razões existenciais, primárias e doutrinárias, simbolicamente a viúva é a Maçonaria e os Maçons os seus filhos (a mãe Terra fica viúva do Sol, durante os três meses de inverno), assim o título em Maçonaria seria mais correto do que o atual Tronco de Beneficência, ou de Solidariedade, já que ambos exprimem redundância, pois se o mesmo é a caixa de esmolas, evidentemente o seu produto é destinado à beneficência, ou às obras de caridade.
A discrição expressa pelo ato na Maçonaria (REAA∴) quando o Hospitaleiro apresenta a bolsa segura pelas duas mãos na altura do seu quadril esquerdo e o rosto virado para o lado oposto, origina-se do costume praticado na França, principalmente entre os séculos XVI e XVII quando permanecia junto à porta da igreja um membro da confraria religiosa, cujo título era nominado como “hospitalário”.
Este, munido de uma bolsa, ou saco preso a tiracolo da direita para a esquerda, oferecia o recipiente aos fiéis que deixavam ao final a prática religiosa semanal. O ato tinha por objetivo recolher ajuda para os pobres e necessitados.
Nessa oportunidade o hospitalário objetivando uma atitude recatada abria e oferecia aos fiéis a bolsa, ou saco com as duas mãos pelo lado esquerdo do seu corpo, ao mesmo tempo em que dirigia o olhar para o sentido contrário. Essa postura (da discrição, do recato e da sobriedade) viria influenciar diretamente o ato praticado posteriormente nas Lojas Maçônicas pelo ofício do Hospitaleiro.
Alguns respeitáveis historiadores atribuem o costume do “tronco” como haurido das antigas “Guildas” que, em parte podem ser consideradas como precursoras da Maçonaria, sobretudo com as suas normas de socorro mútuo, fraternidade e solidariedade. Nas Guildas praticava-se o costume de se reunirem num recipiente as contribuições destinadas às viúvas e aos órfãos.
Na Maçonaria o Tronco destinado à solidariedade é indubitavelmente a expressão lata e o símbolo de como se deve praticar solidariedade de modo sigiloso e sem ostentação.
Assim, o giro do Tronco é obrigatório e tem a sua suspensão quando é terminada a coleta em cada sessão.
Apesar da obrigatoriedade do procedimento, sabiamente o giro não permite que se saiba quem deu mais, ou menos, ou quem nada pode dar. A prática individual da virtude da solidariedade é concebida durante o giro com a mão direita fechada introduzida no recipiente (bolsa, ou saco) logo abaixo da abertura. Em ato seguinte o contribuinte retira a mão completamente aberta.
Em Maçonaria, sem qualquer proselitismo religioso, ensina-se que o Tronco se inspira na moral dos velhos princípios hebraicos e posteriormente sublimados pelas palavras do Evangelho – “Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua (mão) esquerda o que faz a tua direita” (Mateus, 6,2-3).
No tocante aos recursos que cada Maçom dispõe para a caridade, o ensinamento praticado desde os mais remotos catecismos maçônicos (base dos rituais) inspira-se na oferta da pobre viúva (a Viúva e o Gazofilácio), cuja contribuição “Jesus” considerou mais valiosa e significativa do que todas as outras ali depositadas.
É oportuno salientar que a prática da beneficência é divisa de toda a Maçonaria, independente do Rito praticado ou da sua vertente originária (francesa ou inglesa).
Apenas o que pode se diferenciar entre Ritos e Trabalhos maçônicos são os procedimentos ritualísticos para a coleta.
É então imperativo se compreender que se existem Ritos, ou Trabalhos (do Craft) que não possuam passagens ritualísticas como o da circulação do Tronco, isso não significa em hipótese alguma que nestes não exista a prática da solidariedade e caridade maçônica.
A questão é apenas de como se pratica a caridade, pois independente do modo ou artifício ela é unânime em toda a Sublime Instituição.
Finalizando, espero ter contribuído para o esclarecimento ao mesmo tempo em que ratifico, por razões acima expostas, que não é possível uma Loja instituir taxas, doações, ou limites monetários para a prática da beneficência.
A questão aqui não é a do que está ou não escrito nos rituais ou nos gelados regulamentos dessa ou daquela Obediência. A questão é a prática da Virtude, do calor humano, da Solidariedade e da sensibilização exarada pelo Amor. Afinal o fundamento do amor ao próximo também é um ideário maçônico e não carece de leis e regulamentos para a sua afirmação, porém a Maçonaria ensina que não existe Caridade sem Equidade.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.430 Florianópolis(SC) quinta-feira, 14 de agosto de 2014.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.430 Florianópolis(SC) quinta-feira, 14 de agosto de 2014.
Quero parabenizar pelo texto, bem como enfatizar que o amor, a caridade, a virtude são ingredientes indispensáveis para construção de uma sociedade humana e fraterna.
ResponderExcluirPorque se utiliza a mão esquerda para depositar o óbulo e a mão direita para depositar pranchas no saco de propostas e informações. Muito agradecido 🤝
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