SAUDAÇÃO NA CIRCULAÇÃO
(republicação)
Em 25.05.2014 através de uma Loja (nome velado), REAA, me foi apresentada a questão seguinte que já havia anteriormente merecido resposta dada por outro consultor, porém a meu ver a mesma carece de uma análise mais crítica e profunda, além das próprias justificativas. Segue assim a questão formulada e as minhas considerações sobre o assunto.
(...) com relação à ritualística no que se refere à circulação em loja; ao circular em loja de norte para o sul e ao passar pela linha imaginária, se faz a saudação ou não?
Li atentamente a resposta que lhes fora dada anteriormente e, achando necessário um complemento, seguem as minhas ponderações a respeito.
a) Quanto ao Equador da Loja - ocorre que continua a existir sim a linha imaginária do equador da Loja no Rito Escocês Antigo e Aceito, já que esse particular importantíssimo é elemento integrante de toda a topografia da Loja e, de modo abstrato, é o eixo longitudinal imaginário que divide o Ocidente nas Colunas do Norte e do Sul.
Esse marco imaginário não precisa ser literalmente citado no Ritual para que ele exista, já que o mesmo está implícito na alegoria do Canteiro especulativo – a Loja. Assim as Colunas do Norte e do Sul representam os hemisférios da Terra, cuja alegoria da Loja no Rito em questão refere-se a um espaço imaginário sobre o Equador terrestre, orientando-se na sua largura do Norte ao Sul, ou vice-versa e no o seu comprimento do Oriente para o Ocidente, ou vice-versa.
Assim o deslocamento em Loja no Ocidente com base no simbolismo da marcha aparente e diária do Sol é realizado no sentido horário (giro dos ponteiros do relógio) apenas quando se tratar do deslocamento de uma para outra Coluna, cujo limite divisório entre ambas se identifica pela linha imaginária do equador do Templo (eixo que vai do centro da porta de entrada até o Delta, ou centro do Oriente).
Entenda-se que a Coluna do Norte é todo o espaço e o que nele se situa e existe no Ocidente da Loja à esquerda e sob o ponto de vista de quem da porta olha para o Oriente, cujo comprimento da Coluna vai da parede Ocidental até o limite com o Oriente (balaustrada e a sua entrada), enquanto que a sua largura se compreende desde o eixo longitudinal imaginário (Equador) até o Topo da Coluna do Norte que é toda a parede setentrional ou boreal compreendida entre a balaustrada e a parede ocidental à retaguarda do 1º Vigilante.
É no Topo do Norte que se situam as primeiras seis Colunas Zodiacais. Ainda, na banda Norte situa-se no Átrio a Coluna Vestibular, ou Solsticial denominada B∴ e marca, dentre outros a linha imaginária do Trópico de Câncer, sempre ao Norte (esquerda de quem entra).
No tocante à Coluna do Sul ela é todo o espaço e o que nele se situa e existe no Ocidente da Loja à direita e sob o ponto de vista de quem da porta olha para o Oriente, cujo comprimento vai desde a parede Ocidental até o limite com o Oriente (balaustrada e a sua saída), enquanto que a sua largura compreende desde o eixo longitudinal imaginário (Equador) até o Topo da Coluna do Sul que é toda a parede meridional, ou austral entre a balaustrada e a parede ocidental – atrás do Mestre de Harmonia.
É no Topo do Sul que se situam as outras seis Colunas Zodiacais restantes. Ainda, na banda Sul situa-se também no Átrio a Coluna Vestibular, ou Solsticial denominada J∴ e marca, dentre outros a linha imaginária do Trópico de Capricórnio, sempre ao Sul.
Assim, não se trata do Ritual citar ou não o Equador da Loja, ou eixo imaginário do Templo que divide igualmente o espaço no seu sentido longitudinal situado na sua porção mediana. O fato é que sem ele não existiria a divisão topográfica da Sala da Loja que é, diga-se de passagem, um dos elementos principais em conjunto com as Colunas Zodiacais para aplicação do arcabouço doutrinário na alegoria do Rito em questão destacando-se a sua vertente francesa, portanto deísta.
Nenhum ritual precisaria citar o equador da Loja, já que pela sua evidência ele irremediavelmente existe, sendo ou não mencionado.
b) Quanto à saudação – Nesse particular o Ritual do GOB não mais prevê essa saudação que geralmente era identificada ao Delta toda vez que um Obreiro em circulação de uma para outra Coluna venha cruzar o Equador.
Esse costume fora já abandonado há muito tempo, aonde historicamente existe uma relação entre o costume e as hoje já extintas Lojas Capitulares.
Antes desse evento, portanto na oportunidade em que apareceriam os primeiros rituais escoceses no ano de 1.804 para o simbolismo escocês na França, a disposição do Templo e a sua decoração se diferenciavam em alguns procedimentos e costumes dos que hoje conhecemos.
Então antes das já mencionadas Lojas Capitulares, não existia no simbolismo do Rito Escocês, dentre outros, o Oriente de modo elevado e demarcado (essa origem está no Capítulo).
Assim, naquela primeira configuração (sem oriente delimitado e elevado) quando porventura existisse uma circulação, o protagonista ao passar em frente e próximo ao Altar ocupado pelo Venerável, saudava pelo Sinal Penal (de Ordem) o Delta como símbolo do Poder Criador.
Naqueles tempos o Oriente, de nível igual ao de todo o recinto, era identificado apenas pela parede Oriental (retábulo) que geralmente era construída de modo semicircular (meio círculo).
Nesse particular o Oriente era então identificado apenas pela a parede dos fundos, bem como aqueles que porventura ocupassem lugar imediatamente na sua frente.
Assim à época a circulação se desenvolvia no espaço entre o Altar dos Juramentos, este localizado imediatamente à frente do Altar ocupado pelo Venerável, e a porta de entrada do recinto, tendo como baliza central ao centro do recinto o Painel da Loja, ancestral do tradicional tapete que anteriormente era estendido no centro da Loja (evolução dos painéis no século XIX).
Assim, esta é a razão da existência naquele período da mencionada saudação ao Delta durante a circulação em Loja (antes das Lojas Capitulares).
Todavia, com o aparecimento das Lojas Capitulares no Grande Oriente da França, cuja característica era a de incorporar ao simbolismo os Graus Inefáveis, de Perfeição e Capitulares (até o 18º) é que apareceria então, por necessidade do Capítulo, um Oriente dividido pela balaustrada e elevado em relação ao Ocidente - lugar do Venerável, ou do Athersata junto às demais Dignidades que tanto serviam ao Capítulo e ao Simbolismo, destacadas as diferenças entre os respectivos cargos e títulos que se diferenciavam conforme os trabalhos (capitulares ou simbólicos).
É então a partir desse acontecimento que a circulação começaria a ser praticada apenas no Ocidente, isto é, fora do Oriente, porém ainda com a particularidade de que o protagonista ao cruzar o eixo imaginário (equador), manteria o mesmo costume de saudar o Delta.
Posteriormente, ainda no século XIX, apenas o Simbolismo voltaria a ficar sob a tutela do Grande Oriente da França, enquanto que os demais (Inefáveis, de Perfeição e Capitulares) voltariam a se integrar ao sistema de altos graus juntamente com o Kadosh e com o Consistório sob a égide do Segundo Supremo Conselho do Rito na França – enfim as coisas voltavam a se posicionar no seu devido lugar.
Dado ao resultado desses acontecimentos em França, consuetudinariamente alguns costumes capitulares acabariam permanecendo sistematicamente também no simbolismo escocês e, talvez um dos mais marcantes, além do matiz encarnado (vermelho) do Rito haurido também da cor capitular, seria a permanência do Oriente elevado em relação ao Ocidente, bem como a sua respectiva divisão pela balaustrada como até hoje conhecemos.
Nesse particular também pegaria carona a permanência do costume de se saudar o Delta quando da passagem de uma para outra Coluna. Entretanto, ao longo do irremediável teatro evolucionista concernente aos rituais escoceses, o costume de saudação ao Delta inadvertidamente passaria gradualmente, à moda latina, de uma importante reverência à Luz para uma simples saudação ao Venerável.
Daí em diante não tardaria muito a abolição completa do costume durante a circulação oriunda da passagem de uma para outra Coluna, destarte o aparecimento de outro costume: o da prática de saudação apenas ao Venerável Mestre durante o ingresso e saída do Oriente em Loja aberta.
De modo, praticamente generalizado e paulatino, a grande maioria dos rituais passaria a adotar essa prática - é o caso, por exemplo, daqueles inerentes aos três Graus simbólicos em vigência (desde 2.009) no Grande Oriente do Brasil.
c) Quanto à circulação – Atendendo à dinâmica ritualística do Rito Escocês no seu simbolismo, a circulação hoje restrita apenas ao Ocidente da Loja prevê o deslocamento dextrógiro que a rigor determina o procedimento descrito no Ritual em vigência.
Assim, no intuito de inserir mais luzes à prática segue a seguinte orientação: um obreiro em deslocamento do Norte para o Sul cruza o equador imaginário (abstrato) do Templo no espaço situado entre a retaguarda do Painel da Loja e o limite do Oriente.
Em deslocamento do Sul para o Norte, este cruza o equador imaginário no espaço situado entre a frente do Painel da Loja e a porta de entrada.
Na necessidade de um obreiro se deslocar apenas na mesma Coluna, este não fará nenhuma circulação – não carece dar uma volta ao mundo para parar no mesmo lugar.
Assim a regra só existe quando da passagem de uma para outra Coluna, porém sem a existência de qualquer saudação, seja ela ao Venerável ou mesmo ao Delta.
No Oriente se ingressa através da Coluna do Norte pelo lado nordeste do acesso. Ao nele se ingressar em Loja aberta o obreiro, tendo como referência a linha limítrofe da balaustrada, para e à Ordem saúda o Venerável Mestre pelo Sinal. Em seguida prossegue no seu destino.
Em retirada do Oriente um obreiro dele sai pelo seu lado sudeste em direção da Coluna do Sul. Antes dele se retirar o Obreiro tendo como referência a linha limítrofe da balaustrada para, vira-se de frente para o Venerável e o saúda pelo Sinal. Ato seguido prossegue no deslocamento de retirada.
Após praxe formal de ingresso no Oriente, qualquer obreiro nele se deslocando não fará qualquer circulação. Não confundir com circulação a regra prática e objetiva relacionada ao Venerável que ao ingressar no Altar deve fazê-lo pelo seu lado Norte e dele se retirar pelo seu lado Sul.
Ainda sobre o ingresso e saída do Oriente – quando um Obreiro em deslocamento estiver portando (empunhando, segurando) um objeto de trabalho, este não fará nenhuma saudação pelo Sinal, todavia fará apenas uma parada rápida e formal sem maneio com a cabeça ou mesmo inclinação do corpo – não se faz Sinal com o objeto de trabalho, isto é: usando o instrumento de trabalho para com ele fazer um Sinal Penal.
Sob essa óptica é que se apoia toda essa prática ritualística inerente e atual, porém nunca sob a hipótese da inexistência do Equador do Templo como justificativa, já que como anteriormente mencionado esse elemento simbólico é primordial no Rito, estando ele mencionado ou não nos Rituais.
Ilustrando de modo figurado, seria o mesmo que citássemos, por exemplo, o substantivo casa. A menção do vocábulo já subentenderia a existência de uma edificação composta por paredes e cobertura, já que uma casa somente será uma casa se no mínimo ela possuir paredes e cobertura.
Comparando: seria o mesmo caso de um Templo simbólico do Rito Escocês Antigo e Aceito, já que o vocábulo Templo, nesse caso já subentenderia toda a sua decoração e topografia. Não carecendo na hipótese descritiva de toda a sua topografia e decoração.
Entendo que o mote da questão é se existe ou não a saudação, competindo ao esclarecedor ilustrar e justificar a existência e não existência da prática correlata.
Finalizando. A questão da circulação em Loja é uma conduta ritualística presente, portanto obrigatória, cuja origem do deslocamento destrocêntrico está intimamente relacionada à passagem de uma para outra Coluna e não propriamente num ato de se ficar dando voltas em torno do Painel da Loja.
A questão é doutrinária e está relegada à mensagem de aperfeiçoamento proposta pelo Rito no canteiro simbólico (a Loja, ou Oficina). Assim, volto e ratifico: se o misticismo das Colunas do Norte e do Sul notadamente na Maçonaria conforme o Rito representam simbolicamente os hemisférios do planeta Terra, obviamente há que se considerar que entre eles obrigatoriamente exista um limite divisório - esteja ele mencionado ou não no Ritual.
E.T. – Minha citação do termo “misticismo” não deve sob qualquer pretexto ser confundido com “ocultismo”.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
JB News – Informativo nr. 1.440 Gibraltar, domingo, 24 de agosto de 2014.
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